quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Hiperreal ou austero


Algo que me surpreende na arte digital e new media é o fosso da qualidade estética entre os criadores bleeding edge destas correntes e aqueles que utilizam meios digitais de criação aplicados, em 3D, efeitos especiais, pintura digital ou edição de imagem.

Estes distinguem-se pela busca quase barroca de uma perfeição que torna por vezes o digital indistinguível do real ou do meio de expressão tradicional, num  registo hiperreal cuja vanguarda procura simular através de ferramentas avançadas a física óptica para tornar mais realista a representação virtual, cada vez mais indistinguível do real excepto por um senão: o excesso de perfeição torna-se a pista que nos leva a perceber que estamos perante uma imagem de síntese e não uma reprodução do real.

No extremo oposto, os praticantes de artes new media não estão preocupados com realismo ou com regras de design elegante. Muitas das suas criações vivem de uma estética crua, similar ao lado extravagante e popular da internet. Outras vivem de uma sobriedade extrema, do espírito quase zen do código nu, linhas minimalistas ou da estética destrutiva aleatória ou intencional do glitching.

Se uns nos deslumbram com uma iconografia hiperreal que dá vida ao imaginário impensável, outros tocam o coração e a mente com peças reflexivas, esteticamente austeras mas cheias de camadas de significado. Quais as mais significativas, quais as que resistirão o teste do tempo, quais as que tocam mais profundamente no pulsar do espírito do tempo e de uma alma humana irremediavelmente transformada por próteses tecnológicas?

(A ideia chegou através deste intrigante vídeo de Michael Bell-Smith que me faz pensar no que seria a realidade se fosse similar a ambientes de trabalho tácteis - a paisagem marítima com relógio e aplicações num loop recursivo infindo.)