domingo, 21 de dezembro de 2025

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Ian Miller, 1972: Fronteiras.

Novidade: Wicked – Gregory Maguire: Apesar de acima de tudo, pensar que o importante é que cada um leia o que goste e lhe apeteça, fico algo preocupado com estas tendências culturais. Isto significa o remexer de uma propriedade intelectual centenária, que tem o seu valor de época, mas voltar a pegar nela para recontar as histórias é do meu ponto de vista um grau cultural zero, mas muito agradável aos comités de executivos que procuram o lucro mais fácil nas indústrias culturais. 

Can “The Simpsons” really predict the future?: Gostamos imenso de ver padrões onde eles não existem, apesar da forma como esta série tem, aparentemente, sido capaz de predizer eventos. A resposta nesta entrevista é o "educated guess", ou seja, já à época a tendência era visível. 

Bugonia is a galaxy brained masterpiece: Capturar a bizarria dos tempos modernos. 

The Movies That Capture Women’s Deepest Fears: O cinema, e a mulher, a tentar mostrar que pode ir para lá de elemento decorativo ou de titilação masculina. Quanto a The Shining, o senhor King que me perdoe, mas o recontar da sua história por Kubrick é uma obra magistral. 

Astérix na Lusitânia: Suspeito que vou ser como os gauleses da aldeia - o único reduto que não vai ler o novo livro. Porque, confesso, tenho traumas que vêm da infância, do não me deixarem ler outras BDs porque o Asterix é que era educativo, e mais tarde, quando professor de artes, lidar com tantos e tantos colegas (de línguas e artes) que torciam o nariz à BD, exceto o... pois, adivinharam, porque era educativo e por isso podia-se tolerar nas mãos das crianças. 

Recomendações de livros para ler em novembro: Autores novos e clássicos, nestas sugestões de horror. 

Reading Foundation in the Release Order: Apesar de todo o histórico de elogio, é de notar que a série clássica de Asimov não está a envelhecer bem. 

El día en que 'Los Simpson' se codearon con 'Toy Story': el mítico episodio que cambió la historia de la televisión: O que hoje nos parece trivial, foi de vanguarda e um feito tecnológico na sua época. 

What to read this weekend: A deep dive into humankind's search for alien life: Leituras que nos levam a refletir com a nossa obsessão com a eventualidade de vida alienígena. 

Dear Writers, If You Use AI To ‘Fix’ Your Writing, You Are An Ass: Deveras. A menos que estejam empenhados em produzir conteúdo para consumo rápido e inconsequente, nesse caso, a IA até fará melhor do que vós. 

Assim foi: Fórum Fantástico 2025: Recordar o FF2025, sabendo que se a vida são dois dias, o Fórum são três. 

YOU DREAMED OF EMPIRES, Álvaro Enrigue: Tenho estado a ler este livro, desconcertante, e realmente tem uma das prosas mais acutilantes que li nos últimos tempos. Também não tem pejos, não há heróis nem vítimas, todos são opressores neste recontar da conquista espanhola do México. 


Art by Jim Steranko, “Captain America” #113: Pop comics.

Una comparación visual de modelos generativos de imágenes ante «instrucciones complicadas»: Testes que nos ajudam a selecionar ferramentas de acordo com os nossos objetivos. 

The Validation Machines: O empobrecimento cultural trazido pela algoritmia das redes sociais. 

Ya tenemos certificado de defunción definitivo de los NFTs: los que perdieron millones lo están contando en internet: Há uma patetice especial em rir-se de ter enterrado dinheiro em coisas inúteis, mas diga-se, sempre houve uma estupidez especial no mercado dos NFTs. Quanto mais leio sobre isto, mais forte a sensação que fico que as possibilidades técnicas e sociais trazidas pelos NFT foram arrasadas pela mais básica ganância. 

Desmontar una baliza V16 y quedarte con su SIM "gratuita" durante 12 años suena muy bien. Tiene un pequeño problema: Aquela chico-espertice típica, quer nossa quer doutros países. Se os sinalizadores de emergência dos carros têm um simcard com conectividade garantida, porque não dar-lhe a volta para ter internet grátis no telemóvel? E é aqui que a chico-espertice esbarra no muro da engenharia cuidada. 

Why We’re Having Difficulty Understanding AI: A dar que pensar. A visão cognitivista, que coloca a inteligência como algo quase exclusivamente humano, entra em conflito com outras formas, como o clássico behaviourismo, que olham para os comportamentos como algo mecanicista e moldável. Algo que está na base conceptual do desenvolvimento da IA: "AI does not copy human intelligence, cognition, or whatever you want to call it. What is being copied are the processes from which it emerges. Like human intelligence, AI is shaped by its environment—the difference is that it is not constrained by biological limitations. Conceptually, understanding AI might not be difficult, but it implies questioning our beliefs about the ‘mind’: this is the hard part." 

