terça-feira, 5 de agosto de 2025

Spitfires e Hurricanes em Portugal


Mário Lopes (1994). Spitfires e Hurricanes em Portugal. Lisboa: Dinalivro.

Uma história necessariamente técnica, da introdução ao serviço português das duas mais icónicas aeronaves de combate dos anos 40. Mas que acaba por ser uma história, ou melhor, uma análise a um detalhe histórico, do envolvimento português na II Guerra Mundial. Uma neutralidade que pendia, apesar da ditadura de direita por cá reinante, para o lado inglês por razões históricas e tradicionais. Mas também uma neutralidade ameaçada, entre o medo que a Espanha franquista decidisse tornar Portugal em mais uma província espanhola (estando ou não ao lado do Eixo), e as claras pretensões americanas de ocuptar o arquipélago dos Açores, travadas pela diplomacia britânica. 

Embora o livro seja sobre aviação, a forma como Portugal obteve estas aeronaves mostra bem os jogos diplomáticos. O fortalecimento da aviação portuguesa com Spits e Hurricanes fez-se ao abrigo de acordos que expandiam a concessão de facilidades aos aliados, especialmente nos Açores, e foi constituído por aeronaves veteranas das campanhas aliadas em solo inglês e norte-africano. 

O livro também detalha outras situações, como o caso dos aviões internados e colocados ao nosso serviço. Por internados entenda-se aviadores que se viram forçados a aterrar num país neutral, sendo detidos e as suas aeronaves confiscadas, regras habituais nestas situações. No caso português há a notar um certo fechar de olhos ao destino dos pilotos, parece que ninguém se chateva muito se estes se conseguissem evadir e regressar às suas unidades, e alguns eram retirados de cá por ação diplomática. Parte dos aviões internados entrou nos inventários militares portugueses (o que explica a presença de P39 por cá), outros eram trocados por reforço de meios e peças sobressalentes para aeronaves já adquiridas.

Nisto dos internamentos, o autor detalha uma história particularmente rocambolesca envolvendo dois P-38 americanos forçados a aterrar em Lisboa durante voos de transferência para o Norte de África. O primeiro aterra por problemas de combustível, e o piloto, que não esperava ser internado, vê-se algo atónito com a reação portuguesa. Mas o seu avião desperta a curiosidade dos militares que o guardavam, e enquanto esperavam pelos agentes que iriam internar o piloto americano, um piloto português pede-lhe que mostre como é que o P-38 funciona. Estão a ver no que é que isto vai dar, não estão? O americano, supostamente detido, regressa ao cockpit e começa a ligar o avião, com o português empoleirado na asa a ver tudo. Entretando, nos céus aparece um outro P-38 também em apuros, o que distrai os guardas que no aeroporto de Lisboa vigiavam o primeiro P-38. O americano apercebe-se da distração e não perde a oportunidade: arranca o motor, abana o avião para o português cair da asa, e levanta voo, escapando-se ao internamento. O segundo piloto aterra, e vê-se rodeado por uma turma enfurecida, que o arranca do cockpit e o mete logo a ferros. Num daqueles pormenores tipicamente portugueses, este P-38 foi colocado ao serviço da aviação militar, mas sendo o únido do tipo e sem peças para o manter a voar, só servia para paradas militares e foi conhecido como o "avião dos generais", porque estes gostavam muito de o ver na pista quando visitavam o campo de Tancos.

Este detalhe da história portuguesa na II Guerra insere-se na génese da Força Aérea como ramo independente, e de certa forma mostra também o ocaso dos impérios europeus no mundo pós-guerra. Se durante a guerra o apoio e material militar britânicos são vistos como o desejável, no pós-guerra e entrada portuguesa na NATO o foco passa a ser decisivamente americano.

domingo, 3 de agosto de 2025

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SOURCE: x-ray delta one
: Abstrações aeronáuticas.

Lançamento: Batman/Dylan Dog - A Sombra do Morcego: Uma excelente surpresa para os fãs quer de Dylan Dog, quer de Batman. O trabalho gráfico de Dell'Edera está especialmente deslumbrante, e tudo o resto vale a pena - Recchioni faz um excelente trabalho de cruzament entre os mitos de Dylan e Batman.

The Naked Gun: New Poster Released, Official Trailer Drops Tomorrow: Leio isto, e credo! A indústria anda assim tão falha de ideias que tenha de reciclar as comédias politicamente incorretas dos anos 90? Na altura tiveram piada, e ainda hoje se podem ver, recordando que são piadas com contextos específicos. Mas recriar, não faz qualquer sentido.

Mel Brooks is returning for Spaceballs 2: Já aqui, suspeito que seja um velho mestre a fazer o seu canto de cisne, a aplicar o seu humor corrosivo vindo de um outro tempo.

This Week Is The Two Hundredth Anniversary Of The Comic Book: Provavelmente outros irão apontar outras publicações antecedentes do género. Este é um aniversário possível, partindo de uma publicação satírica.

Prémio Ursula K. Le Guin 2025 - as nomeações: Como observa bem o João Campos, estão aqui excelentes sugestões para descobrir o que de melhor se faz na FC contemporânea. 

