Reinaldo Ferreira (2018), Punhais Misteriosos. Lisboa: PIM Edições.
Se não tivemos pulp fiction à portuguesa... tivemos a literatura de folhetins. Histórias serializadas nos jornais, que posteriormente poderiam ter edições em livro de baixo custo. Histórias, como se dizia antigamente, de faca e alguidar, entre o dramalhão e a aventura. Não são portentos literários, eram criados por puro entretenimento, tendo sido uma forma de ficção popular.
E se houve um grande mestre desta literatura a metro por cá, dificilmente será outro do que Reinaldo Ferreira, bem mais conhecido pelo pseudónimo Repórter X. Escritor prolífico, jornalista especialista no choque e algo afamado por apimentar as suas reportagens, este foi talvez uma das mais visíveis figuras do Portugal dos anos 20. Escritor popular, assinou obras sob vários pseudónimos, geralmente aventuras policiais frenéticas, quase um pulp à portuguesa.
Escrito sob o pseudónimo de Eduardo Duque, originalmente serializado no jornal Correio da Manhã em 1924, este Punhais Misteriosos é um mergulho na ficção popular da época. Uma história de amores impossíveis, vida de alta sociedade, aventuras entre a guerra e o policial, exotismo orientalista. Quando, nas suas tradicionais férias no Buçaco com um banqueiro português e a sua filha, amigos de longa data, um oficial espanhol vislumbra o rosto de uma marroquina hospedada no luxuoso hotel, longe está de saber que ser verá mergulhado num amor impossível que lhe mudará a vida. O romance é uma sucessão de peripécias, sempre pensadas pelo seu lado mais melodramático, levando as situações ao limite para manter o interesse do leitor.
Uma fórmula de leitura popular, que ainda hoje se lê com prazer. Sabendo, claro, que não estamos perante alta literatura, apenas um bom contador de histórias, que apesar de escrever a metro, o fazia com estilo, assumindo o lado de diversão.