quinta-feira, 5 de maio de 2022

Comics: O Homem e o Monstro; Lamia; Nasce uma Lenda


Stan Lee, Jack Kirby (2022). Coleção Clássica Marvel, Vol. 05 - Hulk, O Homem e o Monstro. Lisboa: Correio da Manhã.

Um mergulho nos primórdios de uma das mais icónicas personagens Marvel, que é em si um regresso aos princípios dos comics modernos. Vale pela redescoberta, de um personagem ainda sem bagagem, pensado como um cruzamento entre temores da guerra fria e a clássica dualidade entre o médico e o monstro, com uma pitada estética de Frankenstein. Vale também pelo revisitar do traço de Kirby, cujas figuras robustas e pouco elegantes se ajustam perfeitamente à imagem do violento gigante verde.

Rayco Pulido (2016). Lamia. Astiberri.

Laia: Uma comédia muito negra, que nos mergulha no obscurantismo da ditadura franquista, e da sujeição da mulher à violência como preservação dos valores tradicionalistas. Na Barcelona do pós-guerra, uma mulher ganha a vida escrevendo para um programa de rádio católico, um consultório sentimental que reforça os valores tradicionais. Mas a mulher guarda segredos. Aparentemente grávida, com o marido desaparecido, na verdade finge a gravidez e dedica-se a eliminar, com extremo prejuízo, homens cujas esposas escreveram cartas a desabafar sobre as piores violências conjugais ao consultório sentimental. 

Stan Lee, Jack Kirby (2022). Coleção Clássica Marvel, Vol. 07: Capitão América - Nasce uma Lenda. Lisboa: Correio da Manhã.

Sempre vi este personagem com uma certa curiosidade. A sua óbvia iconografia patriótica tem tudo para ser descartada como mera propaganda, ou quando muito um aproveitamento de emoções nacionalistas. Mas os seus argumentistas sempre tiveram a inteligência de não seguir esse caminho. Sim, o personagem está ligado a um país, a uma ideologia. Mas sempre foi trabalhado num sentido mais amplo, de símbolo desse país, do seu ideário de amor às liberdades e de busca por justiça, afastando-se muito do mero nacionalismo. E, em muitas das suas histórias, este símbolo de um país encontra-se muitas vezes a agir contra os governantes e organizações estatais, porque encarna ideias, não ideias políticas. O que torna Capitão América uma coisa rara: um personagem de índole patriótica, com que todos se conseguem identificar, longe dos nacionalismos bacocos. Há outros personagens deste género, agentes defensores dos seus países, mas nenhum tem o interesse, ou a popularidade, deste. Algo que está patente deste a sua recriação nos anos 60 (a encarnação inicial nos anos 40 estava mais próxima do esperado neste tipo de personagens), e que esta edição da Coleção Clássica Marvel nos recorda.