quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Butcher Bird


Richard Kadrey (2007). Butcher Bird. São Francisco: Night Shade Books.

Kadrey está decididamente estabelecido como escritor de fantasias negras escatológicas espirituosas de linguagem rápida. Leituras superficiais, devoram-se em poucas horas graças ao carácter das narrativas apelativas e enredos lineares.

Butcher Bird conjura um universo de fantásticos mundos paralelos que coexistem com a normalidade do nosso real e leva-nos literalmente ao inferno numa história onde uma simples tarefa de recuperar um livro com conhecimentos ocultos se revela o cerne de uma guerra sem quartel pelo controlo das realidades.

Com um forte toque de Clive Barker no seu lado mais fantástico, Kadrey envolve-nos numa narrativa imparável que agarra até ao inevitável mas tão pouco desejado final.

...


Serra de Aracena

Composição


Nas primeiras páginas do clássico dos anos 70 Avengers: The Kree-Skrull War escrita num rebuscado tom literário por Roy Thomas e ilustrado por Sal Buscema e Neal Adams. Fantásticas estas vinhetas com composição perfeita, a remeter para a pintura renascentista. Não estou a brincar. Vejam a forma como as figuras estão dispostas no painel e o percurso do olhar. Parece saídinho de um manual sobre composição pictórica. Ilustração de Sal Buscema.

Dizia...?


Batman clássico, anos 70.

Supergods III

"Although I was clearly well read and articulate, my ever-encouraging tutors regarded the comics reading habit as a warning sign that I was on a collision course with some catastrophic breakdown of literacy that was almost certain to leave me with a fifteen-word “ZAP! KER-POW!” space monkey vocabulary of neuronal pops and frazzles." Grant Morrison, em Supergods.

Conheço bem o sentimento. Também o senti na pele. Recordo-me particularmente de uma rotunda professora de matemática que confidenciou à minha mãe o quanto era louvável o meu gosto pela leitura, só era pena desperdiçar tempo a ler coisas que não interessavam. Enquanto ela pronunciava estas palavras, com o sub-texto implícito de que o meu gozo literário deveria vir dos cinzentos manuais escolares e não dos voos de imaginação, estava com o nariz enfiado na Volta ao Mundo em 80 Dias de Verne. Quanto à FC... perdi a conta às vezes que ouvi directas e indirectas em discussões com amigas (que os amigos eram geralmente avessos à tinta de impressão encadernada) sobre a falta de seriedade do género, enquanto se desdobravam em elogios aos sentimentos despertados por uma qualquer chic lit ou literatura light.

Não que não goste da Grande Literatura. Entre as minhas influências formativas contam-se Ferreira de Castro, Hemingway ou Henry Miller. Mas nunca percebi o desprezar dos sub-géneros (só apelidar de "sub" é indicativo de muita coisa). O mainstream também está cheio de coisas entediantes, de qualidade a deixar muito a desejar, se é por aí que gostam de marcar diferenças. Cá por mim, nunca deixei a cegueira dos fãs da seriedade artística cegar-me aos feéricos voos imaginários propostos pelos artistas vistos pelo mainstream como pouco sérios.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Supergods II

"As a child, I loved to angle two bathroom mirrors so that I could look down a virtual corridor into the infinity of reflections that lay in either direction. I imagined that those distant versions of myself, glimpsed at the far end of the receding stack, were inhabitants of parallel worlds, peering back down the hall of faces at me. Alternate realities were as easy as that; they were waiting for us in our bathrooms."

"What we construct in our imaginations, we have a knack of building or discovering. We may not have flying men or invulnerable women racing among us, but we now have access to supertechnologies that once existed only in comic-book stories.

“Mother Boxes,” empathic personal computers like the ones in Jack Kirby’s Fourth World story cycle, are already here in embryonic form. Is the soothing contact offered by the Mother Box so different from the instant connection that a cell phone provides? Twenty-four-hour access to friends, family, and the buzz of constant social exchange can make us feel cocooned and safe in a reportedly hostile world."


