segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Apontamento | Religioso

Em contraste com a banalidade neo-barroca de gosto estado-novista da basílica está a deslumbrante igreja da santíssima trindade.
Mensagens, multilingues. Toque Hermético? O poder da palavra? Há intenções não expressas que ultrapassam a memória descritiva do pretendido pelo cliente.
 
 O arquitecto homenageia deuses mais elevados do que os adorados pelas sotainas.
 Há uma profunda reverência pelo abstraccionismo alto-modernista com uma pureza de linhas que o revestimento propiciador de jogos de textura faz fugir ao pesado brutalismo.
 Fascinantes, as portas de bronze? ferro? da igreja. Aparentemente simples, ao aproximar o olhar revelam uma forte texturização de corrosão. As mãos marcadas? Remetem para a pré-história e para as mãos dos nossos antecessores marcadas nas paredes das cavernas. Curioso traçar de linha de continuidade entre sentimentos religiosos contemporâneos e proto-históricos.
 
Deslumbres de grande arquitectura à parte, Fátima é um vasto hipermercado religioso, relíquia das relações estreitas entre Estado Novo e Patriarcado na exploração de crendices populares com fins políticos mas que hoje é um dos ícones do portugal profundo, repleto de peregrinos a rastejar em nome de promessas feitas a entidades de existência duvidosa.
Uma forma de redimir promessas é queimando velas e figuras em cera num monolítico crematório. Pertíssimo, estes oníricos buffets de canibais.