Eugenia de mercado liberalizado, mudar o mundo real para ficar conforme a visão de um robot, os financeiros fazem malabarismos com o dinheiro dos outros mas o que assusta são g33ks e os seus algoritmos. Bom dia. Este é o novo normal.
"Australian bioethicist with a cheeky look in his eye, who’s not ashamed to say that he is ‘genuinely confused’ by the implications of his own work. Rob’s worried that some thinkers in the transhumanist movement are ushering in a world of ‘free market eugenics.’ He is particularly vexed by the principle of ‘procreative beneficence,’"
Ou seja, o aperfeiçoamento genético (ou a mera resolução de problemas de saúde através destas terapias) requer dinheiro. Mais do que o acessível ao comum cidadão. A leitura é óbvia: o eterno risco do fosso de desigualdades ganha aqui uma vertente arrepiante. Combinando genética, tecnologia e afluência financeira, poder-se-á conceber uma futura humanidade dual, onde os ricos e poderosos são de factos humanos aperfeiçoados e o homo sapiens natural como espécie secundarizada numa distopia transhumanista? É que levando em conta o historial comportamental das elites, quer sejam aristocracias, oligarcas ou uns por cento, esta é uma ideia de mau augúrio para o resto. Particularmente para aqueles que sentem na pele o esmagamento em nome da ideologia austeritária de décadas de progresso social.
"... strong shadows had foxed Hans Moravec’s attempts to achieve autonomous motion in an MIT robot called the Cart. ‘The Cart got very confused about its model of the world, and Hans had to run out and fix the world occasionally so that the internal model was a little more accurate – it was easier to change the real world than to change the Cart’s internal model of that world.’"
Mark Stevenson (2011). An Optimist's Tour of the Future. Londres: Profile Books.
Deliciosa esta visão de modificar o real para ficar em conformidade com as restrições da visão virtual. Não significa que seja um padrão a seguir, apenas sublinha as dificuldades enfrentadas pela robótica e inteligência artificial para replicar algo que nos é natural. Mas citado fora de contexto... uma delícia provocatória. Duas citações do divertido e provocatório An Optimist's Tour of the Future de Mark Stevenson.
"I’d thought it strange, after the financial crisis, in which Goldman had played such an important role, that the only Goldman Sachs employee who had been charged with any sort of crime was the employee who had taken something from Goldman Sachs. I’d thought it even stranger that government prosecutors had argued that the Russian shouldn’t be freed on bail because the Goldman Sachs computer code, in the wrong hands, could be used to “manipulate markets in unfair ways.”"
Michael Lewis (2014). Flash Boys. Nova Iorque: W. W. Norton.
O romance Flash Boys anda a circular na infoesfera, intrigando os digerati por abordar em ficção a complexidade e estranheza futurista do trading financeiro algorítmico. O John Naughton, não sendo o primeiro a olhar para o livro, é particularmente acutilante. Logo nos primeiros parágrafos da introdução damos com esta crítica profunda aos vícios sistémicos da lei e das finanças. Bom augúrio. Talvez Lewis seja daqueles romancistas populares que, como Daniel Suarez, conseguem abordar o futurismo alastrante embrulhado em thrillers para consumo literário de massas. Resta-me ler o resto para perceber se a intuição sobre os mercados financeiros entregues ao automatismo de algoritmos é profunda ou se fica pelo adereço ficcional.