segunda-feira, 12 de maio de 2025

Ficções

“Sgt. Augmento,” by Bruce Sterling, 2016: Um conto post cyberpunk, sobre realidades deprimentes e a substituição de humanos por robots e IAs na economia.

My sex doll is mad at me: A short story: Futurismo próximo, bom humor e um acutilante sentido da forma como a nossa vida foi colonizada pelos produtos das empresas tecnológicas, numa história onde uma boneca sexual robótica mostra que a sua programação inclui simulações emocionais. A história também captura na perfeição a forma como nos relacionamos com as empresas que nos vendem bens e serviços, desde as obsolescências programadas (as avarias que acontecem mal a garantia expira) aos labirintos insondáveis dos apoios técnicos, excelsos a frustrar os utilizadores que precisam de ajuda a resolver o seu problema. 

Época de Caça: Ok, isto é atípico e fora dos domínios do fantástico, mas tenho uma vertente de gosto pela aviação que me leva a destacar estas ficções. Uma história curta, algo especulativa, não bem construída mas a divertir quem tem amor aos aviões. O que aconteceria se dois pilotos portugueses se cruzassem com russos sobre o ártico, é o mote deste conto em duas partes

No computers: Uma pequena vinheta distópica, sobre o potencial catastrófico do AI Slop na cultura humana, que soa demasiado plausível.

domingo, 11 de maio de 2025

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Lysistrata
: Vou arriscar e dizer que isto é uma versão muito, muito livre do original de Aristófanes. 

Uzumaki: Uma excelente edição, que traz mais um pouco da vasta obra de Ito para os leitores portugueses. Confesso, fiquei surpreendido, esta edição portuguesa reproduz o texto que escrevi para a  primeira edição brasileira, em 2010. Sinceramente não sabia (e não me chateio com isso). Curiosamente, o meu texto original em português foi traduzido para brasileiro, a pedido da editora, que me recordou que os brasileiros têm dificuldade em ler o nosso português. Credo, 2010, como o tempo passou. Apaixonei-me pelo trabalho de Ito quando descobri o superlativo Tomie na viragem de século, e é um gosto vê-lo finalmente traduzido para português. 

No correio (51): O robot-assassino de humor corrosivo e mais inteligente do que a generalidade dos humanos, é uma personagem imperdível. 

5165) As Máquinas do Tempo (25.3.2025): De facto, no que toca às culturas de género, o papel da nostalgia é tremendo, e muitas vezes, gostaríamos de poder voltar a sentir o sentimento de maravilha que sentimos aquando do primeiro contacto com os filmes e livros que nos fascinam. 

The Moment I Fell in Love With Doctor Who: Eu, confesso que foi mais com a elegante excentricidade de David Tennant. 

Historical Novels Set in World War 2: O romance consegue captar os factos históricos de formas únicas. E, no caso de Evelyn Waugh, bem humoradas. 

The Best Science Fiction to Teach About AI, From Teachers: Algumas boas sugestões aqui, embora eu retiraria Kai Fu-Lee, devido ao seu envolvimento com o aparelho chinês de vigilância repressiva via IA. Mas as sugestões vão de Frankenstein ao Murderbot, o que dá pano para longas mangas de discussão. 

Considering the Diseases That Would Threaten Time Travelers: Pois, o passado é um lugar que pode fazer muito mal à saúde. 

‘cause any day can be a record store day (9): A esmagadora maioria da música que se fez (e faz) vai ficar esquecida. Este, aposto que é um dos raros discos que nunca deixará de ser ouvido. 

Quem disse que perfeição é uma virtude?: Este artigo sobre a forma como os velhos filmes perdem o seu gosto quando os revemos nas cópias restauradas sublinha um problema clássico da imagem - a perfeição visual é inimiga da estética. Parte do que torna estas iconografias especiais são as suas imperfeições, as marcas da tecnologia da época e da restrição de meios. Quando estas são eliminadas, perde-se esse elemento. Isto é uma coisa que a malta que procura a perfeição máxima na imagem e no som é incapaz de compreender. É a estética que desperta as emoções. A perfeição sem mácula é estéril e banal. 

Novels Based on Mythological Retellings, recommended by Francesca Simon: Novas visões sobre as histórias que estão no nosso ADN civilizacional. 

"Careless People" (2025), diz mais sobre a autora do que sobre a Meta: Acho que aqui a surpresa é pensar que quem quer fazer carreira nos topos empresariais não é sociopata e convencido da sua suprema importância. No ar fica a sensação que o real problema desta autora é ter sido descartada pela máquina que almejava dirigir.


Trains of the future: Pelos carris. 

La paradoja de la enorme industria de drones de Ucrania: una ventaja contra Rusia, un problema para sus pilotos: Os aluncinantes ciclos de inovação na tecnologia de drones, vindas das necessidades operacionais da guerra na Ucrânia. 

Something Bizarre Is Happening to People Who Use ChatGPT a Lot: As relações de dependência laboral e emocional que decorrem do uso excessivo de chatbots de IA. 

Sovereign Software is a growing trend. The French & German governments have launched a version of Google Docs/Notion, as an alternative to American tech: Um projeto interessante, faz todo o sentido e parece muito funcional. Mas, só está disponível para utilizadores governamentais franceses. Esperemos que seja possível (tecnicamente, é-o) transportar esta solução para os utilizadores europeus. 

A urgência de controlar a tecnologia para proteger a democracia na era de Trump e das Big Tech: Não vai ser fácil. Mas este resvalo autoritário e fascizante que se vive nos EUA mostra-nos a importância da soberania digital, dos sistemas que gerem os nossos dados e informação serem, enfim, nossos, baseados em plataformas e tecnologias desenvolvidas por nós. Muitos disseram isto durante anos (especialmente a comunidade open source), mas até agora o incentivo para mudar a nossa praticamente completa dependência do hardware chinês e software norte-americano era inexistente. Isso, está  a mudar. 

EU OS takes a 'layered' approach to its new Linux distro for the public sector: É um sinal positivo. Mas nisto, gostaria muito que a CE se mostrasse mais proativa do que realmente o está a fazer. 

Escrever com a máquina: uma reflexão sobre a autoria, a colaboração e o significado: No que toca à análise do potencial da IA, é simplista a dicotomia rejeição-deslumbre. São ferramentas que nos trazem valências interessantes, e esta reflexão sobre processos de escrita apoiados por IA mostra como esta pode ser usada para levar mais longe o trabalho intelectual humano - não automatizando, não em diálogo com a máquina, mas usando-a para acelerar o diálogo interior do processo de escrita. 

Technology Has Shaped Human Knowledge For Centuries: A IA é apenas mais uma tecnologia que nos molda sensações, percepções e abre novas vertentes de pensamento. 

