Dias da Espiga.
Um vampiro diferente. Quando um escritor de livros de terror baratos é mordido por uma vampira, ganha acesso a todo um novo mundo. A vampira torna-se a sua companheira, e o escritor, agora vampiro, descobre-se como uma das criaturas que alimenta o terror. A comunidade vampírica é benigna, e este peripatético personagem é uma curiosa incursão no cosy horror. Há ameaças, entre possessões demoníacas e caçadores de vampiros, mas os vampiros apenas querem viver as suas discretas vidas, sem fazer mal a ninguém. E, no caso do vampiro escritor, evitar as máquinas fotográficas dos fãs. Uma derivação intrigante sobre a iconografia do género.
As memórias de soldados, entre o humorístico e o traumático. Pequenas vivências e detalhes que humanizam momentos da história do século XX, através das recordações vivas dos combatentes, não as dos famosos, mas as dos anónimos, aqueles de que raramente se fala. Algumas histórias são tocantes, outras assustam. Há um pouco de tudo, entre as recordações das injustiças da guerra, da morte aleatória de amigos, do impacto nas populações civis, ou os traumas de ex-combatentes.
O elevado realismo do traço de Chris Weston cria uma brilhante dissonância nesta história profundamente surreal de Gerard Way. Num lar de terceira idade frequentado por estranhos pacientes, numa casa que parece estar viva, entra uma cuidadora amnésica cujo trabalho a levará a enfrentar os seus traumas. Mas o médico de serviço procura a imortalidade, e estabelece um acordo com uma seita capitalista que se disfarça com máscaras de macacos de desenho animado. Uma brincadeira muito surreal com as tropes dos comics, entre super-heróis adoentados, alienígenas caridosos e cabalas secretas.
De volta e meia apanho nas redes sociais com variantes do discurso memético anti-esquerdista que nos diz porque é que os países que foram comunistas odeiam o comunismo. São, obviamente, resmungos de extremistas de direita que mal conhecem a história e muito menos são capazes de a interpretar. Este livro, no entanto, mostra logo nas primeiras páginas a razão para essa rejeição - o que estes países viveram foi uma hipócrita apropriação dos ideiais de igualde, prosperidade e justiça social por parte de políticos ambiciosos e sem escrúpulos, que visavam apenas o domínio total do poder. Foi a lição que Orwell nos tentou ensinar em Animal Farm, da facilidade com que revoluções são transformadas em repressões. Os regimes de leste, bem como a União Soviética, alimentavam-se da mística da igualdade e triunfo do proletariado, mas na verdade todos sabiam que uns era mais iguais do que outros; que as elites partidárias beneficiavam de estilos de vida burgueses enquanto o resto da população vivia com carências e restrições, pese embora o esforço, reconhecido, de elevação da pobreza e dotação de cuidados elementares às populações que estes estados fizeram (e se não o fizessem, nada justificava o regime). Aos apelos de liberdade juntou-se uma sensação generalizada de empobrecimento e fraco desenvolvimento económico.
Diga-se que uma ditadura do proletariado é, acima de tudo, uma ditadura. Que as migalhas de bem estar que os ditadores forneciam às suas populações eram pagas com a ausência de liberdade, repressão violenta e um clima de vigilância permanente. Os ditadores, quer sejam de direita quer de esquerda, são todos iguais nos seus métodos e objetivos. O povo, esse, sofre sempre.
Entre a queda da guerra fria e a estagnação social e económica dos países do leste, surgiram as condições para as revoluções mais ou menos sangrentas que derrubaram as ditaduras, iniciaram passos democráticos e um caminho que veio a tornar a maior parte destes países em membros da UE (algo que, à época, seria impensável). O que possibilitou esta derrocada foi o afrouxar do punho férreo com que a URSS geria o seu império. Enfraquecida pelas suas ineficiências, rigidez do regime e a despesa militar, deu sinais de abertura, e um dos mais importantes foi o fim do apoio aos líderes-fantoche dos estados de leste.
Este livro mosta bem como a derrocada foi rápida. Em menos de um ano, os regimes comunistas caíram. Na maioria dos casos, como a Polónia, Alemanha Democrática ou Checoeslováquia, com momentos conturbados mas sem violência militar. Sem o apoio soviético, não houve alternativa para os regimes. A exceção foi a Roménia, onde as forças repressivas de Ceausescu resistiram, com o final violento e patético de um ditador que poucos meses antes da sua execução sumária, era um todo-poderoso carrasco.
A própria China tremeu, com os acontecimentos de Tiananmen. Tremeu, mas não caiu, porque se as classes urbanas começavam a reclamar uma abertura democrática, o regime sustentou-se na enorme massa de camponeses, que pela primeira vez em milénios de história estavam a viver uma existência que não era a de mera sobrevivência em pobreza extrema. Uma lição que o regime de Pequim aprendeu bem - se se garantir prosperidade às populações, o regime não é contestado. É esse o contrato social que sustenta a China moderna.
Apesar de ser um livro sobre o fim dos regimes comunistas, não é uma obra panfletária anti-comunista (até porque, no seio de uma sociedade democrática pluralista, a mensagem comunista de justiça social é essencial). Sinaliza isso com o seu final, onde relata a queda de um outro regime, nos antípodas do Leste - o fim do extremismo de direita, racista, do regime do apartheid sul-africano.
As histórias são-nos contadas por quem a viveu, um jornalista da BBC que acompanhou de perto estes momentos e movimentos. O livro constrói-se de relatos, da experiência de um jornalista que tanto mergulha na multidão como acompanha quer os líderes dos regimes, quer a sua nascente oposição. São relatos de um momento único na história do século XX, que derrubou o muro de Berlim, deitou abaixo a cortina de ferro, transformou ditaduras em democracias e abalou uma ordem global repressiva herdada do comportamento predatório de Estaline no pós-II guerra mundial.
How Leni Riefenstahl Hid Her Complicity With Hitler From The World: A mais polémica das cineastas europeias não era, conforme sempre afirmou, uma inocente esteta apanhada pela necessidade de trabalhar no regime nazi. Foi apoiante e interveniente.
Preferia Não o Fazer: Bartleby, de Melville, como um precursor quer do modernismo literário, quer do caráter depressivo da cultura laboral.
BANG! 37: Constante como sempre, a revista Bang! está de volta para nos desafiar à leitura.
Tolkien Against the Grain: É uma clivagem clássica - a FC como mais de esquerda, pelo seu foco no progresso e utopias, a Fantasia como de direita, com o seu pendor para o tradicional, o elitismo das aristocracias.
