sábado, 30 de abril de 2005

One Man Safari


Jasus!

One Man Safari

Vale bem a pena um pulinho a este fantástico blog povoado das mais curiosoas imagens. Foi onde encontrei este ícone do kitshc, esta foleiríssima imagem de jesus que se pode encontrar em qualquer feira deste país...

Realidade Virtual


Fantástica realidade virtual. É o que realmente se passa na cabeça do artista.

Artistas Multifacetados

Ontem aconteceu-me uma coisa divertidíssima. A Paula, a minha colega, convidou-me para a ajudar num projecto de embelezamento do espaço escolar - a construção de um relógio de sol. O projecto tinha de ser enviado para o ministério da educação até ontem, e ontem foi.
Ontem à tarde, com o stress pré-envio, a minha colega lembra-se que lhe faltava explicar as razões que a levaram a criar o tal projecto. Sabendo-me useiro e vezeiro nas dialécticas sofistas que o interpolar de palavras permitem, ofereci-me para esgalhar um textinho. Lá o fiz, mas quando chegou a parte sobre dizer algo sobre o patrono da escola, António Bento Franco, bloqueei. Nem faço ideia quem era este Bento, e muito menos a minha colega...

Ela desenrascou-se. Disse-me que o Bento Franco havia sido um "artista multifacetado". Largámo-nos a rir que nem uns perdidos, com o ridículo da situação. Nenhum de nós faz a mínima ideia do que o homem fez com a sua vida, mas não hesitámos em chamá-lo de artista multifacetado...

Agora, levanto a questão: quantas vezes, em quantas redacções ocupadíssimas, quantos jornalistas recorreram a estes estratagemas para entregar um artigo a tempo e horas?

Sete Palmos


SixFeet

Está a chegar. Dia 2 na tv 2:. A série de culto.

Six Feet Under

sexta-feira, 29 de abril de 2005

Untitled (Face)


Untitled - Face

Roy Lichtenstein, um dos artistas paradigmáticos da Pop Art.

Inteligência Artificial

Os computadores parecem provocar aquilo que normalmente se considera a "suspensão da inteligência". E, curiosamente, quanto maior o nível de formação da pessoa que estiver à frente do computador, mais baixo parece descer a capacidade intelectual... é um fenómeno curioso, que agora não sei se lhe chamarei proporcionalidade directa ou inversa. Como passei grande parte das aulas de matemática que tive ao longo dos meus longos anos de escolaridade a desenvolver os meus dotes artísticos, às vezes ainda fico na dúvida se x=2, sendo x=1+1.

Isto a propósito da acção de formação que estou a frequentar em Mafra. Formação em Excel, pelos meus já conhecidos Bernardino Jorge e Carlos Silva. Haveria alguns aspectos a destacar da acção de formação, a começar pelo corrente e inflexível director do centro de formação (que é bom como assunto de conversas). Mas não estou para aí virado.

Para mim, a formação está a ser penosa. Gosto do método de trabalho dos formadores, mas a desvantagem de se ter pessoas com vários níveis de literacia informática dentro de uma sala é que aqueles, que, como eu, estão mais à vontade com processadores, comandos e teclados, geralmente passam grande parte das três horas da acção a olhar para o monitor, à espera que os outros azelhas terminem de descobrir como se faz um gráfico (dois dias, nalguns casos). Isto, claro, se me quiser mostrar um formando atento que faz o trabalho designado e espera um novo trabalho que o faça evoluir. Na verdade, só não dou mais pulos à internet durante a acção porque não estou sózinho no computador. Erro crasso, da minha parte.

Ontem, desesperei enquanto o formador iniciava os restantes formandos na arte arcana do processamento de imagem. Abrir ficheiro, jpg e não tiff, corel photopaint, fazer tratamentos básicos de imagem. Clone de imagem (meia hora). Selecções com a varinha mágica (tempus fugit). Camadas (heeeeeeeeelp!).

Só escrevo isto porque, claro, estou habituadíssimo a estas tarefas. Se não estivesse, teria sido um dia interessante. E, também, para um aficionado do Photoshop, trabalhar com o vastíssimamente inferior photopaint é tão doloroso como ir ao dentista. Mas há reacções curiosas: a maioria das pessoas, quando frente a um computador, não sabe o que fazer. Frente a um simples programa de edição de imagem, a maioria das pessoas limita-se a olhar, com ar embasbacado, porque nem sequer consegue conceber para que serve o programa, quanto mais todos aqueles ícones de ferramentas. Eu percebo-os. Sempre que tento dar um passo na animação 3D, com esta minha teimosia que me obriga a ser autodidacta, sinto o mesmo.

Lá para o fim da sessão de formação, um colega, já desesperado, berra "mas esta máquina está-se a passar!!!!. Ecoou o sentimento geral. E, mais uma vez se comprova a teoria da suspensão da inteligência.

Mas toda esta conversa não era sobre mais uma sessão de formação. Tem sido penoso, é verdade, mas não quer dizer que tenha sido inútil. Muito pelo contrário.

Lembrei-me de um escândalo que aconteceu recentemente na minha escola. A minha escola, por sinal, está muito mal servida em termos de internet. As máquinas da secretaria e do concelho executivo estão online, bem como três computadores da sala de directores de turma. O resto das máquinas está offline.

Aqui há uns tempos, escândalo! Alguém andava a usar os pcs da sala de directores de turma para ver pornografia. Estava-se a trabalhar nos computadores e, de repente, zás! Mulheres nuas! Que horror, que falta de respeito, quem será o pervertido? Calmamente, fui dizendo às minhas horrorizadas colegas que, sendo máquinas desprotegidas ligadas à net em banda larga, estavam vulneráveis a todo o tipo de spyware, adware e janelas pop-up de publicidade. Que, como sabemos, são aquela praga que nos enche o ecrã de janelas que não queremos abrir, a anunciar jogos online, pornografia e outras coisas do género. Também lhes expliquei que a barra de endereços do explorer guarda os endereços digitados. O que quer dizer que o site www.pornomulheresnuas.com/weorowos/galerry/naked tem de ser um pop up, porque senão apenas apareceria a raíz do site - www.pornomulheresnuas.com. Mas poderia ter dito estas palavras em arábico, ou chinês, que o efeito de incompreensão foi o mesmo. "E tem esta gente formação superior", pensei eu, revirando mentalmente os olhos. Felizmente, umas das docentes do concelho executivo sabia também porque é que aquelas desditosas imagens estava a aparecer, e resolveu o problema com a instalação de um programa anti-spyware. Eu também o faria, mas nunca sem autorização directa. É uma questão de ética.

Passada a tempestade de histeria, algumas docentes daquela escola perderam mais um bocadinho da virgindade informática. Mas suspeito que dentro de muitas daquelas cabeças ainda há a sensação supersticiosa de que o computador é uma espécie de máquina mágica, acessível apenas a uma elite de magos.

Pois é. Suspensão de inteligência.

quinta-feira, 28 de abril de 2005

Soap Opera Art


The Night

Terry Rodgers

Soap Opera Art é o que me ocorre ao ver a obra de Terry Rodgers. Ainda não consegui perceber se se trata de mais um artista comercial, produzindo quadros de cenas decadentes tal como poderia produzir paisagens anódinas para decorar lareiras. Mas o que me tocou foi o vazio presente nestas cenas de festa. Pessoas, juntas mas isoladas, irremediávelmente sós. Beautiful people, perdidos no seu solipsismo. E à memória vieram-me imagens de televonelas americanas, cheias de personagens impossívelmente bonitas, sempre bem vestidas e em festas. Uma vida impossível.


Olympus

Espelhos


Espelho

Veja-se a si próprio. Reflita-se até ao infinito.

Dresden e Hiroxima

Mongol Devastations

A internet tem destas coisas. Ao permitir o acesso à informação, permite-nos descobrir opiniões e ensaios que, por serem publicados em jornais e revistas estrangeiros, normalmente só com muita dificuldade os leríamos.

É o caso deste brilhante ensaio, que se atreve a tirar algumas conclusões sobre alguns aspecos muito negativos da segunda guerra mundial. Quando pensamos em segunda grande guerra, equacionamos logo os acontecimentos históricos como uma luta titânica entre o bem e o mal, entre os ultracriminosos nazis e os sacrossantos aliados. E, de facto, são inegáveis os crimes cometidos pela alemanha nazi, desde as agressões militares ao hediondo holocausto. Mas a questão levantada neste ensaio, e raramente abordada nos milhentos filmes heróicos sobre a II guerra, é que os aliados cometeram atrocidades, muitas vezes desnecessárias, para vencerem a guerra. Os casos dos bombardeamentos de Dresden e Hiroxima são os exemplos destacados de atrocidades atrozes e desnecessárias para a vitória em combate.

Já em finais de 1944, princípios de 1945, as máquinas de guerra alemã e japonesa se encontravam, se não dizimadas, pelo menos extremamente enfraquecidas. A vitória era uma questão de tempo, especialmente num teatro de operações europeu em que os restos da wermacht se encontravam enclausurados pelo avanço inexorável dos soviéticos a leste e dos americanos e ingleses a oeste. A oriente, o Japão pedia encarecidamente à União Soviética, através de canais diplomáticos, o fim da guerra, enquanto os americanos se aproximavam cada vez mais das ilhas japonesas. Em Dresden, com as tropas soviéticas a menos de 100 km da cidade, bombardeiros ingleses e americanos lançaram um devastador ataque com bombas incendiárias, que consumiu a cidade e dezenas de milhar dos seus habitantes num inferno de fogo. Dresden não era um objectivo militar prioritário. E, no Japão, são sobejamente conhecidas as razões dadas para a detonação nuclear em Hiroxima. A pergunta que se põe é: porque é que estes ataques de destruição macissa foram lançados, se as forças militares dos alvos se encontravam práticamente dizimadas?

A resposta à questão está na União Soviética, e na guerra fria que dominou o mundo durante 40 anos, até aos acontecimentos da queda do muro de Berlim e o colapso da União Soviética. A verdade é que os aliados, sózinhos, não estavam a conseguir vencer a guerra. Foi a União Soviética de Estaline que permitiu os acontecimentos do Dia D, e todas as vitórias militares consideradas decisivas pelos aliados. O que levanta outra questão: como é que um país que, em 1941, é práticamente derrotado pela wermacht consegue dar uma dontribuição decisiva para o fim da guerra? Os vinte milhões de mortos soviéticos são uma das respostas. Os dez mil milhões de dólares gastos pelos ingleses e americanos em equipamento militar (tanques, aviões e outras máquinas de guerra) dado à União Soviética são o resto da resposta. O que significa que, no fim da II guerra, com o conflito geoestratégico entre Comunismo e Capitalismo democrático a desenhar-se sobre as ruínas da europa, tínhamos de um lado os tradicionais aliados, industrialmente fortes mas militarmente fracos, e um colosso soviético com milhões de homems em armas e a vontade de desperdiçar mais vinte milhões de vidas, se fosse caso disso.

