terça-feira, 26 de junho de 2018

Mentes Digitais



Arlindo Oliveira (2017). Mentes Digitais: A Ciência Redefinindo a Humanidade. Lisboa: Instituto Superior Técnico.

Tendo em conta a visão cinzentista que se tem dos académicos portugueses, é um pouco estranho ver um livro de índole tão especulativa escrito pelo atual presidente do IST. E editado pelo IST. Não que Mentes Digitais seja especialmente arrojado, na categoria de livros futuristas e trans-humanistas, é até bastante dócil nas suas visões. Lê-se como um conjunto alargado de apontamentos para aulas ou apresentações, levados da síntese a textos mais elaborados, que nos levam num périplo que começa nos primórdios da eletrónica, com a descoberta das leis do eletromagnetismo, e termina com as descoberta contemporâneas nos domínios da genética, bio-ciências e neurociências. A lógica é visível, o estabelecer de uma linha de continuidade de progresso científico que nos legou o corrente vislumbre, cujas possibilidades começam já a aparecer, de um futuro humano para lá do biológico, misturando informática avançada (robótica e IA) com virtualidades e transcendência do corpo humano. É nos dois capítulos finais que o autor se deixa ir mais longe, falando-nos de IA conscientes, ou digitalização da mente, formas de vida totalmente artificiais.

Não é uma leitura fácil. Apesar de uma forte inspiração conceptual na Ficção Científica, o mesmo não se traduz no estilo literário, muito dentro dos padrões académicos, com explicações longas e complexas. São necessárias para se compreender bem as questões de que o livro nos fala, mas sente-se que este está pensado para um público mais generalista, algo que não se reflete no estilo narrativo. Não deixa de ser provocante e interessante, bem como uma profunda lição sobre a evolução e momento contemporâneo de algumas áreas da ciência, sob uma perspetiva de potencial transcendência dos limites naturais através da tecnologia. Algo que, de fato, tem sido o motor do progresso humano, mas pela primeira vez nos oferece o potencial de ultrapassar as limitações biológicas.