Sensor, de Junji Ito: Ó, sortudos leitores portugueses, eis que às livrarias chega um novo livro do (imho) melhor mangaká de terror. 

Out of the Past: LGBTQ Science Fiction, Fantasy and Horror 2010 – present: Confesso que vejo nestes títulos um interesse excessivamente pedagógico, mais focados na sua agenda do que na FC em si. Nada de errado com isso, obviamente, mas torna estas leituras algo estéreis para quem está fora desta bolha cultural. 

Best Science Fiction Books of 2025, recommended by Andrew M. Butler: Boas sugestões de leitura, parecem-me. Service Model tem momentos brilhantes e hilariantes, embora se arraste um pouco. Os restantes, tenho alguns na calha para leitura. 

The Cerebral Library: Estranhos alienígenas.

Disney And Universal’s Battle With Midjourney May Reshape Copyright: A gigante não brinca com direitos de autor, e escolheu bem o adversário - não empresas como a meta, google ou open ai, que têm recursos para enfrentar a Disney, mas sim a mais independente Midjourney. O argumento é válido, o uso de imagens para treino de algoritmos de IA é uma forma de plágio. Será que as leis, e o nosso entendimento do conceito de plágio, se alterará face a estas guerras judiciais?

Hollywood está usando la IA en absolutamente todos los aspectos de la producción de películas. Y se le da fatal ocultarlo: É inevitável que a indústria cinematográfica se aprorprie destas ferramentas. 

An Ugly New Marketing Strategy Is Driving Me Nuts (and You Too): Tão, mas tão certeiro - o modelo de negócio das plataformas digitais (e não só) evoluiu de prestação de serviços aos clientes para cobrar aos clientes a prestação de serviços com menores inconvenientes. Claro está, isto não é uma evolução.

PSA: Get Your Parents Off the Meta AI App Right Now: Quão má poderá ser esta app de IA da meta? Pior do que imaginam, com a sua propensão para mostrar publicamente os prompts daqueles que interagem com ela. Não é só o lixo generativo.

AI chatbots tell users what they want to hear, and that’s problematic: O problema da sicofância na interação com IA.

Why Pilots Will Matter in the Age of Autonomous Planes: O investimento em tecnologias de automação aeronáutica, apesar das promessas, não torna os pilotos obsoletos.

Why JPEGs Still Rule the Web: A ubiquidade, histórica, do formato de compressão de imagem mais utilizado.

Here comes the AI sponcon: Estão a ver aqueles vídeos irritantes das redes sociais, boa parte ao vivo, com empreendedores de baixo nível a esforçar-se por vender tralha, roupas ou outras cangalhadas? A IA já permite tratar disso com baixo esforço.

Los colegios nacionales no quieren el móvil en clase. Cataluña ha sido la última en unirse a la fiesta: Estas medidas são simbólicas de um profundo mal estar social com os telemóveis. Na verdade, são medidas tiro ao lado, que se focam nalguns sintomas mas não no que realmente provoca este mal estar com o mundo digital - a forma abusiva como as platadoras digitais, com as redes sociais a mostrar as piores práticas, trata pessoas e sociedades. Estas iniciativas são fundamentalmente ineficazes, tirar o telemóvel na escola apenas garante total descontrole de uso fora da escola. São, também, distrativas, ou talvez reveladoras da falta de coragem social em enfrentar os desmandos das plataformas digitais. 

The Entire Internet Is Reverting to Beta: A mudança para a IA tem sido rápida, impulsionada pelas empresas que veem nesta tecnologia o filão lucrativo futuro. O problema é que apesar de todo o hype, a IA não é tão útil quanto isso, e também não é fiável. Ou seja, como observa bem este artigo (e o sentimos no nosso dia a dia de interações), estamos a usar cada vez mais ferramentas que sabemos que vão falhar. Isto, claro, se estivermos atentos a estes temas. Se não, como suspeito que a larga maioria dos utilizadores estão, vão sofrer todas as consequências do uso intensivo de ferramentas não confiáveis. O que é que poderá correr mal: "AI products could settle into a liminal zone. They may not be wrong frequently enough to be jettisoned, but they also may not be wrong rarely enough to ever be fully trusted. For now, the technology’s flaws are readily detected and corrected. But as people become more and more accustomed to AI in their life—at school, at work, at home—they may cease to notice. Already, a growing body of research correlates persistent use of AI with a drop in critical thinking; humans become reliant on AI and unwilling, perhaps unable, to verify its work. As chatbots creep into every digital crevice, they may continue to degrade the web gradually, even gently. Today’s jankiness may, by tomorrow, simply be normal.

The AI Slop Fight Between Iran and Israel: Tenho visto algumas destas imagens e vídeos, e o nível de irrealismo absurdo é de ir ás lágrimas. Mas notem que pessoas conhecedoras não são o público-alvo desta guerra informacional, mas sim as massas de pessoas desinformadas que, no mundo online, dão eco a esta desinformação. 

Windows parental controls are blocking Chrome: Na competição comercial entre empresas, vale tudo, claro. 

AI residencies are trying to change the conversation around artificial art: O lado mais conhecido da IA generativa, a geração de imagem e vídeo, tem com a sua baixa qualidade estética e questões de direitos de autor vindo a deturpar o debate sobre a IA como ferramenta artística. 

