sexta-feira, 8 de abril de 2005

Ficções

Na edição de abril da revista Os Meus Livros, vem um curto artigo sobre ficção científica, cortesia do aniversário da morte de Júlio Verne, um dos escritores seminais do género, embora não um dos meus favoritos - Verne foi demasiado sacarino e optimista para escrever obras verdadeiramente importantes. A sua importância prende-se com o seu rigor científico e pioneirismo.

A mais-valia do destaque dado pela revista prendia-se com uma breve observação do panorama da FC em portugal, exaltando (e justamente) João Barreiros e Luís Filipe Silva como expoentes máximos do género em português. Infelizmente, o tom artigo era deveras negativista, afirmando a impossibilidade da existência de boa FC em portugal com uma conjugação de factores que passam pela falta de cultura científica, falta de vontade editorial e inexistência de leitores.

Também salientou dez obras de FC tidas como "magníficas". A classificação é sempre discutível, mas cá vai a lista:
A Guerra dos Mundos, de H. G. Wells (este é o clássico da FC, não podia faltar);
O Livro do Novo Sol (quatro volumes), de Gene Wolf (não conheço, fiquei curioso, sabendo ainda mais que se trata de FC clássica);
Crónicas Marcianas, de Ray Bradbury (este maravilhoso livro foi o grande culpado pelo meu vício de FC; foi o primeiro que li, e o encantamento ainda não se desvaneceu. Ah, saudosa colecção de capa azul da Caminho...);
O Homem do Castelo Alto, de Phillip K. Dick (o autor do Blade Runner é incontornável quando se fala de FC);
A Trilogia de Helliconia, de Brian Aldiss (que ainda não li, mas escreveu o conto Supertoys Last All Summer Long, adaptado para cinema por Stanley Kubrick e Steven Spielberg com o título AI);
O Brilho Escorre do Ar, de James Tiptree Jr. (um clássico do género Space Opera dos anos 70);
Fogo nas Profundezas no Espaço, de Vernor Vinge (uma brilhante aventura cyberpunk/space opera escrita por um professor de informática numa daquelas hiperuniversidades americanas, marido de Joan D. Vinge);
Neuromante, de William Gibson (famoso por ter sido escrito numa máquina de escrever e ter inventado o termo "ciberespaço"; pessoalmente, penso que este livro sobre cowboys online tem mais fama do que a que merece);
Schismatrix, de Bruce Sterling (se William Gibson tem fama de ser o escritor cyberpunk, é Sterling que vame realmente a pena ler, junto com Neal Stephenson);
A Idade de Ouro, de John C. Wright (este tenho de ler).

Estas listas são sempre redutoras; onde está J. G. Ballard, Greg Bear, Michael Moorcock, Neal Stepehnson, Samuel R. Delany? Estes também faziam falta. Mas é esse o problema dos gostos. Só dá mesmo para os discutir.

Quanto à revista em si, é um desapontamento. Quando surgiu, pensei que se tornasse um contraponto ao elitismo da Ler e das suas congéneres, apostadas naquele irritante elitismo literário dos grandes autores e dos editores que se queixam que em portugal não se lê (como posso constatar sempre que passo pela FNAC e vejo as filas de pessoas carregadas de braçadas de livros). As primeiras edições da revista ainda valeram a pena, mas agora resvalou para um estilo editorial que se assemelha muito ao de um jornal de província. Vale pelas escolhas literárias, e por dar um bocadinho de atenção aos géneros de FC e fantasia.