Isaac Asimov acerta na sobrepopulação - oito mil milhões e a subir, dentro do intervalo previsto entre os oito e os dez milhões. Gregory Benford também acerta neste número, e aponta algumas tendências que hoje se fazem sentir: um regresso do conservadorismo a ameaçar conquistas sociais ou água como bem escasso. Felizmente, não tivemos mortandades humanas na ásia e infelizmente as bases lunares ainda não passam de sonhos.
Algis Budrys está selvaticamente longe da realidade com as suas predições de uma classe dominante hipertecnológica (trocasse tecnologia por finança e seria aterrorizantemente presciente) mas o insight sobre a conservação de energia é interessante. Gerald Feinberg olha para a importância futura da nanotecnologia, que se verifica, embora não nos moldes por este propostos. Sheldon Glashow faz predições intrigantes - o fim do perigo da destruição nuclear (que se verificou), uma potência asiática como força económica dominante (apesar de ter sido a China e não o Japão a assumir esse papel), progressos na cura de doenças crónicas (mas sem prever a importância de decisões financeiras na investigação de curas para doenças), e um declínio económico do mundo desenvolvido com um agravar do fosso entre ricos e pobres. Em 2012, esta última predição parece... visionária. Por outro lado se em 1987 esta tendência já era visível e nada se fez para a contrariar, significa que estamos mesmo sob domínio da ganância pura.
Frederik Pohl decide-se pela ironia, antevendo um futuro utópico que sabe que nunca irá ser atingido. As melhores ideias da era dourada da FC concretizam-se na visão deste autor, que num espírito catastrofista da era da guerra fria afirma que se alguém em 2012 ler as suas predições é porque o mundo não foi aniquilado numa guerra nuclear e as coisas só podem estar melhores porque a humanidade finalmente ganhou juízo. Pois. Disso ainda muito longe andamos.
A predição de Tim Powers não está longe da realidade... as leis de propriedade intelectual estão a ser reformuladas, mas não pela razão que ele apontou. Foi antes por causa de uma coisinha que nenhum destes futuristas viu chamada internet em colisão com indústrias culturais cada vez mais rapaces. Já Orson Scott Card aposta num ultra-nacionalismo americanista apontado para a decadência do país e perda de influência num mundo que se atomiza. Certeiro na ideia de um mundo atomizado. Jack Williamson pede desculpas ao futuro, por pertencer a uma geração que deixou como herança dívida financeira, destruição ecológica e desbarate de recursos. Lê-se como palavras estranhamente actuais. Intriga a ideia que gerações futuras façam uso dos meios electrónicos para informar e libertar. Estranhamente presciente, particularmente ao antever a possibilidade de vigiar e oprimir.
O deprimente Gene Wolfe prevê uma queda abrupta da literacia e o surgir de uma classe dominante hiperliterata. Novamente, se em vez de letras se tivesse referido a dinheiro, seria arrepiantemente presciente. Dave Wolverton falha todas, até nas tendências, mas tem piada a ideia de um movimento pelos direitos do homem - homem, género e não homem, representante da ideia de espécie humana. Para finalizar, Roger Zelazny acerta na ideia de uma sociedade onde o dinheiro se desmaterializou e onde a a automação revolucionou o trabalho. Infelizmente a visão de uma humanidade mais madura, com tempos livres dedicados ao estudo e fábricas em órbita não se veio a concretizar.
Podem ler as predições no site do Writers of the Future. É sempre interessante olhar para a forma como no passado imaginavam como iria ser o nosso momento presente.