terça-feira, 3 de janeiro de 2023

Lembranças de Emanon


Shinji Kajio, Kenji Tsuruta (2022). Lembranças de Emanon. Lisboa: Sendai.

Um encontro fortuito numa viagem de ferryboat irá revelar a um jovem um curioso mistério. Durante a viagem, conhece uma rapariga que lhe fala do seu segredo, a sua inacreditável capacidade de se recordar do passado, não do seu passado, mas de outros passados, até ao surgir da vida na Terra. Uma história fantástica, talvez fantasia da jovem, mas que se adensa quando, no final de uma daquelas noites em que surgem paixões para a vida, o rapaz se aperceber que a jovem desapareceu. Anos depois, volta a encontrá-la num acaso fortuito, numa estação de comboios. Ela não o reconhece, mas a criança que a acompanha, sua filha, reconhece-o, mostrando que de facto há ali um curioso poder que se renova sempre que a mulher dotada dá à luz uma criança.

Esta proposta editorial da Sendai, como sempre surpreendente, dstingue-se por dois aspetos. O trabalho gráfico cuidado do mangaka Kenji Tsuruta, e o onirismo de uma história de uma ficção científica subtil. Incerteza, lenda e fantástico cruzam-se nesta premissa simples, feita de memórias e encontros fortuitos, sempre em zonas de transiência (barcos, estações de comboio). O grafismo elegante sublinha este caráter, somos imediatamente atraídos pela persoangem de Emanon, ao mesmo tempo frágil, forte e nostálgica, bem como percebemos o isolamento dos espaços liminares por onde passamos, aqueles espaços sobre os quais não pensamos, mas somos forçados, por passar tempo neles, a pensar em algo. Emanon é uma daquelas obras de poesia em ficção cientifica, que nos deslumbra por tudo aquilo que sentimos estar para lá do espaço narrativo.