terça-feira, 4 de novembro de 2025

Le Fantôme De La Rue Michel-Ange


Henry Bordeaux (1926). Le Fantôme De La Rue Michel-Ange. Paris: Fayard.

Não esperava ver-me leitor de um livro escrito por um autor que ficou imortalizado por ter sido gozado por Henry Miller no seu clássico Trópico de Cancer. Apanhei-o um pouco por acaso na Feira da Ladar, seduzido pelo formato, capa e as ilustrações anteriores desta edição de 1926. Já só falta um aninho para fazer um século.

Uma pesquisa sobre o autor revelou ser uma daquelas criaturas certamente respeitáveis e sisudas, que escrevia muito corretamente e por isso foi nomeado membro da Academie Française, instituição cuja principal função é dizer aos franceses como escrever corretamente. Advogado para lá de romancista, a sua obra centrou-se no retrato das classes sociais altas, mas de forma tão morna que depressa foi esquecido. 

Este livro até prometia alguns arrepios. Finalizada a leitura, dei com um tema interessante -  os traumas sociais e pessoais trazidos pela I Guerra, mas tratado de forma folhetinesca, ao estilo telenovela, diríamos hoje. Não que o livro se estruture assim, apenas a superficialidade das personagens e a falta de emoção na escrita parecem a narrativa a metro dos dramalhões. A história foca-se num militar que assiste à derrocada mental de um amigo, banqueiro parisiense que perdeu o filho único nos primeiros minutos da batalha de Verdun. Amante das coisas sobrenaturais, vive concencido que consegue falar com o espírito do filho, através de sessões mediúnicas. A medium é a sua sobrinha, prima distante da província que acolheu na casa paraisiense. Provinciana mas nada tapadinha de todo, a rapariga depressa percebe que o caminho para uma vida desafogada e de bem estar é ceder às fantasias do tio, chegando ao ponto de renegar um amor para não perder a vida de conforto numa alta sociedade a que não pertence. Resta a mulher do banqueiro, católica devota, que muito à francesa preferia que o marido adotasse a sobrinha como amante, ao estilo clássico, em vez de a mimar com prendas por acreditar que através dela, fala com o filho. 

Há aqui uma história que tanto poderia ser de fantasmagorias como de crítica social, ou de retrato do desespero de pais que perdem os filhos na loucura das nações. Mas, lá está, o livro está corretamente escrito, e torna-se um suplício de levar até ao fim, apesar de ser curto. Não é uma questão de choque entre a minha sensibilidade de leitor do século XXI e os modos narrativos dos princípios do século XX. É que o livro é mesmo um tédio, salvam-se as ilustrações.

Ou seja, Henry Miller tinha razão.

domingo, 2 de novembro de 2025

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Inside the Daley, 1976: Bem, na verdade um Dalek. 

Astérix na Lusitânia - a capa definitiva: Anda tudo excitadíssimo com esta aventura dos gauleses em Portugal. Eu, confesso que nem por isso. Por se mais um (estafado) Asterix. Por ser expectável que assente nos estereótipos básicos sobre nós (a capa mostra logo isso). E, claro, pela parolice tão portuguesa de só nos sentirmos valorizados quando retratados pelo exterior. Claro, se adoram Asterix, espero que se divirtam com este livro. Quanto a mim, vou dar-lhe o tratamento que tenho dado ao personagem desde a minha infância - deixar que sejam outros a ler os livros. 

The Biggest Ship in Science Fiction: Uma investigação muito divertida, sobre a plausibilidade das maiores naves da FC serem atratores estranhos. 

Five Nonfiction Books That Read Like Fiction: Uma boa história faz a diferença. 

Why Readers Love Reading Books About Books: Bem, é óbvio, não é? Se se adora ler, adora-se saber tudo sobre livros. 

The Evolution of Spaceship Design: Do futurismo otimista dos anos 60 a uma atualidade que procura o máximo de verossimilhanças. 


1960s General Dynamics concept art: Visões clássicas. 

Something Is Very Wrong Online: Leio, e concordo. O mundo online já foi melhor. E para quem começou nisto nos velhos tempos em que se pensava que a internet iria dar voz a todos, e com isso despoletar uma revolução no acesso ao conhecimento e às ideias, não consegue deixar de ver com amargura o proliferar dos trolls, discursos de ódio e nichos de extremistas sociopatas, incentivados pelo modelo de negócio dos gigantes da internet. 

Salir de las redes sociales no nos va a mejorar nuestro bienestar (aunque tampoco lo va a empeorar): Desmontar o mito dos digital detox, o que não significa que não sejamos mais criteriosos com a forma como gerimos o nosso tempo e atenção online. 

Education report calling for ethical AI use contains over 15 fake sources: LOL! E sejamos honestos, isto não me surpreende de todo. 

XKCD tenía razón con lo del tipo de Nebraska que mantiene de forma desinteresada un proyecto básico para toda la infraestructura digital moderna: Tanta infraestrutura digital que depende de pequenos projetos obscuros mas decisivos. 

NotebookLM for Teachers and Researchers: A Complete Guide: Um excelente guia para tirar partido desta que é das mais interessantes ferramentas de IA. 

NINE BELLS risto: Recordar que no passado se sonhava com gadgets futuristas, e agora que os temos, sentimos que são mais grilhões do que ferramentas fascinantes. 

The looming crackdown on AI companionship: Olhar para os companheiros virtuais de IA como um problema indutor de questões de saúde mental. 

Librarians Are Being Asked to Find AI-Hallucinated Books: Isto parece saído de um conto de Borges, com bibliotecários caçadores de livros nunca escritos, mas é apenas uma consequência da falta de sentido crítico no uso da IA.