Algo grande se avecina en el dinero europeo. El BCE ha puesto fecha a un paso clave hacia el euro digital: Um projeto interessante, que talvez nos beneficie a todos. 

This AI-Generated Sitcom Is Actually Unsettling to Watch: A IA é excelente para o bizarro e incomum, mas anda tudo a esforçar-se para obter dela o básico e banal. 

El extraño encanto de los «atractores extraños»: caos convertido en arte: Brincadeiras com matemática e teoria do caos. 

La contraseña de algunos servidores del Louvre era «LOUVRE». Ahora todo encaja: Suspeito que se fossem feitas auditorias a outras instituições... na verdade, é simples. A cibersegurança requer investimento contínuo, e as gestões de instituições não gostam muito deste tipo de gastos recorrentes. 

The Future of Advertising Is AI Generated Ads That Are Directly Personalized to You: Porque o inferno da publicidade online não poderia ficar pior, eis o cruzamento entre IA generativa e perfilagem algorítmica - conteúdos publicitários gerados individualmente de acordo com o perfil do utilizador. 

A Prophetic Poem about Artificial Intelligence Written in 1961: Esta, é intrigante. Apesar de não ser assim tão estranho quando isso que nos anos 60 se escrevessem poemas sobre máquinas pensantes e suas possíveis consequências. Nos anos 50, a ficção científica já falava disso. 

Los artistas ya cobraban una miseria en Spotify. El colmo: acusan a la plataforma de permitir bots que se llevan sus royalties: Um vislumbre sobre o método de gestão de pagamentos de direitos de autor do Spotify. Pista: é ainda pior do que imaginam, e dá azo ao uso de bots para inflacionar métricas (ou isso, ou há alguém muito masoquista a ouvir drake 24 horas por dia...). 

Todos los rovers de Marte, incluido el que la historia olvidó, y cómo cambiaron nuestra visión del planeta rojo: Recordar a história dos rovers marcianos. 

O golpe de Estado da tecnologia autoritária: A aliança diabólica entre bilionários e a extrema direita. 

La propuesta radical de Portugal para frenar la turistificación: un cable submarino que se conecta con EEUU: Daquelas notícias sobre o nosso país que não se discute nos telejornais e infindos programas de comentariado televisivo - os planos para reconverter o porto de Sines, tornando-o um hub europeu à escala global, bem como o investimento em pontos de acesso de cabos submarinos (faz sentido, dada a nossa posição estratégicas) e data centers. O artigo, no entanto, é claro, se a infraestrutura que liga Sines ao resto da europa não for melhorada (ou seja, investimento ferroviário), de nada servirão estes investimentos. 


Lesbos Jungle: Cenas pulp.

Airbus Signs MoU with Portuguese Industries Ahead of Eurofighter Proposal: Confesso que não esperava polémicas ou novidades empolgantes na escolha de equipamentos militares em Portugal, mas a reforma dos F-16 está a trazer surpresas. E diga-se que apesar do F-35 ser a aposta mais moderna, os seus custos operacionais (e as problemáticas das aeronaves) poderão revelar-se proibitivas para o nosso nível. Note-se, também, que países como Espanha e Alemanha estão a rejeitar os F-35 enquanto reforçam os Eurofighter e projetam o desenvolvimento de aeronaves de sexta geração. Que, francamente, é o que faz sentido. Precisamos de capacidade industrial europeia avançada, e isso não se consegue a comprar aviões caríssimos a um aliado americano cujos governos progressivamente autoritários estão a deixar muito claro que não são de confiança. 

Madrid y Lisboa estarán unidas por el AVE. Solo llegará (si llega) 24 años tarde: Esta é uma leitura de ridículo deprimente. A inexistência de sequer básicas ligações ferroviárias entre Lisboa e Madrid é patética, e um anacronismo numa União Europeia que procura reforçar esta infraestrutura para diminuir a saturação nos céus, porque se se pode ir de comboio, porquê ir de avião? Mas estamos em Portugal. Na via férrea de alta velocidade, tal como no futuro aeroporto de Lisboa, discute-se imenso, e investe-se em estudos, análises e avaliações. No entanto, há décadas que estas infraestruturas estão por construir. 