Banda desenhada em Beja: Está de regresso, e pergunto-me, será que é este ano que consigo ir?
Os caminhos sinuosos de The Butcher of the Forest: A riqueza da literatura fantástica não-euro/americanocêntrica.
Japanese poster for Suspiria, 1977: A estética do terror.
Spain is about to face the challenge of a “black start”: Recordar o apagão ibérico, e os métodos para reiniciar a rede elétrica, com o arranque faseado das centrais e a sua sincronização de fase (desconhecia totalmente este aspeto da produção e distribuição de energia).
Drawing Machines (x20) Collection: Uma coleção de projetos de robots desenhadores. Para inspirar!
La razón por la que la electricidad tardó más de 15 horas en restablecerse al 100% en España: el temido "black start": Nestes últimos dias, ficámos a saber mais do que imaginaríamos sobre a complexidade dos sistemas de geração e distribuição de eletricidade.
Mining Bitcoin Is Now Actively Losing Money: Não por causa de subidas dos custos energéticos, mas porque o criptoativo está a atingir os limites pré-estabelecidos. E esta observação? Certeira sobre a promessa das crypto, e a sua realidade: "After more than a decade of libertarian fanfiction, we’ve arrived at the inevitable punchline: Bitcoin is now an unprofitable energy sink that primarily benefits a handful of crypto oligarchs".
Lonely Boomers Are Doomed Now That Scammers Are Using AI Filters to Make Themselves Look Like Beautiful Women: Diga-se que este tipo de vigarices sempre existiu, os predadores que se aproveitam dos mais néscios, daqueles que pela idade navegam com dificuldade no mundo contemporâneo, ou aquele clássico dos homens que desligam o cérebro mal vislumbram um lampejo de pele feminina. O que a internet trouxe foi o aumento exponencial destes crimes, e a IA generativa é uma excelente facilitadora.
El mundo parecía no estar preparado para el fin del efectivo. El euro digital deja claro que sí: No ambiente pós-apagão podemos pensar que o dinheiro digital apresenta fraquezas fundamentais, mas se os protocolos estiverem pensados para transações offline, o caso muda de figura.
Freepik releases an ‘open’ AI image generator trained on licensed data: O interessante é a empresa afirmar que não pretende libertar um modelo de excelência, mas sim um que garante respeito pelos direitos de autor.
Zuckerberg's AI Has Reportedly Been Horrifically Inappropriate With Children: Claro que a IA da Meta, aqueles bots com que os techbros acham que queremos falar, não está minimamente preparada para públicos mais jovens. Isso é um padrão - já há muito que se sabe que o Instagram é território farto para predadores sexuais, com a complacência da plataforma.
AI and 3D printing from Hugging Face: Um cruzamento interessante - IA generativa e robótica, sempre em opensource.
This 1987 Prediction of What Technology Would Be Like Today Will Make You Gasp and Wheeze: Bem, mas estes preditores não se estavam a levar muito a sério. A ironia é que se os gadgets nos parecem datados e ridículos, as tendências são atuais e caracterizam a tecnologia de hoje, desde a ideia de estar sempre ligado a receber informação a levar o trabalho conosco.
NotebookLM, the acceptable face of Google AI, is getting an app in May: É talvez o melhor serviço de IA generativa que conheço, concebido não para ser generalista, mas sim focado nos documentos de quem o utiliza, e por isso muito útil para análise documental. É também a quintessência daquela ideia do Zittron: uma IA verdadeiramente revolucionária para aqueles cujo dia a dia é passar da análise de documentos à leitura e resposta a emails. O interessante, é a forma como assume que é mesmo para isso que serve, que é coisa rara no panorama de deslumbramentos excessivos que contamina a IA generativa.
Time saved by AI offset by new work created, study suggests: Sobre as supostas eficiências trazidas pela IA, em parte pelo trabalho que dá verificar se o que fazem bate certo, ou não.
Mark Zuckerberg Thinks You Don't Have Enough Friends and His Chatbots Are the Answer: Quão insensível se tem de ser para achar positiva a ideia que algoritmos artificiais controlados por empresas são fundamentais para as relações humanas? A sociopatia disto fica patente aqui: "But if you think something someone is doing is bad and they think it's really valuable, most of the time in my experience, they're right and you're wrong. You just haven't come up with the framework yet for understanding why the thing they're doing is valuable and helpful in their life". Este argumento é absurdo, e aberto a todos os abusos. Mas, hey, o que interessa é enriquecer, e já nos foi demonstrado que se é preciso danificar a sociedade para ficar mais rico, esta gente nem hesita.
Consejos configurar tu móvil para alargar la duración de su batería: tanto en un apagón como si estás fuera de casa sin enchufe: Bons conselhos para gestão de energia em momentos de crise.
Satya Nadella says as much as 30% of Microsoft code is written by AI: Isto explica porque é que estou constantemente a levar com um CoPilot que não uso no meu pc, mas o utilitário de visualização do Windows falha três em cada quatro vezes em que uso a sua ferramenta de rotação de imagens.
We Need to Talk About AI’s Impact on Public Health: Usos de IA que poderão ser uma mais valia para a saúde.
How Demonology Won the 2024 Election: O contaminar da política mainstream pelo extremismo religioso dos evangélicos. Convém, por cá, ter atenção aos escroques que manipulam os mais néscios com uma ideologia religiosa obscurantista, antiliberal, anti-ciência e, enfim, contra os mais basilares princípios humanistas. Movimentos que são perfeitos para o aproveitamento por parte de políticos ambiciosos e sem escrúpulos.
I Just Got Into Harvard. My MAGA Grandparents’ 6-Word Reaction To My Acceptance Devastated Me.: Isto - "If I’m your political statement first and a daughter, granddaughter, neighbor, student, and friend second, something is broken". Um texto que, dado o crescimento do extremismo obscurantista conservador de direita que assistimos também aqui na Europa, nos deve servir de aviso. É notável não só pelo lado sentimental, mas por descrever os efeitos a médio prazo na mentalidade das pessoas, da monocultura mediática do consumo de canais de TV e rádio extremistas (ao qual podemos hoje juntar as plataformas web).
Leituras da Semana (#64 / 28 Abr 2025): Destaco esta observação do João Campos, espelha na perfeição algo que também já compreendi - " é fascinante notar como as análises políticas mais pertinentes destes meses surgem não na imprensa mainstream, mas em meios especializados como a The Verge, a Slate ou a Wired. Há aqui uma certa demissão do jornalismo tradicional que não augura mesmo nada de bom".