É neste contexto de fim de guerra que se dão os bombardeamentos de Dresden e Hiroxima. Aclamados como um mal necessário para derrotar alemães e japoneses, o objectivo real destes raides foi dar um aviso a Estaline: não temos milhões de homens para desperdiçar, mas temos milhares de bombardeiros capazes de icinerar cidades inteiras, e uma super bomba que, sózinha, faz o trabalho de milhares de bombardeiros.

O resto é história. Rendição alemã, alemanha dividida, rendição japonesa, cortina de ferro, china comunista, guerra da coreia, vietname, afeganistão… até à queda do império soviético. Terá a II guerra terminado em 1945, ou em 1991?

É altamente tentador ver a segunda guerra em termos absolutos, de conflito entre o bem e o mal. Se a verdade é que a Alemanha Nazi foi responsável por Auschwitz, e o Japão imperial por Nanking, o lado do bem também não tem uma face muito limpa.

Hoje em dia, com um novo papa ainda muito ligado aos acontecimentos da II guerra, e com o sexagésimo aniversário do fim da II guerra (1945 - 2005, topam?), estes ensaios ajudam-nos a perceber os acontecimentos de 1939-1945 como profundamente complexos, já longe das ideologias absolutas que tanto mal fizeram no século passado.

E é essa a beleza deste novo século. Em vez de ideologias absolutas, temos um mundo de ideias quânticamente complexas. É fácil e tentador olhar para o mundo a preto e branco. Mas não nos deixemos cair em tentação - olhemos para o século passado, e para o que significou o mundo a preto e branco das ideologias.

Céu e fauna


Vistas

A ericeira é bela precisamente por causa destes recantos. Perto do novo centro de saúde, a vista entre dois prédios é esta: casario a espraiar-se até ao mar, numa perspectiva encavalitada sobre a terra. Pena é que a foto não faça justiça à paisagem.


Gaivotas

Aqui na ericeira há muitas destas meninas. Geralmente, à beira mar, mas por vezes passeiam-se frente à minha sala de aula, para me recordarem de como se estava muito melhor lá fora... Perdoem-me a desfocagem, mas a minha máquina é compacta e não permite grandes aventuras com as distâncias.

quarta-feira, 27 de abril de 2005

Teatro

A minha turminha favorita está fascinada com a ideia de representar O Príncipezinho numa peça de teatro. Devoram os papéis com o guião, treinam até à exaustão (do professor, não deles...) e, ao fim de duas aulas de "ensaios", já começam a entrar nos papeis com trejeitos vocais e representações rudimentares. É fascinante ver o interesse que leva os miúdos a empenharem-se neste trabalho.

Claro, há sempre alguns que não conseguem. Nessa turma tenho dois disléxicos a quem é impensável dar um papel. Eles não conseguem ler, o que inviabiliza a memorização. Mas isso não significa que não participem. Vou ver o que é que se arranja.

Depois, há aqueles que são irremediávelmente tímidos. Não os vou forçar a ir contra a natureza deles. Bem sei, por experiência própria, o difícil que é expormo-nos à frente de uma plateia.

E, com uma nota de tristeza, há aqueles que gostariam imenso de serem escolhidos, mas não conseguem. Ainda há pouco detectei uma lagriminha no canto do olho de uma aluna. Também tenho de arranjar algo para eles dizerem. Não posso desprezar sem mais nem menos alunos que estão motivadíssimos.

E agora só resta o resto do trabalho. Ensaiar. Construir os adereços. Ensaiar.

Espero que no dia da apresentação eu não me veja obrigado a fugir, com medo de algum desastre...

terça-feira, 26 de abril de 2005

Cão perdido

Anda perdido pela zona de Santo Isidoro, perto da Ericeira, um cão arraçado de Gran Danois, castanho e branco, muito meigo. Para qualquer informação, contactar: 968211701

Quinta Dimensão


Gnarly

Definitivamente inspirado no livro que ando a ler, cá vão umas representações não matemáticas de objectos pluridimensionais.


Xoxx

segunda-feira, 25 de abril de 2005

Os Cravos


Os Cravos

25 de Abril

Hoje é o dia 25. Feriado. Comemora-se a revolução dos cravos.
O 25 de abril está mais reservado aos indefectíveis, à geração dos cravos, à geração que fez e viveu o dia 25. Para nós, o feriado é mais uma curiosidade histórica, como o dia da restauração da independência ou o dia 5 de outubro. O 25 de abril está a cair, lentamente, no esquecimento, e ainda bem que assim acontece. Não podemos estar eternamente às voltas com os ideiais que caracterizaram o 25 de abril. Foi um momento importantíssimo da nossa história, um momento crucial que levou ao fim de uma ditadura atrofiante e ridículamente provinciana, e que criou as condições para o Portugal moderno - uma terra que, longe de ser perfeita, evoluiu imenso nestes últimos 30 anos.

Há sempre vozes saudosistas que se lembram dos bons velhos tempos pré 25 de abril. Mas quais bons velhos tempos? Os bons velhos tempos da pobreza generalizada, do analfabetismo reinante, do portugal dos pequeninos, da pide, das oligarquias industrias, da guerra colonial, da completa inexistência de direitos sociais, da falta de condições de higiene, saúde, educação, habitação, emprego construtivo, saudades dos bons velhos tempos do "vinho que dá pão a um milhão de portugueses?

Sem 25 de abril não teríamos o portugal moderno, em franca evolução cognitiva, económica e tecnológica, país integrado na união europeia que tem, melhor e pior, de forma pouco uniforme e, a nosso ver, impacientes como somos, de forma lenta, evoluído intensamente nestes trinta anos. Se antes do 25 de abril andávamos de carroça por caminhos abertos nos campos, hoje deslocamo-nos de automóvel através de modernas autoestradas. E são inúmeros os exemplos de evolução, desde o uso de telemóveis à pujança das empresas da nova economia (e aqui na Ericeira temos um exemplo excepcional de empresa de software de nível mundial). Também são inúmeros os exemplos da evolução que ainda falta em portugal, com as mentalidades ainda presas à noção de portugal dos pequeninos, à ideia de desenrasque e à preponderância do fazer pela vida em vez do aproveitar uma vida. Mas as mentalidades são sempre mais lentas a mudar, e as novas gerações já apresentam cada vez menos sinais desta antiquada mentalidades provinciana.

Se hoje quase esquecemos o 25 de abril, é bom sinal. É sinal que o 25 de abril foi um sucesso, e que as transformações que propiciou à sociedade portuguesa estão a mudar profundamente o país. Não é a perfeição, mas sic transit mundi

Leituras


Schismatrix

O site de Rudy Rucker
Bibliografia de Bruce Sterling
The Cyberpunk Project

Agora estou em fase de releituras, pegando em autores e livros que já li, mas não esqueci, desempoeirando os seus lugares nas estantes. É a melhor maneira de realmente saber se um livro é tão bom como nos pareceu aquando da primeira leitura. Se à segunda leitura o livro continuar a saber bem, a excitar a imaginação, e a obrigar-nos a continuar compulsivamente a virar a página mesmo sabendo como termina o enredo, sabemos que temos um companheiro para a vida. Um daqueles livros que iremos períodicamente reler, ao sabor dos nossos interesses, para refrescar aquelas ideias originais que, com o passar do tempo, começam a ficar esquecidas. Pega-se no livro, e pronto, toda a frescura das ideias, toda a excitação da prosa voltam a revelar-se, quase como se fosse a primeira leitura.

Há livros que se aguentam bem. O Ulisses, de James Joyce, os contos de H. P. Lovecraft, as Histórias Extraordinárias de Edgar Allan Poe, o Terrarirum, de João Barreiros e Luís Filipe Silva, ou o Senhor dos Anéis, de Tolkien, são alguns dos livros que se lêem e relêem, e nunca se esgotam. Alguns, de entre muitos. Não cabe aqui neste post o espaço para declamar todos os livros que se lêem e relêem sem que a sua frescura se esgote. Em compensação, o badaladíssimo Código Da Vinci não sobreviveu a uma segunda leitura. Da primeira vez que o li, o livro surpreendeu-me, como um thriller bem manufacturado com algumas ideias interessantes. À segunda leitura, apenas me ficou a boa manufactura literária do romance.

Mas vamos lá ao assunto. Duas re-leituras: Schismatrix, de Bruce Sterling, e Realware, de Rudy Rucker. Schismatrix é um dos melhores romances de FC ciberpunk que já li. Trata da Schismatrix, um futuro utópico/distópico com uma humanidade a aproximar-se da transcendência e a colonizar todo o sistema solar. Há várias clivagens entre a humanidade: existe uma interdição que efectivamente isola o planeta Terra de todos os contactos com a humanidade espalhada pelo sistema solar em estações orbitais e colónias em asteróides. Os filhos da terra isolam-na, e desprezam-na como um mero poço de gravidade. A humanidade colonizadora do espaço está também dividida em duas facções, Mecanistas (transcendência através da tecnologia mecânica e cibernética) e Modeladores (transcendência através da biotecnologia e condicionamento psicológico). Mas a humanidade não se integra perfeitamente nestas duas facções; o espaço é, por definição, espaçoso, e qualquer desvio ao padrão de ideias encontra o seu lugar num qualquer novo habitat espacial, asteróide pronto a minerar ou até mesmo nave espacial à deriva por entre os vários postos da civilização humana no espaço. No romance, acompanhamos a vida de Abelard Lindsay, um influente teórico modelador sempre em luta contra a corrente, que começa a sua odisseia de duzentos anos na república circunlunar Mare Serenitatis (dos primeiros habitats orbitais) com uma revolta contra a longevidade cada vez mais artificial da vida humana e termina a sua vida física abandonando o corpo, ajudado por uma presença alienígena, precisamente quando uma facção da humanidade por si inspirada começa a terraformar Europa (a famosa lua de Júpiter). Pelo meio, temos todo um desfile de brilhantes personagens pós-humanas, uma míriade fragmentada de novas ideias, novas tecnologias, novas humanidades, e uns curiosos extraterrestres à mistura, que apenas estão interessados no comércio de artefactos com a humanidade. Schismatrix foi a primeira obra de Bruce Sterling, reconhecido escritor de FC, futurista e que tem um belíssimo e estimulante blog, o Wired Blog , alojado pela lendária mas decadente revista Wired, para onde Sterling também escreve.