Ridiculousness Canceled After 14 Years/46 Seasons Amid MTV Changes: E chega ao fim uma das maiores patetices televisivas, o programa que capitalizava nos vídeos amadores a documentar acidentes bizarros, apresentado por pessoas adultas mas claramente enclausuradas numa interminável adolescência anacrónica. Há pior, claro, o embrutecimento mental e cultural dos reality shows é uma boa amostra de como se pode cair ainda mais fundo em termos de cultura generalista. 

Comer frente a una pantalla no es una manía moderna: es el nuevo ritual social: Confesso. Sou daqueles que quando come sozinho num restaurante, deixo o telemóvel de lado, e até mesmo o livro. Como a olhar para a comida, como um sociopata contemporâneo. 

NASA Issues Horrified Response to Kim Kardashian: Ah, então o truque para se ser convidado a ver in situ os lançamentos da NASA é espalhar tweets com teorias da conspiração e informação falsa? Ajuda se se for um ator empenhado nas indústrias de lixo cultural. 

‘These Horrible Objects Are Illegal’: French Authorities Discover Alleged Child Sex Dolls on Shein: O empreendorismo capitalista encontra sempre forma de capitalizar nos vícios, taras e manias. Mesmo que sejam perigosas e ilegais. 

Five Moments in the History of Chinese Cybernetics: Uma leitura interessante - como a cibernética de Wiener influenciou o planeamento tecnológico e económico chinês, cujos resultados são evidentes. 

US Army Tells Soldiers to Go to German Food Bank, Then Deletes It: É tão patético ver o país mais poderoso do mundo paralisado por quezílias políticas, e a chegar ao ponto em que têm de ser outros países a alimentar os seus soldados, bem como a pagar os ordenados aos trabalhadores civis das bases militares. Por cá, nos Açores, o mesmo está a acontecer. 

sexta-feira, 19 de dezembro de 2025

Salta Pocinhas

 


Aqui há dias abro o meu email e deparo-me com esta prenda - uma aluna que se afincou a usar a IA para me retratar na aula. Aluna de dez anos, note-se. Fartei-me de rir com as piadas que a imagem tem (logo a começar pelo meu ar sóbrio e responsável, a anos luz da minha barba hirsuta e t-shirt geek debaixo do casaco, mas isso é o primeiro sintoma óbvio dos enviesamentos da IA generativa). Tenho de as explicar. Não, a aluna não se enganou, o professor está mesmo a segurar uma raposinha ao colo em vez da expectável cadela.

Não é uma raposa qualquer, é uma Salta-Pocinhas, referência ao trabalho com que finalizámos o primeiro período, sobre o elementar do processamento de texto tendo como texto base alguns excertos da obra clássica de Aquilino Ribeiro, que são um gosto de ler em voz alta às turmas (podem não aprender muito comigo, mas pelo menos sabem porque é que são fagueiros). O martelo com cara de gato é a outra piada.

Sou aquele professor horrível que nas aulas os obriga a guardar o rato na mochila e usar o trackpad, porque se não o fizer não aprendem a usar este componente e arriscam-se a crescer e ficar como aqueles adultos que vejo a torcer os pulsos com o rato em cima do chassis do computador, dizendo que não lhes dá jeito usar o trackpad e o rato é mais confortável (não é alucinação, é algo que vejo recorrente com estes olhos que a terra há de comer). Uma das consequências da minha horribilidade é o ar de surpresa generalizada quando descobrem o deslizamento nas páginas com dois dedos ou os toques para menu de contexto, geralmente acompanhados de um coro de "não sabia que se podia fazer isto". Para os assustar, aviso-os que qualquer rato que veja na sala irá conhecer o meu gato - um esmagador martelo com olhinhos.

Só não percebi a origem das luvas. Mistérios dos algoritmos.

Percebi que a miúda se esforçou imenso para conseguir a imagem que queria, com todos os alunos com o seu computador. Variantes anteriores da imagem, que me mostrou, representavam a aula com o professor a falar e os alunos a contemplar cadernos. O aspecto geral da sala vem de algo que ela ainda não conhece, mas já lida no dia a dia, o viés algorítmico e a forma como os outputs destas ferramentas perpetuam estereótipos aprendidos no treino. Afianço-vos, no entanto, que não dou aulas em estrados, o que é uma felicidade, senão estaria constantemente a meter atestados médicos por acidente em serviço.

