Eugenie (Jess Franco, 1969)
Para encerrar a minha visita ao MOTELx deste ano, um mergulho num filme de culto, expoente do sexploitation com toque sado-maso, saído da lente perversa de Jess Franco. Eugenie adapta livremente A Filosofia da Alcova do Marquês de Sade. Claramente feita para chocar e excitar, esta história em que uma jovem inocente é pervertida por um casal incestuoso ligado a um grupo de sádicos que leva à letra os ensinamentos do divino marquês, não se poupa a olhares lânguidos sobre jovens corpos nus e carícias entre geometrias corporais. Apesar do óbvio carácter de exploitation (é Jess Franco, esperavam o quê, drama romântico?) e de se aproximar muito da pornografia softcore, é um filme visualmente fascinante, feito de enquadramentos que explicitamente colocam o espectador no papel de voyeur e cenários onde a saturação da cor sublinha a decadência sensual do argumento. Oscila entre o creepy e o deslumbrante, com muitas cenas de nudez gratuita à mistura num todo que acaba por ser mais psicadélico do que erótico, ao som de uma música pop dos anos 60 que lhe dá um carácter absurdo.
Apenas fico sem compreender a escolha deste filme como homenagem ao actor Christopher Lee, falecido este ano. Percebo a opção por um filme de culto raro de Jess Franco dentro de um festival de cinema que entende o Horror como género abrangente, com incursões noutras cinematografias de culto. Este é o local e o momento certo para descobrir estas cinematografias. Mas homenagear um actor com um filme onde essencialmente representa o papel de pau falante declamando linhas de De Sade enquanto caminha, lentamente, durante os quinze ou vinte minutos totais que está em cena parece estranho. Então e os lendários clássicos Dracula da Hammer? Curiosamente, a Cinemateca está a organizar um ciclo de homenagem a Christopher Lee que inclui Dracula de Jess Franco. Questões de concorrência?