O Museu Ibérico da Máscara e do Traje (Iberian Museum of Masks and Costumes) in Bragança, Portugal: Uma boa introdução às estéticas e raízes históricas das algo arrepiantes, e muito pagãs, tradições carnavalescas da raia transmontana/extremenha. E se acham os nossos caretos arrepiantes, notem que os trajes da região de Zamora, que podem descobrir neste museu, são verdadeiramente assustadores.
Entre o “pensei que era a guerra” e o stock de rádios esgotados: o comércio de imigrantes que salvou o apagão lisboeta: O novo comércio de bairro, as lojas de imigrantes que se tornaram essenciais no dia em que o sistema paralisou.
This Is the Way a World Order Ends: De facto, sente-se que estamos a viver o colapso da ordem liberal ocidental, assolada pela combinação de neoliberalismo ganancioso com o velho autoritarismo, que sempre foi endémico nalgumas partes do mundo.
Your Children’s Children Will Die in Our Factories: Está cada vez mais clara a visão que anima os extremistas conservadores que tomaram conta do governo americano - um desmontar de tudo o que o humanismo e liberalismo construíram, a reversão da ideia de prosperidade e vida digna para todos. A reversão dos direitos mais elementares, subjacente à ideia que uma população empobrecida e tornada ignorante não terá a capacidade ou a vontade de criticar ou rejeitar as imposições desta oligarquia: "Men will not be allowed in women’s spaces and women will not be allowed in men’s spaces. Women will be tradwives and will be paid $5,000 have babies. Those babies will not have parents who can afford to buy them 30 dolls, they will have two dolls instead, and they will like it. The boys will not have any dolls, though. The rich and powerful will stockpile supplies because they know the impacts of their policies. You will not buy breakfast at McDonald’s as a treat. Your friends will be AI chatbots. Your therapist will be a chatbot. You will pay massive tariffs to try food from other countries. You will work in the factory. You will not own the factory. They will own the factory. You will die at the factory. Your kids will learn about AI at the technical college, and then they will work in the factory. Your kids will not own the factory. Their kids will own the factory. Their kids will go on Fox News and tell you that they have created good jobs, patriotic jobs. American jobs, not Chinese jobs. Jobs that your kids and their kids and their kids' kids can work at until they die. Your kids will repair the air conditioning. Your kids will screw in the screws. Your children's children will move the robot arms, like their father and grandfather did before them". É só na américa, pensam, complacentes? Desenganem-se, e recordem-se que vivemos num país onde as nossas elites conservadoras são ativamente anti-progresso e gostariam muito de ver regressar o tempo em que os pobres lhes tiravam, respeitosos, o boné na rua.
What Is Fascism?: Está de volta, em força, e temos de rever e atualizar as definições.
El Tempest europeo quiere desafiar al F-35: su futura baza estará en dos cartas clave que prometen cambiar el combate aéreo: O problema desta alternativa europeia à aviação avançada norte-americana é que ainda está em desenvolvimento. Mas tem se ser feito. A desintegração da ordem global obriga à independência tecnológica.
Leituras da Semana (#65 / 05 Mai 2025): De facto, o que aconteceria se cem humanos defrontassem um gorila é uma das questões prementes do nosso tempo. Infelizmente, o que o João regista nas outras leituras que destaca, a prática late stage digital enshitificated capitalism de esvaziar nomes sonantes dos media para fazer render como content farms até ao esgotamento total é, hoje, uma prática tão banal que o que nos surpreende é quando isso não acontece.
Um livro com que me cruzei por total acaso, e que me surpreendeu. É, por um lado, parte da história de vida de um português algo aventureiro, que se tornou repórter de imagem para um dos grandes canais americanos. O livro foca-se nas suas experiências como jornalista nos mais variados conflitos, desde o Líbano da guerra civil aos campos de batalha das várias eleições presidenciais norte-americanas que cobriu. São histórias rocambolescas, que colocam em evidência a coragem e o risco constante destes profissionais, especialmente se insistem em realizar o seu trabalho de forma independente. São muitas as histórias em que a vida esteve por um fio, onde só a experiência, ou aquela capacidade portuguesa para o desenrasque ou para a comunicação safaram o repórter.
Mais do que uma história de vida, li neste livro um recordar do final violento do século XX, um revisitar dos violentos conflitos que hoje mal são recordados, mas que abriam telejornais naquela época entre os anos 80 do século XX e a primeira década do XXI. As guerras israelo-árabes, o Líbano enquanto terra massacrada, as várias guerras do Golfo, a violência na Nicarágua ou o caos do Haiti são alguns dos locais de conflito que este livro nos recorda.
José Ruy (1982). Antologia da BD Portuguesa #1 - Ubirajara. Editorial Futura.
Vindas das páginas da clássica publicação infanto-juvenil Cavaleiro Andante, as histórias contidas neste Ubirajara mostram a evolução da capacidade narrativa e gráfica de José Ruy, um dos nossos maiores nomes da história da BD portuguesa. Tendo sido originalmente publicadas nos anos 50, são aparentes as convenções da época. A banda desenhada funciona como forma de narrativa ilustrada, onde o texto tem a primazia e as vinhetas são meramente ilustrativas. Não há diálogos, apenas uma narração na terceira pessoa em legendas, e o desenho não se assume como elemento narrativo. As ilustrações mostram a capacidade gráfica e o excelente traço de Ruy. Este volume colige a história que lhe dá título, a partir de uma lenda dos nativos brasileiros, e inclui também A Mensagem, passada nas lutas entre romanos e cartagineses, com uma aventura sobre um soldado celtibero que reúne tribos autóctones na luta contra o invasor romano; Na Pista dos Elefantes, uma aventura passada na mítica África colonial das caçadas; e Vida Romanceada de Guttenberg. Em termos gráficos, as primeiras histórias estão mais bem conseguidas, dada a preferência de José Ruy por motivos históricos.
Confesso, conheço mal o trabalho de Vitor Péon, outro dos decanos da BD portuguesa. Descobrir a espetacularidade do seu traço foi uma das virtudes desta leitura. A capacidade gráfica é impressionante, e as vinhetas explodem de ação visual, ricas, elegantes, um deleite de ler. O estilo narrativo é clássico, ou seja, a imagem serve de mera ilustração ao texto. As histórias situam-se no espectro da visão histórica sobre o passado apresentada às crianças nos anos 50 e 60, mas não deixam de ser divertidas, a nossa história é uma mina mal explorada de ideias para ficções de aventura. O destaque maior vai para o traço, soberbo, do autor.
