domingo, 7 de outubro de 2012

Mãos anafadas


O livro 1984 de George Orwell preconiza a sociedade panopticon, e o Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley a sociedade do espectáculo, duas vertentes do mundo contemporâneo. Não conheço nem me recordo de nenhuma outra obra de ficção científica que antevesse o corrente apocalipse financeiro. Geralmente os escritores ficaram-se por coisas mais prosaicas como pandemias, invasões alienígenas, guerras nucleares, infestações de zombies, singularidades trazidas pela complexidade tecnológica ou o esgotamento de recursos naturais. Ninguém se lembrou que o fim da civilização ocidental poderia chegar através das mãos anafadas dos banqueiros e aventureiros da finança.

(A imagem tem a sua razão de ser. Não, não são hordes manipuladas por um qualquer querido líder ditatorial. É um fotograma de Things To Come, um clássico do cinema de FC com argumento de H.G. Wells que segue na perfeição uma linha utópica que deixou de estar na moda. Guerras atómicas aniquilarão a sociedade, que no futuro decairá para um quase barbarismo. Um grupo de cientistas preserva o conhecimento, espalhando-o através de missionários voadores (leram bem). A sociedade humana é reconstruida e mergulha num período dourado. Mas, simbólico da era, a prosperidade civilizacional só é obtida graças a um governo tecnocrático que decide o que é melhor para a população. O filme termina com o obrigatório arranque da colonização das estrelas por uma nova humanidade.)