Realware também é FC, também é contemporânea, também é ciber, mas é totalmente diferente de tudo o que se possa imaginar. Rudy Rucker, o autor, é um cientista e matemático especializado em teorias multidimensionais - espaço-tempo, quarta dimensão, hipercubos e coisas assim. Li-o primeiramente num daqueles livros que me moldou, A Quarta Dimensão, editado pela Gradiva na colecção Ciência Aberta em 1991, um livro sobre a geometria dos espaços multidimensionais.

(Hoje até me apetecia falar um bocadinho mais disto, mas não assim tão para aí virado. Fica para uma próxima, prometo.)
A ficção científica de Rucker passa-se invariávelmente na confluência entre o nosso espaço tridimensional eo acesso/influência das outras dimensões espaciais. (Dimensões temporais são outra história.) E é sempre… psicadélicamente bizarra, é a descrição que me ocorre. O primeiro livro da tetralogia *ware está editado em português pela colecção azul de FC da caminho. Vão ler, porque a prosa de Rucker é uma daquelas prosas com a estranha capacidade de trocar uns quantos fiozinhos ao nosso cérebro.

domingo, 24 de abril de 2005

Because

Porque há coisas que não devem ser ditas, por que há pensamentos que não podem ultrapassar os limites da caixa craniana. Porque, porque... não somos robots, reagimos com emoção, e não somos capazes de perceber. Perceber o ridículo quotidiano, perceber as perversões, perceber o porquê das razões íntimas. Perceber porque se aguenta, tolera e suporta. Perceber porque se está mais além, e porque se suporta aquilo que é inferior. E porque não? Nada há como uma boa dose de abnegação e resignação para nos sentirmos superiores, metafísicamente mais elevados do que o comum nesta humanidade fétida.

Vermes. Vermes a chafurdar no esterco. Olho para a humanidade e é só o que vejo, o que me deixa arrepiado, temendo o contágio. Tanta tristeza, guerra, pobreza, ganância. Somos pouco melhores do que os animais.

5 mil milhões de pessoas sobre o planeta. Poucas são aquelas que conseguem elevar-se ao nível humano. A maioria chafurda na ignorância da pobreza, da ganância. E entre aqueles que são capazes de ser, realmente, humanos, a maioria chafurda no atoleiro cultural criado por seres gananciosos, que pouco se importam com outros destinos que não os deles. Poucos escapam, menos sobrevivem, quase nenhuns transcendem.

Pouco mais somos do que pilhas de carne fétida e ambulante, convencida que é algo de transcendental. Ossos corroídos, carne pútrida. Pensamentos impuros, lixo fétido ambulante.


Não é que não haja esperança. De entre milhões de formigas mentecaptas, estatísticamente é impossível que não haja transcendências. Se assim não fosse, nem valia a pena sermos humanos, pois as grandes obras de arte, arquitectura, pintura, música, filosofia e literatura que nos dão vontade de ser e transcender nem existiram.

Não percebem? Se souberem procurar, encontrem. Mas têm mesmo de saber...

sábado, 23 de abril de 2005

Net Art


thing

No site The Thing, online desde os anos 90, estão alguns dos mais controversos e revolucionários projectos de net art - usando a internet como medium para criar projecots artísticos. Sugiro que vejam os projectos uniCity version 2.1 - 2.6 de Susan Goldman (1996), Videos and Stills de Vanessa Beecroft (1998), The History of Moving Images de Vuk Cosic (1998), Picture Rubble / Raw Material de Rainer Ganahl (2001) e My Doomsday Weapon de Jakob Boeskov (2004). Não esperem sites cheios de imagens e truques cibernéticos para nos fascinar. Estes projectos levam o conceito de arte como forma superior de comunicação de ideias à internet, com uma sobriedade gritante.

No site de Vuk Cosic, mais uns brilhantes projectos de net-art, como a renderização do filme garganta funda em ASCII.

O Fim do Mundo

Prováveis causas do fim do mundo, in Guardian Ulimited|Life|What a way to go, lido através de um post no WorldChanging:

1: Climate Change
Nick Brooks is a senior research associate at the Tyndall Centre for Climate Change Research at the University of East Anglia:
"By the end of this century it is likely that greenhouse gases will have doubled and the average global temperature will have risen by at least 2C. This is hotter than anything the Earth has experienced in the last one and a half million years. In the worst case scenario it could completely alter the climate in many regions of the world. This could lead to global food insecurity and the widespread collapse of existing social systems, causing mass migration and conflict over resources as some parts of the world become much less habitable. I don't think that climate change will sound the death knell for humans, but it certainly has the potential to devastate."
Chance of temperatures rising more than 2C (the level considered to be dangerous by the European Union) in the next 70 years: High
Danger score: 6

2: Telomere erosion
Reinhard Stindl, a medical doctor at the University of Vienna, says every species contains an "evolutionary clock", ticking through the generations and counting down towards an inevitable extinction date:
"On the end of every animal's chromosomes are protective caps called telomeres. Without them our chromosomes would become unstable. Each time a cell divides it never quite copies its telomere completely and throughout our lifetime the telomeres become shorter and shorter as the cells multiply. Eventually, when they become critically short, we start to see age-related diseases, such as cancer, Alzheimer's, heart attacks and strokes.
"However, it is not just through our lifetime that telomeres get shorter. My theory is that there is a tiny loss of telomere length from one generation to the next, mirroring the process of ageing in individuals. Over thousands of generations the telomere gets eroded down to its critical level. Once at the critical level we would expect to see outbreaks of age-related diseases occurring earlier in life and finally a population crash. Telomere erosion could explain the disappearance of a seemingly successful species, such as Neanderthal man, with no need for external factors such as climate change."
Chances of a human population crash due to telomere erosion during the next 70 years: Low
Danger score: 8

3: Viral Pandemic
Professor Maria Zambon is a virologist and head of the Health Protection Agency's Influenza Laboratory:
"Within the last century we have had four major flu epidemics, along with HIV and Sars. Major pandemics sweep the world every century, and it is inevitable that at least one will occur in the future. At the moment the most serious concern is H5 avian influenza in chickens in south-east Asia. If this virus learns to transmit from human to human then it could sweep rapidly around the world. The 1918 influenza outbreak caused 20m deaths in just one year: more than all the people killed in the first world war. A similar outbreak now could have a perhaps more devastating impact.
"It is not in the interests of a virus to kill all of its hosts, so a virus is unlikely to wipe out the human race, but it could cause a serious setback for a number of years. We can never be completely prepared for what nature will do: nature is the ultimate bioterrorist."
Chance of a viral pandemic in the next 70 years: Very high
Danger score: 3

4: Terrorism
Professor Paul Wilkinson is chairman of the advisory board for the Centre for the Study of Terrorism and Political Violence at the University of St Andrews:
"Today's society is more vulnerable to terrorism because it is easier for a malevolent group to get hold of the necessary materials, technology and expertise to make weapons of mass destruction. The most likely cause of large scale, mass-casualty terrorism right now is from a chemical or biological weapon. The large-scale release of something like anthrax, the smallpox virus, or the plague, would have a huge effect, and modern communications would quickly make it become a trans-national problem.
"In an open society, where we value freedoms of movement, we can't guarantee stopping an attack, and there is a very high probability that a major attack will occur somewhere in the world, within our lifetimes."
Chances of a major terrorist attack in the next 70 years: Very high
Danger score: 2

5: Nuclear war
Air Marshal Lord Garden is Liberal Democrat defence spokesman and author of Can Deterrence Last?:
"In theory, a nuclear war could destroy the human civilisation but in practice I think the time of that danger has probably passed. There are three potential nuclear flashpoints today: the Middle East, India-Pakistan and North Korea. Of these, North Korea is the most worrying, with a hair-trigger, conventional army that might start a war by accident. But I like to believe the barriers against using a nuclear weapon remain high because of the way we have developed an international system to restrain nuclear use.
"The probability of nuclear war on a global scale is low, even if there remains the possibility of nuclear use by a rogue state or fanatical extremists."
Chance of a global nuclear war in the next 70 years: Low
Danger score: 8

6: Meteorite impact
Donald Yeomans is manager of Nasa's Near Earth Object Program Office at the Jet Propulsion Laboratory in California:
"Over very long timescales, the risk of you dying as a result of a near-Earth object impact is roughly equivalent to the risk of dying in an aeroplane accident. To cause a serious setback to our civilisation, the impactor would have to be around 1.5km wide or larger. We expect an event of this type every million years on average. The dangers associated with such a large impactor include an enormous amount of dust in the atmosphere, which would substantially shut down sunlight for weeks, thus affecting plant life and crops that sustain life. There would be global firestorms as a result of re-entering hot ejecta and severe acid rain. All of these effects are relatively short-term, so the most adaptable species (cockroaches and humans, for example) would be likely to survive."
Chance of the Earth being hit by a large asteroid in the next 70 years: Medium
Danger score: 5

7: Robots taking over
Hans Moravec is a research professor at Carnegie Mellon University's Robotics Institute in Pittsburgh:
"Robot controllers double in complexity (processing power) every year or two. They are now barely at the lower range of vertebrate complexity, but should catch up with us within a half-century. By 2050 I predict that there will be robots with humanlike mental power, with the ability to abstract and generalise.
"These intelligent machines will grow from us, learn our skills, share our goals and values, and can be viewed as children of our minds. Not only will these robots look after us in the home, but they will also carry out complex tasks that currently require human input, such as diagnosing illness and recommending a therapy or cure. They will be our heirs and will offer us the best chance we'll ever get for immortality by uploading ourselves into advanced robots."
Chance of super-intelligent robots in the next 70 years: High
Danger score: 8

8: Cosmic ray blast from exploding star
Nir Shaviv is a senior lecturer in physics at the Hebrew University in Jerusalem, Israel:
"Once every few decades a massive star from our galaxy, the Milky Way, runs out of fuel and explodes, in what is known as a supernova. Cosmic rays (high-energy particles like gamma rays) spew out in all directions and if the Earth happens to be in the way, they can trigger an ice age. If the Earth already has a cold climate then an extra burst of cosmic rays could make things really icy and perhaps cause a number of species to become extinct. The Earth is at greatest risk when it passes through a spiral arm of the Milky Way, where most of the supernova occur. This happens approximately every 150m years. Paleoclimate indicators show that there has been a corresponding cold period on Earth, with more ice at the poles and many ice ages during these times.
"We are nearly out of the Sagittarius-Carina arm of the Milky Way now and Earth should have a warmer climate in a few million years. But, in around 60m years we will enter the Perseus arm and ice-house conditions are likely to dominate again."
Chance of encountering a supernova in the next 70 years: Low
Danger score: 4