While You're Churning Out Studio Ghibli Selfies With OpenAI, Remember That Hayao Miyazaki Called AI Art "Disgusting" and an "Insult to Life Itself": Toda aquela malta que anda feliz a partilhar selfies e bonecada foleira gerada em estilo Ghibli está num clássico de "diz-me que não compreendes uma coisa sem me dizeres que não compreendes essa coisa". Ou, sendo mais generoso, fica-se apenas pelos aspetos superficiais da imagem, não sendo capaz de percecionar além do divertimento e entretenimento. 

The Great Tech Heist - How "Disruption" Became a Euphemism for Theft: A corrente tendência das empresas de IA generativa de se apropriarem da propriedade intelectual de terceiros sem qualquer pejo é apenas a versão mais recente do conceito de disrupção tecnológica, do move fast and brake things (e outros que limpem os cacos).

Das fábricas portuguesas saem camiões autónomos, drones e materiais para proteção balística: Algumas luzes sobre o discreto setor industrial português de defesa, com uma aposta decididamente high tech. Desconhecia totalmente o projeto de veículos autónonos Atlos da CME, algo a investigar mais.

Cambiar Drive, iCloud o Dropbox por una alternativa europea: paso a seguir y qué debes tener en cuenta: Dicas importantes para uma maior independência tecnológica. Um processo que também iniciei, no meu caso com a Nextcloud, e já percebi que não se pode fazer mudanças abruptas, há que dar tempo. Em parte por razões técnicas, mas essencialmente porque anos seguidos a usar dropboxes e drives criaram hábitos e rotinas de trabalho.

9 Important NotebookLM Tips Every Research Needs to Know: Confesso que este é dos meus serviços de IA favoritos, por não ser generalista e pensado para aplicar as suas capacidades de análise generativa apenas aos dados que lhe damos para analisar.

MS dificulta instalação do Windows 11 sem conta Microsoft: Está, de facto, infernal instalar Windows. Obriga a conexão de rede, a usar uma conta Microsoft, e não há forma de ultrapassar isso no arranque da ativação. Só posteriormente, já nas contas, podemos eliminar a conta cloud e usar contas locais. Tudo ações que nos fazem perder tempo.


You can’t spell “Control Panel Saturday”: Temer os homens-lagarto. 

Focus | Is the French Rafale fighter jet a real alternative to the US-made F-35 Portugal planned to purchase?: Por cá teremos sido os primeiros a levantar a questão da fiabilidade do armamento adquirido aos Estados Unidos, num tempo em que o seu governo parece apostado em tornar-se hostil. Se bem que poderá ter sido mais por uma questão de dinheiros - o F-35 tem custos muito elevados, quer da máquina em si, quer de operação e manutenção. Comparar o Rafale ao F-35 não é boa ideia, um é de quinta geração com capacidades avançadas, outro, é um passo à frente do F-16 mas sem as novas capacidades. Mas a curto prazo, talvez seja a nossa melhor escolha. 

The “Signalgate” Memes Have Entered the Chat: Quão incompetente se pode ser, para discutir informação sensível em chats, e ainda por cima sem se darem ao trabalho de ver quem pertence aos grupos? Claro, só podia vir da administração trump... 

Kremlin seen preparing for Baltic invasion: Os sinais são apoquentadores. 

March 26, 2025: A estupidez e descuido dos altos responsáveis norte-americanos, bem ilustrada pela história da discussão de planos secretos de ataque militar numa app de conversações em grupos que até jornalistas integravam, é estratosférica. 

The U.S. Has Changed Its Mind About Europe: Ou, o erro de pensar que a loucura da administração Trump terminará quando este deixar a presidência. Convém recordar que se rodeou de sicofantas e deu espaço aos mais radicais para dominarem um dos partidos de poder americanos. A estupidez disto é que a defesa de uma Europa livre e liberal foi imensamente benéfica para os EUA, em termos políticos mas essencialmente económicos 

Are We Headed For A New “Dark Ages”?: O otimismo anda pelas ruas da amargura, nos dias que correm. Mas o artigo tem razão. O progressismos, a liberdade, os direitos sociais, a democracia estão sob ataque cerrado do obscurantismo autocrático, que quer reverter os progressos dos últimos séculos. 

Texas Never Wanted RFK Jr.’s Unproven Measles Treatment: Imaginem a desconexão de ter um análogo a ministro da saúde a defender o uso de banha da cobra para tratar doenças graves, enquanto os profissionais de saúde o ignoram. E fazem muito bem. É uma questão de vidas humanas. 

sábado, 10 de maio de 2025

Lost+Found

 













Descobrir um artefacto da história da aviação portuguesa, o Hangar do Balão, inacessível ao público dentro do espaço das OGMA, mas que foi possível visitar graças ao Museu do Ar, que organizou uma visita no âmbito do dia internacional dos monumentos e sítios.

quinta-feira, 8 de maio de 2025

Haverá um Amanhã?


Véte (2020). Haverá um Amanhã? Lourinhã: Escorpião Azul.

Tenho um problema constante com a maioria das edições da Escorpião Azul, que é o de achar que são livros que precisavam de afinação a nível gráfico e narrativo. A grande maioria do que publicam sempre me pareceu mais estética de fanzine do que trabalho de BD mais maduro. Mas elogio, sempre, o seu papel a dar espaço editorial a uma grande diversidade de autores, dos mais novos aos veteranos, mesmo que grande parte dos livros sejam de um óbvio amadorismo (e outra coisa dificilmente seria, dado que vivemos num país onde dedicar-se à produção cultural é necessariamente uma atividade de tempos livres). Não quero dizer que sejam maus livros, e este é um bom exemplo disso. Um pouco rígido ao nível gráfico, com um traço que revela vontade de criar detalhe mas falta de capacidade para isso, e uma divertida e bem construída história de ficção científica, que não tem medo de mostrar as suas influências. Apreciei a leitura, não sendo excecional, é divertida e bem construída.

domingo, 4 de maio de 2025

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Blitzkrieg!
: Em direção aos céus. 

O Infinito num Junco – Tyto Alba e Irene Vallejo: Confesso que sou enorme fã deste livro, precisamente pela sua dispersão e aparente desconexão entre os ensaios. É uma ode de amor à literatura, e à história. 

Here’s Where You Can Still Watch Classic Looney Tunes Cartoons—and Why You Should: É sempre bom recordar este clássicos, e perceber como ainda hoje nos parecem transgressivos. 

Leigh Brackett: A Terrific Writer Ahead of Her Time just as She Was Ahead of Her Colleagues: Recordar uma das grandes damas da FC, pioneira e lutadora, capaz de afirmar a sua voz no meio literário e cinematográfico nos tempos em que as mulheres eram relegadas para papéis secundários. 

