sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Connections


James Burke (2007). Connections. Nova Iorque: Simon & Schuster.

Uma coisa é afirmar que isto anda tudo ligado, insinuando os padrões inusitados e as interligações inesperadas que detectamos na nossa herança cultural. Outra é realmente prová-lo, pegando na história da ciência e tecnologia para nos mostrar os caminhos sinuosos e inusitados que nos levaram ao mundo contemporâneo. algo que James Burke sempre fez com enorme mestria, levando-nos em viagens do presente ao passado até ao regresso ao presente, mostrando que caminhos as tecnologias que hoje nos deslumbram seguiram na sua evolução.

O realmente interessante nos livros de Burke é que a resposta raramente é linear. A história da ciência, nesta perspectiva, não é a de um progresso contínuo feito por homens e mulheres dedicados  desbravar as fronteiras do conhecimento, mas a de uma evolução orgânica, feita quer de descobertas iterativas quer de acasos inesperados e, especialmente, de consequências não previstas de uma dada descoberta científica ou inovação técnica. É também uma história social, que nos mostra o quanto as condições económicas e sociais influenciam a explosão das tecnologias. Sublinha que o progresso científico não é isolado, que tem de haver uma necessidade social para que uma tecnologia saia da teoria, ou da invenção, e se torne prevalente no dia a dia de todos.

Descobri o trabalho de Burke nas páginas finais da Scientific American, onde a sua coluna Connections todos os meses nos trazia uma história surpreendente da história da ciência. A sua técnica era sempre a mesma. Pegar numa invenção que hoje nos deslumbra, dar um salto temporal ao passado para pegar em algo que aparentemente nada teria a ver com a inovação do presente, e por portas e travessas, por caminhos ínvios de pesquisa e investimento financeiro boa parte das vezes ruinoso, mostrar as surpreendentes ligações existentes. É uma forma muito interessante e empolgante de contar a história da ciência. Connections, originalmente escrito em 1978, é uma daquelas raras obras sobre tecnologia que não perde acutilância e actualidade graças ao seu olhar sobre as forças motrizes da evolução tecnológica.