Evan Dorkin (2016). The Eltingville Club. Milwaukie: Dark Horse Comics.
Evan Dorkin é mais conhecido pela interessante série Beasts of Burden, onde um simpático bando de animais guarda a humanidade de ameaças ocultas. Como fã e criador, criou este Eltingville Club como uma sátira amarga ao pior do fandom das culturas de género. Uma crítica corrosiva, que se foca no nível pessoal, mas por detrás critica também toda a estrutura comercial que possibilita e incentiva estes comportamentos.
Quem pertence a algum fandom já se deparou com isto. A maior parte dos fãs entende o seu gosto como algo que os define, mas não tudo o que os define. Apreciam a estética, os enredos, as iconografias, e as infindas discussões à volta destes temas. Mas há alguns que levam estas questões de forma obsessiva. Que se assanham sempre que algum criador se desvia daquilo que entendem ser o sacrossanto cânone de um personagem, que se comprazem em crítica agressiva e no ácido afastamento daqueles que veem como fãs menores. Os que se babam perante as cosplayers (ou mais que isso, de tal forma que as convenções começam a sancionar aqueles que não respeitam limites), enquanto vituperam contra algum argumentista ou desenhador, e apontam a ignorância dos outros face ao profundo conhecimento de trivialidades de que só eles partilham. Fãs extremos, que caem no trollismo, insultam aqueles que não lhes agradam, e colecionam agressivamente tudo o que lhes desperta a atenção. São geralmente demasiado ativos nas comunidades online e são responsáveis por criar ambientes tóxicos no fandom (o português também tem as suas "personalidades", embora felizmente me tenha cruzado com muito poucas).
The Eltingville Club critica essa atitude destrutiva, através de quatro personagens amorais, unidos por uma suposta amizade forjada no gosto pela FC e outros géneros, mas que na verdade nem entre eles se dão bem. São o pior do fandom, narcisistas, violentos nas palavras e atitudes. Essencialmente, idiotas chapados. E o pior é que ao ler este óbvio exagero, não é difícil reparar que já todos lemos (ou pior, nos cruzámos) com pessoas destas online. Recordo a vez no Fórum Fantástico em que assinalei um livro de uma autora que foi leitura interessante, e me foi apontado que sob pseudónimo, essa escritora tinha sido recentemente desmascarada como uma das piores trolls do campo da FC, conhecida por perseguir outros escritores (até um dos nossos teve de a aturar). Há algo de profundamente errando numa personalidade quando aquilo que nos empolga e aquece o sangue numa discussão, em vez de nos fazer sorrir nos leva a fazer ameaças de morte. É esta atitude que Dorkin caricatura, porque a encontrou. E, por detrás, há toda a indústria que lucra a vender tralha, que se aproveita e espreme ao máximo os gostos do fandom, e que francamente precisa de fãs agressivos para manter oleada a máquina de vendas.
Catherine Meurisse (2019). Delacroix. Paris: Dargaud.
O texto é de Dumas, clássico, uma revisão da obra de Delacroix por um seu contemporâneo. O interessante está o trabalho da ilustradora, que recria as obras do artista francês para ilustrar esta homenagem clássica. Fá-lo com interessantes apontamentos de aguarela, uma vénia ao espírito da cor.
Carlos Trillo, Enrique Breccia (2020). Alvar Mayor: Les Cités Légendaires. Editions ilatina.
Um mergulho num clássico hispânico. Originalmente publicado em 1977, Alvar Mayor leva-nos aos primeiros anos da colonização espanhola das américas, em histórias de aventura pura. Alvar é um típico herói torturado, um espanhol nascido nas américas que viaja numa constante busca por algo que só ele sabe. Ocupa-se como guia nos territórios sul americanos, empregado por bandos de espanhóis ávidos de ouro, que mergulham nas selvas para saciar a ganância, mas acabam sempre engolidos pela sua cupidez. Há também histórias de luta contra injustiças, numa sociedade onde os poderosos raramente são justos, e o ouro está acima de tudo. Em ritmo de aventura clássica, com um belíssimo estilo gráfico a condizer, Alvar Mayor é uma visão crítica sobre a colonização das américas.