terça-feira, 20 de outubro de 2015

Almanaque Steampunk 2015



Diana Sousa et al (ed.) (2015). Almanaque Steampunk 2015. Porto: Corte do Norte.

Destacar os três contos que formam o cerne desta antologia é um acto muito injusto. Todo o Almanque é uma muito bem conseguida obra de ficção, e se o conto segue os pressupostos mais tradicionais das narrativas ficcionais tudo o resto não lhe fica atrás. Este é um dos aspectos que tem intrigado nestas antologias steampunk, a forma descontraída como se atrevem a explorar aspectos meta-ficcionais. Nesta antologia, tudo faz parte da narrativa global. É um discreto mundo partilhado, que se conta através dos contos mas que ganha vida nos detalhes entretecidos em notas, fait divers, relatos ficcionais, anúncios a replicar o estilo publicitário do século XIX, ilustrações e banda desenhada. Quase uma arte completa, no sentido wagneriano do termo.

Devo dizer que das edições deste almanaque, que tenho acompanhado, esta é a mais sólida e cativante. A evolução tem sido constante e nesta terceira edição conseguiram criar um eficaz ambiente imaginário. Cativante, intrigante, e para mal dos meus afazeres uma leitura imparável. Surpreendeu.

É uma máfia interessante, esta Corte do Norte. Pronto, máfia talvez não seja o melhor termo, mas não consigo pensar em nenhum que inclua conspiradores imaginativos, engrenagens e vapor. Mas tenho uma reclamação a fazer. As aranhas mecânicas que me prometeram incluídas neste livro escapuliram-se do pacote. Enfim. Vou ter de as imprimir em 3D, está-se mesmo a ver.

A Tomada do Palácio de Cristal, Ana Luz: Um grupo de conjurados reúne-se de madrugada numa taberna da ribeira, com o fim expresso de fazer uma espécie de tomada da bastilha aquando da inauguração do portuense Palácio de Cristal pelo rei D. Luís. No final de uma noite bem regada percebem que não são os suficientes para assegurar a revolta. Pela madrugada, a revolução é novamente adiada.

Da Arte e das Razões da Guerra, João Ventura: Neste conto corrosivo os interesses que controlam o carvão, essencial para a propulsão a vapor dos tanques e navios de guerra, mantém aceso o impasse numa guerra que opõe os impérios britânico e germânico. Quando um cientista propõe um método revolucionário de propulsão à base de urânio, que promete terminar o impasse dotando as tropas inglesas de armas mais potentes e rápidas, só há uma coisa a fazer. Assassinar os cientistas e destruir a pesquisa. Afinal, com tudo a correr tão bem nos lucros, para quê inovar?

Excertos do Diário de Miss Evelyn Lasseter, Diana Sousa: O conto de mais puro steampunk da antologia. Uma jovem descobre, entre os diários e laboratório do seu pai, uma fantástica criação. Um autómato dotado de inteligência e sentimentos, que acaba destruído às mãos de uma turba furiosa, pretensa defensora dos direitos da vida biológica.