segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Megalopolis

Saí da sala de cinema com a sensação que vi um filme daqueles que fica para a história. É tudo aquilo que dizem dele. Brilhante, pedante, literário, escandaloso, decandente, gritante, sedutor, caótico, desconexo, vulgar, elegante. Oscila entre exercício de estilo e crítica mordaz à contemporaneidade. É visualmente luxuriante. 

Não é um filme para todos. Não é acessível, simplista ou facilitista. Faz lembrar os momentos mais delirantes de Fellini (não me surpreenderia se Satyricon fosse uma das inspirações), e cruza um certo mito americano, de se imaginar como uma segunda Roma, com a decadência neoliberal contemporânea, onde conta o jugo nepotista dos bilionários. Atreve-se a sonhar utopias, enquanto desmonta a crise dos dias de hoje. É (e isso está explícito logo nos primeiros segundos), uma fábula. Mas não uma fábula discreta, o filme berra o seu ideário aos espetadores.

Este filme anda com  uma carreira maldita. Está a ser vendido como uma incursão de Coppola na FC (e, na verdade, é um maravilhoso filme de fantástico, mas não nos moldes tradicionais), o que tem o condão de desagradar a todos. À crítica porque, enfim, FC, essa mácula. Aos fãs de ficção científica, porque depressa são defraudados da expetativa de ver aventuras no espaço com tiroteios e explosões (hey, adoro FC... literária, no cinema a maior parte dos filmes do género são chiclete que nem vale a pena mastigar). Aos fãs de cinema de autor, porque não é a habitual história confortável ou o drama interior do personagem. Aos estúdios, porque não é mais uma variante de IP que requenta o mesmo conteúdo estafado de sempre. 

Eu, adorei. Saí da sala com a cabeça a zunir de ideias.

(Aplausos para a tradução do filme, que conseguiu apanhar subtilezas dos jogos de palavras, como, se não me falha a memória, traduzir "don't be so Emerson" como "não sejas tão transcendentalista").

domingo, 27 de outubro de 2024

URL


Alfredo Alcala, 1977: Cenas clássicas.

MOTELX 2024: Rituais fúnebres, monstros e folclore indonésio: Alguns destaques de um festival que, este ano, não consegui ir visitar de todo. Que chatice!

Is Grant Morrison Writing Ice Cream Man From Image Comics?: Por favor, espero que não. O resultado da dupla Maxwell Prince e Martin Morazzo é uma das mais brilhantes séries de BD da atualidade. Cada novo número surpreende, pelo experimentalismo narrativo, grafismo limpo e visão única do terror. Acho que nunca li nenhuma série em que todos os números surpreendem. Grant Morrison é perfeitamente capaz de dar continuidade à estética de Ice Cream Man, mas irá por outros caminhos, quem conhece a sua obra sabe quais são. O que se aprecia em Ice Cream Man é a sua frescura, e se a dupla criativa já não consegue ir mais longe ou manter o nível, não há mal em colocar um ponto final na série. E o talento de Morrison merece mais do que ser repescado para continuar esta série.

5101) A palavra catalisador (12.9.2024): A importância daqueles que não tendo deixado obra, foram fundamentais para inspirar gerações de escritores.

O Inferno de Dante: Rever os clássicos.

What We All Forgot About Beetlejuice: Um olhar para o remake, que é também um olhar sobre a carreira de Tim Burton.

What the hell did I just watch?: Pessoalmente, reservo a minha opinião até ter visto o filme, mas as primeiras visões sobre o mergulho de Coppola na FC não são otimistas.

Today’s Great Contemporary Literature Is About The Past: Atrevo-me a dizer que no corrente panorama mediático, toda a cultura pop se focou no passado. Não é só a literatura. Talvez nos tenhamos tornando uma sociedade com medo do futuro.

What to read this weekend: Cosmic horror sci-fi, and the quest to understand how life began: Algumas sugestões de leitura incómoda.

Sci-fi books are taking off again: O capitalismo encontra forma de monetizar tudo. Agora, é o colecionar de primeiras edições de clássicos e livros raros de ficção científica enquanto nicho de mercado para investimento.

If War Again Strikes Belgium: Cenas aeronáuticas.

4 ways I reuse my old iPhones instead of trading them in - including with robots: Métodos para escapar ao ciclo de desperdício de tecnologia que, estando já fora do topo, não deixa de poder ser usada em funções úteis.