Um livro clássico, que visa contar a história da conquista de Lisboa por D. Afonso Henriques. Este volume não chega lá, ficando só pelo detalhar da conquista de Santarém, bem como da contextualização do apoio dos cruzados. A reconstituição histórica é cuidada, quer ao nível narrativo quer visual.
The Best Stephen King Books, recommended by Hans-Åke Lilja: Livros de um autor incontornável.
Dia Mundial do Livro: as melhores bibliotecas digitais do mundo: Repositórios de leitura digital, a incluir aquele que é do meu ponto de vista dos melhores projetos de preservação cultural, o Adamastor.
The Book of Love – Kelly Link: O regresso da discreta veterana às edições.
Mentes unidas a través del tiempo gracias a los libros: Sim, é isto, a sensação de entrar na mente e nas ideias daqueles que viveram noutros tempos. Por vezes, de um tempo verdadeiramente milenar, que é parte da sedução de ler e reler Homero ou o Épico de Gilgamesh. As pessoas tornam-se pó, as suas palavras e pensamentos perduraram.
My Near-Future Dystopia: Um escritor enfrenta o facto da sua distopia ficcional, um livro sobre hipervigiliância e abuso de autoridade que escreveu como crítica à recolha excessiva de dados por parte das empresas e governos, se estar a tornar dolorosamente real no corrente clima político norte-americano.
Infidelidades Extraordinárias: O Edgar Allan Poe de Roger Vadim, Louis Malle e Federico Fellini: O deleite das tropelias que as adaptações cinematográficas fizeram às obras do clássico do terror. E, confessem, o gozo está mesmo na forma como os realizadores deturpam o texto original, ou o levam por outros caminhos, ou escavam ainda mais a fundo o que nele é aflorado.
The Best Novels by Spanish Authors, recommended by Richard Village: Literatura espanhola, em destaque no Five Books.
Oscars Voters Are Now Supposed To Actually Watch The Movies They Vote On: Ok, confesso que também não esperava que os membros da academia de cinema não se dessem ao trabalho de ver os filmes em que votam. Mas, elementos da indústria de Hollywood que nem sequer olham para o que sai de lá? Diria que isso explica muito sobre o estado geral dos filmes, que nos últimos tempos tem sido um dilúvio de mediocridades.
Revisiting iZombie, 10 years later: Confesso que sempre gostei mais dos livros, com Roberson e Allred no seu melhor, mas a série também teve bons momentos.
Should We Be Freaking Out So Much About Hollywood’s Potential Death Spiral?: Não. Aliás, está na hora de nos libertarmos desta opressiva americanização da cultura pop, e recordar que só na Europa, temos diversidade e qualidade quanto baste. Quanto mais no resto do mundo.
Nostromo bridge design by Ron Cobb - Alien 1979: Porque no espaço, não se ouvem os gritos.
Books Have “No Economic Value” Claims Meta: A pobreza intelectual deste argumento é confrangedora. E sublinha a visão essencial sobre a IA Generativa - serve para gerar conteúdo, não significado. É assim que é vista, e a cultura humana não passa de dados para enfiar nesta imensa máquina de encher chouriço.
Super Negligência: Um desmontar do intelectualismo bacoco que sustenta o deslumbramento com a IA.
Payment Processors Force AI Site Civitai to Remove Incest and Diapers: A IA generativa é campo fértil para as mais abjetas taras humanas.
Seeing AI as a collaborator, not a creator: Destaco isto - "All of which is to say I think that AI can be, will be, and already is a tool for creative expression, but that true art will always be something steered by human creativity, not machines".
4chan may be dead, but its toxic legacy lives on: Houve um tempo em que moot, o fundador do 4Chan, foi entrevistado na Wired como um paladino da internet. E confesso, lurkei pelos recantos da infame /b board, mas depressa percebi a elevada toxicidade. O anonimato libertou as piores pulsões, o não dar a cara encorajou as piores atitudes. A cultura tóxica online, amplificada pelas plataformas sociais, nasceu na /b. Não deixa de ser irónico ler esta elegia crítica na Wired, a mesma plataforma que em tempos mais tecno-utopistas elogiou o grande potencial do 4Chan.
Students Are Being Punished Based on Flawed AI Models. This Is the Future We Are Facing: Um clássico exemplo de o problema não é a IA, mas sim alguém em lugar de poder usar estas ferramentas imperfeitas passando por cima das mais elementares considerações éticas.
Ordenadores históricos conservados como en una cápsula del tempo: Preservação digital da memória histórica da computação.
It seems like most Windows users don't care for Copilot: Para surpresa de ninguém, mas aparentemente a Microsoft ainda não aprendeu que se quer convencer as pessoas a usar os seus produtos, enfiá-los á força em atualizações que não pedimos não é o caminho certo.
AI Executives Promise Cancer Cures. Here’s the Reality: Um belíssimo desmontar de um dos mais perigosos deslumbres com as capacidades da IA, a promessa que é graças à IA generativa que iremos descobrir a cura para o cancro. Notem que os cientistas não rejeitam as ferramentas de IA, em especial no que toca à análise de dados.
Why are companies lining up to buy Chrome?: Numa única palavra: dados. Sendo o navegador com maior penetração de mercado, não é difícil perceber o poder que dará o acesso aos dados agregados dos seus utilizadores. Desde padrões de pesquisa a dados armazenados pelo próprio navegador.
New Android spyware is targeting Russian military personnel on the front lines: Técnicas de ciberguerra.
Wait, how did a decentralized service like Bluesky go down?: Resposta simples - porque o serviço não é descentralizado. Apesar de usar um protocolo descentralizado, clone do ActivityPub que sustenta o Fediverso, praticamente toda a rede Bluesky é suportada pelos servidores da empresa. Apesar de o possibilitar, não tem a fragmentação do Fediverso, que une miríades de servidores (que são em si micro-redes sociais, ou macro no caso dos maiores como o Mastodon). E isto sublinha bem que o Bluesky não é a rede social aberta que afirma ser, é na verdade mais uma gaiola dourada sustentada de uma empresa.
