Damião de Góis (2002). Elogio da Cidade de Lisboa. Lisboa: Guimarães Editores.
Uma visita a uma Lisboa de outras eras, sob a voz de um dos nossos destacados humanistas quinhentistas. A descrição da cidade, originalmente publicada em 1554, é meramente descritiva, o livro foca-se nalguns dos mitos sobre a origem da urbe e lendas dos seus arredores. As de tritões nas costas de Sintra são especialmente divertidas. Mas quanto à cidade em si, apenas são descritos os seus principais bairros, monumentos e igrejas, mais um elencar de geografias do que uma viagem profunda. Parte do desafio de ler este livro é comparar a geografia da cidade quinhentista com a de hoje, sabendo, claro, que grande parte dos vestígios medievais e quinhentistas foram arrasados pelo terremoto de 1755. Mas há locais e topónimos que se mantém.
O livro é acompanhado de um extenso prólogo crítico, que nos leva a conhecer a vida e obra de Damião de Góis, e contextualiza esta obra. Esta edição é bilingue, trazendo o texto original em latim e a tradução para portuguès. Chega-nos de um tempo em que duas cidades ibéricas eram a porta para o mundo. Sevilha, a porta para o novo mundo das américas, e Lisboa, o porto de acesso às áfricas, índias e oriente. Mais do que elogiar a cidade, é essa a lógica de de Góis, afirmar perante a Europa a grandeza trazida pelas rotas comerciais, que alteravam o tradicional equilíbrio de forças no centro europeu.