quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Supergods III

"Although I was clearly well read and articulate, my ever-encouraging tutors regarded the comics reading habit as a warning sign that I was on a collision course with some catastrophic breakdown of literacy that was almost certain to leave me with a fifteen-word “ZAP! KER-POW!” space monkey vocabulary of neuronal pops and frazzles." Grant Morrison, em Supergods.

Conheço bem o sentimento. Também o senti na pele. Recordo-me particularmente de uma rotunda professora de matemática que confidenciou à minha mãe o quanto era louvável o meu gosto pela leitura, só era pena desperdiçar tempo a ler coisas que não interessavam. Enquanto ela pronunciava estas palavras, com o sub-texto implícito de que o meu gozo literário deveria vir dos cinzentos manuais escolares e não dos voos de imaginação, estava com o nariz enfiado na Volta ao Mundo em 80 Dias de Verne. Quanto à FC... perdi a conta às vezes que ouvi directas e indirectas em discussões com amigas (que os amigos eram geralmente avessos à tinta de impressão encadernada) sobre a falta de seriedade do género, enquanto se desdobravam em elogios aos sentimentos despertados por uma qualquer chic lit ou literatura light.

Não que não goste da Grande Literatura. Entre as minhas influências formativas contam-se Ferreira de Castro, Hemingway ou Henry Miller. Mas nunca percebi o desprezar dos sub-géneros (só apelidar de "sub" é indicativo de muita coisa). O mainstream também está cheio de coisas entediantes, de qualidade a deixar muito a desejar, se é por aí que gostam de marcar diferenças. Cá por mim, nunca deixei a cegueira dos fãs da seriedade artística cegar-me aos feéricos voos imaginários propostos pelos artistas vistos pelo mainstream como pouco sérios.