AI Art Looks Like When It Hasn’t Trained On Artists’ Work: Pode um algoritmo sem dados de treino gerar conteúdo? Esta experiência estética usa GANs que em feedback cíclico geram imagens sem treino prévio. Abstratas, claro, o que torna a experiência ainda mais interessante. 

Psychiatrist Horrified When He Actually Tried Talking to an AI Therapist, Posing as a Vulnerable Teen: A lição de Weizenbaum esta há muito esquecida. 

Un momento incómodo se está volviendo habitual en las reuniones: alguien las graba con IA sin avisar y nadie sabe qué hacer: Ética na era da IA também passa por isto, pela transparência quando estamos a usar estas ferramentas.

Child Welfare Experts Horrified by Mattel's Plans to Add ChatGPT to Toys After Mental Health Concerns for Adult Users: Bonecas falantes e chatbots. O que é que poderá correr mal aqui?

ChatGPT May Be Linked to 'Cognitive Debt,' New Study Finds: Não há aqui grande surpresa, se delegamos funções cognitivas a uma ferramenta, estas tendem a degradar-se. Mas notem que o artigo não é alarmista ou catastrofista, apenas relata algumas observações.

Phantom World: A resistência do corpo feminino ao vácuo do espaço não cessa de surpreender.

NRP D. JOÃO II - Apresentação da Futura Plataforma Naval Multifuncional da Marinha Portuguesa: O mais importante nisto nem é a embarcação, mas saber se as capacidades tecnológicas se mantém por cá.

El tamaño de Centroeuropa ha sido clave para su desarrollo. Y hay una forma fácil de entenderlo: usar un mapa de España: Há muitos factores que ajudam a explicar a capacidade de desenvolvimento da chamada "banana europeia" - o eixo que vai sensivelmente de Londres a Milão. Um é este, a proximidade geográfica que só nos apercebemos que existe quando sobrepomos o mapa centro-europeu com a península ibérica.

Wargame Shows How CCAs Could Take On China: A integração de drones autónomos nos grandes jogos de estratégia militar.

The Perfect Astronaut Is Changing: Resta saber se com um governo claramente anti-ciência e gerido por perfeitos idiotas, a NASA não irá colapsar.

Yes I Will Read Ulysses Yes: Recordando o recente 16 de junho, aka Bloomsday para os joycianos.

Hace un año Cataluña decidió empezar a regular sus alquileres. Ahora tiene algo que parecía imposible: precios más bajos: Espera, quer dizer que ao contrário do que toda a propaganda neoliberal, regular o mercado traz benefícios para a maioria das pessoas, e não apenas lucros desmedidos para a classe rentista?  

America's Forgotten Moon-Base Plans: É sempre estimulante mergulhar na história destes planos, sonhos de um passado que imaginava possibilidades do futuro. 

Reading the Fractals: What Nature’s Patterns Say About Our Future: Um olhar poético e científico para a beleza aleatória dos padrões fractais naturais. 

Trump’s Two-Week Window for Diplomacy Was a Smoke Screen: Isto é a geopolítica global sob égide trumpista: falar de negociação, e atacar de surpresa, mostrando que mente quando fala de pausas e negociações. Isto pode parecer uma decisão rápida, mas não foi. Há meses que notícias mais discretas mostram que a estratégia estava há muito a ser montada: a colocação de B2 em Diego Garcia em março, a retirada de pessoal não essencial do corpo diplomático no médio oriente, o progressivo reforço de meios aeronavais na zona, e em fins de  maio o desvio de armas anti-drone da Ucrânia para as tropas americanas no médio oriente. A deslocação da frota aérea de aviões-tanque dos últimos dias foi o sinal que as últimas peças do xadrez estavam no lugar. Note-se também o timing com que Israel lançou os seus ataques. É impossivel que não tenha havido coordenação disto entre os dois governos, com os israelitas a assumir a missão de iniciar os ataques, abrindo espaço aos americanos. 

terça-feira, 29 de julho de 2025

Os Meus Amores


Trindade Coelho (2023). Os Meus Amores. Porto: Book Cover.

Vou fazer uma confissão horrível. Ler este livro fez-me pensar naqueles paineis de azulejos que encontramos nas estações clássicas de caminho de ferro, um pouco pelo país fora. Sabem do que estou a falar, daquela azulejaria figurativa que tem como tema os costumes e tradições locais, e que na prática preserva uma iconografia idealizada e bucólica do que era a vida campestre noutros tempos. Foi essa a estética que senti ao longo desta leitura.

O livro compõe-se de histórias soltas, sem ligação entre si, mas todas com um tema comum - a visão idealizada e bucólica da vida no interior, nas aldeias do país profundo. Ficaram de parte quaisquer considerações históricas ou sociais da pobreza extrema e atraso de desenvolvimento nestas áreas que só no final do século XX começámos a mitigar. Mas isso não retira mérito ao livro. Nem toda a literatura que se foca nos modos e viveres tradicionais tem de ser uma visão crítica acutilante.