Renault y Geely tienen un motor para convencer a los indecisos del coche eléctrico. El secreto es que es de combustión: Como dono de um híbrido, e contentíssimo por isso (mantenho a liberdade e alcance da combustão, com a poupança do elétrico, conduzindo com cuidado consigo médias de 40% elétrico em autoestrada e 80-90 em urbano), fiquei curioso com esta alternativa, uma motorização elétrica que utiliza o motor de combustão não para força motriz, como o híbrido tradicional, mas para carregar as baterias e estender a sua autonomia.
American Panopticon: A combinação muito perigosa de captura indiscriminada de dados, empresas e agências que os capturam, e um governo a resvalar para o fascista.
Uber Is Being Accused of Something Incredibly Sleazy: Leiam este artigo sobre as más práticas da Uber para extorquir os seus clientes. E depois recordem-se daqueles que por cá, dizem que as leis europeias que visam precisamente combater estes desmandos são um empecilho ao desenvolvimento.
The Shadow Over Innsmouth: Medos antigos.
DHL halts international deliveries to US consumers worth over $800: Os desvarios políticos dão nisto, um atrofiar do livre comércio global.
4,000 fragments of 2nd c. wall paintings found in Roman villa in Spain: Um puzzle desafiante, mas que trará mais um vislumbre da beleza do passado romano.
The Next Terrorist Attack: Um ensaio arrepiante que demonstra como a combinação de políticas de depredação com lideranças de assinalável burrice está a enfraquecer a capacidade de segurança americana, e como isso trará inevitavelmente oportunidade para atentados terroristas. Mas talvez enfraquecer seja um dos objetivos da administração Trump, minando os serviços de informação e segurança na esperança de vir a ter um momento incêndio no Reichstag, e com isso subverter ainda mais a legitimidade democrática no país.
The weight of a Dakota, the rampant good looks (and handling) of a rhino on heat: Não é uma daz formas mais lisonjeiras que já li para descrever uma aeronave, mas bolas, deu imensa vontade de rir.
For Scale: Os nefastos enganos de uma mundividência baseada na frieza dos números.
The Atomic Bomb Considered As Hungarian High School Science Fair Project: De facto, se olharmos para a ciência que modelou o século XX, dos átomos à computação, vemos uma curiosa prevalência de uma geração de matemáticos e físicos todos saídos das mesmas escolas, no mesmo país, mas que fizeram carreira nos Estados Unidos. De Teller a Von Neumann, a importância dos matemáticos húngaros foi seminal.
El coche más caro de la historia nunca superó los 17 km/h: es literalmente de otro mundo: Recordar a historia do rover lunar, um pináculo da engenharia, concebido para caber no esparso volume das naves Apollo e permitir aos astronautas deslocar-se na Lua.
Conflito nuclear NATO vs Pacto de Varsóvia – Tácticas e Dilemas: Um espectro da guerra fria, que não parece ter perdido a atualidade.
"Uno de los fenómenos más extremos de la historia": los meteorólogos están consternados ante la ola de calor de África y Asia: Sinais de que o planeta não está bem. Que terão repercussões geopolíticas imediatas.
The FBI arrested a sitting judge for ‘obstruction of justice’: Confesso, nunca imaginei ler uma notícia sobre a força policial de um estado democrático ser usada para amedrontar juízes, no contexto de um governo de alucinados que está a forçar uma deriva autoritária.
25 de Abril: É vergonhoso da minha parte, mas creio que nunca participei nestes desfiles (o facto de ter uma vida de um certo nomadismo que se passa no eixo A8, autoestrada da qual sou cliente habitual, não ajuda). Mas recordo ir, muito novo, pela mão do meu pai, até á Alameda nos 25 de abril e 1 de maio dos anos 80. Recordo o ambiente de festa e a Alameda pejada de bandeiras vermelhas a adejar ao vento. Na altura, não achava muita piada a isso. Agora, sei que é uma memória fundamental da vida, e da nossa história.
Pluralistic: The enshittification of tech jobs (27 Apr 2025): É sempre bom recordar que as relações laborais são, acima de tudo, uma guerra de classes. E retiro esta expressão, excelente: ""Vocational awe" describes the feeling that your work matters so much that you should accept all manner of tradeoffs and calamities to get the job done. Ettarh uses the term to describe the pathology of librarians, teachers, nurses and other underpaid, easily exploited workers in "caring professions."".
Spotter Captures F-117’s Return to Area 51: Não é novidade que estas aeronaves tenham voltado ao ativo, mas é sempre interessante quando temos um vislumbre delas.
Tirando as comemorações anuais da batalha de La Lys, a história do CEP na I Guerra não é muito discutida por cá. Talvez em boa parte por não ser uma história honrosa. Uma jovem república à procura de reconhecimento internacional, desejosa de ombrear com os aliados mas sem reais meios para o fazer, lança um corpo expedicionário com uma preparação duvidosa nas trincheiras da Flandres. O pior chega depois, com os estertores autoritários do sidonismo, e o na prática abandono destes soldados por governos que não os rendiam, encontravam novas forças ou reforçavam os meios. La Lys, embora pintada como um momento de heroísmo, foi a marca do descalabro desta situação, com a posterior incorporação das forças sobreviventes nos comandos ingleses. Não é uma história que embeleze a nossa história do século XX, e como tal fica algo relegada para as discussões mais especializadas e a revisão simplista aquando das efemérides.
O romancista André Brun foi um dos participantes nesta amarga aventura. Comandou uma unidade de infantaria do CEP, sentiu na pele a ação nas trincheiras, acompanhou os seus homens nos ataques e defesa, viveu entre a lama e as balas. É esta a história que nos conta neste livro, que não segue uma estrutura linear romantizada, mas sim se organiza como um conjunto de vinhetas onde Brun regista memórias do que viveu, e testemunhou, na Frente Ocidental.
Brun é nitiadamente patriota e militarista, como se denota nas suas visões da guerra como espaço de honra e coragem, apesar de estar a combater numa guerra caracterizada pelo uso de uma das mais estúpidas táticas de sempre - atirar cargas de homens para invadir trincheiras inimigas, contra o fogo de defesa de metralhadoras. Uma guerra onde os combates depressa chegavam às dezenas e centenas de milhar de baixas em poucos minutos, e cujos generais persistiram neste absurdo desperdício de vidas humanas durante quatro anos. A óbvia incapacidade dos generais, que persisitiram na sua estratégia, não é mais do que aflorada por Brun, alguém que esteve na linha da frente e poderia perfeitamente ter sido ceifado numa operação.
