domingo, 9 de dezembro de 2018

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Guide to Computing: Máquinas icónicas da história da computação, fotografadas com uma estética deslumbrante.

The Backlash Against Screen Time at School: Antes de começar a habitual diatribe sobre os malefícios das tecnologias nas crianças, notem que o artigo descreve um caso muito específico, e algo dantesco. Técnicas de ensino personalizado mediado por computador. No papel, parecem excelentes estratégias de ensino e aprendizagem. Na prática, traduzem-se por horas seguidas com os alunos colados ao ecrã, a realizar exercícios definidos pelos algoritmos. O papel do professor ali é o de avisar os alunos quando estes se distraem, para que os requisitos da aprendizagem programada sejam cumpridos. Como professor ligado à utilização intensiva de tecnologias na aprendizagem, este é um tipo de abordagem que me arrepia. Desumanizante, apesar da promessa de individualização, reduz a aprendizagem à mera memorização (uma visão confortável para muitos professores, infelizmente), retira a liberdade de abordagens e a criatividade possível em projetos, que são as duas grande valências da aprendizagem mediada por tecnologias.

Why Big Tech pays poor Kenyans to teach self-driving cars: Porque as Inteligências Artificiais não aprendem sozinhas. Os algoritmos de reconhecimento de imagem têm de ser treinados em datasets de milhares de imagens, todas com os seus elementos devidamente etiquetados, para que os algortimos de IA consigam aprender a reconhecer elementos. Esse trabalho de etiquetagem é feito manualmente, e nestas coisas, há sempre quem invente um negócio. Este consiste em dar trabalho a quenianos que vivem nas zonas mais pobres do país, empregando-os na selecção e etiquetagem de imagens para bancos de dados utilizados por Inteligência Artificial. Algo que até parece meritório, se descontarmos o óbvio mão de obra muito barata, até se tropeçar na forma como os empregadores se justificam por não pagarem melhores salários (apesar de estarem acima do nível de subsistência do Quénia): ""But one thing that's critical in our line of work is to not pay wages that would distort local labour markets. If we were to pay people substantially more than that, we would throw everything off. That would have a potentially negative impact on the cost of housing, the cost of food in the communities in which our workers thrive.". Pois. É melhor não espalhar muito a riqueza, senão a maré pode subir para todos... o que é uma forma brutalmente honesta de ver o argumento falso das benesses da trickle down economics.

The Problem With Feedback: Essencialmente? Mediania. Para além de ser uma chatice, estar constantemente a ser importunado para classificar negócios e serviços, reforça o conformismo. É um ciclo de feedback: quantos mais classificarem algo com boas classificações, mais pessoas o utilizam, mas menor é a diversidade de experiências. O que começou por ser uma ideia para melhorar desempenhos e serviços, acaba por ter o efeito perverso de lhes retirar diversidade.

Education and the Fourth Industrial Revolution: Para quem está atento a estas coisas, não há muito de novo aqui. É um artigo incisivo sobre as transformações económicas e sociais trazidas pela IA e robótica, às quais a educação não pode ficar alheia: "An education system designed for an industrial economy that is now being automated requires transformation, from a system based on facts and procedures to one that actively applies that knowledge to collaborative problem solving". Parece simples, não parece? Então, porque é que não mudamos? As razões para isso aparecem logo no parágrafo seguinte: "the perverse financial incentives of an education model rooted in the late 19th century, driven by an antiquated text book and measurement industry that regards teaching as delivery rather than design".  Pois. Enquanto o tom dominante na educação for a transmissão de conhecimentos e métricas de exames, e não nas competências, a coisa não vai lá. Notem que explorar as competências não é uma recusa do conhecimento. Sem bases sólidas de saber, não há competência que se construa. Mas um dos problemas que sentimos, hoje, é o desajustamento do sistema de ensino que insiste apenas na aquisição de saber, sem se preocupar em procurar formas de como o aplicar.

Stan Lee Was Synonymous With American Superhero Comics: E dia 12 de novembro foi o dia em que o lendário Stan Lee disse o seu último 'nuff said. O seu papel na indústria dos comics é incontornável, mas também é bom recordar nas elegias que parte do que o tornou grande foi o trabalho de outros grandes, como Kirby e Ditko, que não atingiram a fama de Lee. Independentemente dos esqueletos do passado, perdemos uma figura de proa dos comics, esse género de que tanto gostamos.