Pleno de bucolismo e um sentimentalismo muito ao gosto do século XIX, estes contos originalmente editados em 1891 romantizam as vidas do povo das aldeias. São um produto do seu tempo, das sensibilidades de um autor que saiu desse substrato para entrar, via educação e serviço público, num tipo de classe social geralmente inacessível ao povo pobre.

domingo, 27 de julho de 2025

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Artwork for ATARI’s Phoenix / Asteroids / Vanguard by Terry Hoff
: Clássicos do digital.

Sagan's Youth and the Progressive Promise of Space: Um cientista que apreciava a FC, como inspiradora, chegando a escrever um romance (mediano) no género. 

The best books on Long-Distance Journeys, recommended by Louis Hall: A literatura que imortaliza as impressões e sensações de viagem. 

Encountering Aliens With Carl Sagan: Há aqui uma forte preocupação com a religiosidade de Sagan, mas o artigo vale pela forma como mostra uma curiosa intuição do autor e cientista - o crescimento da importância politica das seitas religiosas. Algo que hoje estamos a sentir os efeitos na política global. 

The orb pondering industrial complex: Futuras indústrias. 

17 Best Tools To Teach Coding: Apesar das muitas boas sugestões, confesso que fico a duvidar da credibilidade de um artigo que deixa de parta a melhor, mais abrangente e aberta solução para aprendizagem de programação e pensamento computacional - o Scratch. Que, para lá de ser marcante, é também a tecnologia que sustenta muitas das sugestões do artigo. 

Al fin tenemos los vídeos de Noé construyendo su arca, Jesucristo multiplicando peces y Eva siendo tentada. Gracias a la IA, claro: Esta trend de revisitar o passado com IA tem a sua piada, e seria relativamente inócua, senão pela credulidade de demasiados dos que consomem conteúdos online, que depressa ficam convencidos que estão a assistir a verdades históricas. 

5 More Hacks for Your Discarded Electric Toothbrush: Reaproveitar, reciclar, e fundamentalmente, criar. 

Meta's AI memorised books verbatim – that could cost it billions: Que chatice esta de tribunais e reguladores, que insistem que a apropriação sem compensação de material literário representa um crime de violação de direitos de autor. 

A history of the Internet, part 2: The high-tech gold rush begins: A imperdível história da Internet via Ars Technica recorda a primeira bolha online, quando surgiram os primeiros navegadores e serviços agregadores de informação. 

Navigating the Dual-Use Dilemma: A recente façanha ucraniana com drones mostrou a facilidade com que as boas intenções de abertura e acessibilidade do software open source podem ser apropriadas para fins mais nefastos. 

Russian Force Generation and Technological Adaptations Update June 11, 2025: De uma guerra de artilharia a uma de drones, com o intensificar do uso de IA no campo de batalha.

Good Taste Will Be Even More Important In The Age Of AI: Confere. Tanto do que tantos partilham como "arte" gerada por IA é do mais confrangedor foleirismo. Pensem menino da lágrima on steroids.  

Why Denmark is dumping Microsoft Office and Windows for LibreOffice and Linux: A soberania digital a ganhar terreno na Europa. Por cá, isto parece-me impossível, dado que a literacia digital dos decisores e de grande parte de população se divide entre escrever documentos no word e partilhar mensagens no whatsapp.

Chris Foss, “Ganymede Takeover”: Um toque de Nazca. 

https://www.tumblr.com/70sscifiart/785359636807188480/chris-foss-ganymede-takeover

Bild: Ukraine uses F-16 to down Russian fighter: Caças de gerações anteriores, considerados quase obsoletos, mostram-se capazes de abater aeronaves com capacidades superiores. Aconteceu na Ucrânia, e na Índia, quando J10 paquistaneses abateram moderníssimos Rafale indianos. O truque está na tática, o sucesso destas aeronaves mais antigas sustenta-se em mísseis para lá do alcance visual e plataformas de radar aéreo que vetorizam a intercepção a grandes distâncias. 

The Many Sides of Erik Satie: Recordar o compositor que, mais famoso pelas suas Gymnopédie, tem uma obra complexa e inovadora. 

The Israel-Gaza tragedy and Europe's responsibility: A impossível impassibilidade com que nós europeus contemporizamos com um governo israelita genocida tem as suas raízes na história recente da Europa. Mas o reconhecer os erros do passado não deveria ser carta branca para crimes de guerra. 

Ainda estamos todos com os olhos em Gaza? E quem comanda o que vemos?: Desinformação fou algo que sempre existiu, a diferença hoje está na forma rápida e amplificada como nos chega através de paisagens mediáticas fragmentadas, onde as redes sociais são o meio privilegiado de contágio. 

Israel gains formal justification for Iran strike: Somar as parcelas de uma equação preocupante - um governo genocida cheio de vontade para alargar a guerra, uma administração americana de tendências fascizantes que começa a precisar de encontrar meios de afastar os olhares sobre o desastre que está a ser as suas políticas (desde as tarifas às deportações em massa), e uma guerra a apelar ao patriotismo é algo que lhes faria imenso jeito. Antes desta nota, há que recordar que os EUA já começaram a retirar pessoal não essencial das suas embaixadas no médio oriente, e a reforçar militarmente as suas forças na zona, com desvio de materiais destinados à Ucrânia que agora irão equipar militares americanos. Claramente algo está a preparar-se. 

