Johana Spyri (1939). Heidi. Porto Alegre: Livraria do Globo.
Às voltas pela feira da ladra, dei com este achado que me pareceu irresistível. Uma edição brasileira de 1939, profusamente ilustrada, deste clássico da literatura infantil. Irresistível porque, apesar de não serem ilustrações extraordinárias, são representativas de um estilo clássico de ilustração infantil que aprecio. E, pensei, também é uma boa oportunidade de descobrir o original de uma obra clássica. Mercê da popularidade das suas adaptações, Heidi é uma daquelas histórias que todos conhecem, mas suspeito que poucos conheçam a sua origem literária.
Dei por mim a deixar-me encantar por esta história simples. Essencialmente, porque a autora faz-nos criar laços emocionais com as personagens, depressa empatizamos quer com Heidi, quer com o seu avô ou o amigo Pedro. O mesmo acontece mais à frente no romance, quando outras personagens entram em cena. De forma simples, logo nos primeiros encontros, simpatizamos (ou antipatizamos) com todas as personagens.
Neste livro começam as aventuras de Heidi, que curiosamente foram expandidas por outros autores que não Spyri. Conhecemos a pequena órfã suíça, o seu soturno avô de passado misterioso, o entusiasta pastor que será o seu amigo, e a omnipresente paisagem idealizada das montanhas suíças. Depressa percebemos como a inocência cândida e o entusiasmo pelo mundo mostrada por Heidi irá seduzir e transformar aqueles que a rodeiam. Algo que continua na segunda parte da história, quando a orfã é levada por uma tia para servir de companhia a outra criança, filha de um pai rico, distante pelos negócios mas extremoso, que ao deixar entrar Heidi na sua casa irá, também, sentir uma transformação na sua filha, apesar da relutância da sua governanta.
Por detrás da inocência, Heidi é também uma história de pobreza, os seus principais personagens vivem com poucos meios daquilo que a natureza lhes dá, e o destino que poderia esperar a jovem é o de ser serviçal em casa de alemães abastados. Mesmo através da lente de literatura infantil, sente-se o contraste entre pessoas que vivem numa pobreza que assumem como humildade, e os que se podem rodear de luxos, inclusive o luxo de agir com bonomia perante as tropelias e deslumbrado de uma órfã.
A linguagem encantadora desta história mantém a sua longevidade, quase século e meio sobre a sua publicação original. A inocência da jovem apaixonada pelas montanhas mantém-se tão encantadora hoje, como em 1880.