Brun opta por mostrar um pouco da vida quotidiana dos seus soldados, entre a fatalidade das trincheiras e a retaguarda. Nas trincheiras, destaca uma certa normalização do medo e da violência, de um fatalismo perante a constante ameaça da morte, bem como a mais ideológica visão do dever. Fora das trincheiras, regista os pormenores da vida no CEP, as interações com os civis e soldados de outros países. Deixa uma série de apontamentos humorísticos corporativos sobre a relação com as burocracias militares, com pormenores que qualquer pessoa que trabalhe em sistemas com gestão burocrátia depressa compreende como transversais às épocas, contextos e organizações.
Destaca-se, também, o carinho pelos seus "lãzudos", a alcunha ganha pelos soldados do CEP quando, para enfrentar o frio norte-europeu que é tão mais agreste que o português, receberam capotes de pele de carneiro que usavam com a lã virada para fora. Descreve a sua corajem e resignação, a capacidade de com pobreza de meios manterem as suas missões. La Lys é aflorada, em páginas que relatam a dureza dos combates, e o desespero de um comandante que vê os seus homens em risco. Não por acaso, o livro termina com um elogio ao 23º de Infantaria, a unidade que Brun comandou. É um texto escrito num tom panfletário e heróico, muito diferente do pendor naturalista de todo o livro.
Documento importante para conhecer a nossa história moderna, é também uma leitura acutilante, que nos leva aos campos de batalha da I guerra, com foco nos homens que por lá andaram.
De entre a vasta e crescente bibliografia sobre a II Guerra, destaco sempre os três livros seminais de Cornelius Ryan: O Dia Mais Longo, um dos melhores relatos do dia D que conheço; A Bridge Too Far, que detalha uma operação anglo-americana demasiado arriscadas para ocupar as pontes sobre o rio Arnhem; e este A Última Batalha. As obras de Ryan fazem-se com a visão de quem foi correspondente de guerra e esteve nos locais, nos tempos mais agudos. Mas também foram escritas com o distanciamento necessário para a análise histórica, de consulta documental, bem como o cruzamento de múltiplas fontes primárias, através de entrevistas aos sobreviventes destes momentos históricos. E nisto, Ryan atravessa todas as camadas, tanto inclui depoimentos de soldados e pessoas comuns, como de alguns dos comandantes militares ou personalidades com responsabilidade política.
A Última Batalha detalha o Götterdämmerung que consumiu Hitler, com consequências devastadoras para os berlinenses. Trata-se da tomada de Berlim, essa espécie de holocausto que colocou um sangrento ponto final no regime, e na vertente europeia da guerra. Não é um livro cómodo, sabemos à partida que a causa está perdida, e só nos resta ver o acumular de más decisões que prolongam o inevitável, aumentando o derramamento de sangue. Um sacrifício final de um regime violento, que na sua fase terminal quis levar consigo o povo e o país (nisso, houve intervenientes mais sensatos que conseguiram evitar se não o pior, pelo menos a destruição total).
Esta cegueira passou-se a todos os níveis. Ryan detalha as decisões militares, entre o desesperto e o irrealismo, do alto comando alemão às ordens de um ditador acabado mas que, por despeito, queria levar tudo consigo, às ações de fanáticos que mesmo no desabar total, se batiam até à morte ou abatiam os inimigos do regime - e naquele momento, qualquer um podia ser visto como derrotista.
O livro é longo. O culminar detalha a queda de Berlim, a extrema violência de combates desesperados, o final do regime nazi, o sucídio de Hitler, a derrocada militar da Wermacht. Não esquece a vingança russa, traduzida em especial através de violência sexual sobre o corpo das mulheres alemãs. É um pormenor curioso do livro, que Ryan desvenda através dos relatos das sobreviventes, de um primeiro contacto com as linhas da frente soviéticas onde os civis, aterrados, se deparam com soldados corteses que os ajudam e tranquilizam, mas também os avisam que as próximas unidades já não lhes darão o mesmo tratamento.
Parte do livro é dedicado à questão de o que teria acontecido se tivessem sido as forças americanas e não soviéticas a capturar a capital. Certamente que com um desfecho melhor para os civis. Na verdade, seguindo um monumental trilho documental, Ryan demonstra que essa é uma questão difícil de colocar. Por um lado, porque a coesão entre os aliados ditava que iria pertencer à zona russa. Mas, nas alucinantes semanas do final da guerra, a rapidez do avanço americano era tal, que essa possibilidade se abria, à revelia da vontade política. Vontade esta que também não era muita, os gorvenos inglês e americano estavam bem cientes de que qualquer território libertado pelos soviéticos apenas trocaria uma ditadura por outra. Os acordos ditavam que seriam os exércitos de Estaline a conquistar a cidade, mas a realidade operacional do terreno encorajava os comandantes a tentar chegar lá antes dos soviéticos, com a cumplicidade tácita do SHAEF. Um ímpeto que a impossibilidade de atravessar o rio Elba travou, ao desgastar os corpos de exército ocidentais mais bem posicionados para atacar Berlim.
O destino da cidade ficou também traçado pela intensa rivalidade entre os dois comandantes supremos soviéticos, que Estaline manipulava com prazer. Konev e Zhukov levaram as suas forças numa corrida constante, atancando mesmo sem estar preparados, tentando cada um arrebatar o prémio da captura da cidade. Os caprichos de Estaline ditaram que o símbolo final, a captura do Reichstag, fosse para Zhukov mas no terreno, os defensores da cidade viram-se a braços com a avalanche dos dois exércitos em simultâneo.
Oitenta anos depois, esta história continua incómoda. Destaca-se, por um lado, as intensas manobras políticas que ditavam os movimentos militares (torna-se muito claro que a Guerra Fria já estava a decorrer, apesar da aliança entre americanos, ingleses e soviéticos). Revê-se o impressionante fanatismo do Reich, que não hesitava em consumir todo o seu povo no altar de uma ideologia hedionda. Mas o que fica da leitura é a visão do sofrimento daqueles que foram apanhados nesta armadilha, e nisto incluem-se os militares que tinham pela frente uma missão desesperada, que combatiam não pelo regime, mas pelo medo do que a derrota traria. Sobressai o sofrimento dos civis, amordaçados pelo regime ditatorial, enfrentando a vingança de soldados que lhes aplicavam exatamente o que os alemães tinha feito anos antes, na bárbara e violenta frente leste. Lê-se a derrocada total, o desperdício de vidas.