"In so many ways, we’re already superhuman. Being extraordinary is so much a part of our heritage as human beings that we often overlook what we’ve done and how very unique it all is. We have made machines to extend our physical reach and the reach of our senses, allowing us to peer into the depths of space and outer time. Our cameras and receivers allow us to see across the entire electromagnetic spectrum. We can slow down, freeze, and accelerate time on our screens. We can study and manipulate microscopic worlds, print our names on single atoms, analyze soil on Mars, and observe the rings of Saturn at close range. Our voices and our photographic records of everything we’ve seen are carried at the speed of light on an expanding bubble of radio, into the infinite. Television broadcasts of the first moon landing are still traveling, growing fainter as the waves spread out."

"Superhero science has taught me this: Entire universes fit comfortably inside our skulls. Not just one or two but endless universes can be packed into that dark, wet, and bony hollow without breaking it open from the inside. The space in our heads will stretch to accommodate them all. The real doorway to the fifth dimension was always right here. Inside. That infinite interior space contains all the divine, the alien, and the unworldly we’ll ever need."

Grant Morrison (2011). Supergods. Nova Iorque: Spiegel and Grau.

...


Faro.

Super... gods.

"Those echoes were never louder than in Superman’s Girl Friend, Lois Lane no. 73, which allowed into this fragile world of sanity an image so peculiar that words alone are not capable of doing justice to it. The story inside was tame fare by comparison, but Weisinger’s trademark self-searching ability to transform every dirty subconscious coal into the gem of an idea was never more evident than here. This was a Jungian bowel movement rendered as a story for children. The kind of behavior this primed young boys to expect from their own future girlfriends was more obscene than the blow jobs, boob jobs, and anal entry they now expect as a result of boring old Internet porn. Superman was educating a generation of sadomasochistic swingers with tastes trending beyond the outré." - Grant Morrison (2011). Supergods. Nova Iorque: Spiegel and Grau.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Apontamento | Religioso

Em contraste com a banalidade neo-barroca de gosto estado-novista da basílica está a deslumbrante igreja da santíssima trindade.
Mensagens, multilingues. Toque Hermético? O poder da palavra? Há intenções não expressas que ultrapassam a memória descritiva do pretendido pelo cliente.
 
 O arquitecto homenageia deuses mais elevados do que os adorados pelas sotainas.
 Há uma profunda reverência pelo abstraccionismo alto-modernista com uma pureza de linhas que o revestimento propiciador de jogos de textura faz fugir ao pesado brutalismo.
 Fascinantes, as portas de bronze? ferro? da igreja. Aparentemente simples, ao aproximar o olhar revelam uma forte texturização de corrosão. As mãos marcadas? Remetem para a pré-história e para as mãos dos nossos antecessores marcadas nas paredes das cavernas. Curioso traçar de linha de continuidade entre sentimentos religiosos contemporâneos e proto-históricos.
 
Deslumbres de grande arquitectura à parte, Fátima é um vasto hipermercado religioso, relíquia das relações estreitas entre Estado Novo e Patriarcado na exploração de crendices populares com fins políticos mas que hoje é um dos ícones do portugal profundo, repleto de peregrinos a rastejar em nome de promessas feitas a entidades de existência duvidosa.
Uma forma de redimir promessas é queimando velas e figuras em cera num monolítico crematório. Pertíssimo, estes oníricos buffets de canibais.

...


Serra de las Nieves.

The Boy with the Cuckoo-Clock Heart


Mathias Malzieu (2010). The Boy with the Cuckoo-Clock Heart. Nova Iorque: Knopf.