9: Super-volcanos
Professor Bill McGuire is director of the Benfield Hazard Research Centre at University College London and a member of Tony Blair's Natural Hazards working group:
"Approximately every 50,000 years the Earth experiences a super-volcano. More than 1,000 sq km of land can be obliterated by pyroclastic ash flows, the surrounding continent is coated in ash and sulphur gases are injected into the atmosphere, making a thin veil of sulphuric acid all around the globe and reflecting back sunlight for years to come. Daytime becomes no brighter than a moonlit night.
"The global damage from a super-volcano depends on where it is and how long the gas stays in the atmosphere. Taupo in New Zealand was the most recent super-volcano, around 26,500 years ago. However, the most damaging super-volcano in human history was Toba, on Sumatra, Indonesia, 74,000 years ago. Because it was fairly close to the equator it injected gas quickly into both hemispheres. Ice core data shows that temperatures were dramatically reduced for five to six years afterwards, with freezing conditions right down to the tropics.
"A super-volcano is 12 times more likely than a large meteorite impact. There is a 0.15% probability that one will happen in your lifetime. Places to watch now are those that have erupted in the past, such as Yellowstone in the US and Toba. But, even more worryingly, a super-volcano could also burst out from somewhere that has never erupted before, such as under the Amazon rainforest."
Chance of a super-volcano in the next 70 years: Very high
Danger score: 7

10: Earth swallowed by a black hole
Richard Wilson is Mallinckrodt Research Professor of Physics at Harvard University in the US:
"Around seven years ago, when the Relativistic Heavy Ion Collider was being built at the Brookhaven National Laboratory in New York, there was a worry that a state of dense matter could be formed that had never been created before. At the time this was the largest particle accelerator to have been built, making gold ions crash head on with immense force. The risk was that this might form a stage that was sufficiently dense to be like a black hole, gathering matter from the outside. Would the Brookhaven labs (and perhaps the entire Earth) end up being swallowed by a black hole created by the new accelerator?
"Using the information we already know from black holes in outer space, we did some calculations to find out if the Brookhaven particle accelerator was capable of forming such a black hole. We are now pretty certain this state of matter won't form at Brookhaven and that the Earth won't be swallowed when these particles collide."
Chance of Earth being gobbled up by a black hole in the next 70 years: Exceedingly low
Danger score: 10

Leituras

Novo conto colocado online no site InfinityPlus: Dark Calvary, por Eric Brown, um autor que desconheço. Leiam, talvez seja algo de muito interessante. Também a ler, I, Robot de Cory Doctorow, um dos mais promissores novos escritores de FC, online no Infinite Matrix.

sexta-feira, 22 de abril de 2005

100 livros

Os 100 melhores

Uma página com uma lista dos 100 melhores livros de FC.

100 tempo

Sem tempo é um sentimento que me persegue ultimamente. Especialmente com esta treta que é dar aulas de tarde.

Há alturas em que temos tempo para tudo. As horas passam preguiçosamente e nós deixamo-las passar, langorosos e relaxados. E há alturas em que o ponteiro dos segundos bate estrepitosamente, a lembrar-nos que o tempo está a passar em passo de corrida bem acelarado.

Agora estou mais nesta segunda opção temporal.

A culpa disto, parece-me, está não só nas ocupações que se tem, mas também em ter de trabalhar só de tarde, este ano lectivo. Um típico dia em que trabalhe de manhã (logo às oito, para pôr a adrenalina a mexer no corpo), tem este ritmo: acordar para aí uma hora, hora e meia antes do necessário, para dar tempo a um tranquilo e recheado pequeno almoço salpicado de leituras; uma curta mas sonora viagem até à escola, um café e um cigarrinho antes da aula, a saber melhor com o frequinho da manhã; trabalhar no duro, a dar aulas e a fazer tudo o que um prof tem de fazer para além das aulas; almoçar. À tarde, depende. Poderá haver aulas de tarde, ou não. Mas de qualquer maneira, a tarde fica mais liberta para uma sestazinha (para retemperar forças mentais), seguida de um bom momento de leitura; há tempo para trabalhar, quer no blog, quer a desenhar, quer a preparar algum trabalho com os alunos; depois prepara-se um belíssimo jantar, e o serão fica reservado para um cafézinho com os amigos, umas leituras ou, naquelas raríssimas ocasiões em que passa algo de mínimamente interessante na tv, um bocadinho de tempo a ver a idiot box.

Assim o tempo rende. Há tempo para trabalho e para lazer. O lazer não se fica por sessões mentecaptas de televisionamentos de lixo cultural, e o trabalho não se fica pela rotina que paga o salário que paga as contas. Há tempo para pensar e criar.

Agora um dia com aulas de tarde... manhã: acordar estremunhado mais tarde do que deveria. Saber que só se começa a trabalhar às três é uma belíssima desculpa para preguiçar na cama. Saltar para o computador, ou porque são precisos documentos para escola, ou para finalmente passar para o blog aquela ideia que estou a ruminar há dias (ou semanas); tempo de fazer almoço, um trabalho ingrato, pois o afinco que se põe na preparação da comida empalidece perante a velocidade com que a comida é deglutida (nem chega a ser saboreada). Correr para a escola. Ao menos, o meu cigarrinho com sabor a café antes de uma aula ninguém me tira. Terminar um dia (tarde) de aulas ao pôr do sol, completamente derreado, demasiado cansado até para responder aos comentários da praxe: "cansado porquê? só trabalhaste três horas de tarde..." O cérebro pensa "e o resto????", mas os músculos faciais estão demasiado cansados para articular a reposta. Um jantar é preparado em modo de exuastão, e o serão implica mais trabalho. Antes do dia terminar oficialmente, o cérebro está invadido por um cansaço terminal. Isto num dia normal. Se por acaso há alguma exigência extra, tipo algum assunto a tratar, ou um trabalho mais complexo, o caos instala-se definitivamente.

Como hoje. Converti animações para video enquanto fazia o almoço. É sempre bom ser multifacetado...

E finalmente sexta-feira, penso, com aquele ar triste de quem sabe que na segunda tudo recomeça novamente. Omnia mutantur, nihil interit

quinta-feira, 21 de abril de 2005

Animações

Image hosted by Photobucket.com

Com uma máquina digital sony cybershot p-73 de 4.1 megapixeis, um tripé, boa vontade e uns cenários, estou a ensinar os meus alunos a criarem desenhos animados.

As personagens são bonecos bidimensionais, articulados com attaches. A montagem e conversão para gif animado/avi/quicktime é feita no Corel RAVE.

Image hosted by Photobucket.com

STS 114


Space Shuttle Discovery

Space.com:NASA Delays First Post-Columbia Launch
O Discovery a chegar à rampa de lançamento
A memória da STS-1

Após o desastre que atingiu o vaivém Columbia em 2003 a Nasa tem sido muito reticente nos lançamentos de naves espaciais. Teve de ser revista toda a organização interna da organização, pois alguns engenheiros já haviam apontado o defeito na aeronave durante o voo espacial, mas esse facto foi subvalorizado na cultura opressiva da Nasa de então. Também gerou caos na construção da ISS - estação espacial internacional - só a nasa tem capacidade para lançar sete pessoas, com carga, para o espaço. As soyuz russas, um design já dos anos 60, só levam três. E a ESA está agora a terminar o nosso ATV (Automated Transfer Vehicle), que não é de modo nenhum um shuttle. E, para grande pena na comunidade científica, a Nasa vai deixar de fazer missões até à órbita do telescópio Hubble. Por razões de segurança.

Ao fim de alguns anos de cuidadosas aferições e reparações, a Nasa já está preparada para recomeçar os voos rotineiros do space shuttle. Em maio, para lá da segunda quinzena, talvez dia 22, estejam atentos aos telejornais, porque desta vez certamente que vão passar imagens daquele momento de tirar o fólego que é o lancamento de um vaivém espacial. Para já, umas imagens do vaivém enquanto está a ser levado do hangar no Kennedy Space Center para a rampa de lançamento, a uns calmíssimos metros por hora.

A missão é uma missão de teste aos novos sistemas burocráticos da Nasa. E espero que corra bem. A memória do desastre do Columbia ainda está fresca nas memórias.

E, falando em memórias, quem da minha geração é que não se lembra do primeiro lançamento de um vaivém espacial, nos idos anos de 1981?


Sapce Shuttle Columbia

Curiosamente, no mesmo dia em que por cá o Carlos Cruz foi definitivamente detido no processo de pedofilia na casa pia, foi o dia em que o Columbia explodiu na reentrada na atmosfera, espalhando destroços sobre todo o sul dos EUA. Seria uma coincidência maravilhosa que o Discovery, o vaivém da missão STS 114, fosse lançado no dia 25 de maio... grande festa!

quarta-feira, 20 de abril de 2005

Variações medusa


Medusa I

Um dos recursos mais fascinantes no Photoshop é o blending de layers, com todas as suas permutações que me permitem chegar cada vez mais próximo de novas paisagens abstractas.


Medusa II

Resmungos

Hoje estou mal humorado e resmungão. Pudera. Tive de ar mais uma aula sózinho.
Uma das coisas que mais detesto são colegas de trabalho em quem não se pode confiar. Não digo confiar como se eles nos atraiçoassem ou nos tentassem tramar a vida. É mesmo confiar no sentido de não conseguir depender deles para nada.

Estou a tentar fazer um teatro com uma turma minha. E fazer este trabalho sózinho é muito difícil... são precisos vários grupos de trabalho, e dois professores para controlar melhor a coisa. Os alunos têm de memorizar as linhas de texto... treinar a sequência... fazer adereços... muita coisa. E um só professor, é difícil, especialmente quando se sabe que a colega que deveria trabalhar conosco ora aparece, ora não aparece.

A sorte dela é que eu sou profundamente anarquista (embora não o demonstre). Faço o meu trabalho, e o resto que se dane.

Outro resmungo: ainda só li de passagem no boingboing, mas parece que o novo papa, cardeal ratzinguer, tem um passado obscuro na juventude hitleriana, com um emprego numa fábrica de tanques e uma passagem por campos de concentração na II guerra. Tenho de investigar melhor. Mas não me surpreende. Qual será o alemão daquela idade que não tenha passado pela juventude hitleriana e pela wermacht? Todos o fizeram. Não era uma questão de escolha. E não é suposto a igreja perdoar os pecados passados?

terça-feira, 19 de abril de 2005

Medusa


Medusa

Cá vai mais um, neste meu estilo obsessivo e decorativo do qual já não me consigo libertar.

segunda-feira, 18 de abril de 2005

Desenhos




Mais um. Mas a este, por ser um conjunto sugestivo de formas, dei-lhe umas voltas no photoshop. E saiu esta coisa em tons retro.


domingo, 17 de abril de 2005

Desenho




Mais um. Uno más. One more. Encore une autre...

Arquitectura Utópica


Numa rússia inexistente.