My Moments With Stan: Provavelmente, o melhor obituário a Stan Lee. Em comics, como é apropriado.

HOW MANY COMPUTERS ARE IN YOUR COMPUTER?: A resposta? It's complicated. Entre CPU e processadores dedicados, o computador é composto por uma multiplicidade de computadores. Até o humilde cartão de débito com chip é passível de executar programas.

China confounds all that western liberals believed about the net: O gigante chinês acordou, e de formas que nos mostraram como os princípios elementares da liberdade e direitos humanos podem ser pervertidos, usando as tecnologias digitais. A promessa libertária dos criadores e impulsionadores da internet chocou contra o regime ditatorial chinês, e o resultado foi a sua completa inversão: "Chinese leadership invents a new way of running society – networked authoritarianism, which is basically Leninism plus cyberspace". É elegante. Para quê purgas, massacres e gulags, se os credit scores fazem o mesmo, mas sem a vista desagradável do sangue derramado?


27 Shy/Introverted People Share The Most Aggressively Antisocial Things They've Ever Done: Como pessoa tímida e introvertida que sou, fiz algumas daquelas... como ignorar amigos a bater à porta, ou dar voltas maiores para evitar falar com pessoas conhecidas. Não é por mal, é que nem sempre nos sentimos com forças para suportar o peso das interações sociais. Notem a ironia: vim parar a uma profissão onde lido diretamente com interações humanas no seu estado mais cru, e como formador, tenho mesmo que enfrentar esse terrível medo que é entrar numa sala cheia de pessoas, que vão estar de olhos cravados a ouvir-nos. Só quem é introvertido é que sabe o esforço enorme que é preciso para se conseguir fazer isto. A cena do fingir que não vou passar numa passadeira se vir um carro próximo? Ainda hoje a faço.

THE KILOGRAM IS DEAD; LONG LIVE THE KILOGRAM: O que é que se passa com o quilo? Nada de grave, e algo que a maioria dos mortais nem dá conta. Mas para os metrologistas, é uma verdadeira revolução. O quilo é a última unidade de medida cujo padrão passa a ser definido como uma constante física. Até agora, o quilo original, base métrica da unidade de medida, era mesmo um objeto definido como tendo um quilo, guardado no Musée des Arts e Metiers em Paris. O artigo do The Verge vai mais longe, e explica o porquê de termos medidas-padrão: mais do que uma ferramenta para a indústria, é uma base legal para uma sociedade equalitária.


The Cyber Baroque World of Italy’s Rondò Veneziano: As coisas que o We Are The Mutants desenterra. Desta vez, um quarteto italiano de música popular que capitaliza sobre a música clássica. Daquelas bandas feitas à medida por editoras discográficas, notável pelas capas dos discos, com uma bizarra justaposição de Sci-Fi e estética barroca. Mas fiquem de sobreaviso: dei-me ao trabalho de os ir ouvir no Spotify, e as capas são mesmo o melhorzinho da banda.


Looking Back on NASA’s Vivid 1970s Visions of Space Living: Os planos de Gerard K. O'Neill para a NASA nunca se cumpriram, mas o trabalho do ilustrador Rick Guidice para a agência espacial definiu a iconografia clássica de como poderia ser um habitat no espaço.


Sobre o futuro do professor: Um interessante mapa dos futuros da educação, elaborado por Nelson Zagalo. Notem que estamos no limiar do uso de inteligência artificial como ferramenta na educação, primeiro como assistente de avaliação mas a alastrar para a ideia de complentaridade entre IA e professor. Faz sentido, enquadra-se na ideia de educação como desenvolvimento de competências e da evolução do papel do professor na direção de guia e mentor, deixando de parte a mera transmissão de conhecimento. No entanto... não me é difícil imaginar que alguns empreendedores, nalguns níveis de ensino, criem produtos onde esta complementaridade seja desvalorizada, favorecendo um ensino totalmente dirigido por IA que não necessite de intervenção desse fator de custo que é o professor. Claro que seria um modelo estéril, mas para quem vê a educação como negócio, considerações humanistas interessam pouco.