Israel’s Bold, Risky Attack: Confesso que esperada que se passassem semanas, ou talvez dias, até ao expectável ataque israelita. Na verdade, foram horas.

The Wet History of Media in the Bathroom: Traços da publicidade que nos convenceu a levar música para o chuveiro. 

quinta-feira, 24 de julho de 2025

The Ministry of Time




Kaliane Bradley (2024). The Ministry of Time. Londres: Avid Reader Press.

As viagens no tempo são um tema muito explorado na ficção científica, e pano para narrativas convolutas, graças aos paradoxos advindos do emaranhar da linearidade do tempo. Neste surpreendente e excelente romance, Kaliane Bradley afirma logo à partida querer ignorar essas premissas elementares do género, construindo a sua narrativa afirmando que os paradoxos temporais não existem. Mas, no final, tira o tapete debaixo dos pés do leitor quando percebemos que toda a história não passa de um elo num ciclo de paradoxos temporais manipulados em busca de um resultado desejado.

O livro leva-nos a uma Londres de um futuro próximo onde a desagregação social, económica e ambiental advinda das alterações climáticas se começa a sentir. Não é um mundo em derrocada apocalíptica, mas há um sentimento de erosão progressiva. É neste clima que uma tradutora de origem cambojana consegue ser aceite no que lhe parece ser o emprego de sonho, com uma posição misteriosa num departamento governamental inglês.

A sua missão revelar-se-á chocante: terá de acompanhar expatriados que foram resgatados de terras que já não existem, pois foram subtraídos ao passado. O programa é experimental, testando uma máquina do tempo obtida pelos ingleses em circunstâncias pouco claras, tendo trazido para o século XXI pessoas vindas de outros séculos. Em comum têm o terem estado às portas da morte. Aliás, precisamente porque o registo histórico preserva a memória das suas mortes violentas é que são considerados seguros para resgatar sem risco de paradoxos temporais.

Boa parte do livro vive do contraste dos humores, reações e percepções de pessoas que vieram de outros tempos, com os seus modos culturais próprios, com as formas de estar da modernidade. E aqui, é impossível não fazer uma ligação pouco subtil com os nossos tempos atuais, onde as vagas de migrantes e deslocados, com as ondas de choque que provocam, são manipuladas para acicatar discursos de ódio. Dado o tempo presente e a própria história da autora, esta é uma metáfora não explícita, mas que se sente.

Enquanto nos entretemos com as idiossincrasias daqueles cuja forma de estar tem pouco a ver com a modernidade, embora se adaptem, há uma outra história que decorre em surdina até se tornar preeminente. Há uma guerra entre futuros que procuram controlar a máquina para controle de recursos, e iremos perceber que a jovem tradutora está no cerne de tudo isto. Sem querer fazer grandes spoilers, há um laço temporal fechado com o seu futuro eu, que anda a tentar manipular acontecimentos do passado até obter o futuro que pretende.

A leitura é escorrida e mesmo nos seus momentos mais prosaicos não se consegue largar o livro. Uma obra refrescante, vinda de uma nova voz da FC britânica com um sabor global.


quarta-feira, 23 de julho de 2025

The Street Finds a Way

É impossível não ponderar sobre o confronto entre as aspirações da Inteligência Artificial e o seu impacto social real, em particular no domínio educativo. Somos fascinados por uma tecnologia que nos ilude com a simulação de uma consciência não humana, com a qual acreditamos poder dialogar e até estabelecer laços emocionais. Isto persiste, apesar dos constantes lembretes de que a essência da IA generativa reside na combinação de estatística complexa e no processamento de vastos conjuntos de dados. O fascínio acrítico pela IA é intensificado pelo forte esforço promocional das empresas que desenvolvem estes algoritmos e aplicações. Este fenómeno é uma consequência direta do late stage capitalism, um esforço obstinado para impor serviços e aplicações, buscando monetizar um modelo de negócio que se tem revelado um verdadeiro sorvedouro de recursos financeiros. Os custos necessários para sustentar a infraestrutura da IA — investigação e desenvolvimento, formação e capacidade computacional para executar estes modelos, exigem investimentos colossais, sem que haja ainda um mercado que os justifique. São-nos constantemente apresentadas promessas de ferramentas extraordinárias que, ao serem utilizadas, se revelam muito aquém do prometido. 