The Architecture of Moscow
from the 1930s to the early 1950s.Unrealised projects


Curioso site russo com desenhos de edifícios projectados, mas nunca construídos. Não há nada como um pouco de arquitectura utópica para nos despertar a imaginação.

A arqutectura utópica é fascinante. Há uma beleza nostálgica nos projectos de edifícios nunca contruídos, a beleza própria de sonhos futuristas ainda por realizar.

Telelixo

Ontem acordei com um estranhíssimo sonho, ao qual certamente que não foi alheia a quantidade de alcool que degustei na noite anterior. Sonhei, simplesmente, que estava a ver/participar num novo reality show da televisão: o campo de concentração. O sonho desenvolveu-se como os sonhos normalmente se desenvolvem, com a sua surrealista lógica interna. Comecei por sonhar que o concurso era sobre que sobreviveria a um campo de concentração... mas antes que o meu cérebro me mergulhasse num violento pesadelo nazi, o meu sonho alterou-se para um concurso passado num antigo campo de concentração, onde o objectivo parecia ser explorar o campo de concentração, e talvez encontrar alguns esqueletos. O sonho foi mais ilógico e surrealista do que isto, mas... acordei a pensar no telelixo.

Só para referência: se os campos de concentração de auschwitz, tal como outros no continente europeu, são locais preservados para reflexão, para que não nos esqueçamos do que se lá passou, na àsia a coisa assume outra proporções. No Camboja, o governo alugou o campo da morte de tuol sleng, o imortalizado killing field, onde morreram milhares de cambojanos durante o sangrento e malfadado regime dos khmers vermelhos de Pol Pot, a uma empresa japonesa para... desenvolvimento turístico. Se a moda pega...

A verdade é que todos dizem mal do telelixo que povoa a televisão. Mas eu vou dizer bem.

Eh, eh.

Na verdade, o panorama televisivo é deprimente. Sempre que ligo um televisor, com a vaga esperança de ver um documentário, um filme, ou uma série interessante, percebo logo que se trata de uma vã esperança ao acender do ecrã. Geralmente sou bombardeado por telenovelas, concursos, ou programas tão bizarros e desinteressantes que resistem a classificações (chamam-lhes talk shows). Cada vez menos são transmitidos em sinal aberto, gratuito para o telespectador, programas enriquecedores. Claro, se estiver disposto a pagar, tenho todos os documentários que quiser nos canais de cabo. É um assunto que não deixa de ter algum interesse em desenvolver, este acesso pago a conteúdos culturais.

De facto, o panorama televisivo é tão mau, tão mau, que nem vale a pena ter o televisor ligado. Resultado: menos poluição visual, mais tempo para ler, navegar na net e ouvir música. A desculpa da televisão como meio para queimar uns minutos quando a cabeça está exausta não pega; nada que um livro ou uma revista não curem. e se estivermos mesmo cansados, não há nada como tentar ficar de cabeça mesmo vazia. É relaxante.

É por isso que o telelixo me faz bem. O tempo que não gasto a ver tv torna-me a vida mais interessante.

sexta-feira, 15 de abril de 2005

Correlações

When Numbers Solve a Mystery

Uma curiosa coluna literária na página de opiniões do Wall Street Journal revelou-me uma correlação avassaladora. Ao analisar diversas correlações económicas, um economista afirmou que a diminuição da taxa de criminalidade nos estados unidos estava directamente relacionada com a legalização do aborto. Nos estados americanos onde o aborto havia sido legalizado anos antes da legalização a nível nacional, a taxa de criminalidade tinha começado a decair logo a seguir à legalização do aborto.

A fonte destas observações? Não foram grupos de dicussão pró-aborto, mas sim economistas com paciência para analisar dados puros, e sugerir padrões.

Citando:
Back in 1999, Mr. Levitt was trying to figure out why crime rates had fallen so dramatically in the previous decade. He was struck by the fact that crime began falling nationwide just 18 years after the Supreme Court effectively legalized abortion. He was struck harder by the fact that in five states crime began falling three years earlier than it did everywhere else. These were exactly the five states that had legalized abortion three years before Roe v. Wade.

Para crédito do autor, ele não lança estas conclusões como tautologias inatacáveis. Tratam-se apenas de padrões surgidos da observação de dados. E esta correlação é apenas uma de entre muitas apresentada no livro Freakonomics : A Rogue Economist Explores the Hidden Side of Everything, de Steven D. Levitt e Stephen J. Dubner. Mal posso esperar para que seja traduzido.

quinta-feira, 14 de abril de 2005

Casa da Música

Uma rapidinha. Acabei de ver no telejornal que, com grande fanfarra, é hoje inaugurada a casa da música, no porto. O edifício é lindíssimo, uma obra fenomenal de Rem Koolhas (um dos mestres da arquitectura contemporânea), mas já está com uma série de problemas. Primeiro, o atraso. Dois ou três anos sobre a data prevista. Depois, as guerrinhas mesquinhas entre os responsáveis das orquestras do porto, a salivar com o novo espaço. E, claro, uma tipicamente portuguesa: vai ser construído mesmo ao lado a nova sede de um banco... num espaço que deveria ser valorizado estéticamente.

Sr. Koolhas, note bem: mais alucinante que nova Yorque, é qualquer cidade portuguesa.

A nova ministra da cultura surpreendeu pelo seu provincianismo: quer declarar o imóvel património nacional. Não há dúvida que o edifício é importante, e belo; pela parte que me toca, não me importava de ver em portugal mais obras destes superarquitectos (como Gehry, Ando, Calatrava, ou tantos outros). Mas o edifício está a ser inaugurado. Não é um bocadinho prematuro? E não é um bocadinho provinciano declarar um imóvel património apenas por ter sido desenhado por um mestre da arquitectura? Certamente que estão por aí muitos edifícios projectados por arquitectos com menos renome, mas não de menos beleza.

G-wiz


G-WIZ

É feio. Parece um papa-reformas. É baratucho. É mesmo feio. E é a resposta indiana aos desafios do aquecimento global e do esgotamento de recursos naturais. É o G-wiz, um carro totalmente elétrico, que se está a começar a vender na europa. É um carro de cidade, com pouca autonomia e baixas velocidades. E liga-se à corrente. Foi criado e é produzido na India, e em inglaterra está a vender-se bem.

World Changing
G-Wiz
Reva India

Mas cá por mim, no que toca a novos veículos, mais amigos do ambiente, fico-me mesmo pelo Prius.
Toyota Prius

O problema é que não tenho dinheiro que dê para mais do que um peugeot...

Convergências

Lecture highlights need to share


É preciso partilhar.

Brutal artigo na bbb.co.uk ontem, que resumia uma conferência de Lord Broers sobre tecnologia.

Temos o mito comum do inventor, da invenção e do progresso científico e tecnológico como uma sucessão de momentos eureka: o eureka na banheira, a maçã que cai na cabeça, a chave que dá choque no papagaio, os fungos esquecidos na lamela, e etc., e etc., e etc.. São milhentas as histórias de momentos cruciais da ciência, descobertos por génios solitários capazes de ver, momentâneamente, para além dos horizontes.

Mas a verdade é que hoje, o nível de complexidade científica e tecnlógico é tão elevado que já não é possível corresponder ao mito do cientista isolado, louco ou não, que sózinho no seu laboratório revoluciona o mundo. Os doutores Pardais e os cientistas loucos estão, definitivamente, apenas no campo da ficção. Hoje apenas é possível descobrir novas e revolucionárias tecnologias fazendo convergir ideias e descobertas de várias àreas do conhecimento. O artigo dá um (até dá mais do que um) exemplo: a tecnologia GPS, que foi possibilitade por uma sinergia entre investimentos militares, miniaturização de hardware, descida dos custos de produção de hardware, avanços em astronautica e descida dos custos de lançamento de satélites.

Outro exemplo curioso é o do laser: quando foi inventado, pensava-se que poderia ter poucos usos para além da holografia, e, claro, de super armas futuristas (os raios da morte). Ainda não temos super armas; mas qualquer leitorzito de cd ou dvd tem um laser. As comunicações em fibra óptica funcionam por... laser. E os chips de computador, cada vez mais potentes, com cada vez mais transistores por micron quadrado, são produzidos... através da gravação em sílicio por laser.


"Most modern technologies are created by bringing together and evolving capabilities which already exist. The genius lies in the way they are brought together and improved,"

"These advances involved many people in many laboratories. The idea that a single person can 'invent' a new technology is out of the question in these cases"

Já fazia uns dias desde que eu lia uma opinião que me obrigava a pensar.

Only Happy When It Rains


O beco do costume


A vila coberta de nuvens

Pois é. Aquele sol radioso, aqueles dias luminosos de primavera parecem ter-se evaporado. Pelo aspecto visual da coisa, diria que teremos aí umas horas bem molhadas. Mas com o espectro de estado geral de seca em que vivemos, neste anno domini, ninguém se importa muito que chova.



Nuvens ominosas sobre o mar

quarta-feira, 13 de abril de 2005

A escassez da morte

WorldChanging

Li recentemente um curioso artigo sobre o que poderá acontecer numa sociedade futura que se recusa a morrer. Na verdade, com os constantes avaços na medicina, é-nos possível viver cada vez mais tempo. Mas quais serão as consequências sociais deste fenómeno?

As vacinas foram das mais benéficas invenções da humanidade, mas tiveram como contrapartida uma diminuição da mortalidade infantil - o que é bom, mas causou uma explosão populacional. Os correntes cinco mil milhões de humanos neste planeta (e a subir) não seriam viáveis sem aquelas ferramentas da medicina que nós já consideramos rotineiras, mas que há um século atrás ainda não existiam. É esse o preço do progresso - ao resolver velhos problemas, gera novos problemas.

Cada vez vivemos mais tempo. A esperança média de vida está a dilatar-se enormemente, graças aos cuidados médicos universais, e cientistas há que dedicam as suas carreiras ao progressivo aumento da esperança média de vida humana. Fala-se em terapias genéticas, telomerases, dietas especiais, tratamentos anti-envelhecimento. A ficção científica cyberpunk, que espelha fielmente a nossa sociedade contemporânea, tem o evitar do envelhecimento como um dos seus temas basilares, através da exploração de hipotéticas terapias genéticas que esticam indefinidamente a duração de uma vida. Leiam o Holy Fire de Bruce Sterling, ou o Schismatrix, e percebem do que estou a falar. Mas a ciência, sempre mais séria e sisuda que os escritores de FC, também já fala em possíveis extensões da vida na ordem dos 200 anos.

As economias também já lhe estão a apanhar o jeito. Recentemente, tem havido um maior investimento no mercado da terceira idade, quer a longo prazo (o que é um PPR, no fim de contas?), quer a curto prazo, com o turismo sénior e outros produtos comerciais destinados a uma terceira idade cada vez mais activa e afluente. O grupo Espírito Santo Saúde investiu recentemente na construção de condomínios fechados para a terceira idade, que asseguram todos os serviços desejados por uma velhice endinheirada. E isto é o nosso panorama neste pequeno cantinho.

