Thomas Legrain (2023). Latah. Le Lombard.
No meio da guerra do Vietname, uma patrulha americana em missão na selva depara-se com uma estranha ameaça. Uma criatura dos mitos anamitas, mortífera, dizima os soldados sem piedade. Mas dois deles intuem outra verdade. Sabendo que o mito da criatura implica que um homem se lhe entregue para se transformar, um dos soldados irá assumir o manto do monstro, e será o mais violento e amoral que o fará. História de terror passada na guerra do Vietname, tem alguns laivos de Predator, pela forma como usa a selva como pano de fundo para uma caçada a homens.
John Wagner, Carlos Ezquerra (2022). Essential Judge Dredd: Necropolis. Londres: Rebellion.
Uma das sagas clássicas de Dredd, serializada originalmente nos anos 90 na lendária, e ainda editada, 2000 AD. Em Necropolis, a cidade de Mega City é dominada pelos Dark Judges, seres vindos da distópica dimensão negra, uma espécie de espelho invertido de Mega City, onde forças sobrenaturais se incorporaram e instauraram um regime de extermínio total, proclamando que a vida é o pior dos crimes. Coisas bizarras da BD britânica, daquelas que ficam melhor como adereço do que universo ficcional. Recentemente, a 2000 AD publicou uma série de aventuras ao estilo sobrevivência no apocalipse passada na queda da dimensáo negra às mãos dos Dark Judges, mas não é especialmente interessante, a menos que se goste mesmo de narrativas ao estilo walking dead.
O domínio da cidade é total, possibilitado por uma conduta psíquica que permite às irmãs dos Dark Judges estender a sua influência manipuladora. Com o extermínio dos cidadãos na ordem do dia, resta a Dredd regressar de uma longa caminhada na terra amaldiçoada, ajudado por outra grande juíza também em longa caminhada. Com ajuda de um grupo de cadetes que se ocultou nos alicerces da cidade, onde encontram, ferida, Anderson, outro elemento chave, irão quebrar o elo psíquico, libertar os juízes do seu delírio, e aprisionar os Dark Judges.
Algumas notas: longa caminhada designa a última missão de um juiz da cidade, que ao reformar-se recebe armas e suprimentos, deixando a cidade para dispensar justiça pelas comunidades da terra amaldiçoada. No universo ficcional de Dredd, esta desginação cobre os territórios desérticos e radioativos que se estendem para lá dos limites das megacidades, zonas sem lei habitadas por mutantes e criminosos. Diga-se também, por quem tem acompanhado a evolução de Dredd ao longo dos anos, que a trope de ameaça terminal sobre a mega-cidade tem sido tão abusada que uma análise matemática revelaria saldo populacional negativo. Houve ataques nuclares, vírus, uma invasão das cidades soviéticas... a lista de cataclismos é longa.
Apesar de estar a cargo de John Wagner, um dos grandes argumentistas de Dredd, a saga é de leitura linear. O que a destaca é a ilustração, a cargo de Carlos Ezquerra. Este ilustrador argentino, colaborador de longa data da revista, distinguia-se por ter um traço bastante afastado do realismo conservador habitualmente utilizado na BD comercial. O seu traço era agressivo, expressivo e pouco elegante, mas combinado com um uso também muito próprio da cor, é muito adequado a uma narrativa destas. Necropolis cruza o policial negro futurista de Dredd com o horror, e Ezquerra não nos poupa a belíssimas evocações negras.