terça-feira, 6 de outubro de 2020

Dylan Dog: La macchina che non voleva morire; Dopo mezzanotte; Hyppolita.

Gigi Simeoni, Sergio Gerasi (2018). Dylan Dog n. 384: La macchina che non voleva morire. Milão: Sergio Bonelli Editore.

O eterno carocha de Dylan Dog não se está a dar bem com o pouco complacente sistema de inspeções. E Dylan, com o carro a violar leis ambientais, vê-se forçado a livrar-se dele. Mas a ligação do Indagatore Dell'Incubo com o seu carro é muito forte. Afinal, chegou-lhe às mãos como consequência do seu primeiro caso. Um veículo que o acompanhou em inúmeras aventuras, e faz parte da sua identidade. Vendê-lo para sucata não é opção, Dylan quer garantir que o seu querido maggiolino será preservado. Mas está difícil encontrar comprador, visto que o carocha não é um puro-sangue, e por isso não interessa a museus. Eventualmente, um colecionador privado aceita adquirir o veículo pelo preço simbólico de uma libra. 

E é aí que as coisas estranhas começam. Apesar de ter largado o carocha longe de Londres, o carro aparece regularmente à porta do número 7 de Craven Road. Pior, implica Dylan em diversos atropelamentos. A explicação está no benemérito comprador, que afinal é um demónio que prefere possuir objetos para manifestar os seus poderes. É um pouco cruzamento entre o clássico Christine, o carro assassino, e um dos elementos icónicos da série Dylan Dog, o Carocha de matrícula 666.

Tiziano Sclavi, Giampiero Casertano (1988). Dylan Dog n. 26: Dopo mezzanotte. Milão: Sergio Bonelli Editore.

Passa pouco depois da meia noite, e ao regressar a casa depois de um dos seus encontros amorosos, um exausto Dylan descobre que se esqueceu da chave de casa. E Groucho não lhe abre a porta, o que mergulha Dylan numa surreal aventura pelas ruas de Londres depois da meia noite (a bizarria da história e o título remetem para um lendário filme perdido dos tempos áureos do cinema de terror dos estúdios Universal). Com uma progressiva sonolência, Dylan cruza-se com polícias com aspeto de assassinos, uma namorada embevecida por um serial killer que acabou de lhe matar o marido, um taxista que recorda a sua última viagem ao largo do Cabo Horn e acaba por morrer afogado durante a corrida de táxi, um prostituto masculino viciado em drogas que é também serial killer adepto de machadadas, noctívagos amantes de clubes punk cuja sonoridade não é do agrado do detetive, e nem de um mergulho no Tamisa Dylan se livra. Uma verdadeira noite de inferno, em cruzamento com as criaturas da noite londrina, que pulsam de vida após a meia noite.  Tiziano Sclavi no seu melhor, acompanhado por Giampiero Casertano neste clássico do Indagatore dell'Incubo.

Giancarlo Marzano, Piero Dall'Agnol (2018). Dylan Dog #386: Hyppolita. Milão: Sergio Bonelli Editore.

Um policial procedimental brutalmente bem conseguido. A polícia londrina anda à caça de um assassino em série que tem o peculiar hábito de cortar o topo da cabeça das suas vítimas para plantar orquídeas raras no cérebro. A única pista que têm está nas próprias vítimas, todas elas foram crianças adotadas no passado. Resta aos agentes Carpenter e Rania perceber como é que o criminoso chega às vítimas, e a resposta poderá estar dentro das instituições. 

Em paralelo, Dylan é contactado por uma senhora idosa, que suspeita que o seu filho, criança que perdeu há décadas numa escola de freiras irlandesas, é o assassino em série. Instinto maternal, diz, apesar de não saber do filho há décadas. Dylan não acredita nela, mas decide ajudá-la a encontrar o filho, hoje adulto. As buscas revelar-se-ão infrutíferas, até que o geralmente desdenhoso do digital Dylan se lembra que tem um amigo especialista em reconstrução digital de imagens. Pegando na única foto que a idosa tem do filho perdido, o especialista recria-a como provável adulto, e graças ao reconhecimento facial, depressa descobre quem poderá ser o filho perdido da velha senhora.

Segue-se o reencontro, mas enquanto a mãe se reencontra com o filho que perdeu mas não esqueceu, a polícia cerca a casa. Afinal, a intuição maternal não estava incorreta. O final é terrível, com a velha mãe a assassinar o filho, revelando que a saudade que sempre disse sentir afinal era ódio por uma criança que julgava filha do demónio. Não é um final feliz para um surpreso Dylan Dog. Brilhantemente escrita - só compreendemos a ligação entre as narrativas paralelas no final, com grafismo bem conseguido, uma das melhores histórias recentes do Old Boy.