O problema, a meu ver, está na regenaração natural. Viver mais do que 70 ou 80 anos não era algo de orginalmente previsto no código fonte da natureza e das sociedades humanas. Vamos viver tempos interessantes de reajustamento social - idosos activos, ainda trabalhadores (a corrente polémica sobre o aumento da idade da reforma espelha essa dicotomia - entre uma sociedade que espera reformar-se aos 60 anos, por se considerar provavelmente inútil, e uma nova sociedade que percebe que com a idade já não vêm os achaques de antigamente, e que a terceira idade pode ser tão produtiva como os anos considerados de vida activa). Novas gerações com cada vez maiores dificuldades em marcar o seu lugar no mundo, uma vez que os mais velhos vao continuando, indefinidamente, nos lugares de topo. A inversão das pirâmides populacionais, com a terceira idade a tomar o lugar da juventude como o segmento populacional com maior número de indivíduos, com o correspondente caos nos sistemas de segurança social, previstos para um futuro em que o número de jovens ultrapassa o de idosos, mas com uma realidade oposta. As transformações culturais de uma sociedade que envelhece mas não desaparece - lembrem-se dos Rolling Stones, ainda a cantar e a tocar, e multpliquem esse pensamento por toda uma sociedade.

E nós estamos mesmo na crista da onda deste mundo novo. Estamos precisamente no limiar da longevidade. Mesmo com os nossos estilos de vida hedonistas, viveremos mais anos do que os nossos avós, sempre àvidos de novos tratamentos que nos aumentem a esperança de vida e reduzam a esperança de morte. Seremos cada vez mais activos, por muito mais anos, juntando as nossas vozes à cacofonia cultural que produzimos. A morte cada vez mais longíqua, e nós numa perpétua adolescência.

Cenários futuros: robots cada vez mais inteligentes para substituir uma força de trabalho que vai diminuindo; uma versão sangrenta da luta intergeracional, como guerra aberta entre uma juventude desprezada e uma sociedade idosa que consome os recursos disponíveis em proveito próprio; a colonização do espaço como nova fronteira para uma humanidade em expansão; o afogar em diversidade cultural, com cada vez mais vozes educadas a produzir cada vez mais cultura; e ?.

Majestic


terça-feira, 12 de abril de 2005

Fio do Horizonte




A primavera está aí em força sobre a Ericeira, o que torna ainda mais penoso ter de ir trabalhar. Como resistir a este céu e a este mar? Tenho mesmo de me fechar dentro de uma sala de aula bafienta, com um bando de miúdos que não estão verdadeiramente interessados naquilo que têm de fazer?



vista

domingo, 10 de abril de 2005

Blogs

Escrever um blog é um pouco como editar um programa de rádio. É certo que o blog é menos aural do que o rádio, mas mesmo assim as semselhanças estão presentes.

Ocasionalmente, ouço interessantíssimos programas de rádio quando estou a conduzir. Geralmente, programas da Antena 2, daqueles que não se limitam a por o cd a tocar. E sou sempre atacado pelo mesmo pensamento: eu deveria seguir regularmente este programa. Porque a música é nova, e/ou interessante (a música clássica não se caracteriza exactamente como nova). No entanto, a menos que por acaso me encontre à mesma hora no carro a conduzir, difícilmente voltarei a ouvir o programa. Mas não é por isso que ele deixa de ser emitido, que o locutor/apresentador realiza um profundo trabalho de pesquisas e organizações sonoras. E que tem de competir com dezenas, centenas mesmo, de programas semelhantes e dissemelhantes emitidos à mesma hora por dezenas de emissoras radiofónicas.

Temos vontade de nos fidelizarmos a um programa, mas isso é quase impossível.

Um blog é semelhante. Escreve-se, prepara-se, umas vezes com um forte trabalho prévio, outras vezes ao sabor da inspiração do momento. Talvez aquilo que escrevemos seja lido, talvez não. Talvez alguém passe e leia, registando o momento e firmando a sua vontade de, um dia, regressar. Talvez regresse, talvez se esqueça.

Então, o que nos leva a escrever, dia a dia, palavras que serão inevitávelmente consignadas ao esquecimento do éter tecnológico?

E porque não?

E já agora, como escrever blog? Blog? Blogue? Blogs? Blogues? A verdade é que a palavra em si é pouco inspiradora, faz lembrar algo de balofo e gordurosamente pesado...

Vícios

Estou mesmo viciado nos blogues de mp3. Não há dia que passe sem eu verificar dois ou três destes blogues e sem que eu faça download de nova música. Tanta, que ainda não tive tempo para ouvir com atenção o que descarrego. Mas já descobri algumas pérolas sonoras.

Recomendo vivamente estes blogues. Nos links aqui do blog, cliquem nos links da categeria "Sons" e descubram por vós próprios a excitante música que se produz por aí.

sábado, 9 de abril de 2005

SOS

SOS. Preciso mesmo muito urgentemente de um documento do word com uma adaptação teatral do Príncipezinho de Saint Exupéry. Senão, terei eu mesmo de fazer um, e pô-lo online, para desenrascar quem precisa. Mas dá trabalho...

Também preciso de tempo. Coisa que hoje não tenho, pois terei uma agradabilíssima tarde a suportar uma reunião de condóminos. As reuniões de condomínios são como ir ao dentista: chatas, dolorosas, necessárias e irritantes. Quando numa mesma sala se juntam pessoas que nada têm a ver umas com as outras, tirando a proximidade geográfica de serem vizinhos; todas as pessoas querem dar o seu ar de importância, sem no entanto se envolverem demasiado (dá trabalho); alguns gostam (com aquele sorriso do gato que acabou de caçar um canário) mesmo muito de se exibirem como os mais inteligentes e competentes; são esses os ingredientes das reuniões de condóminos.

Entediantes perdas de tempo. Pessoalmente, vou tentar que o meu condomínio passe a ser gerido por uma entidade exterior. Dá menos trabalho.

sexta-feira, 8 de abril de 2005

Formas


Ficções, III

Cá vai uma lista minha, por ordem aleatória, de excelentes livros de FC.

Babel 17 - Samuel R. Delany
Nova - Samuel R. Delany
Gateway - Frederik Pohl
Canção da Terra Distante - Arthur C. Clarke
Snow Crash - Neal Stephenson
Fahrenheit 451 - Ray Bradbury
Blood Music - Greg Bear
Um Cântico a Leibowitz - Walter M. Miller, Jr.
Earth - David Brin
Against The Fall of Night - Arthur C. Clarke
Running Wild - J. G. Ballard
Zodiac - Neal Stphenson
Fleet of Stars - Poul Anderson

... e podia continuar, mas nunca mais acabava...

Ficções, II

Ainda o assunto do artigo especial da revista "Os Meus Livros". João Seixas, o autor dos artigos que mencionei no post anterior, publicou também uma lista de dez livros de FC que deveriam ter sido traduzidos, alguns clássicos e alguns recentes. Cá vai:
Ciclo Instrumentality of Mankind, de Cordwainer Smith. Nunca li, mas Cordwainer Smith é um dos autores seminais da Golden Age da FC - a era dos pulps, revistas como a Amazing Stories, a Air Wonder Stories e tantas outras. É uma obra vinda da era da infância da FC, que pelos vistos não ficou rápidamente datada, como aconteceu à maioria da FC produzida neste período.

Stand on Zanzibar, de John Brunner. Também não li, embora tenha um txt no disco rígido com o livro. Também é uma obra incontornável.

Dangerous Visions, editado por Harlan Ellison. Ellison é um dos melhores escritores de contos de FC, dos quais destaco Repent, Harlequin! Said The TickTocMan e I Have No Mouth But I Must Scream. Não está nada traduzido em português, que eu saiba.

Bug Jack Barron, de Norman Spinrad. Este é um nome que me surpreende - Spinrad escreve uma coluna na Fantasy and Science Fiction, uma revista da especialidade, mas nunca foi discutido como um autor importante. Estou curioso.

The Centauri Device, de John Harrison. Não li, tenho no disco rígido, e é incontornável, o que quer dizer que hei de ler.

Dhalgren, de Samuel R. Delany. Também não li, e inclino a cabeça, envergonhado. Delany é um dos maiores nomes da FC, autor de Babel 17 e Nova, as melhores Space Operas jamais escritas.

Blood Music, de Greg Bear. Onde a FC se conjuga com os medos da biotecnologia. Livro potente e poderoso sobre um tema clássico: o cientista que se torna cobaia da sua própria experiência, tentando transcender a sua humanidade.

The Anubis Gates, de Tim Powers. Sobre este não sei mesmo nada. Nada.

The Hyperion Cantos de Dan Simmons. Mais uma das obras que marcou o apogeu da Space Opera.

Perdido Street Station, de China Miéville. China Miéville é apontada como uma das revelações da nova FC, misturando cyberpunk com space opera. Ainda não consegui ler, mas se algum editor bem intencionado se decidir a publicar...

Anedótico...

Curta e rápida, acabadinha de ouvir na sala de profes. Em Mafra, a filha de uns donos de um café na vila queixou-se ontem (pelo menos, pareceu-me ser ontem) de fortes dores abdominais. Foi para o hospital... e voltou de lá com uma criança nos braços. O que surpreende é que ninguém tinha dado conta que a miúda estava grávida...

Imaginem muitos e indignados comentários de extrema surpresa. Como é que os pais não notaram? Como é que a miúda disfarçou a coisa?

Esta estranha estória de irresponsabilidade vai de certeza servir de combustível para as infindas diatribes em que nós professores nos lançamos quando falamos do deprimente mau estado geral das crianças portuguesas, que no fundo não é assim tão mau nem tão deprimente, embora óbviamente esteja longe de ser perfeito.

Coordenação Olho/Mão


Ficções

Na edição de abril da revista Os Meus Livros, vem um curto artigo sobre ficção científica, cortesia do aniversário da morte de Júlio Verne, um dos escritores seminais do género, embora não um dos meus favoritos - Verne foi demasiado sacarino e optimista para escrever obras verdadeiramente importantes. A sua importância prende-se com o seu rigor científico e pioneirismo.

A mais-valia do destaque dado pela revista prendia-se com uma breve observação do panorama da FC em portugal, exaltando (e justamente) João Barreiros e Luís Filipe Silva como expoentes máximos do género em português. Infelizmente, o tom artigo era deveras negativista, afirmando a impossibilidade da existência de boa FC em portugal com uma conjugação de factores que passam pela falta de cultura científica, falta de vontade editorial e inexistência de leitores.