Social-Media Companies’ Worst Argument: Fala-se imenso na proibição de telemóveis às crianças e jovens, com o argumento de serem perniciosos para a sua saúde mental e formação. Na verdade, o problema não está no telemóvel, mas na forma como as empresas usam as plataformas móveis para desenvolver produtos aditivos, manipuladores da atenção, que lucram através do viés, da exploração de sentimentos negativos, da vacuidade. Não é por acaso que os gestores destas tecnológicas restringem o tempo de ecrã dos seus próprios filhos: sabem perfeitamente que o que vendem são produtos desenhados para viciar, danosos para os seus utilizadores. Representam uma perversão do ideário de conectividade e expressão trazido pela internet. E sabem bem as más consequências da forma como estruturam os algoritmos das redes sociais. É algo que está mais do que documentado. Mas, se se fala em legislar, em regular estes abusos, levanta-se logo o espectro do ataque à liberdade de expressão, essa ideia que está a ser instrumentalizada para que alguns bilionários se tornem mais ricos explorado a miséria do lado negro da mente humana. Falar dos telemóveis como um problema, mas não ter a coragem de enfrentar as plataformas, é como tentar combater a toxicodependência atacando as drogas enquanto se elogia traficantes e produtores.

Something New: On OpenAI's "Strawberry" and Reasoning: As primeiras impressões do novo algoritmo da OpenAI são interessantes, pela forma como está pensado para melhorar o desempenho não pela velocidade, mas pela fiabilidade. Teremos que levar com os habituais coros de "um algoritmo que raciocina", mas na verdade parece-me que estamos perante um algoritmo que foi desenvolvido com a capacidade de verificação prévia de resultados.

5 ways to start using Gems in your workflows, according to Google: Ideias para tirar partido dos assistentes de IA.

Yet Another iPhone, Dear God: Ian Bogost a resumir o que todos sentem. Regularmente as empresas fazem o seu estardalhaço cíclico de marketing do que se tornaram atualizações incrementais a uma tecnologia estável.

Leituras da Semana (#32 / 09 Set 2024): Ainda não li o artigo de Chiang (tenho de ter pachorra para contornar as barreiras), mas diria que descartar as ferramentas de IA generativa com o argumento da falta de esforço, não é o mais lógico. Seria como observar que os artistas que não produzem os seus próprios pigmentos e esticam as telas não são realmente artistas. Até porque a IA generativa requer esforço para ser bem usada (e por "esforço" não me estou a referir ao simplismo do prompt engineering, estou mesmo a falar do desafio de usar criativamente os geradores). O deslumbre que por ai corre é enorme, mas no fundo, tudo se resume a isto: são ferramentas, não passam disso, trazem novos potenciais, mas são tão artísticas e criativas per se como um pincel ou um bloco de notas. Não é a tecnologia que faz a arte, mas sim a imaginação do humano que a usa.

Hemos encontrado la "kriptonita" de la Generación Z: son expertos en apps, pero no saben usar una impressora: Sejamos honestos. Acho que ninguém sabe, realmente, como dar conta de uma impressora (2D). Por vezes, nem os técnicos das marcas…

I Have AI Fatigue. Here's What I'm Doing to Overcome It: É um sentimento que também partilho.

All maps are wrong: Recordar que os mapas não são o território, mas sim uma abstração que nos permite replicar com simplicidade uma realidade muito complexa.

From Punch Cards to Python: Foco no trabalho de Grace Hopper, que desenvolveu a ponte computacional entre a linguagem natural e a linguagem máquina.

A New Front in the Meme Wars: Entre a complacência da gestão das redes sociais, a quem lhes interessa crispação e ruído, e a acefelia dos extremistas, facilmente manipulados.

2024 Ig Nobel Prizes for Silly Science Include Pigeons in Missiles, Hair Whorls, and Dead Fish That Swim: Ciência de tom pateta e divertido, mas na verdade ciência a sério.

Microsoft’s Hypocrisy on AI: A IA pode ser uma ferramenta fundamental para combater o aquecimento global, diz a empresa que corteja ativamente o mercado das empresas petrolíferas, prometendo-lhes ferramentas de IA para aumentar a extração de petróleo.

Scaling: The State of Play in AI: O que impressiona neste artigo é a noção de escala, quando maior for o modelo, mais parâmetros tiver, e maior a quantidade de dados de treino, melhor o seu desempenho. E o treino destes modelos envolve verbas que chegam ao milhar de milhão de euros, com projeções de dez mil milhões em custos por modelo para a próxima geração. Diz-se que o desenvolvimento da IA vai esgotar os dados para treino, mas suspeito que antes disso esgote o dinheiro disponível.