The street finds a way, recordo muitas vezes a frase de William Gibson sobre a forma não linear como as pessoas se apropriam de tecnologias. Fico sempre a matutar nisso quando vejo os meus alunos a usar geradores de IA para explorar as suas ideias, pela relativa facilidade com que inventam o inesperado. Até me conseguem transformar num professor de aspeto responsável e cenas. 

quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

Arcas Encoiradas


Aquilino Ribeiro (1962). Arcas Encoiradas. Lisboa: Bertrand.

É um prazer, mergulhar na prosa rendilhada de Aquilino. A leitura é um desafio, este autor conhecia a língua como poucos e não tinha medo de se atrever a levá-la aos extremos. Este livro não é um romance, mas sim uma coletânea de textos à moda de crónicas. Soa estranho, ler e apreciar crónicas escritas no passado, a refletir sobre temas e problemas há muito esquecidas, mas estas não são crónicas de costumes ou feitos que só fazem sentido no seu momento contemporâneo.

Aquilino olha para o país profundo e antigo, analisando primeiro a rica tradição de arquitetura megalítica de uma forma que não comento. O seu saber literato estava em óbvio conflito com os estudos arqueológicos, mas não deixa de ser interessante ler a ligação que faz entre os povos de antanho com os habitantes serranos que tão bem conhecia. 

Passa daí a olhares sobre o interior português, descrevendo a riqueza cultural e de vivências das beiras e minho. Olha para as cidades e vilas, nalguns casos com elogio cultural, caso de Viseu com o seu museu hoje dedicado a Grão Vasco, noutras, temperando com as suas memórias de juventude, caso de Lamego, onde entretece recordações do seu tempo de estudante com a cidade dos seus tempos. As terras, as gentes, as paisagens duras e belas, os modos de vida e um elogio saudável ao "vom binho berde" (e como o compreendo!) ficam registadas nestas crónicas de um tempo, e de um país, que já não existe. Embora seja interessante perceber, pelas minhas próprias experiências de boa hospitlidade, melhor comida, gentes simpáticas e serranias de perder o fôlego entre o verdejante da floresta e o cinzento das penedias, que se evoluímos e mudámos, há algo no carácter que se mantém, perene. Um modo de estar e viver que Aquilino intuiu vir já desde os tempos em que erigíamos antas nos ermos e serranias.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2025

carne.exe

 

Ainda a refletir no impacto sensorial e emocional de carne.exe, a performance onde um ator interage em palco com algoritmos de inteligência artificial generativa treinados pelos criadores. Não é um mero artifício estilístico, a forma como antropomorfizamos e criamos relações emocionais com o que grosso modo são algoritmos probabilisticos está no cerne desta performance. Deixa-nos a pensar sobre humanismo, biohacking, relações humanas mediadas por tecnologia, traumas, solidão, dor e memória, a facilidade com que atribuímos emoções ao artificial. A performance é uma experiência espantosa. O algoritmo generativo visual gera imagens animadas a partir da interacção com o ator. O trabalho de Albano Jerónimo é de um tocante diálogo emocional. Os diálogos incorporam um lllm. Isto significa que a cada nova exibição, a performance será sempre diferente (é natural, sendo generativa). Esse é um pormenor humanista, recordando que no teatro mais puro, nunca há duas representações exatamente iguais,  e trazendo IA generativa para isto quebra a exactidão de reprodução a que o digital nos habituou.  



Assisti à primeira de três sessões esgotadas no CAM, mas já corre que provavelmente  esta performance se irá repetir. Se sim, recomendo que não percam esta experiência de IA generativa artística. Os ZABRA  estão a marcar por cá a vanguarda experimental de interseção entre arte e tecnologia, com projetos estimulantes, desafiantes e belos. Esta performance pioneira (divulgada em muitos média com um redutor "o ator Albano Jerónimo contracena com um computador") representa bem o caminho inovador deste grupo de jovens artistas. 



Não resisto ao pormenor: aqueles sapatos são incríveis, terão tido origem em design generativo aplicado à impressão 3D? 

terça-feira, 16 de dezembro de 2025

Grichka e o seu urso


René Guillot (1959). Grichka e o seu urso. Lisboa: Empresa Nacional de Publicidade. 

Um mergulho numa literatura infantil de outros tempos, onde o fascínio pela vida selvagem nos confins da civilização era a norma. Esta série leva-nos às tribos da longínqua Sibéria, e às aventuras na taiga de um jovem nativo. Rapaz inquiento e aventureiro, desafia a tribo e vive num pleno contacto com a natureza que o rodeia, com breves vislumbres de um mundo exterior mais alargado trazidos por um mercador chinês que se atreve a desbravar as lonjuras nortenhas para assegurar acesso às melgores peles.