Não que estas ferramentas sejam inúteis. Elas são-nos impostas como revolucionárias, capazes de provocar profundas transformações no modo de vida humano, quando, na realidade, não o são. A menos que se considere a geração de imagens de estética duvidosa, a obtenção de respostas de fiabilidade questionável ou a automação de tarefas administrativas como o ápice da evolução humana. No entanto, percebemos que estas ferramentas estão a ter impactos sociais, económicos e pedagógicos. O seu uso propaga-se, como seria de esperar. Como observou William Gibson, the street finds a way, e os utilizadores adaptam-nas às suas necessidades. Há um aspeto positivo nisto, um reforço à criatividade individual e novas formas de processar informações que externalizam parte do trabalho de reflexão e raciocínio. Por outro lado, o potencial de abuso destas ferramentas é imenso: desde a produção de conteúdo de baixa qualidade até usos criminosos para desinformação ou fraudes, a automatização da produção literária para criar obras enganosas. No campo da educação, isto inclui a automação de um dos pilares educacionais: o desenvolvimento da capacidade de analisar, refletir e organizar ideias de forma coerente. Multiplicam-se as situações em que os alunos automatizam as suas produções, entregando trabalhos que são meras respostas a solicitações. O mesmo ocorre com os docentes, que procuram nos chatbots auxílio para automatizar os seus processos de trabalho. É tentador afirmar que isto ocorre por displicência ou fraude, mas, na verdade, a geração de trabalhos através de ferramentas de IA é uma consequência da intersecção de várias tendências. Por um lado, a característica muito humana de se safar da realização de tarefas com o mínimo esforço possível. Por outro, e talvez a mais significativa, a evidente desconexão entre os princípios educacionais fundamentais — de capacitação individual e busca profunda do conhecimento, e a realidade dos sistemas educativos, que incentivam a rotinação para a obtenção de resultados, com foco na nota e não no processo que conduz à construção real e duradoura do saber. Não surpreende que alunos, estimulados ao longo do seu percurso educativo a seguir receitas e rotinas para a mera obtenção de notas, recorram a ferramentas de IA para alcançar resultados com o mínimo de esforço. 

Haverá solução para estes dilemas? Apesar da IA nos parecer uma tecnologia omnipresente, é importante recordar que é muito recente. As questões que levanta não têm respostas fáceis ou imediatas, e o seu desenvolvimento continuará a suscitar outras questões ainda não aparentes. Neste momento, o que podemos fazer é adotar posturas críticas, reconhecendo os potenciais — tanto os evidentes quanto os ainda por demonstrar, desta tecnologia, sem nos deixarmos seduzir pelos discursos luminosos do marketing empresarial.

terça-feira, 22 de julho de 2025

Greek Mythology: A Traveler's Guide from Mount Olympus to Troy


David Stuttard (2016). Greek Mythology: A Traveler's Guide from Mount Olympus to Troy. Londres: Tames & Hudson.

Uma dupla viagem, pelas geografias e mitologias da herança clássica grega. O autor leva-nos num périplo pelos locais onde os mitos e a história se cruzam, entre a inevitável Atenas, a previsível Tróia, zonas mais esquecidas mas influentes como Olímpia, Delfos, Knossos, Ítaca ou os vestígios gregos na moderna Turquia. O livro termina com uma deslocação a Ephyra, um dos locais onde os gregos antigos imaginavam situar-se uma entrada para o Hades, e onde hoje se situa um mosteiro que preserva no seu subsolo uma cave que mergulha nas profundezas da terra. 

Há apontamentos sobre os locais na atualidade, bem como curtos guias de acesso, mas o cerne do livro é uma viagem pelos mitos clássicos, estruturada pela geografia.

domingo, 20 de julho de 2025

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Alfred Kelsner, for the cover to Perry Rhodan #2352: Clássicos. 

Our First Look at Guillermo del Toro's Frankenstein: Espera-se um delírio barroco neste cruzamento das estéticas de del Toro com o texto de Mary Shelley. 

Recomendações de livros para ler em junho: Confesso uma certa desilusão com esta lista, dado o objetivo do Fábrica do Terror. Laranja Mecânica é um clássico, mas o Perfume é dos livros mais banais e sobrevalorizados. 

Good Omens Graphic Novel From Colleen Doran, Finally At The Printers: Dada a toxicidade, merecida, de Gaiman, suspeito que não será o momento mais auspicioso para lançar este livro. 

“Z Literature” — Fiction Designed To Convince Young Russians To Fight In Ukraine: O papel da literatura como forma de doutrinação fascista. 

Classic Children's Books: A infância e juventude de todos os que leram estes livros é tão mais rica graças a estas leituras. 

5182) A Conspiração e o Absurdo (4.6.2025): Na FC pulp podemos encontrar um dos pontos de origem de algo que durante uns tempos foi divertido, mas agora sabemos ser um doentio vírus cultural com consequências nefastas - as teorias da conspiração. 

The 1969 Honeywell Kitchen Computer: Objetificações e estereótipos. 

Hace diez años, éramos felices con tarjetas microSD en los teléfonos móviles. Los fabricantes las han matado por una buena razón: Obrigar-nos a pagar mais por dispositivos com memória interna decente, diria que é a melhor razão para acabar com as entradas para cartão de memória nos telemóveis. 

Boards Guide 2025: AI at the Edge: Um guia de placas de baixo custo para desenvolver projetos de IA. 

The Creative Industries’ “Napster Moment”?: Sobre as problemáticas dos direitos de autor num momento em que as empresas de IA se acham no direito de se apropriar de todo o tipo de conteúdos para treino de algoritmos. 

This Smartphone Smuggled Out of North Korea Is Absolutely Wild: Bem, é de observar que ter um telemóvel que espia constantemente os seus utilizadores não é um exclusivo das ditaduras. No ocidente livre, passa-se o mesmo, mas com fins lucrativos para as empresas e plataformas. 

