quarta-feira, 9 de abril de 2014

Red Sonja: Queen of Plagues


Gail Simone, Walter Geovani (2014). Red Sonja Volume 1: Queen of Plagues. Mt. Laurel: Dynamite Entertainment.

Nunca imaginaria dar quatro estrelas (valha o que isso valer) a um comic de fantasia épica sexista, baseado num clone banal de Conan com formas voluptuosas para deixar adolescentes babados. Mas o humor seco de Gail Simone, a dar um toque extra a um argumento típico do género, convenceu-me. A argumentista até consegue quebrar o estereótipo da personagem e colocar Red Sonja vestida com roupas mais apropriadas às suas aventuras do que o bikini de cota de aço sobre a pele nua com que costuma ser representada.

Gail Simone atraiu a atenção ao ser despedida da DC por ter sido demasiado explícita na sua abordagem à homossexualidade de Batwoman. Explícita não em termos eróticos, note-se, que isso seria bem tolerado pelos leitores, mas na vertente emocional com uma forte dose de realismo a temperar a ilustração fluída de JH Williams. Os fãs de comics ficaram com um arranque memorável de uma série DC'52 e a Dynamite apressou-se a contratar a argumentista, dando-lhe para as mãos esse outro bastião de iconografia pensada para despertar a baba na boca dos adolescentes que é Red Sonja, clone feminino de Conan criado por Roy Thomas, tomando algumas liberdades com o universo ficcional de Robert E. Howard.

Simone consegue afastar-se da abordagem mais previsível à série. Temos aventuras passadas no ambiente de fantasia bárbara medievalista da série, mas a sublinhar um fortíssimo carácter feminista. A visão fascinante do corpo escultural coberto por um reduzido bikini de cota de malha fica-se mesmo pelas capas. Simone nota o absurdo da armadura e veste a personagem. Nem vale a pena descrever as roupas. Basta escrever que a veste para se perceber que estamos perante um desvio radical do esperado neste género de comics. E ainda a dota de características tipicamente masculinas, como um gosto desmesurado por tascas e oblívio viti-vinícula.

A história mete-se pelos caminhos ínvios das disputas entre reis benévolos e forças malévolas, entre os homens e as criaturas inferiores da era hiboriana. Destaca-se o humor seco com que Simone nos vai contando as aventuras. Basta um comentário espirituoso para nos levar a conhecer situações que outro argumentista espalharia por algumas dezenas de pranchas.

Os homens estão ausentes destas aventuras. Simone extermina-os convenientemente no início, restando a imagem de um rei bondoso e alguns personagens malévolos. É às mulheres que cabe o papel de heroínas, e se Sonja o é por inerência, Simone dá destaque ao crescimento em coragem e decisão de duas jovens desastradas mas bem intencionadas que, contra o que se esperaria, acabam por liderar o seu povo e libertar-se do jugo de forças invasoras.

Com toda esta carga de carácter e vertentes de interpretação, não deixa de ser uma boa história de aventuras de espada e feitiçaria. Uma boa surpresa, pedrada no charco das estereotipias do género.