Nesta aventura, o jovem siberiano dá por si o guardião de um pequeno urso, que é acolhido pela tribo em honra da sua tradição anual de sacrificar um destes animais como ritual que assegura abundância. Mas o urso é um companheiro para o jovem, que irá encontrar forma de desafiar a sociedade onde vive, para o conseguir salvar.

Uma aventura que nos leva a outros tempos, com o exotismo selvagem das zona esquecidas nos mapas. O livro é ilustrado com imagens numa deliciosa estética típica dos anos 50.

domingo, 14 de dezembro de 2025

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Death Shall Overcome, 1974: Há dias assim, quem nunca? 

Axe murder and Montreal erotica titles vie for the Oddest Book Title of the Year: Confesso, desconhecia este galardão, e de facto, nada como um bom título para despertar a atenção do leitor. Garante a primeira impressão. 

Quadrinhos na Amadora: Também sinto na carteira uma dor semelhante à do João (e não tens o Fólio a caminho da família para estragar ainda mais). Reservo a minha opinião sobre o novo Asterix - é um trauma meu, faço parte da geração que cresceu a ouvir que o tio patinhas estupidificava e a única BD aceitável era o Asterix porque assim aprendia sobre o Império Romano, e ainda hoje trabalho em escolas onde os volumes carcomidos da velha série são elogiados por professores bibliotecários enquanto lhes passa ao lado que os miúdos gostam é de ler mangá, ou melhor, não passa, mas torcem o nariz. Parte deles são os mesmos miúdos que são arrastados por professores ao Amadora BD em visita de estudo, na esperança que um passeio entre Will Eisner ou Luís Louro lhes abra os horizontes de cultura visual (suspeito que para os rapazes, olhar para vinhetas de Luís Louro lhes abra muitas visões eróticas que não poderão expressar em público). O ABD é sempre igual a si mesmo, aquele misto entre a procura de uma certa relevância cultural através do celebrar personagens clássicos mas cuja base de fãs começa a envelhecer, e o mostruário das editoras. A notável exceção é apenas aquele género que faz as delícias dos novos leitores, mas na tentativa de se atualizar, o ABD introduziu uma gaming zone, que é algo que faz zero sentido ali, mas aposto que dá para os professores fartos de aturar adolescentes entediados na visita uns bons momentos de descanso e café. A relevância cultural nunca vai ter, apesar de se ter tornado uma instituição, dada a implacabilidade do mainstream cultural português com formas de expressão que consideram menores - note-se que o Folio dedicou uma das maiores galerias de Óbidos a uma exposição sobre ilustradores portugueses que era só composta por retratos desses ilustradores (sim, só isso), enquanto relegou uma excelente exposição de BD curada por Pedro Moura para a cave de um espaço museológico secundário em que poucos reparam. É por isto, João, que suspeito que para a editora portuguesa do Asterix faça mais sentido levar os seus autores ao El Corte Inglês do que à Amadora. 

The scariest sci-fi horror movies for Halloween, chosen by an expert: Quem é que disse que no espaço, ninguém consegue ouvir os nossos gritos? Ah, conseguem, conseguem, precisa-se é das condições certas. 

Francis Ford Coppola Lost So Many Millions On Megalopolis That He’s Paying With A Lifelong Collection: Vão-se os relógios, mas fica um filme que poderá não ter tido sucesso e não ser perfeito, mas, pessoalmente, gostei. 

“Metaviolence” questiona o futuro da humanidade e das máquinas num espetáculo imersivo imperdível em Lisboa (e é já este fim de semana): Estou muito curioso com esta peça dos Zabra, cujo trabalho tenho acompanhado com imenso interesse. 

The Best Military Sci Fi Books, recommended by A.D. Sui: Confesso, é um dos meus prazeres culposos, pelo misto de aventura pura e space opera. Mas é um sub-género problemático dentro da FC. 

Mark Caller, 1989: Frankenstein cósmico. 

Pluralistic: Checking in on the state of Amazon's chickenized reverse-centaurs: Traduzindo - a prática, cada vez mais prevalente, entre as empresas, de gerir os trabalhadores a partir de otimizações algorítmicas que não levam em conta as reais condições no terreno, ou sequer as necessidades humanas mais elementares (como, por exemplo, penalizar trabalhadores pelo tempo que dispendem indo á casa de banho). Umn modelo de gestão desumano, que a IA vem agravar. 

