domingo, 1 de janeiro de 2023

Nova, Nova, Nova, Nova!

  

Iniciar este novo ano de 2023 com uma leitura em português, graciosamente cedida pelo autor. Nos domínios da literatura fantástica portuguesa impera a fantasia, e Carlos Silva é um dos raros autores que investe na ficção científica pura. É um autor que considero ser uma das vozes mais promissoras da ficção científica portuguesa, e digo isto não por ser dos poucos, mas pela consistência e qualidade do seu trabalho literário. 

Este conto é uma excelente mostra do seu talento. Sempre que o leio, percebo que Carlos Silva parte de uma visáo cyberpunk optimista, pegando nas suas iconografias e elementos, até mesmo no seu lado distópico, mas segue sempre caminhos que contrariam o negativismo cyber. Este conto parece-me sintomático disso, uma intrigante variante do estilo a boy and his dog, com um robot que cuida de um rapaz traumatizado, uma sociedade dividida entre a rejeição da tecnologia e o seu uso para opressão suave, e uma bruxa que, na verdade, é apenas alguém perceptivo que sabe cruzar o melhor da tecnologia e da tradição. O cenario é a zona de Arruda dos Vinhos, o que se explica sabendo que este conto saiu de uma residência criativa promovida pelo município local.