How to Rebuild an Imaginary Future (2025): Bruce Sterling, como sempre, brilhante a cruzar ficção e tecnologia, no olhar para os futurismos do passado. 

Quando o Bom e Velho Tio Martin me apresentou a Lovecraft...: Curiosamente, o meu primeiro cruzamento com Lovecraft também aconteceu através da BD. Não via Martin Mystère, foi ainda mais rebuscado. Nos anos 90, era habitual encontrar-se por cá em banca os comics americanos vindos do Brasil, os hoje acarinhados formatinhos. E, muito de vez em quando, chegavam cá algumas revistas totalmente brasileiras, caso da radical Animal, que foi fundamental para formar o meu gosto na banda desenhada. Uma vez, deparei com uma edição de uma revista brasileira de BD de terror, com uma capa devidamente pop gótico decadente. As histórias não eram grande coisa, banais e mal ilustradas, mas republicava o lendário Call of Cthulhu. Sou capaz de ainda a ter, esquecida na minha biblioteca. Depois, descobri a Viagem de Randolph Carter, por cá editada pela lendária Livros B. O resto, é paixão.

The Best Horror Novels: The 2025 Bram Stoker Awards, recommended by The Horror Writers Association: Os nomeados para o próximo prémio Stoker. 

Magical Realism Books, recommended by Five Books interviewees: Encontram aqui os suspeitos do costume, de Marquez a Calvino, sem esquecer Murakami.


Promotional art by Frank Franzetta for Opryland: Curiosos dragões. 

AI search is starting to kill Google’s ‘ten blue links’: Não consigo ver isto com bons olhos, dados os claros problemas trazidos pela IA generativa no que toca à fiabilidade da informação. Mas como o que interessa é maximizar lucros, os problemas nem sequer são considerados. 

AI Slop Is a Brute Force Attack on the Algorithms That Control Reality: Certeiro. Para as grandes massas que se informam e formam a sua perceção do real através da mediação por redes sociais, o lixo gerado por IA vai ser o que modela os seus pontos de vista. 

AI Versus Copyright Just Got More Hard Core: Google Gemini Removes Watermarks: Já se percebeu que para as tecnológicas, o conceito de "proteção dos direitos de autor" só vale a pena quando lhes interessa. Quando percebem que podem lucrar atropelando uma estrutura legal cuja montagem pressionaram desde o final dos anos 90, praticam pirataria de formas que fazem corar de inocência os piratas digitais mais empedernidos. 

The wildest details in the Facebook memoir Meta is trying to bury: Confesso que estes pequenos detalhes mostram bem o profundo alheamento da realidade da classe dos bilionários, bem como a sua sensação de impunidade. 

Pluralistic: AI can't do your job (18 Mar 2025): Ácido e direto como sempre, Doctorow aponta a sua mira ao uso indiscriminado de IA para acabar com postos de trabalho. E aponta uma verdade - da forma como estes sistemas estão a ser implementados, o chamado humano no laço de decisão, a pessoa cujo trabalho a IA deveria complementar, existe apenas como bode expiatório das inevitáveis falhas dos sistemas. 

Italian newspaper says it has published world’s first AI-generated edition: Faz zero sentido, a menos que seja uma experiência de profunda ironia. 

Stability AI’s new AI model turns photos into 3D scenes: Bem, como fã de 3D, tenho de ir experimentar. 

ChatGPT Can't Kill Anything Worth Preserving: Tão isto - "The students were not lazy or entitled. They were responding rationally to the incentives of the system. An A without learning anything was far more valuable than learning anything, and risking a grade lower than an A. School had nothing to do with learning"

The Unbelievable Scale of AI’s Pirated-Books Problem: Os direitos de autor só são válidos quando convém aos gigantes da internet. 

Meta AI is rolling out in Europe after all: Que bom. Mesmo aquilo que o Facebook e o Instagram mais precisavam - um incremento do lixo generativo para cativar os crédulos e chocar os boomers. 

People Are Using AI to Create Influencers With Down Syndrome Who Sell Nudes: Sinceramente, não sei o que me causa mais revulsão, neste texto. Se o síndrome de down enquanto fetiche sexual (ou seja, o gosto pelo domínio de alguém física e intelectualmente mais fraco e desprotegido), se o aproveitamento disso enquanto modelo de negócio baseado em IA. 

Hugging Face’s new iOS app taps AI to describe what you’re looking at: A IA a ser útil. Local, sem partilha de dados, e a auxiliar no dia a dia. 

Paradise Café (2025 remake): O regresso de um clássico, muito maroto, da história da computação portuguesa. 

Generative Art Machine Does it One Euro at a Time: Colocar um preço na tangibilidade gerada por IA. Um daqueles projetos divertidos, que nos deixa a pensar. 

La serendipia digital está en peligro de extinción. Internet nos entiende demasiado bien: É um sentimento generalizado, a internet já não nos surpreende, estamos rendidos à tirania algorítmica da mediania, dos conteúdos a metro e a dispersão entre redes onde se publica sempre a mesma coisa. E muito distantes, para pior, do espírito de descoberta, do gosto pelo acaso, da surpresa, dos primeiros tempos da internet.

Este juego de 4.500 años de antigüedad era un absoluto misterio. Hasta que la IA nos ayudó a descifrarlo: Contributos da IA para ressuscitar jogos milenares.


Bernie Wrightson: Clássicos soturnos. 

Canadians Want to Cut off Americans’ PornHub Access: Aristófanes para o século XXI, e o site de pornografia como a Lisístrata para os incels que aplaudem trump? 

18th c. canal found in Madrid subway expansion: Confesso que das vezes que passei por Madrid, nunca fui á beira do Manzanares (o calor geralmente desencoraja grandes passeios). Fiquei curioso com este antigo canal, que ligava a cidade ao Tejo. 

Improved Relative Time: E assim descubro que não vivo no ano 2025, mas sim em 137 ABP (após a invenção da esferográfica). Ou, mais apropriado para o fim de tarde ou noite, ano 9000 AAF (descoberta da fermentação do álcool, sem dúvida das invenções que mais contribuiu para o bem estar da humanidade). De um projeto que nos recorda que as convenções que definem o nosso dia a dia, são isso mesmo, convenções. 

I Was Diagnosed With Autism at 53. I Know Why Rates Are Rising: Não por causa das teorias da conspiração sobre vacinas, mas porque hoje há mais rigor e conhecimento, o que alarga o espectro dos diagnósticos. Também se percebe que o autismo é um espectro, e não se limita ao estereotipo da pessoa com capacidades sociais limitadas mas intelectualmente brilhante. 

Everything We Know About The Boeing F-47 NGAD: Há aqui alguns pormenores curiosos. A contratação da Boeing indica que o programa já há muito se iniciou, com protótipos a voar em testes. A curiosidade dos entusiastas da aviação ficou aguaçada. Claro, sendo um lançamento da administração trump, esperem o habitual chorrilho de idiotices nos discursos, mas este lançamento mostra que a tecnologia já existe e está a funcionar.