Vagamente steampunk, vagamente surreal, vagamente poético, este é um livro que saiu da sensibilidade literária francófona. Onde autores anglo-saxónicos não resistiriam a criar intricados mundos alternativos, repletos de descrições exaustivas de tecnologias mirabolantes, Malzieu deixa tudo em aberto. Fala o suficiente do mundo imaginário que criou para despertar os neurónios, e depois deixa-os preencher esse mundo.

Esta história simpática leva-nos a uma Edimburgo do século XIX onde um enjeitado é salvo graças à intervenção de uma criadora de próteses mecânicas que lhe coloca um relógio de cuco no coração. Apaixonado por uma cantora, o rapaz viaja até Sevilha na companhia de um Meliès de coração partido para viver uma intensa história de amor... que termina de forma pouco agradável.

A prosa do autor, num estilo divagatório que convida a saborear as palavras, remete-nos para fantasia pura num mundo deliciosamente imaginário.

Alquimia | Técnica

"Early comic books used a four color printing process in wich alchemical, elemental red, yellow, blue and black were combined to create a processed spectrum." - Grant Morrison, Supergods.

"The twentieth century is the era when technique becomes clarified as a paradigm that not only interprets reality but is one of its constituent elements, and this has been acknowledged as an inexorable upheaval. What seemed to be auxiliary has now become central. The worid is informed by technique, and man is formed within it.". - Gianfranco Maraniello, Vertigo: A Century Of Multimedia Art, From Futurism To The Web.

domingo, 28 de agosto de 2011

Joke, private.


Prestem atenção ao logotipo do computador. Apanharam?

The D Day Companion


Jane Penrose (2004). The D Day Companion. Oxford: Osprey.

Este não é mais um livro que conta cronologicamente a história do Dia D. A abordagem opta por um conjunto de ensaios detalhando alguns dos momentos, figuras, decisões e planeamento desta operação decisiva da II Guerra. Das capacidades de liderança de Eisenhower ao papel dos meteorologistas, às agruras logísticas e ao ponto de vista dos defensores alemães, mostra-nos diferentes aspectos deste momento histórico através da análise aprofundada de pequenas vinhetas.

Apontamento: Urbano

 Incêndio urbano, Eixo Norte-Sul paralisado. Como bisontes à beira da extinção, os automóveis contemplam as labaredas em silêncio.

 O refúgio acolhedor na vastidão urbana.

 Monólito, contra-luz.
 Abstracção com luz e arquitectura comercial vernacular, Caldas da Rainha.

Noite dentro, Óbidos.

sábado, 27 de agosto de 2011

Apontamentos de Viagem XI

Para terminar a viagem, regresso de Cádiz via Sevilha e Huelva a terminar apropriadamente em Sagres. 

 Rua em Jerez De La Frontera.

 Cabo de S. Vicente, Sagres.

Farol de Sagres.

Apontamentos de Viagem X

Ao fim de doze dias de estrada, soube bem parar um bocadinho para experimentar a praia na costa de Cádiz. Um dia a mergulhos em Puerto de Santa Maria.

 Réplica da nau Santa Maria na marina de Puerto Sherry.

Forte em ruínas na praia de Puerto Sherry.

Praça principal de Puerto Santa Maria.

Ignore


Um stencil comum nas ruas das Caldas da Rainha. Não o encontrei noutras cidades. Consequências pós-traumáticas de raptos em Ovnis com pequenos homens cinzentos e exames rectais?

Apontamentos de Viagem IX

Cádiz. Sair do enclave de Gibraltar e seguir pela costa através de Tarifa. Após Algeciras o carácter sobre-explorado da costa mediterrânica alivia e até Cádiz abundam os grandes espaços verdes e areais sob o azul.

 Cádiz ao longe, num dia cinzento.

 A relaxar numa praceta gaditana.

