terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

Bichos

 

Miguel Torga (2008). Bichos. Lisboa: Leya.

Revisitar um dos textos mais clássicos da literatura portuguesa do século XX. Um texto que, debaixo da sua aparente candura, revela um fino olhar sobre a vida e os costumes. Através da vida dos bichos, mergulhamos na vida milenar das gentes do interior. Através das histórias benfazejas ou malfadadas dos bichos que nos conta, Torga leva-nos a olhar para a vida dura das aldeias. Feita da relação implacável da natureza - o galo mais garboso passa a ser bicho de tacho quando começa a perder o fôlego. Das tradições milenares, vistas pelo olhar de um toiro condenado à morte na arena, sem compreender o porquê. Dos pequenos amores e desamores, das vidas interiores de gentes que sendo rudes, não são por isso desmerecedoras da condição humana. Torga, na sua obra, retratou-as diretamente em contos e romances. Nos Bichos, olhamo-las de baixo, revemos as suas maneiras de viver através do olhar e pensamento dos animais que partilham com elas os espaços das aldeias serranas. Primeira publicação em 1940, edição que reli de 2008. 

Recordo vagamente tê-lo lido quando criança, após ler O Romance da Raposa de Aquilino, e ter ficado entristecido com histórias que eu achava que iriam ter o mesmo caráter feérico das aventuras da raposa Salta-Pocinhas. E mesmo hoje, relendo com um olhar sobre a história, continuo entristecido pelo primeiro conto do livro.