EEUU estaba preparado para la destrucción total en la Guerra Fría. Este mapa para el apocalipsis nuclear lo ilustra: Acentuando a loucura no conceito de destruição mútua assegurada (em inglês, MAD).

sábado, 3 de maio de 2025

Lost+Found

 
















Da Luz Na Qual Nasceste


M.S. Rosa (2024). Da Luz Na Qual Nasceste. Edição de Autor. 

Confesso que esperava gostar menos deste livro do que gostei. Que me perdoe o Pedro Cipriano, cuja editora alimenta as minhas caçadas de leituras no fantástico português em eventos, mas este foi o único livro que trouxe do Festival Contacto. A culpa disso reside numa certa falta de tempo minha, que os caminhos da robótica andam profícuos e interessantes, e uma acumulação pouco salutar de pilhas a aguardar leitora. As viagens têm sido bastantes, e tenho o curioso condão de tropeçar sempre com alfarrabistas ou feiras do livro nas terras por onde passo. Aquando do Contacto, tremi perante a ideia de adicionar mais livros à pilha, mas lembrei-me que daqui a uns meses teremos Fórum Fantástico.

Agora, uma confissão incómoda. Foi o TikTok que me levou a pegar neste livro.  De volta e meia chega à minha linha temporal vídeos da autora, e confesso que os acho encantadores, apesar de distarem anos luz das minhas realidades e preferências. Tem um foco numa visão acolhedora da fantasia, com aquele entusiasmo e inocência da juventude (bolas, escrevo isto e dá-me uma sensação de profundo geriatrismo), a falar das suas leituras, de divindades pagãs com pendor lusitano, e do seu livro. É encantador, e encontrando-a com o seu espaço no Festival obrigou-me a trazer comigo o seu livro. Um dos aspetos que mais me interessa no fandom português é a capacidade de acolher e apoiar vozes novas, e não conheço melhor forma de o fazer do que ler os seus livros.

O livro surpreendeu-me. Em parte, era o que eu esperava - uma história que destila as influências estéticas e literárias de uma jovem autora. Colocar esta questão assim de chofre é injusta. Ao contrário de muitos outros livros desta jaez que li, se se notam as influências estéticas, este não é de todo um pastiche, ou uma elaborada fan fiction que imita iconografias, estéticas e estruturas narrativas. Senti a voz pessoal da autora a afirmar-se, a criar e elaborar o seu próprio mundo ficcional. A estética é a da fantasia, com os seus elementos generalistas, mas a criação é muito pessoal. 

A leitura transportou-me a um mundo ficcional próprio, bem elaborado e com uma sensação de expansão. Não é de todo a típica clonagem das fantasias medievalistas que costuma ser habitual nestas literaturas, por parte de criadores mais jovens (ou menos jovens, escrevo a pensar no Filipe Faria e outras vozes mais veteranas, mas confesso, estando os meus pés assentes na Ficção Científica, irei sempre olhar com viés para a fantasia).

O enredo é enganadoramente simples. É essencialmente linear, seguindo a estrutura da gesta de uma heroína que se vê apanhada por forças incompreensíveis, mergulhada em conspirações tenebrosas, e irá deparar-se com a preciosa ajuda de personagens peculiares. O livro passa-se num futuro próximo onde tecnologia e magia coexistem, pelas piores razões - um ritual que visava exterminar a humanidade e substituí-la por uma miríade de seres mágicos, denominados Fatai no corpus mítico do livro, foi apenas parcialmente bem sucedido. O mundo transformou-se, mas os traços humanos não desapareceram de todo, bem como a sua memória.

O ritual centra-se no amor, necessita da união de duas almas apaixonadas para se concretizar, e as aventuras da jovem personagem envolvem o descobrir do porquê dos seus poderes, bem como o reencontro com a rapariga amada. Uma reunião apaixonada das duas amadas irá encerrar o ritual, com resultados fatídicos para a humanidade, mas a cegueira da paixão impede a jovem cujas aventuras seguimos de compreender isso, apesar de tal se tornar patente para todos os personagens ao longo do livro. 

É aqui que este ganha uma dimensão inesperada. Sem querer fazer grandes spoilers, para não assustar aqueles que lêem livros primeiramente para saber como termina a história, digamos que a premissa de amor do ritual obriga a uma igualdade entre partes. Ao mostrar que tal não acontece, este livro sai de uma típica fantasia de rituais e aventuras e torna-se algo mais profundo, uma metáfora sobre desequilibrios amorosos, relações tóxicas, a violência emocional dos primeiros amores e a necessidade de auto-descoberta que se faz de encantos e desencantos. Esse abanão, que se torna muito claro no final do livro, não o esperava, e tornou-o uma leitura muito mais interessante pela capacidade da autora em nos dar este substrato complexo sobre o que parecia ser uma história linear.

Há uma forte componente activista na obra. As personagens são não-heteronormativas, e há um esforço consciente no uso de linguagem inclusiva. Esta, soa-me sempre deselegante e aqui não foi exceção. No primeiro ponto, dou crédito à autora por ter sido capaz de escapar ao habitual tom de preleção e sermão que torna boa parte das ficções onde as questões de sexualidade e género uma chatice de ler, demasiadas vezes mais manifesto do que literatura. Estas são um elemento essencial da história, mas o livro vive para além disso. Confesso que como membro de uma geração onde este tipo de afirmação não era muito bem vista, sorrio quando vejo a naturalidade e a vontade com que esta nova geração luta por um mundo mais aberto e compreensívo, apesar de todas as forças demasiado visíveis em contrário.  Faz todo o sentido, evoluímos com afirmação, e a construção de ficções segue naturalmente essa tendência. O que não faz sentido é o imobilismo conservador e a repetição à exaustão de estéticas que quando surgiram foram interessantes e vibrantes, mas que sem evolução de tornam bafientas.

quinta-feira, 1 de maio de 2025

The Unworthy


Agustina Bazterrica (2025). The Unworthy. Nova Iorque: Scribner.

Esta escritora argentina está a ganhar uma merecida notoriedade como uma das mais fortes praticantes do conto cruel da atualidade. O seu incómodo e revoltante Tender is the Flesh abriu-lhe o espaço global, e este The Unworthy cimenta a reputação. Esperem um livro provocador e incómodo, mas sem o cunho revulsivo do anterior, mostrando também que se esta autora brilha numa vertente muito específica, não o faz repetindo à exaustão histórias similares entre si. 