Mais uma dose de excesso barrocos na catedral de Cádiz.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Apontamentos de Viagem VIII

Gibraltar. Resquício anacrónico do império britânico, é um estranho destino que não é muito turístico apesar dos gibraltinos se esforçarem em promover as suas curiosas atracções. Enclave britânico no mediterrâneo, é um melting pot de línguas e etnias. Nas ruas cruzamo-nos com enxames de turistas espanhóis que se aproveitam das lojas livres de impostos, muçulmanos, judeus, indianos, genoveses e inevitavelmente ingleses. Cada um se veste de acordo com a sua cultura de origem e nas praças hijabs e yarmulkas convivem com calções. Outra curiosidade: a moeda própria, a libra gibraltina. Como só é aceite no rochedo é pouco melhor do que dinheiro de monopólio. 

 Uma livraria? Estou feliz!

 Entrar no território é um exercício de paciência. Há que contar longas filas para a formalidade de acenar o cartão de cidadão ao guardia civil e ser despachado com um move on da polícia gibraltina. Entretanto vai-se espreitando o rochedo por entre a névoa húmida do céu mediterrânico.

 A sair de Cannon Lane para a Main Street, cheia de lojas de álcool, tabaco, roupas e electrónica livres de impostos. Mas cuidado com os guardas fronteiriços espanhóis, eles têm faro para a malta que vai lá comprar sacos de pacotes de tabaco. Main Street. Para quem não é apaixonado por bebidas fortes e fumaças, é um belo local para comprar iPads, máquinas fotográficas e detectores de radar. Infelizmente não tinha 140 libras para dar por este último item.
 Macacos berberes. Cuidado, apesar do ar simpático mordem e gostam de puxar as roupas aos turistas. E penduram-se nos carros. É vê-los voar à nossa volta.

 Toque british nas ruas de Gibraltar.

 O rochedo visto da Casemates Square, num raro momento da minha estadia em que o sol brilhava sem ser opressivo ou não estava sobre nuvens cinzentas pesadas.

 A simplicidade da arquitectura colonial, para descansar a vista depois da exuberância sevilhana, do branco de Ronda e da banalidade malagueña.

 O rochedo visto de Europort, zona reclamada ao mar.

 Praia de Catalan Bay, no lado este de Gibraltar.

Cai a noite sobre Main Street.

Apontamentos de Viagem VII

Ronda. Impossível não ficar apaixonado por esta cidade encavalitada nas serranias com a sua famosa ponte sobre a profunda garganta do Tajo.
 É a visão que se retém de Ronda: a cidade antiga sobre os penhascos profundos.

 Ao entardecer, o contraste entre o penhasco e a imensidão serrana.

 A ponte sobre a garganta. Impressionante.

 Cai a noite e a cidade explode de vida.

 Serrania de Ronda. As estradas de acesso são de montanha. Para lá chegar passou-se pela Sierra de Las Neves, num caminho de tirar o fôlego.

Sair de Ronda implica atravessar a enrugada paisagem natural da Sierra de Ronda.

In dreams...


Aqui eu estaria mesmo bem...! Do Zatanna #16.

Imagens na mente


Do The Unwritten #28.

Apontamentos de Viagem VI

Málaga. Trocar o calor seco de Córdova pela humidade à beira do Mediterrâneo. Outra cidade que não impressionou, um dos centros da vastidão ballardiana de condomínios de férias, hotéis, piscinas, áreas comerciais e vias rápidas que se estende ao longo da orla mediterrânica.

 Ás voltas pelas ruas de Málaga.

 Momento ballardiano. Não é difícil imaginar todos estes edifícios de estilo internacional como monólitos num vasto deserto de auto-estradas. A costa é deprimente, uma longa tira de praias sobrelotadas, comércio turístico e betão armado disfarçado com nomes alusivos à costa do sol.

O ponto alto de Málaga: a pequena mas cuidadosamente curada colecção do Centro de Arte Contemporâneo, com obras de Warhol, Goldin, Kiefer, Bourgeois, Holzer e Goldin. Já o Museu Picasso apesar de estar num belíssimo espaço fica-se por um amontoado de obras menores e rascunhos com poucos trabalhos a salientar.