quarta-feira, 28 de maio de 2014

Dylan Dog Color Fest #08


Pasquale Ruju, et al (2012). Dylan Dog Color Fest #08. Milão: Sergio Bonelli Editore S.p.A.

Dylan Dog sem ser escrito por Tiziano Sclavi não tem um imaginário tão rico, mas não deixa de ser interessante. Em La Grande Nevicata o tempo dissolve-se. O que para Dylan começa como um pesadelo transforma-se numa viagem ao futuro, onde assistimos a um nevão assassino que transforma os londrinos em zombies e que é o prenúncio de uma invasão de forças maléficas que se manifesta em insectos gigantes e outras criaturas de pesadelo. Se para o futuro Dylan representa um mistério do passado, para este a aventura é um misto de premonição de algo que poderá ainda torna-se real. Luigi Mignacco assina o competente argumento, ao qual o traço do argentino Enrique Breccia dá uma assinalável vida.

Persecuzione dall'Aldilà tem o seu quê de irónico. Uma desejável viúva vive numa casa assombrada pelos fantasmas dos seus ex-maridos. Ficamos a pensar que vai ser uma história sobre uma viúva negra que irá sofrer a merecida recompensa pelos seus crimes, mas não, o argumentista Pasquale Rujo depressa nos mostra que os homens morreram de morte natural. Então o que explica as assombrações, se não se tratam de espíritos inquietos por mortes violentas? Afinal, parece que a inocente e amedrontada viúva tem algumas capacidades pré-cognitivas e escolhe os maridos de acordo com a conveniente proximidade do momento em que esticam o pernil. Apenas não consegue prever o seu próprio futuro, e ao fugir amedrontada dos fantasmas tem um acidente e morre. Morte irónica, porque as assombrações dos falecidos maridos não procuravam vingança, mas sim proteger a viúva de um futuro que esta não conseguia conhecer.

Un patto diabolico é outra aventura de volteios irónicos. Dylan é contratado por um idoso antiquário, às portas da morte, para o safar de um misterioso pacto contraído quando era um jovem órfão esfomeado nas ruas. Parece uma história convencional de pactos com demónios, mas algo não bate certo. A criatura dona do pacto tem uma estranha bonomia e não se importa nada com o desfazer do trato, sem ameaças nem a teatralidade malévola que se espera de um representante dos infernos. É porque não o é. Trata-se de um anjo que decidiu apostar num jovem abandonado mas depressa se desilude com a malevolência no coração deste. O ilustrador deixa-nos uma pista visual intrigante, modelando o anjo na imagem de Clarence, personagem angelical do delicioso It's a Wonderful Life de Frank Capra.

Em La dimora stregata mostra-se como às vezes se ganha, outras se perde, e por vezes é impossível e perigoso tentar resolver os mistérios. O ódio e maldição que pesam sobre uma casa assombrada são tão pesados que Dylan não só não consegue aplacá-los como se vê perigosamente envolvido pela violência contida num passado encerrado entre as suas paredes.