The Unworthy mergulha-nos num mundo pós-apocalíptico, uma derrocada total da civilização trazida pelas alterações climáticas, desigualdades sociais, e, vai-se intuindo no final, um toque de IA descontrolada. As imagens de um mundo em escombros são construídas a partir dos fragmentos da memória da personagem principal deste livro, uma jovem que habita um local que poderia ser um refúgio perante o colapso da sociedade - um convento, onde jovens se dedicam à contemplação.

Na verdade, está mergulhada numa seita profundamente violenta, que seleciona raparigas não maculadas pelo mundo exterior, condiciona-as a pensarem-se como desmerecedoras, e fá-las almejar com estranhas ascensões a seres diáfanos, mas que na verdade são violentadas e mutiladas. 

A história é implacável, sem redenção. No meio do oasis físico do convento vive-se a mais abjeta subjeção a pessoas violentas e abusadoras. O amor não serve de fuga, e o destino final da rapariga que memorializa as suas desditas não será feliz. Uma leitura desagradável, não pela escrita, que é elegantíssima, mas pela violência das ideias com que Bazterrica nos bombardeia.

terça-feira, 29 de abril de 2025

Wellington


Jacques Chastenet (1940). Wellington. Lisboa: Bertrand.

Integridade, foi a palavra que mais senti na mente durante a leitura desta antiga biografia de Wellington, o militar inglês que derrotou conclusivamente Napoleão em Waterloo, e, mais pertinente para os meus interesses, comandou as forças anglo-portuguesas e espanholas durante as fases mais bem sucedidas das guerras peninsulares. Arquiteto das Linhas de Torres, estratega capaz de, com forças inferiores, expulsar os exércitos franceses e chegar a invadar a França com um exército luso-britânico (nesta fase, recusou o apoio espanhol por causa da violência vingativa que estes exerciam sobre os franceses).

A biografia traça a história da sua vida, desde os primeiros tempos como jovem colonialista inglês na Irlanda, de cujo aparelho político fez parte e o catapultou para a esfera do império; comandante de forças ao serviço da construção do que veio a ser a Índia britânica, onde se distinguiu em campanhas que subjugaram estados indianos ao jugo inglês; político e administrador nos governos britânicos. As guerras napoleónicas notabilizaram-no, quer pelo seu papel na península quer como vencedor de Waterloo. Seguiu-se a isso papeis admnistrativos e políticos na divisão de forças na europa pós-napoelónica e nos governos britânicos,  até à sua morte tranquila. O livro é honesto, apesar de ter sido escrito num tempo onde as visões críticas não eram valorizadas. Chastenet mostra Wellington como alguém ciente das suas responsabilidades e vontades, fiel aos seus princípios (daí a minha sensação de integridade), militar inspirador que quebrava as barreiras aristocráticas e se metia nos campos com os seus soldados, mas também uma pessoa com falhas tremendas de carácter no que toca às relações de proximidade, a história do seu infeliz casamento, como cumprimento de uma promessa e não por paixão, mostra bem isso. 

Pessoalmente, interessou-me mais a parte do livro que detalha a ação de Wellington nas guerras peninsulares, um período duríssimo da história moderna de Portugal, que não é tão conhecido como pensamos. Surpreendeu-me o nível de detalhe trazido pelo autor francês sobre as campanhas portuguesas e espanholas de Wellington, com uma boa visão do desenrolar dos acontecimentos e alguma intuição sobre a sua enorme violência. 

domingo, 27 de abril de 2025

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Immortality For Some: Medos e desejo.

5160) O plágio e a glosa: Sobre as culturas que se influenciam, e o inegável papel das influências culturais.

A Rocket to the Future – Futures Triangle for Children: Formas de trabalhar e conceber futuros.

Leituras da Semana (#57 / 10 Mar 2025): E se o passado ficasse no passado? O culto da nostalgia, bem expresso numa das sugestões do João, é uma praga cultural, um sinal de imobilismo e aproveitamento passadista. Eu também me recordo dos anos 90. Foram divertidos. Felizmente, não foram o auge da minha vida.

5161) Lord Byron, Drácula, Frankenstein: Confesso, nunca li Byron. Este texto recorda a sua curiosa influência, como inveterado romântico, na génese da ficção fantástica, mas também a sua curiosa ligação com os primórdios da história da era digital.

Leituras da Semana (#58 / 17 Mar 2025): Bem, há uma imensa minoria a perceber que o corrente estado das coisas na cultura pop é de estagnação extrema. Mas há uma maioria esmagadora que devora a acefalia com gosto.

Asterix In Lusitanie… Or Portugal? The Best Selling Comic Of 2025: Portugal está na moda (e por cá vai ser um sucesso de certeza, adoramos ler ou ver o que os outros pensam sobre nós).

Ambos os três - a BD de Paulo J. Mendes: Exposição antológica de um dos mais interessantes autores de BD portuguesa.


Troop Ship Of The Skies: Trepidações aéreas.

La IA es una bomba de relojería en manos de las administraciones españolas. Y el 'Caso Ábalos' es el primer ejemplo: Um excelente exemplo de como não usar IA, em aplicações onde simplesmente os seus outputs não têm fiabilidade suficiente. Neste caso, o uso de transcrições automatizadas foi tão mal supervisionado, que os arguidos num processo viram as suas acusações levantadas pelo óbvio erro processual.

Todas esas pantallas táctiles en los Tesla y el resto de coches suenan muy bien. Euro NCAP opina otra cosa: Quem nunca - a conduzir, atentos à estrada mas na verdade à guerra com um painel virtual que obriga a múltiplos toques para fazer algo que, num painel analógico, bastaria um toque num botão.

Programador condenado por criar "kill switch" anti-despedimento: Confesso que nesta situação, é difícil simpatizar com a empresa. Quanto ao programador, o real problema foi não ter sido suficientemente cuidadoso.

Here’s how I use LLMs to help me write code: Para quem sabe o que faz, e tem objetivos bem definidos, estas ferramentas são um excelente auxiliar criativo.

TikTok Will Try to Lull Kids to Sleep to Stop Endless Scrolling: Não consigo ver nada de positivo nesta notícia, desde a manipulação algorítmica do TikTok aos pais que não excercem controle sobre os seus filhos, que é o mais fundamental.

Mindful Social Media Use Can Reduce Negative Impact, Says Research: Não há aqui grande novidade; moderação e equilíbrio são essenciais para qualquer atividade humana, senão, é patologia.

OpenAI declares AI race “over” if training on copyrighted works isn’t fair use: Pois, mas não é. Porque a doutrina do fair use invoca razões sociais e culturais, dos quais não faz parte o lucro, objetivo último das empresas que desenvolvem modelos e aplicações de IA. Mas há que assinalar a distinta lata destes capitalistas. Lestos a defender a propriedade intelectual à mais ínfima vírgula, como se nota pelas leis de PI cada vez mais restritivas cuja publicação influenciaram. Agora que lhes cheira a mais dinheiro, falam de uso livre. 