Philippe Caza: Fantásticos surrealismos. 

Ukraine’s Most Lethal Soldiers: Uma leitura arrepiante, que acompanha operadores de drones ucranianos na frente de batalha. Assusta o baixíssimo valor da vida humana naqueles campos de morte, e arrepia como a flexibilidade de tecnologias de baixo custo, combinando eletrônica, explosivos e impressão 3D, transforma as frentes de batalha numa zona de risco mortífero. 

BruceS: De facto, nada como a fiabilidade da engenharia da Toyota. 

RAF Harrier GR.7 - O guerreiro da guerra fria: Recordar as operações do clássico jump jet nos céus da antiga Jugoeslávia. 

Our Coming Plutocracy: É fácil brincar com Fukuyama e o chavão que gerou com a ideia de fim da história. Mas, de facto, a história chegou ao fim na década de 90 do século XX. Com o mundo unipolar mas fragmentado da pax americana e colapso soviético, e a sua evolução até aos perigosos dias de hoje, percebemos que de facto a história clássica, das nações e ideologias, terminou. Agora estamos entre o novo feudalismo dos oligarcas bilionários e o resvalar fascizante das democracias, através de populismos que são financiados pelos oligarcas mas capitalizam no crescimento das desigualdades que é consequência direta do enriquecimento da classe dos bilionários. 

AS PINTURAS "TIGER MEET" PORTUGUESAS: Tenho imensa pena que não se vá realizar o dia aberto da Base Aérea de Beja, que coincidia com o Tiger Meet e que seria também o de festival aéreo, que previsto para julho foi adiado para setembro para permitir que as esquadrilhas participantes se mostrassem ao público. Foram invocadas razões de logística e, com mais detalhe recentemente, de segurança face ao crescendo da tensão russa e temores de potencial interferência violenta. Como sempre nestas coisas, todos perdemos. Ainda por cima, o F-16 português especialmente pintado para o evento ficou de cair o queixo.

In new level of stupid, RFK Jr.’s anti-vaccine advisors axe MMRV recommendation: Deixo isto aqui para registar as consequências, graves, da chegada ao poder de populistas que se aproveitam da ignorância para ganhar votos. E depois, com o poder, demonstram que são mesmo profundamente ignorantes, com consequências catastróficas para toda a sociedade.

sexta-feira, 31 de outubro de 2025

Folio/Amadora BD

 










O Amadora BD, igual a si próprio, mas vale sempre a pena a visita para contemplar pranchas originais. Há um pouco de tudo para todos, com a vénia aos comics, recordar Spirit e Peanuts, uma antologia do trabalho de Luís Louro, e o destaque dado para algumas das melhores propostas editoriais de BD do ano.




O Folio não é um festival que me interesse particularmente, as suas temáticas pouco me dizem, é um típico encontro de mainstream académico e literário. Mas, estava na zona de Óbidos, tinha de queimar tempo, e deparei com duas interessantes exposições, uma dedicada à BD mais experimental (com curadoria de Pedro Moura, of course e who else?), outra, dedicada a retratos de ilustradores.

quinta-feira, 30 de outubro de 2025

O Planeta Vermelho


Carlos Orsi  (2013). O Planeta Vermelho.

Não é muito fácil para nós, deste lado do atlântico, ler FC brasileira. Apesar da língua em comum e dos acordos culturais e ortográficos, os livros de lá não chegam cá, e vice versa. Quanto aos autores, só chegam os do mainstream, que sem dúvida têm qualidade e ideias interessantes, mas de parte ficam as ficções fantásticas. Claro, nos dias que correm a internet tem algumas soluções para estes fossos culturais, mas nem assim é fácil apanhar autores de FC brasileira. 

Comecei esta leitura com grandes expetativas - trata-se de um conto de um dos autores considerados de referência na FC além-atlântico, mas leitura feita, revelou-se bastante mediana. O conto é um pastiche lovecraftiano, um recontar de At The Mountains of Madness tendo como pano de fundo uma colónia marciana que se está a afastar das suas raízes terrestres (e neste ponto, Orsi consegue coisas muito interessantes), e os escritos antigos ocultos em ruínas alienígenas cuja decifração provocará o acordar dos piores males.

Não é excelente, mas homenageia bem as suas assumidas fontes de inspiração, e ainda nos dá elementos curiosos de worldbuilding. Gostaria de ler mais deste autor, embora tema que as profundezas do atlântico sejam fortemente impeditivas disso.

quarta-feira, 29 de outubro de 2025

Caldas Motor Show

 









Carros não são muito a minha cena, mas estava nas Caldas, tinha de queimar algum tempo, e porque não ir ver estas máquinas preservadas?

terça-feira, 28 de outubro de 2025

Então, Michael?!


Makoto Kobayashi (2025). Então, Michael?!: Desventuras de um gato. Lisboa: Sendai

Gatos não são muito a minha cena, sou mais pessoa de cães. Comprei o livro para a minha esposa, minha antagonista nestas discussões (e a gata dela não tem uma boa relação com a minha cadela). Claro, não resisti a espreitá-lo,  e fiquei rendido ao humor destravado deste livro. Nem sempre compreensível, há piadas e formas narrativas que julgo que apenas os japoneses iriam perceber, mas o retrato do gato, das suas tropelias e desventuras é ao mesmo tempo encantador, divertido, e quem tem de aturar esses bichos do demo no dia a dia, muito descritivo das suas atitudes e comportamentos.

segunda-feira, 27 de outubro de 2025

AeroXperience 2025












Campo aéreo de Benavente, em visita ao AeroXperience 2025, um pequeno mas simpático festival dedicado à aviação.