Curiosamente, o livro termina com uma nota de esperança, ao listar todos aqueles que Ryan entrevistou para construir este retrato monumental. Nessa adenda, inclui as profissões que exerciam após a derrocada final, mostrando que a história não fica parada, e aos momentos mais negros pode seguir-se a reconstrução, se houver vontade para isso.
Algumas notas sobre os Prémios Hugo 2025: É uma das especialidades do João, estar em cima das novidades literárias da FC, capacidade que já há muito perdi. Mais do que comentário sobre os Hugo, leio-o como forma de encontrar títulos e autores a descobrir.
Kawaii and the Cult of Cute: As origens desta estética tão japonesa.
The Dark Weirdness of R. Crumb: Biografia crítica de uma das grandes vozes da contracultura norte-americana, um símbolo ainda vivo da estética e princípios de liberdade desinibida dos anos 60.
En 1995, un club de lectura comenzó a leer el libro más difícil de James Joyce. 28 años después al fin lo terminó: Confesso, a grande surpresa é terem conseguido ler todo o livro. Finnegan's Wake é notoriamente impossível de ler.
On The “Odyssey” And Its Ubiquity And Oddity: A mãe de todas as histórias, ou como esta narrativa milenar pode ser encarada como o ponto de origem de todo o tipo de temas e narrativas, desde o mais romântico ao pungente, até mesmo ao fantástico.
The Problematic Author: Como reagir quando as atitudes dos nossos autores favoritos chocam pelo seu conservadorismo extremo, misoginia ou outras atitudes censuráveis?
Lançamento: Imagens estranhas, Uketsu: Fiquei intrigado com este livro (por cá, inacessível, tanto quanto sei). Hora de ir investigar.
Grant Morrison Returns To Batman From DC Comics: Qual será o delírio psicadélico que aguardará o cavaleiro negro, às mãos deste argumentista?
JOHN HARRIS: Futuros expressivos.
D3 disponibiliza motor de pesquisa respeitador da privacidade: A D3 em modo de serviço público, com este serviço que anonimiza as nossas pesquisas. Nos tempos que correm, uma necessidade, entre as pulsões autoritárias e a invasividade opressiva das empresas tecnológicas no esmifrar dos nossos dados.
Five new technology predictions for the next decade: Cinco visões que me parecem sóbrias e centradas nas reais possibilidades da tecnologia, como é especialmente visível na predição sobre as dificuldades dos robots humanoides.
An Ars Technica history of the Internet, part 1: Suspeito que será uma série imperdível de artigos. Neste primeiro, recorda-se o emergir da internet, desde os projetos que deram origem à Arpanet ao estabelecimento do protocolo TCP/IP sobre o OSI.
OpenAI Is A Systemic Risk To The Tech Industry: Com o seu característico tom incisivo, Ed Zittron analisa os riscos trazidos por uma empresa que depende de um fluxo gargantuesco de financiamento para desenvolver os seus modelos e mantê-los online, sem que no entanto consiga receitas capazes de justificar o investimento. Ou seja, tem tudo para ser uma bolha financeira especulativa.
Meta AI will soon train on EU users’ data: Pergunto-me o que é que a Comissão Europeia pensa disto, e suspeito que a Meta decidiu atrever-se a violar o RGPD (notem que é opt-out, não opt-in). Suspeito também que é a corrente nauseabunda aragem política norte-americana que incentiva a Meta a meter-se nisto, apostando que no clima de tensão económica entre os EUA e a Europa (bem, e o resto do mundo), a UE não vai querer agravar aplicando à empresa americana multas pelo óbvio destratamento dos dados pessoais dos utilizadores europeus dos serviços da Meta.
Tech Titans Propose An End To Intellectual Property: Quando a internet explodiu, a defesa da propriedade intelectual foi considerada um tema crucial, com as indústrias culturais a pedirem reforço legal e a perseguir, muitas vezes de forma abusiva, os utilizadores de filesharing e sites pirata. Embora se possa questionar quer os métodos quer as formas de operação das indústrias culturais, tinham essencialmente razão, o trabalho criativo deve ser recompensado e a sua partilha ilícita prejudica criadores (tendo escrito isto, é sempre bom recordar que a maior fatia do bolo dos lucros com produtos culturais vai para intermediários e não para criadores). Os capitães das indústrias culturais perceberam a ameaça que o digital trazia ao seu modelo de extração de rendimento, e agiram. Agora, os novos capitães da indústria da IA perceberam que precisam de quantidades massivas de dados para treinar os modelos que sustentam os seus produtos, e sabem que se agirem da maneira correta, terão de gastar dinheiro para ter acesso à informação protegida por PI. Aumenta os custos, corta os lucros (algo difícil de falar num modelo económico que é notório pelos rios de dinheiro que queima). E é por isso que de repente se tornaram tão adeptos do fim dos direitos de autor. Notem bem, isto não é um regresso aos anos 2000, às discussões sobre fair use, criações órfãs, acessibilidade da informação ou o bem cultural geral. São bilionários que querem ficar ainda mais ricos, à custa de todos.
La hipotética red social de OpenAI no quiere conectar gente. Quiere tus datos para entrenar su IA: Exatamente o que pensei quando li sobre esta ideia da OpenAI. E que, na verdade, é o que a Meta faz com os dados das suas redes, ou a Google com os dos seus utilizadores.
Una visita a un centro de datos moderno en el Día Internacional del Centro de Datos: energía, refrigeración y conectividade: Um vislumbre sobre o funcionamento da infraestrutura que sustenta o mundo digital.
These 6 Linux apps are the secret sauce to my creative process: É sempre bom recordar que não necessitamos de Windows, quer para a produtividade mais essencial, quer para a criativa.
Many Thought TV Would Kill Movies. It Didn’t. Lessons For The Coming Of AI?: É um padrão na história dos media, sempre que surge algum novo, erguem-se coros deslumbrados a carpir a extinção iminente dos media tradicionais. Mas a imprensa não matou a oralidade (sim, ainda hoje temos contadores de histórias). A gravação não eliminou a música ao vivo. A rádio não acabou com a imprensa. A televisão não levou a rádio à extinção. E será o mesmo com a IA. Agora estamos na fase dos medos e deslumbres acríticos, mas irá normalizar-se. E virá o dia em que o mesmo tipo de opinadores irá manifestar a sua preocupação com o fim da IA face a uma futura nova tecnologia ainda por inventar.