Have Li-ion Batteries Gone Too Far?: É uma questão que deve ser colocada, pela sustentabilidade e combate ao desperdício. Estas baterias são convenientes, mas vale mesmo a pena colocá-las em gadgets descartáveis, dados os custos sociais e ambientais? Claro, a questão começa logo pelos gadgets descartáveis.

Facebook Is Desperately Trying to Keep You From Learning What's in This Book: Detalhes sobre a cultura tóxica da empresa cujo produto é, em si, um dos grandes responsáveis pelo normalizar da toxicidade nos discursos públicos.

With Gemini Robotics, Google Aims for Smarter Robots: Aplicar IA generativa para interação robótica, um campo prometedor.

Buy European: cómo escanear un producto y comprobar con estas apps si es europeo y de qué país viene: Apps para nos ajudar a descobrir a proveniência dos produtos.

AI: A Means to an End or a Means to Our End?: Daquelas leituras imperdíveis, pela erudição, dom da palavra, mas também sentido crítico e lucidez.

European tech industry coalition calls for ‘radical action’ on digital sovereignty — starting with buying local: Já vai tarde. Os responsáveis europeus acordaram para a vida, perceberam que a soberania passa por todos os campos, e que não é possível apregoar o papel de liderança europeu enquanto se depende da infraestrutura digital americana. Claro, dos anúncios aos passos concretos vai uma enorme distância, as dificuldades são muitas, é difícil encontrar alternativas com a conveniência dos serviços google ou Microsoft, e é sempre bom recordar que os responsáveis europeus gostam de afirmar as capacidades europeias numa plataforma digital americana pertencente a um bilionário nazi. A CE e os políticos europeus poderiam sinalizar que nisto, as intenções são mais do que meras palavras com um gesto muito simples: suspender as suas contas no X e migrar para o fediverso. Seria um símbolo poderoso. Mas não o farão. Quando muito, alguns irão para o Bluesky.

Is AI sexist? How artificial images are perpetuating gender bias in reality: Uma excelente análise sobre os problemas de enviesamento que contaminam a IA generativa.

La tripulación Crew 10 llega a la Estación Espacial Internacional donde, digan lo que digan Musk y Trump y muchos medios, no va a rescatar a nadie: A saga inesperada dos astronautas presos na ISS aproxima-se do final. E, como tudo nesta história rocambolesca, até o final está envolvido em polémicas e aproveitamentos políticos mediáticos.

Google is removing Assistant from most phones this year: Levamos com pesquisa assistida por IA generativa, quer queiramos, quer não. 


Give in, give up, give out: Cenas cósmicas.

The New Yorker has finally embraced modernity: Fiquei com medo. A notória revista classisita a modernizar-se? Sim, mas só nalguns pormenores linguísticos. De resto, continua a ser aquele delicioso símbolo de snobismo de sempre.

A AVENTUROSA VIAGEM DO PÁTRIA - De Portugal a Macau em avião, em 1924: Recordar a primeira ligação aérea portuguesa a Macau, uma daquelas aventuras dos tempos dourados da aviação.

Scientist Who Gene-Hacked Human Babies Says Ethics Are "Holding Back" Scientific Progress: Ah, esse enorme empecilho que são as questões éticas. De facto, porque é que não podemos experimentar livremente com genoma humano? Nota: Frankenstein, o romance, é um aviso, não um manual.

Elon Musk Looks Desperate: A sério que este grunho achava que podia comportar-se como um idiota, lançar-se em saudações nazis e tornar-se um decisor político não eleito que corta tudo o que desagrada aos conservadores bafientos, com gravíssimas consequências para as pessoas, para o país e para o mundo, e esperava continuar a ser reverenciado como visionário?

Dark Gothic MAGA: Elon Musk, a neo-reacção e a estética do ciber-fascismo: Do cortejar o pior que a humanidade tem.

Buy, Borrow, Die: O esquema de que os muitos ricos se socorrem para viver à larga sem pagar impostos. À custa de todos nós, claro.

The GCAP Program: A Step Towards Europe’s Military Autonomy and Interoperability: Como sou fã de aviação, mantenho as notícias sobre defesa debaixo de olho, e por isso não me deixo levar pelo pânico induzido por mau jornalismo sobre a suposta baixa capacidade tecnológica militar europeia. Infelizmente, nisto das aeronaves de 5ª geração com capacidades furtivas, há ainda um longo caminho até uma solução cem por cento europeia levantar voo. 

Why Is the Trump Administration So Obsessed with Shipping Lanes?: Estratégias de contenção a uma China emergente.

Piri Reis dibujó en 1513 el mapa más increíblemente preciso de América. Tanto que incluyó regiones aún sin descobrir: O famoso mistério, cuja explicação é mais prosaica do que aquelas que o canal história tanto gosta de propalar (aqui acho que se inclinam para alienígenas) - já haveria algum conhecimento sobre estes territórios (não é por acaso que se fala do "achamento" do Brasil), mas essa informação era mantida nos arquivos reais por razões de competição comercial e política.

POLÓNIA PISCA O OLHO AO KC-390: Não é um bom sinal para a parceria portuguesa com a Embraer. Recorde-se que ao contrário de Portugal, que só agora começa a consolidar alguns passos na indústria aeroespacial, a Polónia já há muito que dispõe destas capacidades técnicas e industriais.

quinta-feira, 24 de abril de 2025

O Século dos Prodígios


Onésimo Teotónio Almeida (2018). O Século dos Prodígios: A Ciência no Portugal da Expansão. Lisboa: Quetzal.

Com a sua habitual prosa lúcida, incisiva e erudita, Onésimo Teotónio Almeida leva-nos a confrontar uma forte lacuna na história das ciências - o papel nestas desempenhado pelos portugueses na época dos descobrimentos. Estudada geralmente sob perspetivas anglo-americanas, a história da ciência aponta o Iluminismo com o momento de viragem, em que o racionalismo e a busca pela observação empírica e análise do real deu origem ao método científico. 

O que Teotónio Almeida se propõe neste livro é mostrar que houve um forte, e necessário, pioneirismo português neste campo durante a época dos descobrimentos, pese embora não tenha vindo a dar os frutos que mais tarde o iluminismo centro-europeu veio a dar. As eventuais razões para essa incapacidade portuguesa (e ibérica, uma vez que Espanha também entra nesta história) são analisadas no final do livro, sem o facilitismo de conclusões fáceis.

