quarta-feira, 3 de junho de 2015

Dylan Dog: Il Baule delle Meraviglie; L'assassino della porta accanto.


Giancarlo Marzano, Ugolino Cossu (2012). Dylan Dog #306: Il Baule delle Meraviglie. Milão: Sergio Bonelli Editore S.p.A..

Mais uma aventura corriqueira de Dylan Dog, desta vez às voltas com um baú amaldiçoado que leva à loucura aqueles que têm a dúbia sorte de o possuir. Curiosamente a maldição não está na tradição do artefacto dos orientes, mas no desespero de uma viúva que se vê na falência após a morte de um marido que calcorreava o planeta a coleccionar bricabraques ligados ao oculto, geralmente tralhas inúteis vendidas por vendedores sabidos. Há uma tentativa de subtexto com um ciclope numa ilha para lá do nosso mundo, mas nunca passa de um remendo para uma história de pouco mérito e memória.


Fabrizio Accatino, Stefano Gerasi (2012). Dylan Dog #307: L'assassino della porta accanto. Milão: Sergio Bonelli Editore S.p.A..

De vez em quando encontramos uma aventura de Dylan Dog que surpreende e mantém a qualidade literária do personagem. É o caso desta, que conduz deliberadamente o leitor pelos caminhos errados. Dylan vai à escócia atrás de uma mulher por quem se apaixonou, e hospeda-se numa pensão cheia de hóspedes curiosos. Há a jovem de beleza estonteante que flirta com todos, excepto com o jovial irlandês que está apaixonado por ela. Há uma imigrante filipina que esconde a sua filha. E um homem de meia idade, irritante mas pacato, que na verdade foi um perigoso serial killer, o estrangulador de Edimburgo, mas que hoje sacia os impulsos assassinos em ratos capturados na cave do prédio a quem dá o nome de mulheres antes de os matar com requintes de crueldade. Seguimos ao longo de toda a aventura este assassino, que ao descobrir que vai ter um vizinho detective se sente ameaçado e em risco de, finalmente ao fim de tantos anos, ser descoberto. Mas Dylan, para além de não ser detective criminal, está obcecado pelo seu amor por uma mulher casada que lhe exige discrição enquanto se decide nos seus amores. Trava amizade com o simpático irlandês, que se enfurece quando encontra Dylan aparentemente a namorar a bela vizinha que adora. Esta, nessa mesma noite, torna-se a vítima do assassino que, sem um rato para torturar, volta a calcorrear as ruas da cidade em busca de vítimas para libertar os seus impulsos. A polícia culpa o irlandês, morto por acidente durante uma bebedeira. Quanto a Dylan, acaba por se decidir a abandonar a esperança no amor, e nunca chegará a saber o que contém uma carta que a mulher que o trouxe à Escócia lhe escreve, interceptada pelo assassino. O que intriga nesta aventura é a forma como Dylan e os seus dilemas são um dos elementos do cenário. Tudo se centra no assassino em série, nas suas neuroses, impulsos e desejos, e não há a tranquilizante redenção do criminoso que é apanhado e pagará pelos seus crimes. O assassino ficará impune, regressando à normalidade da sua vida numa pensão agora mais calma, com o trágico desaparecimento da maioria dos hóspedes. Muito boa, a forma como o argumentista brinca com as expectativas do leitor.