The Alignment Problem (2020): Sobre as problemáticas que nos legaram o viés embutido nos modelos de IA.
The First Folding E-Ink Tablet Turns an E-Reader Into a High-End Paperback: Como leitor inveterado, confesso que me intriga um e-reader que simule um livro aberto, mas se o ecrã não se dividir em duas páginas, faz pouco sentido.
A new kids’ show will come with a crypto wallet when it debuts this fall: Confesso que fiquei sem perceber se isto é eticamente reprovável ou não. A plataforma foi lançada por Neal Stephenson como forma de experimentar o blockchain aplicado às indústrias criativas.
Rise of the Robots: How Robots Are Changing Dairy Farms: Os avanços da robótica aplicada à indústria dos lacticínios.
Musician Who Died in 2021 Resurrected as Clump of Brain Matter, Now Composing New Music: Isto é menos estranho do que parece, foi realizado com consentimento do compositor, e na verdade resume-se a células estaminais cujos impulsos elétricos são convertidos em som.
Hemos visitado el mercado de falsificaciones de Shenzhen: China está a otro nivel cuando se trata de copiar otros produtos: Uma delirante visita a um mega mercado, especializado em lojas que apenas vendem produtos falsificados.
TALES OF HORROR AND THE SUPERNATURAL by Arthur Machen: Clássicos.
Zillionaire Girlbosses Astonished by Backlash to Their Frivolous Trip to Space: É curioso ver como voos de turismo suborbital da SpaceX não atratem tanto ódio como os da Blue Origin. Talvez por uma questão de honestidade, os que voam com a SpaceX não tentam passar a imagem de missão importante sobre um voo de poucos minutos. A promoção desta "missão" passou por chamar-lhe a primeira missão totalmente feminina, embora não tenha passado de um passeio com algumas famosas e a namorada do patrão da Blue Origin. Obviamente, as críticas sucedem-se, talvez nem tanto pela possibilidade de turismo espacial mas mais pela desconexão com a realidade evidenciada quer pela empresa quer pelos passageiros, alardeando uma brincadeira que custa milhões enquanto o planeta resvala para os problemas das alterações climáticas e a sociedade norte-americana parece estar decidida a tornar-se fascista.
Convoy of Gas Guzzling Trucks Imposes Blockade on Tesla Dealership: Provavelmente nada é mais representativo da bizarria do corrente momento americano do que isto - ultra-trumpistas militantes que utilizam as suas carrinhas sôfregas de combustível, para defender concessionários dos veículos elétricos Tesla de manifestações de protesto. Tal é o fanatismo e incoerência. Não consigo ver isto como um fait divers, porque à velocidade da internet, estas ideologias têm-se espalhado como fogo em mato seco. Vejo por cá, quer na vida pública quer na privada, um crescimento sustentado deste tipo de atitudes.
Portugal and Brazil to jointly develop a new C-390 Millennium variant for strategic intelligence gathering: O C-390 está a revelar-se uma boa oportunidade para a nossa capacidade técnica e industrial.
Exclusive Analysis: Inside Secretive F/A-XX Project U.S. Navy’s Next Generation Stealth Fighter Jet for Aircraft Carriers: É daquelas coisas. Se a USAF lança um projeto, a marinha não se fica atrás, e aqui detalham-se as suas iniciativas no campo das aeronaves de sexta geração.
What Porn Taught a Generation of Women: A influência da normalização da pornografia graças à sua proliferação online tem sido devastadora, um retrocesso na forma como vemos a mulher, um triunfo para quem as objetifica e se baba com a sua sujeição e visão sexualizada, com o adicional perverso de quanto mais nova, melhor. Contaminou a cultura pop, e a verdadeira lição é que para a mulher, o sucesso depende dos seus atributos físicos: "This period of porno chic arrived with an asterisk that insisted it was all a game, a postmodern, sex-positive appropriation of porn’s tropes and aesthetics. But for women, particularly those of us just entering adulthood, the rules of that game were clear: We were the ultimate Millennial commodity, our bodies cheerfully co-opted and replicated as media content within the public domain".
The Story of Surrealism Isn’t Whole Without Gala Dalí: Diz-se que por detrás de um grande homem está uma grande mulher, e esta história da companheira de Dali (e, também, musa de outros grandes artistas surrealistas) mostra isso.
Visitors to U.S. Take Extreme Precautions as Trump Continues March of Fascism: O que assusta mais neste resvalar é a forma como as forças de segurança parecem entusiasticamente aderir às políticas fascizantes vindas da presidência.
El telescopio Webb lleva años buscando vida extraterrestre. Acaba de encontrar la señal más fuerte hasta ahora en K2-18b: Bem, não vamos já agitar as bandeirinhas de festa, há ainda muito que estudar antes de se chegar a alguma conclusão. As observações detetaram um tipo de molécula na atmosfera que na Terra é apenas produzida por algas, mas noutro tipo de atmosfera, poderão ter um outro tipo de origem que não orgânica. De qualquer forma, a curiosidade fica aguçada.
O lobo terrível não ressuscitou e a sua de-extinção é uma perigosa fantasia: O Shifter acerta em cheio no seu desmontar da suposta vitória científica que ressuscita uma espécie extinta há milénios. Por um lado, os aspetos técnicos mostram que não é bem assim, quando muito será um simulacro de uma criatura que já não existe. Mas o verdeiro ponto de interesse está nos riscos de uma ciência que abandona a credibilidade académica (e o rigor) em nome do marketing, dos projetos grandiloquentes mas sem real consequência, enquanto a pesquisa elementar, a ciência básica que realmente faz avançar as fronteiras do conhecimento se debate com míngua de financiamentos e uma opinião pública profundamente ignorante sobre a forma como a investigação realmente funciona. Uma opinião pública que é influenciada por medias que reproduzem acriticamente este tipo de falso progresso científico.
How Architecture Shapes Everything About Video Games: O papel da arquitetura nos videojogos, que vai muito mais além do fornecer fundos giros para a ação.
Lessons From The Taliban’s Extreme War On Music: Um genocídio cultural.
‘Only Hellfire’: Israel Says Lifesaving Aid, Troop Withdrawal Off the Table for Gaza : Um genocídio total.
Ataques a navios de pesca portugueses: Pequenas vinhetas da II Guerra, relatando situações em que pescadores portugueses se viram na mira das balas alemãs.
BruceS: Padrões de beleza maga, ou a demência boomer da carne esculpida a plástico para agradar aos homens conservadores. Tenham medo.