Também salientou dez obras de FC tidas como "magníficas". A classificação é sempre discutível, mas cá vai a lista:
A Guerra dos Mundos, de H. G. Wells (este é o clássico da FC, não podia faltar);
O Livro do Novo Sol (quatro volumes), de Gene Wolf (não conheço, fiquei curioso, sabendo ainda mais que se trata de FC clássica);
Crónicas Marcianas, de Ray Bradbury (este maravilhoso livro foi o grande culpado pelo meu vício de FC; foi o primeiro que li, e o encantamento ainda não se desvaneceu. Ah, saudosa colecção de capa azul da Caminho...);
O Homem do Castelo Alto, de Phillip K. Dick (o autor do Blade Runner é incontornável quando se fala de FC);
A Trilogia de Helliconia, de Brian Aldiss (que ainda não li, mas escreveu o conto Supertoys Last All Summer Long, adaptado para cinema por Stanley Kubrick e Steven Spielberg com o título AI);
O Brilho Escorre do Ar, de James Tiptree Jr. (um clássico do género Space Opera dos anos 70);
Fogo nas Profundezas no Espaço, de Vernor Vinge (uma brilhante aventura cyberpunk/space opera escrita por um professor de informática numa daquelas hiperuniversidades americanas, marido de Joan D. Vinge);
Neuromante, de William Gibson (famoso por ter sido escrito numa máquina de escrever e ter inventado o termo "ciberespaço"; pessoalmente, penso que este livro sobre cowboys online tem mais fama do que a que merece);
Schismatrix, de Bruce Sterling (se William Gibson tem fama de ser o escritor cyberpunk, é Sterling que vame realmente a pena ler, junto com Neal Stephenson);
A Idade de Ouro, de John C. Wright (este tenho de ler).

Estas listas são sempre redutoras; onde está J. G. Ballard, Greg Bear, Michael Moorcock, Neal Stepehnson, Samuel R. Delany? Estes também faziam falta. Mas é esse o problema dos gostos. Só dá mesmo para os discutir.

Quanto à revista em si, é um desapontamento. Quando surgiu, pensei que se tornasse um contraponto ao elitismo da Ler e das suas congéneres, apostadas naquele irritante elitismo literário dos grandes autores e dos editores que se queixam que em portugal não se lê (como posso constatar sempre que passo pela FNAC e vejo as filas de pessoas carregadas de braçadas de livros). As primeiras edições da revista ainda valeram a pena, mas agora resvalou para um estilo editorial que se assemelha muito ao de um jornal de província. Vale pelas escolhas literárias, e por dar um bocadinho de atenção aos géneros de FC e fantasia.

Parabéns!

Ao meu velho amigo Diogo, físicamente longe mas sempre perto no coração, desejo os maiores parabéns por mais um aniversário. É verdade que estamos a ficar mais velhos, e mais longe vão os tempos em que partilhávamos conversas e cervejas na Ibiza, à beira do trânsito da avenida João XXI ou no incongruente, esse porto de abrigo nocturno para espécies intergalácticas à beira da praça de toiros... o tempo passa, inclemente, e as nossas obsessões mantêm-se. O trabalho também não perdoa.

Para ti, amigo, um grande abraço!

quinta-feira, 7 de abril de 2005

Liga dos Cavalheiros Extraordinários




Devir

A editora devir acabou de editar em TPB (trade paper back) o terceiro volume da série Liga dos Cavalheiros Extraordinários. Aconselho vivamente - está fantástico. Desta vez, o grupo ad-hoc de heróis vitorianos terá de combater uma invasõa marciana.

Sendo Alan Moore o mestre talentoso dos comics que é, este volume da série não é um mero recontar do clássico de H. G. Wells, A Guerra dos Mundos. Antes, mistura influências de toda a literatura de aventuras do virar do século, o que já é a característica (e a mais valia) da série. Nos primeiros volumes, laivos de Júlio Verne e Edgar Allan Poe juntavam-se ao reaproveitar de Conan Doyle, Bram Stoker, Welles e Ridder Haggard. Neste terceiro volume, o ponto de partida é dado por um marte inspirado pelos contos de Barsoom, de Edgar Rice Burroughs (como The Princess of Mars, que será a aposta de hollywood para mais um super-franchise ao nível da guerra das estrelas ou matrix). O final da história? Só no quarto (e imperdível) volume.

Às Lágrimas

Os miúdos têm muitas virtudes. Ontem, numa aula que dei, fui às lágrimas de tanto rir com a atitude de um aluno.

Como estou a ver se faço um teatrinho com aquela turma, propus ontem aos alunos um exercício simples para treino de voz e postura corporal. Era dada uma palavra aos alunos, e era-lhes pedido que representassem a emoção contida nessa palavra, frente a toda a turma. Os resultados foram os esperados. No lugar, perante a "representação" dos colegas, todos tinham ideias sobre qual a melhor maneira de representar. Quando chegava a vez de se apresentarem, no entanto, a maior parte mal conseguia representar, perante a pressão de tantos olhos cravados sobre eles. A maioria lá consegue, safa-se como pode. Alguns descobrem-se com talento natural para a representação, o que é sempre muito bom. E alguns bloqueiam por completo, incapazes de ultrapassar a barreira da timidez e das inibições. Mas um houve que me surpreendeu por completo.

Antes de mais, deixem-me dizer que o miúdo é completamente disléxico. Nem consegue distinguir as letras do alfabeto. Mas tem outros talentos - dêem-lhe um pincel, e logo se vê do que ele é capaz. Perante a tarefa de representar a emoção contida numa palavra - tristíssimo, o rapaz fez o seguinte: com o seu ar apequenado e meio apagado, começa a recitar, numa voz fanhosa (que lhe é natural), que estava tristíssimo porque "tinha a avó no hospital o pai estava doente na cama a mãe também se tinha deitado, e depois a mãe também ficou doente e precisou de ir para o hospital para se curar e saiu com um bébé..."~

Dito com o ar mais inocente deste planeta (e arredores).

Foi tudo às lágrimas de tanto rir.

quarta-feira, 6 de abril de 2005

Sobrevivente

Sobrevivi a uma longa tarde de conversas com encarregados de educação. Vai ser a última, porque depois desta reunião só resta o terceiro período, no final do qual não há reuniões de pais. O que, como devem compreender, é mesmo muito chato...

A maioria interessa-se. Com a maioria, a conversa dura menos de cinco minutos, e isto comigo a esticar a conversa, para que valha a pena o esforço dispendido a vir até à escola. O que demora mais são as conversas com os pais dos miúdos mal comportados, que falam sempre da mesma maneira, embora nunca cessem de me surpreender. Dizem-se sempre incapazes para resolver os problemas dos filhos. "Estudar mais? Então, mas se ele já não quer estudar..." nunca jamais passaria pela cabeça dos papás obrigarem a criancinha a cumprir os seus deveres. God forbid!!!

Mas hoje aprendi uma nova, cortesia da mãe de um aluno que devido à profissão que tem, deixa a criança muitas vezes sozinha durante o dia. Como dá aulas numa universidade lisboeta, estando também envolvida na coordenação de um curso e com um projecto de investigação à mistura, por vezes tem pouco tempo para acompanhar o filho. Isso siginifica que o rapaz passa os dias, segundo as palavras dela, em "auto-gestão". Pessoalmente nada tenho contra isto. Não é por isso que o aluno é mais irresponsável ou mal comportado do que outros alunos. De facto, boa parte dos maus alunos que tenho têm um fortíssimo acompanhamento por parte dos pais. O que interessa, meus senhores, é qualidade, não quantidade.

Os nervos...

... antes da reunião. Dentro de poucas horas espera-me uma das tarefas mais desagradáveis de um director de turma: a reunião de pais. É aquele momento, no príncipio de cada período, em que o DT, armado com fichas de registo de avaliação, se reúne com todos os papás e mamãs da turma, prontos para discutir as problemáticas educativas.

São umas horas bastante desagradáveis. A maior parte dos encarregados de educação tem pouco ou nada a dizer, e pouco ou nada a ouvir. São os pais das crianças que estudam, comportam-se razoávelmente, e conseguem sobreviver fácilmente no sistema educativo. Os bons e médios alunos. Esses ficam a olhar para nós, em silêncio, sabendo perfeitamente que o tempo que estão ali a dispender é supérfluo - são, geralmente, aqueles pais que sempre que se passa algo com os seus filhos logo nos informam, preocupados.

Depois há aqueles que ouvem, envergonhados pelos comportamentos dos filhos. Esses dão-me pena, mas a verdade é que têm de ser responsabilizados pela educação que dão aos filhos.

Mas os pais que irritam são aquela fauna variada constituída por aqueles que acham que sabem tudo, inclusivamente mais do que os professores, e aqueles que acham que os filhos são uma espécie de génios incompreendidos. Os primeiros chateiam, fazendo todo o tipo de perguntas, muitas vezes sem sentido, e questionando tudo o que se lhe diz, por pouco importante que seja. Os segundo são cegos, ou fazem-se de cegos, culpando a escola e os professores pela incapacidade que tiveram em dar um mínimo de educação aos filhos.

Geralmente, estão isolados nas turmas. Mas por vezes unem-se, e aí estas reuniões tornam-se muito chatas.

O problema é que quem está na frente, quem tem de dar a cara, é o director de turma. Pau para toda a obra, é a ele que cabe o enfrentar de questões que pouco lhe dizem respeito. Ainda por cima, os assuntos de conversa esgotam-se... porque se se fez o trabalho bem feito, já se falou mil e uma vezes com os encarregados de educação dos alunos problemáticos, e já se falou algumas vezes com aqueles que são rotineiros.

Vai ser uma hora pouco agradável. Mas há de correr bem.

terça-feira, 5 de abril de 2005

Tibbies


Tibbies.net

Para quem tiver um animal semelhante ao que figura na foto em baixo, desengane-se. Não se trata de nenhum pequinês sem pelo, mas sim de um epagneul tibetano. O site deles está em Tibetan Spaniel Network.


segunda-feira, 4 de abril de 2005

Regresso às aulas

Foi muito a contragosto que esta manhã reagi mecânicamente ao toque do despertador. Levantei-me, com o cérebro enevoado de sono, e preparei-me para o regresso às aulas. Regressa a rotina. Passei o dia de cérebro enevoado, a tentar perceber precisamente o que é que havia mudado nos miúdos durante as férias. Nada, pareceu-me, uma vez que os bons alunos continuam a sê-lo e os burrinhos de serviço continuam a navegar alegremente sem qualquer rumo. Também sem grande novidade, comecei a minha primeira aula sózinho. Estou habituado.

