terça-feira, 28 de outubro de 2014
Leituras
In the future we will absorb technology from the inside out and enhance our senses by eating ourselves: Um vídeo de uma beleza assombrosa, descoberto graças ao bom gosto impecável do but does it float. Com uma estética de cores ricas e esterilidade cirúrgica, a mexer com transumanismo, biotecnologia, clonagem e bleeding edge científica. E faz pensar naquilo que Bruce Sterling disse en passant num dos últimos SXSW. A vanguarda estética da FC que reflecte sobre os desafios de um mundo de tecnologias pervasivas e pesquisa as novas possibilidades estéticas dos meios digitais não se encontra nas mega-produções cheias de efeitos especiais de Hollywood ou Bollywood. Está aqui, nos vídeos experimentalistas criados por coders, artistas performativos ou videoartistas que experimentam e soltam a beleza mordente da hipermodernidade na internet.
A Science Fiction Classic Still Smolders: Estonteante, este ensaio de Jon Michaud para a New Yorker sobre A Canticle for Leibowitz. Consegue em poucos parágrafos dissecar o humor negro, a parábola sobre o poder das insituições e as visões pós-apocalípticas que catalisam os medos fundados da guerra nuclear com a experiência pessoal do autor enquanto combatente, em nada menos que Monte Cassino, ao mesmo tempo referência de grandes batalhas e destruição cega de património milenar. Ainda aponta o livro como uma influência na tendência de catastrofismo resvalante que caracteriza a cultura pop contemporânea.
This is how we imagined aerial warfare 120 years ago: Um mimo para os fãs de steampunk, cheio de ilustrações de barcos voadores, majestosos sob os enormes balões que os mantém nos céus. Note-se que não estou a falar de steam ou proto-steampunk. Este artigo recorda dois livros dos idos de 1800 e troca o passo, aventuras futuristas que concebiam futuros sob o prisma das contemporaneidades em que foram escritos.
Microsoft Integrates Kinect into 3D Builder, Allowing Full Body Color 3D Scanning and Printing: Esperem lá, li bem? A venerável Microsoft tem uma app para Windows 8 para modelar e imprimir em 3D, que ainda por cima se integra com kinects para fazer 3D scanning com facilidade? De repente o Win8 tornou-se interessante para mim.
Escape from Microsoft Word: As ferramentas digitais que utilizamos poderão influenciar, modelar e modificar os nossos processo mentais? É uma variande do media is the message mcluhanista, dissecada neste ensaio da New York Review of Books sobre o acto de escrever. Enquanto olhamos para as possibilidades e ferramentas oferecidas pelo processador de texto o mais elementar no acto de escrever - a relação entre pensamento e palavra, ficará constrangida? Habituamo-nos a tudo, mas pessoalmente sou daqueles que usa o Word para editar versões finais. Escrever, o deixar sair as palavras para o ecrã, organizar as linhas de pensamento, é algo que prefiro fazer num humilde txt ou numa qualquer caixa de texto de aplicações web. Sem distracções, sem preocupações com formatos e tipos de letra, apenas com o fluxo de ideias e encadeamentos de palavras. Ou, como o ensaísta coloca bem melhor do que eu: "Intelligent writers can produce intelligent prose using almost any instrument, but the medium in which they write will always have some more or less subtle effect on their prose. (...) When I work in Word, for all its luxuriant menus and dazzling prowess, I can’t escape a faint sense of having entered a closed, rule-bound society. When I write in WordPerfect, with all its scruffy, low-tech simplicity, the world seems more open, a place where endings can’t be predicted, where freedom might be real."
Robot Building to Become Obligatory Subject in Armenian Schools: Encontrei isto a flutuar numa thread do Reddit sobre futurismo/futurologia. Há poucas informações sobre isto, talvez porque os arménios envolvidos neste projecto não se estejam para chatear com coisas como sites em inglês. Suspeito que se soubesse arménio ser-me-ia fácil encontrar mais sobre isto. O conceito chama-se Nairi Laboratory e é uma abordagem integrada que envolve introdução à programação (com Scratch, mas pois claro), robótica e impressão 3D. É curioso como não parecem empenhados em publicitar o projecto, mas como já observei, a língua arménia é-me totalmente desconhecida (mas hey, que letrinhas tão exóticas tendes, caros arménios). Mexe com CTEM, educação, criatividade e tecnologias. Soa como um projecto de sonho, e não me importaria nada de estar envolvido em algo semelhante por cá. Este vídeo ainda me deixa mais intrigado: Nairi Lab Highlights.
Happidrome Part One: Uma crónica brilhante de Adam Curtis que começa por olhar para os kurdos mas acaba a debruçar-se sobre a hierarquização das sociedades potenciada pela tecnologia e formas de controle social skinnerianos baseados não no medo mas no prazer que são de facto tão ou mais insidiosos do que os totalitarismos mais sangrentos. Não resisto a citar uns parágrafos particularmente certeiros, que começam com uma análise de experiência do psicólogo B. F. Skinner (que, no mundo da educação, é uma das figuras incontornáveis das teorias e modelos de ensino precisamente por causa da poderosa relação estímulo-recompensa) e terminam numa reflexão profundamente certeira sobre o poder na hipermoderna sociedade contemporânea:
"What emerges in the hospital is a new, ordered hierarchy created by a system of reward - but one where the patients don’t feel controlled - instead they feel “empowered” because it was through their actions that they received the reward. Skinner makes clear in the film that he sees this as a model for how to run a future kind of society.
Watching these sections of the film does make you think that what is being described is spookily close to the system we live in today. And that maybe we have misunderstood what really has emerged to run society since the 1980s.
The accepted version is that the neo-liberal right and the free market triumphed. But maybe the truth is that what we have today is far closer to a system managed by a technocratic elite who have no real interest in politics - but rather in creating a system of rewards that both keeps us passive and happy - and also makes that elite a lot of money.
That in the mid 1980s the new networks of computers which allowed everyone to borrow money came together with lifestyle consumerism to create a system of social management very close to Skinner’s vision.
Just like in the mental hospital we are all given fake money in the form of credit - that we can then use to get rewards, which keep us happy and passive. Those same technologies that feed us the fake money can also be used to monitor us in extraordinary detail. And that information is then used used to nudge us gently towards the right rewards and the right behaviours - and in extremis we can be cut off from the rewards."