O  grande ponto de partida é perceber que os descobrimentos portugueses não seriam possíveis sem um esforço científico concertado. Não basta saltar para dentro de um barco e partir pelo mar fora. É preciso o conhecimento concertado da geografia, matemática, astronomia e tecnologia náutica (isto, sem falar do armamento). Isto implica ciência, estudo, investigação, e acima de tudo um espírito que questiona o saber do passado. É esse o ponto onde Teotónio Almeida se centra, o surgir, em tratados náuticos e matemáticos da época, de um espírito crítico que rebate as conceções da ciência escolástica e geografia ptolemaica, por contraste com as novas realidades trazidas pela navegação. Terras e povos que contrariavam os postulados inabaláveis da Antiguidade, e o assumir na necessidade de analisar, de compreender o mundo face à experiência que dele temos, ao invés da fé cega em palavras antigas.

Passar de um saber adquirido pelo repetir do passado e da crença inabalável numa verdade estática para o fluxo da experiência, do analisar o real, desenvolver instrumentos técnicos e de pensamento que melhorem a nossa compreensão, é o dealbar do questionar científico. E isso passou-se cá na era quinhentista, séculos antes do momento em que os historiadores de ciência situam esse dealbar, e, também, numa geografia periférica face à Europa. Teotónio Almeida vai diretamente às fontes, aos textos de Pedro Nunes, D. João de Castro, Zurara, Francisco Sanches e até Camões, para nos mostrar a forma como a luz das Luzes se acendeu por cá, antes do seu fulgor definitivo.

A esse dealbar não se sucedeu um desenvolvimento capaz de o sustentar e fazer evoluir, o que ajuda a explicar o quase total esquecimento deste contributo português para a forma como entendemos a ciência. 

terça-feira, 22 de abril de 2025

Edens Zero


Hiro Mashima (2024). Edens Zero #1. Lisboa: Penguin.

Dada a explosão do mangá no mercado português, com um número crescente de títulos e editoras, combinado com a minha cada vez mais implacável falta de tempo, confesso andar muito arredado de novidades editoriais. Peguei nesta, para experimentar e porque precisava de uma leitura de baixo esforço intelectual (não interprentem como insulto, esta vertente de mangá é intencionalmente simples, é essencialmente de entretenimento). Seduziu-me a premissa, onde uma jovem criadora de conteúdos vai a um planeta de robots, antigo parque de diversões, para fazer vídeos e cruza-se com um rapaz, o único humano no planeta. Suspeitei que havia aqui algumas glosas quer à cultura pop, quer às culturas de influência digital, e arrisquei.

Saiu-me algo muito bizarro, como só os japoneses conseguem. Uma história a alavancar-se para saga, um mundo ficcional surreal, e algumas surpresas narrativas. Há um toque de humor creepy na relação entre um rapaz que como só conviveu com robots, não sabe estar entre humanos e a rapariga que quer ser famosa e passa a vida a filmar conteúdos com o seu gato. As peripécias são bizarras, começam pela aparente expulsão do rapaz pelos robots que ele considerava como amigos, e de facto eram-no, mas fingirem tornar-se inimigos foi a forma que os mecanismos inteligentes encontraram para fazer com que o rapaz largasse o que sempre conheceu e fosse à sua vida; até ao mergulho num mundo ficcional onde pululam influencers, há piratas espaciais e uma figura tutelar, apelidada mãe, que parece viver no interior de um enorme dragão espacial. Tudo contado num estilo manga muito formal, dentro da norma estética do género. 

Nada como os japoneses para tirarem partido do mais puro nonsense no entretenimento mais simples.

domingo, 20 de abril de 2025

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The cover art for the 1992 techno EP “Machine Language” by Dynamix II: Realidades virtuais.

Classic Horror Books: Sugestões que são verdadeiramente intemporais. Esperem os suspeitos do costume, entre Stoker, James e King.

Vintage Science Fiction Novels That Deserve More Readers, by Clifford D. Simak and More: Um dos pormenores interessantes da FC enquanto género está na forma como cultiva a sua memória, não deixando cair no esquecimento os seus autores clássicos.

Port of Earth – Zack Kaplan, Andrea Mutti, Vladimir Popov e Jordan Boyo: Recordo com algum agrado esta leitura, uma FC positiva e algo ingénua, óbvia metáfora para as desconfianças nas relações entre grupos.

Five East Asian Classic Books Worth Reading, recommended by Tuva Kahrs: A literatura clássica da ásia, em destaque no Five Books.

The Unpredicted: Ah, sim, a clássica diatribe de "ah, mas a ficção científica foi incapaz de prever". Pois claro. A FC como análise tecnológica oracular é uma explicação simplista, em que só os mais leigos caem, para explicar o potencial do género. Reduzir uma ficção que nos faz sonhar e atrever a imaginar horizontes distantes, refletir sobre os impactos sociais da ciência e tecnologia nas nossas vidas e sociedades, a um mero papel de previsão oracular é uma interpretação de uma pobreza intelectual profunda.

Fictional Computers: EMERAC was the Chatbot of 1957: Confesso que não estava à espera de descobrir que Katherine Hepburn tinha contracenado com um computador.

Uma breve interrupção: Nota para o lançamento de uma antologia comemorativa do trabalho editorial da Divergência, com doze contos de autores portugueses ligados ao Fantástico, a celebrar doze anos de atividade editorial.

The Best Isaac Asimov Books, recommended by Alec Nevala-Lee: Das séries mais clássicas aos seus livros de divulgação científica.

Divagações Pseudo-Críticas de um Cérebro Seriamente Comprometido pelo Calor: De facto, há uma relação íntima entre climas frios e a estética goticista. O sombrio pesar na alma não se coaduna com paisagens solarengas e verdejantes, precisa do cinzento dos céus.

Mickey 17 Is Sad, Strange, and So Much Fun: Estou muito curioso com este filme. É sempre bem vindo encontrar visões de FC no cinema que não se resumam aos filmes de ação.

Novidade: Projeto Hail Mary: Malta da tradução editorial - sabem que por cá temos uma expressão que significa o mesmo que hail mary, até mesmo no seu significado de luz ao fundo do desespero? 

Flow: uma fábula que não deriva: Análise ao filme de animação europeu que foi oscarizado, com o gostinho adicional de ter sido criado em Blender, o melhor (mas também complexo) que o mundo open source tem para oferecer.

Battleship Yamato 50th Anniversary Exhibition in March 2025: Nau de combate espacial.

Masters of None: The Flawed Logic of One-Size-Fits-All Education: Não é um assunto que se preste a visões simplistas. Uma educação altamente personalizada esbarra com a barreira dos recursos. E as soluções tecnológicas são, essencialmente, variações sobre a exposição dos alunos a conteúdos enlatados.

Claude 3.7 ha devuelto a la vida un viejo programa de 1997. La pregunta es si la IA podrá traducir viejos proyectos en COBOL o FORTRAN: Usar as capacidades dos LLM para simplificar o portar de programas de linguagens antigas para as modernas.