My Students Use AI. So What?: É raro encontrar uma visão tão lúcida e equilibrada sobre a influência da tecnologia nos jovens. Desmonta o mito de que antigamente é que era bom, mostra que as patetices online têm um papel a desempenhar (e, antes do mundo online, digam lá se tudo o que viam, ouviam e liam era erudito?), embora não negue que o uso extremo destes meios seja prejudicial. 

You’re Getting ‘Screen Time’ Wrong: O tempo de ecrã tornou-se aquela métrica moralista para apontar o dedo, mas na verdade não conseguimos funcionar em sociedade sem ele. E, como Bogost mostra, estes problemas geralmente resolvem-se de forma social, com a evolução dos hábitos e costumes: "What to do, then, about screen time? The fact is, you cannot participate fully in contemporary life without devoting a substantial amount of time to the screen. Even if you try to pare back your screen time to some bare minimum for engagement with the world today, whatever quantity remains will still be chaotic and attention-shattering by nature. You might rationally take steps to protect your children from that situation while their identity (and brain) is still forming, but those efforts will only delay the inevitable. Every kid will be thrust into the frenzy of screen life at some point during their adolescence, or else they will fail to enter contemporary adulthood. Screen time is a systemic issue, so an individual response—your screen-time monitoring, your screen-time mitigation—will likely be of little use. Past experience suggests that this problem will resolve itself at historical scale instead. After all, in the early days of literacy, reading—now perhaps the paradigmatic example of a non-screen-time activity—was considered ominous; people reading silently to themselves might have seemed demented. Even in the 19th century, the novel was considered a dangerous medium, one that would trap people—especially impressionable young women—in the thrall of isolation and fantasy. (Today, a couple of centuries later, people instead complain that young adults no longer have the attention span for isolationist fantasy.)

Instagram and Facebook are breaking the EU’s illegal content rules: Para surpresa de ninguém, e vão continuar a fazê-lo, especialmente porque a Meta se sente com as costas quentes com as práticas e políticas trompistas. 

What if Tinkercad was Self-Hosted?: Não é muito popular entre o nosso mundo educativo, estamos rendidos às apps e plataformas, mas faz sentido prestar atenção às alternativas offline a ferramentas com enorme potencial educativo como os modeladores 3d por primitivos. 

Walkmans: Essencialmente, é isto: "If you think I’ve gotten old enough to turn tech-conservative, ask yourself if you really want ads streamed to your fridge door or clock, and remind yourself that when you outsource your doorbell and your bed to tech companies, Amazon Web Services might go down and kill your doorbell and brick your fucking bed, as happened last week. Draw a line somewhere. 2025: a server outage lobotomised your smart bed. That is the Science Fiction Condition, and not the happy one.

Guillermo del Toro on Using AI: “I’d Rather Die”: Confesso que fico um bocado desconfiado destes pronunciamentos absolutistas, dado que os artistas de VFX já identificaram a IA generativa como mais uma ferramenta ao serviço da sua criatividade. 

Could the internet go offline? Inside the fragile system holding the modern world together: Apesar das fragilidades que de volta e meia se evidenciam, como quando caem datacenters, a verdade é que a estrutura em rede torna a internet muito difícil de eliminar por completo. 

AI “Phone Farm” Startup Gets Funding from Marc Andreessen to Flood Social Media With Spam: É que já nem se dão ao trabalho de disfarçar.  A próxima fronteira de enriquecimento fácil é o embrutecimento (ainda maior) das redes sociais com lixo artificialmente gerado, e claramente as empresas de capital de investimento estão a olhar para um tipo de negócio que associamos normalmente ao spam. 

The Surveillance Empire That Tracked World Leaders, a Vatican Enemy, and Maybe You: É uma leitura longa, mas vale a pena. A investigação analisa o modelo de negócio de uma empresa de vigilância digital que tem conseguido, até agora, passar por debaixo do radar, mas cuja tecnologia (que explora de forma inteligente as bases das redes celurares) tem sido usada para toda a sorte de abusos de direitos pessoais, sociais e humanos. 

Pluralistic: Shake Shack wants you to shit yourself to death (27 Oct 2025): Ou, como encontrar dark patterns que obriguem os clientes a evitar os balcões tradicionais para usar aplicações, cujos termos de serviço incluem cláusulas que libertam as empresas de quaisquer responsabilidades sempre que o que produzem provoca danos de saúde aos clientes. 

In Praise Of Useless Robots: A beleza da robótica inútil, ou recordar que os robots que construímos são mais do que meros mecanismos, exprimem anelos e anseios muito humanos. 

An AI adoption riddle: Uma bolha crescente, tecnologias que prometem mais do que possibilitam, e mesmo assim o investimento é forte. 