Hugging Face apresenta robot humanóide open-source: A Hugging Face está apostada em estar no interface entre Inteligência Artificial e Robótica. 

Teachers Are Not OK: O alastrar descontrolado da IA generativa na educação está a ser excelente para os cábulas, maus alunos e todos aqueles que só estão interessados em passar nas cadeiras e não, realmente, em aprender. Na verdade, este desespero dos educadores mostra uma realidade oculta da educação - a grande maioria dos alunos não está verdadeiramente disposta a aprender, apenas faz o que tem a fazer porque tem de ser feito. Sempre foi assim, e embora a sociedade afirme valorizar a Educação pelo seu lado de formação completa do indivíduo, o que boa parte dos que passam pelos sistemas educativos realmente valorizam é a certificação que lhes permite aceder a empregos ou posições sociais. É, e sempre foi, mais desejado o canudo do que o conteúdo. Perante uma ferramenta como a IA que permite chegar ao canudo automatizando boa parte do trabalho chato que os estudantes fazem, não há grande surpresa na forma avassaladora como está a ser usada. 

The recent history of AI in 32 otters: A lontra como símbolo do progressivo realismo dos geradores de imagem. 

Sin las tierras raras de China se acabarán los láseres en Europa. Alemania ha encontrado la forma de prescindir de ellas: Novos métodos de processamento de materiais. 

Meta wants AI to automate every step of the ad production process - report: Não concebo melhor exemplo da corrida ao mínimo, do que automatizar a banalidade publicitária. 

Look for These 7 New Technologies at the Airport: Da vigilância e segurança aos sistema de gestão de tráfego de passageiros. 

Hugging Face says its new robotics model is so efficient it can run on a MacBook: E isso faz imenso sentido, o esforço para que estes modelos corram localmente em hardware de características médias é essencial para a acessibilidade da IA. 

Big Tech’s AI Endgame Is Coming Into Focus: Centrar tudo nas plataformas, acabando com a diversidade que torna a internet tão rica. 

Ukraine's Massive Drone Attack Was Powered by Open Source Software: O software que permitiu aos ucranianos controlar os seus drones nesta surpreendente e inovadora ação militar é de fonte aberta. 

Jeff Bezos’s Washinton Post Plans to Add Random Opinion Writers Edited by AI: Antes que comentem a idiotice deste planto, observem - na prática, é apenas um bilionário que sbe que consegue enriquecer mais alimentando as massas com lixo. 

 OpenAI Wants to get College Kids Hooked on AI: Ainda mais do que já estão? Claramente, temos de começar a colocar um travão a isto. Não à IA e ao seu desenvolvimento, mas a esta estratégia descontrolada, que só serve aqueles que colocam no mercado este tipo de ferramentas. Notem, o argumento parece lógico, dotar os estudantes do ensino superior de acesso às ferramentas de IA como agentes, mas na verdade todos sabemos como é que realmente as vão utilizar, para desenrascar trabalhos e simular um conhecimento que não adquiriram. Há consequências sociais deste embrutecimento incentivado pelo lucro.

Popular AI apps get caught in the crosshairs of Anthropic and OpenAI: A pergunta que se coloca, é porque é que as plataformas de IA não fazem isto mais vezes - cortar o acesso às suas APIs aos serviços criados por empresas terceiras, mas que as próprias plataformas poderiam implementar. Ou seja, mais um risco de monopolismo na indústria da IA.

What Happens When People Don’t Understand How AI Works: Essencialmente, estes dois parágrafos: "These statements betray a conceptual error: Large language models do not, cannot, and will not “understand” anything at all. They are not emotionally intelligent or smart in any meaningful or recognizably human sense of the word. LLMs are impressive probability gadgets that have been fed nearly the entire internet, and produce writing not by thinking but by making statistically informed guesses about which lexical item is likely to follow another.

Many people, however, fail to grasp how large language models work, what their limits are, and, crucially, that LLMs do not think and feel but instead mimic and mirror. They are AI illiterate—understandably, because of the misleading ways its loudest champions describe the technology, and troublingly, because that illiteracy makes them vulnerable to one of the most concerning near-term AI threats: the possibility that they will enter into corrosive relationships (intellectual, spiritual, romantic) with machines that only seem like they have ideas or emotions." Note-se que esta desinformação é deliberada, está integrada no marketing das plataformas, para fingir que nos estão a vender produtos e tecnologias mais polidas e avançadas do que realmente são. Com a complacência dos media, esta é a mensagem que passa, e a esmagadora maioria das pessoas cai nela.


H. R. Van Dongen: Infestações alienígenas. 

Ukraine Executes ‘Longest Range Operation’ Striking Russian Air Bases with FPV Drones: Este é o tipo de operações que os historiadores futuros irão discutir. Atacar bases aéreas inimigas longínquas, usando drones contrabandeados em contentores de mercadoria, é o tipo de operação militar arrojada e inesperada que mostra como o engenho se aguça em condições de guerra assimétrica, bem como o brilhantismo do planeamento. 