Power Cut: Zitron é exímio como poucos a desmontar as contradições daqueles que nos querem vender a IA generativa com uma revolução única na história humana: "In plain English, Microsoft, which arguably has more data than anybody else about the health of the generative AI industry and its potential for growth, has decided that it needs to dramatically slow down its expansion. Expansion which, to hammer the point home, is absolutely necessary for generative AI to continue evolving and expanding."

Skype got shouted down by Teams. But it gave us free telephony: Pobres utilizadores desta rede praticamente esquecida, vão ter de levar com essa epítome de horror informático que é o Teams da Microsoft. Jonh Naughton recorda a história deste serviço, que quando surgiu foi revolucionário pela forma como usou a internet para as comunicações de voz, anteriormente uma coutada exclusiva das operadoras de telecomunicações.

Russia Is ‘Grooming’ Global AI Models to Cite Propaganda Sources: Faz todo o sentido. Porque os russos perceberam, tal como qualquer pessoa com mais do que dois neurónios, que a esmagadora maioria dos utilizadores da internet sofre de quase total preguiça cognitiva. Ler, pesquisar, cruzar informação é um esforço intelectual demasiado alto, especialmente nestes dias em que se pode perguntar a um chatbot de IA, e ele pensa por nós. Uma excelente manobra de propaganda, feita por quem sabe que mais vale enviesar os modelos de IA, porque são esses que vão "informar" a esmagadora maioria das pessoas.

The Combined Cipher Machine: Um mimo para os amantes de computação e criptografia - a descrição detalhada de uma máquina que permitia unir códigos criptográficos ingleses e americanos na II Guerra.

LA Times to display AI-generated political rating on opinion pieces: O que é que poderá correr mal com isto? Bem, na verdade a decisão do dono deste jornal é apenas uma variante mais suave da ordem de Bezos a definir o que se pode escrever no jornal de que é dono. A ideia é cortar o efeito de visões e opiniões progressistas com falsas notícias e enviesamentos.

RSS: el formato que nunca dejó de existir, revive como «vintage» en la era de la infoxicación: Mais do que nunca, neste panorama mediático saturado de algoritmos de recomendação que funcionam sob pressupostos pouco claros, que o RSS é a melhor alternativa para quem quer estar bem informado. Dá trabalho de coligir e criar uma teia rica de feeds, mas compensa, e muito.

Old Chromebooks Get Second Life as Video Wall: O problema dos Chromebooks é que ao envelhecer, tornam-se verdadeiros pisa papeis. Este projeto mostra, de forma criativa, como dar uma segunda vida ao hardware.


The Preying Streets: Há décadas, estas capas representavam o perigo das mulheres fatais. Hoje, o significado da iconografia inverteu-se, os predadores serão certamente os homens.

The Initial Aerial Victories of the Axis and Allies in World War II: Apesar da enorme desvantagem numérica e tecnológica, os pilotos polacos foram capazes de dificultar a vida às armadas aéreas nazis.

How Art Deco Shaped 100 Years of Forward-Thinking Design: Uma estética que se associa a uma certa visão futurista, influência da modernidade trazida pela tecnologia nos primeiros anos do século XX. Não é por acaso que as iconografias retrofuturistas ao estilo Gernsback Continuum se inspiram muito nos estilismos Art Deco.

US Air Force Ushers in a New Era by Assigning Fighter Designations to YFQ-42A and YFQ-44A Combat Drones for First Time: É um pormenor burocrático, mas interessante, apontando para que as capacidades destas aeronaves não tripuladas sejam mais operacionais do que experimentais.

How This Medieval Master Sparked the Renaissance: Recordar Cimabue, um dos pintores proto-renascentistas que fez a ponte entre as estéticas medievas e os novos horizontes artísticos que vieram a surgir.

Volkswagen ya tiene listo su primer coche eléctrico de 20.000 euros. El resto de su coste lo vas a pagar con incomodidade: Apesar de não parecer, estamos ainda nos primeiros tempos desta tecnologia, e o desenvolvimento de veículos capazes e acessíveis ainda está um pouco distante.

El Banco Central Europeo lleva cinco años peleando por crear literalmente un "Bizum europeo". Ahora ha dado un paso clave: Passos para a interconexão das redes de pagamento digital ao nível europeu, interligando os serviços locais e reduzindo a dependências das americanas Visa e Mastercard.

Russia Is Losing the War of Attrition: Não parece, dado o momento negro nas relações internacionais lançado pelas atitudes inenarráveis da administração Trump e da sua suspensão do apoio aos ucranianos, com o correspondente frenesi de estupefação europeia. Mas a realidade do terreno é mais complexa, e os dados mostram que o suposto poderio russo está a sofrer um tremendo desgaste nos campos sangrentos da Ucrânia.

Russia Is Not Winning: Ninguém ganha com esta guerra.

Here Are Some Images the Pentagon Thought Were Too ‘Woke’ for You to See: Já percebemos que a administração Trump está a ter o condão de dar ordem de soltura a todos os trolls, rebarbados e ultraconservadores tão bafientos que têm bolor. Em suma, aqueles que gostam de ditar a vida alheia e reclamam o direito a ser mal educados em nome da liberdade. E ainda nos dá absurdos fait divers destes, como a censura de imagens do Enola Gay em sites oficiais, porque o governo trompista não vai em paneleirices. Tal como cultura básica, que é coisa que não lhes assiste.

Los japoneses están dejando de consumir pornografía en papel. Y eso ha tenido un efecto directo en sus calles: Só no Japão é que há caixotes do lixo especiais para material pornográfico impresso. Não pelo eventual risco sanitário daquilo estar peganhento pelo uso dado pelos leitores, mas como forma de proteger o espírito dos jovens, evitando que se deparem com estes conteúdos no lixo normal (e eu confesso, sou dos tempos em que as bancas de jornais lisboetas exibiam orgulhosamente a lendária revista Gina ao lado das Superaventuras Marvel e dos jornais do dia, ou seja, essa iconografia faz parte da minha educação sexual). Nestes dias em que a pornografia se digitalizou, estas publicações estão praticamente extintas, e com isso a necessidade social de ter caixotes especiais.

You Will Never in a Million Years Be Able to Guess What A "Dinosaur Erection Specialist" Actually Does For Work: Obviamente, monta esqueletos de dinossauros para exposição. Estavam a pensar no quê, ó mentes deliciosamente perversas que espero que tendes?

Quando o “Cabo de São Vicente” foi afundado pelos alemães: Uma história intrigante da II Guerra, o afundamento de uma traineira portuguesa por bombardeiros alemães, pelas suspeitas de que a embarcação estaria a espiar para os aliados.

Scientists Just Scanned Pale Rocks on Mars That May Have Huge Implications: Indícios de água no passado marciano.