Meta denies torrenting porn to train AI, says downloads were for “personal use”: Claro, claro que sim, ora agora, ia-se lá treinar uma IA em pornografia? 

Pluralistic: When AI prophecy fails (29 Oct 2025): Podemos partilhar, deslumbrados, aqueles estudos que falam do impacto na IA no setor laboral, na ilusão de um futuro pós-trabalho. Ou então, podemos perceber o que é que está realmente a acontecer: "All this can feel improbable. Would bosses really fire workers on the promise of eventual AI replacements, leaving themselves with big bills for AI and falling revenues as the absence of those workers is felt? The answer is a resounding yes. The AI industry has done such a good job of convincing bosses that AI can do their workers' jobs that each boss for whom AI fails assumes that they've done something wrong. This is a familiar dynamic in con-jobs.

Hoy está de cumpleaños Internet: Recordar que a 29 de outubro de 1969 se fez a primeira ligação entre computadores, que viria a evoluir para a internet de hoje. 

Artwork used to illustrate passages from the Book of Revelation: Bizarrias religiosas. É Basil Wolverton, pois claro.

Un cartel en la Universidad de Granada destapa uno de los grandes problemas de la generación Z: los "padres helicóptero": É algo que nós na educação básica já há muito temos que lidar - os pais completamente idiotas, que se intrometem em todos os momentos do processo educativo, sempre a exigir que seja feita a sua vontade. Saber colocá-los no seu devido lugar é uma arte, e nem todos o conseguem fazer. Para além da parvoíce das exigências (alguns chegam a querer interferir nas aulas para que não sejam difíceis para os seus querubins), o que isto na prática gera são crianças sem autonomia, que dependem dos pais para tudo. Quando estes patetas começaram a afirmar as suas vozes irritantes nas escolas básicas, uma piada recorrente entre professores era "ah, e depois, quando os filhos chegarem à universidade ou ao emprego, será que estes papás também vão reclamar com os professores universitários ou com os patrões"? A resposta, é sim, fazem isso. 

The U.S. Is Preparing for War in Venezuela: Não morro de amores por Maduro, é um ditador que herdou a herança do caudilhismo chavista. Claro que, apesar dos prémios nobel atribuídos a líderes oposicionistas que os agradecem a um proto-ditador, a grande razão para o chavismo liderar no país tem mais a ver com a redistribuição de riqueza no país, que apesar de diluída por Maduro, está nas mãos do país e não nas das elites e multinacionais do petróleo. E é por isto que a administração Trump, a violar todas as leis internacionais, está claramente a preparar uma intervenção militar numa zona do mundo que consideram o seu quintal. Sabemos que contra o poderio militar americano as hipóteses em guerra convencional serão nulas, mas espero que os venezuelanos consigam usar os equipamentos militares de que dispõem para, pelo menos, fazer mossa. 

Swipe, borboletas, burnout — Notas para pensar o dating moderno: Espera, o Sh/fter a dar conselhos românticos? Nem tanto, é apenas a expressão sociológica das culturas de romantismo contemporâneas, num mundo urbano e mediado por apps. 

Why America Doesn’t Care About Trump’s Graft: Provavelmente porque a maioria dos americanos não se importaria nada de fazer o mesmo, se pudesse, e aprecia ver este derrubar das barreiras éticas a passar impune. É exatamente a mesma atitude que os cheganos têm por cá, no fundo o que querem é safar-se impunes e fazer o que lhes apetece. 

En verano de 1849, los venecianos no tenían que preocuparse por el turismo: temían el primer ataque con drones de la historia: Os curiosos inícios da ideia de guerra aérea - balões austríacos sobre Veneza. Correu tão mal como imaginam que poderia ter corrido. 

Elon Musk’s Version of Wikipedia Is Live. Here’s How It’s Different: Uma wiki onde a realidade e a verdade factual são opcinais, quiçá raras. 

What Leni Riefenstahl’s Work Reveals About Fascism: Apesar de ser celebrada como uma esteta, é bom não esquecer que a realizadora foi uma nazi conivente e não arrependida. 

Llevamos toda la vida pensando que los precios terminan en ".99" por pura psicología. El motivo era bastante más terrenal: Ok, confesso que esta não esperava. Se hoje consideramos que os arredondamentos para baixo se tornaram um mecanismo psicológicos, na verdade surgiram como forma de combater fraudes e roubos de caixa. 