Beaufort (AW303) amarou ao largo da Ericiera: Nunca mais vou contemplar a baía da praia do Forte, sabendo que nas suas profundezas se encontram os restos de um Beaufort. 

Meanwhile, back in the real world: Isto - "Let me state it plainly: we are rushing into the most dangerous period in human history, and the Trump administration seems determined that we do it blindly. It’s inconceivably stupid, and it’s entirely real. And the planet doesn’t care: physics will not cut us any slack because we elected a moron." 

Strategizing With Ghosts: Os fantasmas da história dos países, que condicionam as suas visões geoestratégicas. 

FABRICANTE DE F-35 ASSINA ACORDO PARA FORNECEDORES PORTUGUESES: Uma curiosa oportunidade para o núcleo industrial aeroespacial português. 

Are We Having Second Thoughts About Capitalism?: E é bom que tenhamos. O corrente modelo de capitalismo neoliberal, desregulado, favorece e enriquece a níveis estratosféricos uma minoria de bilionários, com a conivência e complacência dos político. Entretanto, os cidadãos sentem os serviços públicos a decair, as desigualdades a crescer, o empobrecimento generalizado das nossas sociedades. Some-se a isto o impacto ambiental da ganância capitalista. Não, não podemos continuar assim. 

Las tres jugadas maestras de China para "independizarse" tecnológicamente de Occidente: materias primas, chips, IA: Uma estratégia de longo prazo e forte investimento, que está a funcionar. Talvez porque os chineses perceberam a grande lição dos ismos do século XX - o capitalismo é mesmo o melhor para gerar riqueza e prosperidade, mas sem restrições e limites, gera fortíssimas desigualdades. Com restrições e sentido social, pelo que se nota, tem potencial para nos dar o melhor de vários mundos (uma lição que os europeus, nos chamados anos dourados da segunda metade do século XX e nas fundações dos estados sociais, aprenderam, mas que se têm vindo a forçar por esquecer, virtude da pressão financeira sobre a venal classe política). 

No One Can Offer Any Hope: Os danos à imagem dos Estados Unidos perpetrados pelos escroques que correntemente o governam são profundos, e talvez irrecuperáveis. Esta história, sobre afegãos que colaboraram com as forças americanas mas agora foram abandonados à sua sorte após a saída do país, mostra quão profundo é o sentimento de traição e abandono. 

Leituras da Semana (#69 / 02 Jun 2025): Spot on, João, concordamos em absoluto nisto - a IA generativa está a ser essencial para todos os que querem fazer lucro fácil nas indústrias culturais, usando a estratégia da redução ao mínimo (aka "para quem é bacahau basta"). Nada de novo em si, a cultura popular sempre teve este tipo de atores, o que muda é a quantidade em dilúvio e a automatização da produção. 

Una caída en Marruecos desató el lujo más absurdo: nueve Boeing 747 fueron necesarios para evacuar a Suiza al ex-emir de Catar: É impossível ler isto e não ficar a meditar na profunda injustiça que são os privilégios de que gozam os plutocratas. 

Apocalypse Art Has Never Been More Relevant: A literatura do apocalipse bíblico tem ficado esquecida, bem como as suas interpretações iconográficas. 

Elon Musk Goes Nuclear: Zangaram-se as comadres nesse pináculo de idiotice que é a administração Trump. Note-se que Musk, nisto, aparece como muito idiota útil - financiou Trump, e deu a cara pelas mais absurdas e selvagens políticas de cortes cegos (bem, não muito cegos, com uma clara sanha ideológica anti-humanista) de que há memória. Neste processo, Musk queimou-se, perdeu a sua credibilidade e fama, enquanto as suas empresas perdem dinheiro e valor em bolsa. Sinceramente, não tenho pena nenhuma dele, e quanto mais depressa cair, melhor. 

SpaceX siempre ha estado 10 años por delante de la competencia. El problema es que en China esa ley ya no aplica: Os rápidos avanços chineses na tecnologia de foguetões reutilizáveis. Se combinarmos a morosidade com o gosto americano por dar tiros nos pés, fica claro que o futuro da exploração espacial pertence à China.

Deep time and the revenant: Os achados arqueológicos que nos mostram que o medo dos espíritos, mortos-vivos e coisas sombrias na noite é um traço humano que está conosco desde a pré-história.

quinta-feira, 17 de julho de 2025

Sensor


Junji Ito (2025). Sensor. Lisboa: Presença.

É sempre de regojizar pegar numa nova edição de Ito em português, mesmo que neste caso seja um livro claramente menor no seio da sua longa obra. Diga-se que um Ito mediano é vastamente superior à larga maioria do mangá que se lê por aí, claro. A história é de um surreal terror cósmico, cruzando misteriosas laldeias desaparecidas e um tempo fluído mas cíclico em que o presente depende de ir ao passado. É curioso que a personagem principal, a jovem rapariga cujos cabelos dourados vão despertar a estranha sequência de acontecimentos, assuma um papel secundário, mais canal do que protagonista, e será uma personagem secundária, um jornalista obcecado com a jovem, que nos leva ao longo das várias vinhetas desta história. O resto, são cultos tenebrosos, uma lenda do apssado que depende do futuro para existir, e um confronto com um discreto mas intenso horror cósmico.