quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Ficções

  

Ahsram, Ana Luiz: Conto intrigante, que nos transporta para os ermos da antiga lusitânia numa história sobre um contador de histórias. Um eremita sobrevive no alto de uma montanha graças à sua capacidade de contar histórias, que transmite aos visitantes vindos das tribos circundantes. Estes recompensam-no com víveres, e levam para as suas tribos relatos sem que no entanto se recordem do que passaram no topo da montanha. Algo diferente acontecerá quando um viajante escanzelado encontra refúgio no abrigo do eremita e lhe transmite através da sua história o poder da música. Poderia dizer que tipo de música é, mas isso seria um tremendo spoiler ao conto.

O conto destaca-se pela solidez da sua ambiência, mergulhando-nos nos ermos e serranias do país profundo, ou melhor, do berço do nosso país contemporâneo. Só um detalhe me escapou: se estamos a falar de tempos pré-romanos, como é que o eremita tinha tabaco para fumar? Pequeno pormenor, que não estraga um conto muito sólido.

Mycelium, Fábio Fernandes: Um conto que merecia ser mais longo, interessante não só pelo que narra mas pelo sólido mundo ficcional que o apoia. Com a humanidade quase extinta através de misteriosos ataques de alienígenas desconhecidos, que utilizam a electrónica para rastrear a Terra, as colónias e as naves humanas, um punhado de refugiados espalhado pela cintura de asteróides procura sobreviver e, através de alternativas à tecnologia electrónica, talvez eventualmente descobrir quem são os misteriosos atacantes e contra-atacar. Num dos asteróides, uma experiência com fungos que aparentam vida inteligente abre intrigantes possibilidades.

Se a narrativa central é em si interessante, com uma investigadora a revelar-nos passo a passo o caminho narrativo, o mundo ficcional que a suporta, desenhado a traços largos, intriga e deixa a vontade de ler mais.