China Is Building the Future: É factual. Não é uma utopia de país, quer por ser uma ditadura quer pelos inúmeros problemas que tem, mas a imagem da China, hoje, é a de uma zona futurista, de investimento e vibrante desenvolvimento tecnológico, a contrastar com a morosidade europeia, e o óbvio declínio americano. 

sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

Podcast Ubuntu Portugal #366: Ensino de TIC


Diz que me raptaram para isto. Temo as consequências de confirmar ou desmentir, da próxima em vez do clorofórmio posso ser cooptado com uma pancada. E pancadas na tola já tenho mais que muitas. 

O desafio partiu do Centro Linux, para participar no podcast Ubuntu Portugal. Podem ouvir nesta ligação: Podcast Ubuntu Portugal #368: Ensino de TIC em Portugal (Ubuntu, o sistema operativo de código aberto, não aquele programa educativo que parece ter caído em esquecimento). 

Foi uma oprtunidade de partilhar o que se faz por cá na educação digital com outro mundo, recordando que o que para nós, professores, é normal e bem conhecido é praticamente desconhecido para o resto da sociedade (mesmo que tenham filhos nas escolas ou paritlhem a vida com professoras). Foi uma conversa à solta, vale o que vale, espero não ter sido injusto ou esquecido colegas e projetos que deveria ter referido. Creio que é importante que partilhemos o que se faz na educação fora das nossas bolhas de informação, da mesma forma que é saber o que se passa noutros mundos culturais e profissionais. 

Por curiosidade, importei o registo audio da conversa para o Notebook LM, e fiquei intrigado com o destaque que deu a tudo o que foi conversado. Sobre o infográfico, deixo o caveat lector que sai de conversas e percepções, com todas as incorreções advindas da oralidade solta, não de achismos taxativos.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

Dylan Dog. Il castello della paura


Tiziano Sclavi, Giuseppe Montanari (1997). Dylan Dog. Il castello della paura. Milão: Sergio Bonelli Editore.

Confesso, já tinha saudades de ler um bom Dylan Dog clássico. Por cá raramente se encontram, apesar da tentativa da Seita em trazer aos nossos leitores este personagem icónico. Este, dei por ele completamente por acaso nas caves da livraria Castro e Silva. É uma edição antiga, com uma aventura tipicamente sclaviana, a comprazer-se num misto de terror gótico com castelos assombrados, mistérios e tensões entre familiares de uma herança milionária, com uma criadagem sui generis à mistura. Algo que aprecio na forma como Tiziano Sclavi desenvolve os seus cenários é a complexidade que consegue colocar no meio do rigor formal do formato fumetti. Há sempre diferentes histórias dentro da grande narrativa, algumas que se resolvem ou intuem entre paineis. 

terça-feira, 9 de dezembro de 2025

O mistério dos templários

José Ruy (2023). O mistério dos templários. Lisboa: Polvo.

Um velho mestre, a fazer aquilo que sabe melhor, contar histórias em BD no seu estilo próprio. José Ruy foi um dos maiores e longevos criadores portugues de BD, com uma obra longa e um estilo visual de realismo clássico, onde a vinheta ilustra as palavras. Neste, que se tornou o seu último livro, cruza história com mitos para explorar mistérios ligados aos templários. A história desta ordem militar cruza-se com a portuguesa, e Ruy coloca Tomar como guardiã dos verdadeiros tesouros da ordem, que não são meras riquezas terrenas. Um mergulho num traço e estilo narrativo de outros tempos, pelas mãos de um mestre.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

Inércia 2025

@archizer0 #digitalart #inerciademoparty ♬ som original - Artur Coelho 🇵🇹

 


Talvez a experiência visual mais interessante que vi no Inércia, este incrível vídeo criado a partir da manipulação de imagens com código: Amplitude, dos Bus Error Collective.


Demos a correr num velho mas funcional Palm. Trouxe-me memórias, usei vários desdes dispositivos no passado. À conversa com o dono do Palm, descobri-me a segurar um dos meus objetos de sonho da viragem do século, um palmtop Sony Clié.


A IA generativa também integra o Inércia, e nestes dias de geradores de imagem, é bom (re)ver os velhinhos algoritmos de style transfer.


Retrogaming, disseram?

Arte digital, modo old school. Very old school.

Isto talvez seja o que penso que é, mas não me atrevi a experimentar.

Registo de uma tarde de inspirações e aprendizagem na Inércia Demoparty 2025. Não quis perder a mostra de competição (embora não tenha conseguido ver as categorias imagem e size coding). Evento inspirador a todos os níveis, e algumas experiências de criação com IA mostraram possibilidades muito interessantes. Fiquei muito interessado no uso de programação assistida por IA para gerar experiências de arte generativa.