A sala de professores estava cheia de faces macambúzias, prontinhas a divulgar diatribes envenenadas sobre como era bom estar de férias, oh mas taaaão bom! Não lhes liguei. Fiz-me despercebido, acendi um cigarro e pensei nas burocracias que tenho de resolver até sexta feira, tentando descortinar qual a melhor maneira de as resolver com o mínimo de trabalho possível.

Brevemente começarão os bandos de encarregados de educação a mergulhar sobre a escola, prontos a desfazer os pobres directores de turma com todas as suas importantíssimas queixas, com as suas certezas de que os seus queridos filhinhos são muitíssimo bem comportados e se fartam de estudar, o que implica que as carradas de negativas que tiverem se deveram apenas à incompetência dos professores, ou, muito pior, a perseguições da parte dos professores. Está fora de questão tocar nos seus sacrossantos vândalozinhos...

Os meus deverão tentar o seu ataque na quarta feira. Vou-lhes trocar as voltas. Convoquei-os para duas horas diferentes, no mesmo dia, aleatóriamente. Para não dar tempo às habituais reclamações e opiniões inúteis, para as quais tenho muito pouca paciência.

Há encarregados de educação que se encarregam de descarregar todas as responsabilidades dos seus educandos sobre nós. Os professores, segundo o entender deles, podem e devem resolver todas as questões possíveis e imaginárias. Descarregam tudo, esde o ensinar de noções de educação básica, aos problemas familiares e às pequenas tragédias do dia a dia. Muitas vezes, ao ouvir encarregados de educação, quase fico deprimido pela irresponsabilidade por eles demonstrada.

Exemplos: "O meu filho falta constantemente às aulas para ir fumar fora da escola? É um incompreendido. Como é que posso justificar as faltas dele?"; ou então esta variante: "não sabia que era preciso justificar faltas por doença/atraso/qualquer outra desculpa possível, porque é que o meu filho as tem injustificadas?"; "não percebo como é que ele tem tantas negativas, se ele estuda tanto em casa...", seguido da explicação: estuda com a tv/playstation ligada ao mesmo tempo...; há o clássico "até pensei dar-lhe uma bofetada", geralmente utilizada para descrever os comportamentos civilizados que os alunos mesmo mal comportados têm junto dos seus pais; e o de sempre, aquela frase que me deixa de rastos: "professor, o que é que eu faço com o meu filho?", geralmente ouvida por mim da parte de mães (e pais) de crianças com dez anos de idade. Esta é mesmo a pior. Só me apetece perguntar-lhes porque é que tiveram as criancinhas, se não sabem o que é que fazem com elas... já para não mencionar que se não conseguem controlar um puto de dez anos, é porque o trataram como um animalzinho de estimação aos cinco anos (oh! parte-me a casa toda e já sabe chamar nomes às pessoas! tão giro!), aos quinze arrancam os cabelos desesperados e aos vinte já estão mentalizados que o terão que sustentar.

Não são todos assim, felizmente. Apenas uma imensa e incómoda maioria, que acaba por condicionar as nossas percepções sobre os encarregados de educação.

Isso, e a vontade que tenho de continuar as férias...

Criatura




Não era suposto ser algo zoomórfico, mas umas rotações ao padrão abstracto deram nisto.

domingo, 3 de abril de 2005

Requiem, II




Sem grandes surpresas, faleceu ontem o papa João Paulo II. A morte já era esperada. Desde quinta feira que os media faziam directos da praça de S. Pedro, transmitindo a agonia de um papa.

Realmente, não é todos os dias que temos a oportunidade de ver um papa a morrer.

Apesar de ser ateu (não sou agnóstico, sou mesmo ateu), eu não deixava de ter respeito pela figura do sumo pontífice, cardeal de roma. Ele era uma daquelas pessoas com magnetismo pessoal, que só pela sua presença (mesmo à distância) nos dava vontade de querer acreditar no que ele acreditava. Foi um papa curioso, com uma história de vida interessante (repetida ad nauseam em infindáveis filmes e biografias populares). Foi também um papa aparentemente polémico - defendeu a aproximação entre as diversas versões do catolicismo, e inclusivamente entre várias religiões, o que levantou algumas sobrancelhas no vaticano, embora as suas iniciativas interreligiosas nunca tivessem posto em causa a supremacia de Roma e do Vaticano, pedra fundamental do catolicismo romano. No fim de contas, com tantas religiões no mundo, qual é a que tem uma organização mais dogmática e centralizada? Com um papa, sumo pontífice, máxima autoridade espiritual, no topo da pirâmide?

Foi também durante este papado que se refroçou a disciplina interna da organização multinacional que é a igreja. Senhores padres, quem fala é o Vaticano. Não há vozes discordantes. Foi também um papado algo ambivalente, a apostar na juventude mas ao mesmo tempo a reforçar o conservadorismo da igreja. O carisma e apelo do papa junto dos jovens era algo de inexplicável e fascinante. Havia uma aura que nos atraía. Por outro lado, nunca um papa canonizou tantos santos. Foi responsável por um novo catecismo católico, e foi também responsável pela publicação de imensas encíclicas, documentos que regulamentam a filosofia da igreja católica. E favoreceu imenso a organização ultra conservadora que é a Opus Dei. Também é criticado pelas opções que tomou sobre o aborto (sem razão - esta religião nunca poderá defender o aborto) e sobre o uso de contraceptivos (e aqui se traiu a mentalidade ainda medieval da igreja católica).

No fundo, é natural que este papa seja contraditório. Um polaco culto, viu no tradicionalismo da igreja católica um pilar moral para que as pessoas a ele se possam agarrar, em tempos de crise. Este foi um papa do século XX, forjado nas fogueiras da II guerra mundial. Com a morte dele, também morre mais um pouco do século XX.

O que se segue? As cerimónias das exéquias, o anacronismo, para nós, dos tempos de democracia, que é o conclave dos cardeais, e a eleição de um novo papa. Um novo papa já forjado pelas forças que formaram o fim do século XX. Um papa para quem o nazismo, o comunismo, as posturas anticientíficas e o holocausto fazem parte da história. Será um papa forjado pelas forças da união europeia, pela pobreza abjecta que grassa no mundo, pela nova ordem mundial, pelo terrorismo, pelas catástrofes ambientais. Será, talvez, interessante, ver como é que a orgaização medievalista que é a igreja católica se adaptará a este novo mundo. Porque se há algo que a igreja para sempre deverá a João Paulo II, é o facto de este a ter colocado nos olhos do mundo. No fim de contas, o vaticano não tem qualquer importância. Apenas a constante presença do papa nos olhos do mundo, com as suas constantes viagens, lhe deram a importância moral que hoje tem.

sábado, 2 de abril de 2005

Requiem

Requiem

Morreu hoje o Papa João Paulo II, após uma agonia seguida por milhões de pessoas via televisão. O momento da morte foi, de certa maneira, em directo, com a praça de S. Pedro cheia de fiéis católicos dispostos a acompanhar o sumo pontífice na sua derradeira viagem. Foi um momento de silêncio solene, seguido de um fortíssimo bater de palmas. Palmas pelas conquistas de uma vida.

Mesmo não sendo católico, nem algo remotamente semelhante, não deixo de notar, com respeito, a morte deste curioso papa. Sendo assim, e se não me falha o latim, requiescat in pace.

Desenhos


Desenho 202

Dois novos desenhos. Não se pode dizer que eu ando exausto de tanto trabalhar nisto...


Desenho 404

A Família (...)




Para quem se queixa de que só coloco fotografias da "filha", ou então de praias desertas, cá vai a família reunida. Desempoeirei o tripé da minha velha máquina reflex, e cá está: a Sandra, a minha querida, e as "filhas", a bunny (a coelha) e a margarida (a fera). E um muito despenteado eu. Como sempre.

sexta-feira, 1 de abril de 2005

Sexta Feira

Já é sexta feira? Que bom/que seca. Numa semana normal, seria óptimo. Finalmente sexta, prenuncio de dois dias sem trabalhar (pelo menos, em teoria). Mas nesta sexta feira, o prenuncio é de mais semanas de trabalho... as férias da páscoa estão a acabar-se.

A vida de professor tem muitas desvantagens. Os alunos mal comportados, os alunos que têm cepos no lugar onde normalmente estaria o cérebro. As burocracias. O ordenado. As reuniões (esta é uma desvantagem que eu particularmente detesto). As deslocações casa-escola. E tantas, tantas outras... basta falar com um prof ou dois. Somos uma classe profissional particularmente lamechas.

A vantagem são as férias. Enquanto o resto da humanidade já se dá por sortuda se tiver três ou quatro semaninhas por ano, as nossas férias acompanham as férias dos alunos. Claro, qualquer coisa que ultrapasse as quatro semanas legais não é classificado como férias, mas sim como pausa lectiva. Pessoalmente noto pouco a diferença. Mas não me estou a queixar...

Claro que há sempre trabalho, mas é mais leve. Nisso, o nosso tempo de trabalhos nas férias dos alunos é muito parecido com um emprego normal. Tipo finanças de mafra, onde poucos dos funcionários parecem realmente trabalhar. Ou outros empregos onde se trabalha, tranquilamente sentado numa secretária.

Merecemos bem as poucas benesses que temos. E se alguém reclamar, ameaçem-nos que terão de aturar os filhos deles vinte e quatro horas por dia. Vão ver se não mudam de opinião, e até se esforçam para que nos aumentem o ordenado...

Tão mau, tão mau...

... que nem acredito que se editem cds com música desta. O nosso português Zé Cabra, felizmente, apenas editou um único album (para mal dos ouvidos nacionais).




A belíssima cantora que se vê na capa de disco acima reproduzida já vai no terceiro ou quarto album, e clama que os seus primeiros albuns já estão esgotados. O que é uma façanha respeitável, para alguém que tem uma voz semelhante à de um motor mal afinado acoplado a um escape roto, com uma inexistente expressão melódica, e um pendor para versões inaudíveis dos ABBA. Simplesmente não consigo acreditar que alguém pague para ouvir esta ave canora. Cliquem em Wingmusic para se aperceberem deste esplendor artístico. Aqui podem ouvir as canções, todas a prestas tributo a bandas conhecidas - Abba, Beatles, Carpenters, Canções de Natal (um natal deveras infeliz...), àrias de opera (até tremo, só de pensar...). Nove cds editados. Nove!!! O que surpreende é que a qualidade musical (dos músicos que acompanham esta voz desgraçada) é boa. É-me difícil de compreender como é que alguém se consegue dedicar a pôr cá fora albuns destes. Engenheiros de som, músicos, o que quer que se chamem as empresas que fazem os cds.

Acho que vou comprar um microfone, um gravador, e vou começar a gravar as minhas sessões de ópera no chuveiro. Acreditem que faço uma versão alucinante da Nessun Dorma. Pelo menos, não tenho tido queixas dos vizinhos.