terça-feira, 7 de dezembro de 2021

Robot Artists and Black Swans


Bruce Sterling (2021). Robot Artists and Black Swans : The Italian Fantascienza Stories. São Francisco: Tachyon Press.

Conheço mal a ficção científica italiana, e desconhecia de todo este Bruno Argento, discreto escritor turinense de curiosas fantasias científicas. Escreve como uma voz obscura de habitante de uma cidade italiana, não daquelas em que pensamos quando se fala de Itália, mas das que nos parecem de segunda linha, importantes à sua maneira, mas não tão sonantes como Roma, Milão ou Florença. Não que Turim, marcada pela indústria automóvel pela Fiat, seja uma cidade de província, mas de facto não é das terras que mais facilmente saltam à mente. 

Argento coloca um sabor de urbanidade provinciana nas suas histórias, falando do que é local com um inusitado olhar global. Quase como se este escritor fosse o alter ego de um escritor cyberpunk texano que se tivesse radicado em Itália, e explorasse o seu fascínio pelo país de acolhimento através da lente de uma ficção científica Cyberpunk diluída e globalista. 

Talvez seja esta visão dupla, a de um italiano que olha para a sua cidade imaginando-a vista pelo olhar de um texano envelhecido, que explique a assimetria destes contos. Temos saltos entre realidades paralelas, onde a cidade de Turim é um nexo entre múltiplos universos. Temos um recontar de experiências republicanas na Fiúme do pós- I guerra, vistas sob um lado de anarquia libertária. Um estranho conto non sequitur onde duas figuras históricas turinesas do renascimento se cruzam com uma inúmera galeria de personagens, de jograis a princesas sem trono. Ou a descida aos infernos do executivo da indústria automóvel italiana, que invocou o espírito de uma múmia para progredir na carreira, e terá de enfrentar Lúcifer, encarnado como um jovem engenheiro apostado em tornar os automóveis ecológicos. O inferno é uma cidade italiana cheia de trânsito, onde alfaiates de luxo são castigados passando a eternidade a servir num pronto a vestir. Isto sim, é um verdadeiro lugar de choro e ranger de dentes. Ou, também, o futurismo pós-apocalíptico de utopia ecológica, onde um robot que produz  arte percorre um mundo regressado ao estado selvagem, embora a civilização se mantenha nas cidades, tornadas utopias de ciência e elegância. 

Histórias curiosas, que cruza estéticas pós-cyberpunk e cli-fi com o substrato estético, histórico e cultural do norte de Itália. Argento não nos lega grandes histórias, mas leituras agradáveis que transmutam o fascínio por um local específico, pelo ambiente de Turim. Quase como se Argento fosse o alter-ego do texano Bruce Sterling, um dos pais do Cyberpunk e hoje guru da confluência entre arte, tecnologia e sociedade, que adotou Turim (e o seu fablab) como cidade para se radicar. Mas isso, já me soa demasiado fantástico, mesmo para um romance de fantascienza.