Kim Kardashian’s Private Firefighters Expose America’s Fault Lines: Ignorem a Kim Kardashian. Fiquemos só por corporações privadas de bombeiros que intervêem apenas na defesa de propriedades com seguros em seguradoras. O triunfo do neoliberalismo a fazer-nos regredir aos tempos do salve-se quem puder.

Night Sight: Seeing in the Dark on Pixel Phones: Usar algoritmos de IA para melhorar o desempenho das câmras. A fotografia tornou-se um artefato computacional.


The Ubiquity of Smartphones, as Captured by Photographers: Oh, hi, black mirror. Ecrãs de smartphne por tudo quanto é sítio.

Quietly, Japan has established itself as a power in the aerospace industry: Uma visita à divisão espacial da Mitrubishi Heavy Industries revela as capacidades avançadas de um país discreto mas na linha da frente da exploração espacial.

Selling Outrage: Apontamos à tecnologia digital o dedo na polarização extrema dos discursos políticos radicais. Mas, e se a causa não estiver aí, se as redes digitais são apenas um amplificador de tendências que estiverem sempre presentes em franjas da população, isoladas mas a serem progressivamente unificadas como mercado a explorar por media tradicionais: "So, if the most polarized population uses the Internet and social media the least, to suddenly point a finger at technology says more about our anxieties about the rate of technological change than about what has actually happened to us". 

Black Mirror, Light Mirror: Teaching Technology Ethics Through Speculation: Sim, eu sei, é mais um artigo condescendente a falar de FC porque a especulação pode ser uma ferramenta para compreender o impacto das tecnologias. Mas, de facto, é. Criar cenários especulativos ajuda-nos muito a perceber as tendências que modelam o futuro próximo. Mas não esqueçam que a FC é muito mais do que isso.

What Constant Surveillance Does to Your Brain: Essencialmente, ansiedade constante. E notem que por vigilância, já não falamos das câmaras, mas da omnipresença de sistemas capazes de nos rastrear através da pegada digital que deixamos.

Uma Educação (2018): A recensão de Nelson Zagalo deixa curiosidade na leitura, pelas reflexões que despertou. Mas sublinho isto noutro sentido. Estoirado como estou de três semanas de reuniões de conselho de turma, a antever em breve mais três dias das oito às oito com mais reuniões, onde a discussão, desde que me lembro, é sempre a mesma. Os alunos não aprendem, portam-se mal, ensinamos as coisas e eles esquecem, precisam de reforçar métodos de estudo e trabalho, têm de estudar, estudar, estudar. Quanto mais anos passo como professor, mais me pergunto o que é que realmente andamos aqui a fazer. Despejamos conhecimentos dentro do cérebro das crianças, sabendo perfeitamente que cérebros não são discos rígidos com os ficheiros arrumadinhos e prontos a ser acedidos, mas esperamos e criticamos os alunos por não terem as informações todas na ponta da língua. Enfiamo-los em salas fechadas durante nove ou dez horas, dando ou tirando alguns furos e horas de almoço, exigindo que mantenham sempre o nível de concentração, enquanto se descarregam matérias sobre matérias. Por vezes sinto que exigimos mais dos nossos alunos, que são crianças, mais do que consideramos exigível em termos de trabalho a um adulto. Por isso, dou por mim a concordar e refletir quando dou com um parágrafo destes: "Por outro lado, esta história é poderosa por demonstrar como a escola básica e secundária não é tudo nas nossas vidas. (...) Ou seja, este exemplo vem também colocar o dedo numa ferida que temos discutido vezes sem conta, o valor efetivo da escola. Até que ponto esta não é mesmo o tal resquício da revolução industrial, desenhada para nos manter ocupados e aprender a respeitar a autoridade. Ou seja, até que ponto metade da escola e das disciplinas que oferecemos às crianças e adolescentes, não seriam mais do que suficiente para um dia poderem vingar nas suas áreas". Nisto, não sou otimista, vejo que as vontades de mudança são sempre esmagadas pela pressão conservadora dos sistemas educativos, e dos professores que aprenderam a ser professores repetindo os esquemas de ensino que viram enquanto alunos. Temo que seja um ciclo vicioso impossível de quebrar.