Diogo Amaral (2017). Da Lusitânia a Portugal: Dois Mil Anos de História. Lisboa: Bertrand.
Apesar de não me rever na visão do mundo do autor deste livro, dei por mim a apreciá-lo, em modo de leituras imparável. Notem que o demarcar dos pontos de vista mais conservadores, de direita ideológica, não significa menorizar a importância do autor, que é uma das figuras respeitáveis do Portugal do final do século XX. Só menoriza quem não é capaz de ultrapassar visões polarizadas do mundo. Não tenho de concordar com todas as ideias de um livro para gostar dele, até porque a exposição a ideias contrárias às nossas é sempre saudável.
A perspetiva desta história resumida tem um curioso lado nostálgico, muito patente quando fala do nascimento de Portugal como nação, da época dos Descobrimentos, da restauração da independência, ou da colonização. Basta ver o título para perceber isso, o uso do termo lusitânia invoca logo ideários muito específicos. Salienta tempos mais próximos da nossa memória viva com um olhar que se percebe mais enviesado. Ao falar do estado novo, sublinha o lado das obras públicas e só por alto o lado repressivo de uma ditadura, e foca muito o progressismo da ala liberal. Ao falar da guerra colonial, descreve-a com uma tragédia para os portugueses, mas no enumerar dos nossos mortos e feridos, deixa de lado os dos adversários. Por outro lado, é interessante ler sobre a história do pós-25 de abril pelo olhar de alguém que a viveu dentro dos acontecimentos.
O livro lê-se como um resumo da história portuguesa simplifcada, uma visão pessoal mas erudita. Tem um conjunto de ideias que lhe são basilares, argumentos que repete ao longo do livro. Uns são curiosos, o perceber que a expansão do condado Portucalense até à ocupação de todo o território português segue essencialmente pelas linhas das antigas demarcações romanas. A ideia mais perene em todo o livro é apresentar Portugal como um país precursor e pioneiro- o primeiro, na península ibérica, a fixar as suas fronteiras; a sua longa história de independência (o domínio filipino é apresentado como uma uniáo e náo uma ocupação); na forma como Portugal se tornou independente, Amaral traça até um paralelo com os Estados Unidos, observando que a rebeldia bem sucedida que forma um país é precisamente a origem da nossa nação; conhecedor de leis, Amaral mostra como em muitos casos os quadros legais portugeses se anteciparam aos dos restantes países europeus (e não só na abolição da pena de morte).
É uma visao rosada da história, assumidamente resumida mas erudita. O livro deixa escapar uma certa nostalgia por um Portugal imperial, espalhado pelo mundo, o que até é uma marca de época, recordemos que o autor faz parte das elites conservadoras. No entanto, náo é um livro ideológico, é aquilo que pretende ser, um traçado de saber pessoal pela longa história do nosso país. E uma leitura surpreendentemente agradável, factual, longe de cinzentismos académicos ou tiradas políticas.