quarta-feira, 4 de março de 2015

Alan Turing: Unlocking the Enigma


David Boyle (2014). Alan Turing: Unlocking the Enigma. Endeavour Press.

Sente-se que Alan Turing é daquelas personalidades que não é suficientemente recordada na memória comum. Conhecedores da história da computação sabem da importância deste homem para o nascer do nosso mundo digital, e peritos na história da II guerra recordam logo o seu papel nos esforços de criptografia britânica. E é talvez por isto que Turing seja mais recordado, para lá de ter dado o nome ao teste que visa distinguir uma inteligência artificial da inteligência humana. O recente filme biográfico ajuda a conhecer melhor esta figura incontornável do século XX, apesar de conter muitas simplificações e incorrecções.

Este Unlocking the Enigma é uma biografia curta e concisa, mas certeira. Traça as principais linhas da vida e personalidade de um matemático intrigado pela complexidade, cujas investigações nos legaram o conceito de automatização mecanizada do processamento de lógica matemática através de algoritmos utilizáveis para qualquer tipo de problema (acertei?), a partir de um artigo seminal que se debruça sobre o Entscheidungsproblem, essencialmente uma versão mais complexa do paradoxo do grego mentiroso. Recorda-nos que a fama matemática de Turing levou-o a ser convidado para o Institute of Advanced Studies em Princeton antes do dealbar da II guerra, mostra-nos a importância do seu trabalho no decifrar da criptografia germânica através da criação das bombes, computadores mecânicos criados com o fim expresso de decifrar códigos cifrados por máquinas Enigma, e não só. Continua com o envolvimento de Turing nos esforços britânicos no pós guerra para construir os seus primeiros computadores e uma fortíssima análise ao fascínio do cientista pela possibilidade de inteligência mecânica.

No que toca à vida pessoal de final dramático do cientista, o livro não foge à questão da sua homossexualidade, que é o elemento que o inicia e encerra, reflectindo na patética injustiça cometida sobre um homem a quem tanto devemos. Recorda-nos que, fugindo à imagem do cientista quase autista que persiste nas consciências, Turing sempre foi assumido em relação à sua sexualidade, estando longe de ser anti-social isolado, apesar do desleixo com a sua aparência. E recorda-nos que a sua paixão pela corrida era tão forte que quase se qualificou para a equipe olímpica britânica.

Curta, concisa e cuidada, esta biografia dá-nos a conhecer as várias dimensões de um homem discreto cuja importância para o mundo digital é basilar.