F.C. Melim (1986). A Cripta. Lisboa: Europress.
Promete um toque de horror fantástico, mas na verdade é um policial bastante banal. O que não é chocante, dado que estamos a falar de um livro de literatura pulp portuguesa, destinado ao entretenimento popular em livro de bolso. A premissa parte do terror - um jovem escritor viaja até à Escócia, para recolher informações para o seu próximo livro. Nas ruínas de um castelo remoto, junta-se a uma expedição arqueológica que escava as ruínas. O castelo é envolvo em lendas tenebrosas, sobre a maldade dos seus senhores ancestrais, onde uma tragédia com contornos vampíricos tinge para sempre o local de negro. Uma sucessão de mortes misteriosas vai lançar o medo no meio do grupo isolado. Serão as lendas locais reais, e há criaturas obscuras à solta nas ruínas amaldiçoadas? Será um habitante local, arauto ominoso das lendas, que em rasgos de loucura decide encarnar as criaturas vampíricas assassinas? Será apenas um crime, cometido por interesses venais a coberto do isolamento e da escuridão?
Infelizmente para o leitor, o livro segue a terceira via, embora se mantenha a criar dúvida na segunda quase até ao fim. No entanto, a premissa, o lado gótico, assenta na primeira via, que caracteriza o início do livro e está sempre presente, espectral, no lado policial que representa o seu grosso. A própria linguagem narrativa segue isso, no início busca muito um estilismo gótico, de ruína e treva, rebuscado e negro, mas depressa segue pelo caminho de questionamento lógico do policial whodoneit. É o lado gótico, de invocação do sobrenatural e do lendário, de mitos e ruínas, que justifica a inclusão deste livro nas listagens de ficção fantástica em português, embora na prática seja uma daquelas histórias em que o sobrenatural é apenas um adereço numa história policial.