In 1926, TV Was Mechanical: Os primórdios do desenvolvimento da televisão.

French Art Number One: Like one of your french girls.

Gracias por todo, Stalin: cómo la existencia de la URSS provocó que Occidente aplicara políticas anti-desigualdad: Uma ideia que Chomsky demonstrou ter estado na génese do estado social. Por um lado, a luta contra o comunismo soviético; por outro, o reconhecer que as desigualdades extremas da primeira metade do século XX tiveram um papel fundamental no crescimento do fascismo, história que teve um final catastrófico.

One Giant Steppe for Space Flight: Visões do mundo que rodeia uma base de lançamentos.

What Researchers Learned From the World’s Oldest Cookbook: Para aqueles que tenham curiosidade em saborear a comida que deliciava os Sumérios.

New M-346 Jet For The Frecce Tricolori Display Team Breaks Cover: Ficam com um ar fenomenal, e dada o brilhantismo da equipe aerobática, vai permitir espetáculos aéreos ainda mais memoráveis.

The Lion of Venice was made in China: Esta ninguém esperava. A análise à composição química do metal deste ex-libris veneziano mostra que foi uma importação chinesa, que terá chegado através da estrada de seda. Traços da globalização, que já existia antes do nosso mundo global.

Top 10 jet fighters ranked by claimed kills: Confesso que a segunda aeronave mais letal em combate, foi uma surpresa.

Don’t ask if AI can make art — ask how AI can be art: Uma visão que se alinha perfeitamente com o meu ponto de vista - chamar "arte" ao output da IA Generativa é apenas pateta, mas é importante perceber que a IA generativa também é uma ferramenta para criação.

What if electrification transformed the EU economy?: Uma análise que mostra o caminho europeu para eliminar progressivamente a dependência de combustíveis fósseis, com especial destaque para a aposta ibérica em renováveis. Pessoalmente, gostaria muito de ver a suposta consequência de preços mais baixos na minha fatura da eletricidade…

China tiene un arma para burlar los aranceles y proteger los secretos de sus coches eléctricos: kits de quita y pon: Uma guerra económica e tecnológica, a China destacou-se pelo fortíssimo investimento no desenvolvimento de tecnologias para automóveis elétricos, mas a Europa tem a sua própria indústria, que não está estagnada neste campo, a proteger.

A Parasitic Goblin: The Story of the XF-85: Talvez uma das mais bizarras propostas de aeronave a ter sido desenvolvida e testada.

Silent Solar: Um relato do crescimento não reportado da energia solar nos países do terceiro mundo, onde são a alternativa às más infraestruturas e subida dos preços da energia baseada em combustíveis fósseis.

Occidente quiere proteger los cables de comunicaciones submarinos a cualquier precio. Rusia y China acechan: Os combates estratégicos passam pela infraestrutura de cabos submarinos.

The Incredible Armada of Aircraft Behind 1969’s Battle of Britain Film: Uma piada com fundo de verdade dizia que quando este filme estava a ser filmado, os seus produtores detinham uma das maiores forças aéreas do mundo em número de aeronaves, dada a quantidade de aviões que reuniram para as cenas. E diga-se, para fãs de aeronáutica e história, é dos melhores filmes sobre aviação na II Guerra.

quinta-feira, 24 de outubro de 2024

Almanaque Steampunk


(2022). Almanaque Steampunk. Oeiras: Divergência.

Tendo tido o seu ponto alto nos primeiros anos do século XXI, o movimento literário e estético steampunk tem perdido, nos tempos mais recentes, o seu vapor. 

Perdoem-me, mas tinha de fazer esta piada seca. 

O momento de ribalta do steampunk já passou, claramente, mas os fãs mais empedernidos ainda o mantém vivo com festivais, iniciativas, grupos de cosplayers e edições com a deste Almanaque, que por cá já é uma tradição literária. Ainda bem que isto acontece, são os fãs que dão vida, riqueza e diversidade às várias vertentes do Fantástico. 

Esta, que é a mais recente edição de um livro que se tornou um clássico do Fantástico Português, mantém a estrutura dos anteriores almanaques, coligindo ficção curta, notícias imaginárias, ilustração e banda desenhada, sempre à volta do vitoriano passado imaginário em que a tecnologia a vapor e a automação de mecanismo de relógio nos dariam um mundo retro-futurista repleto de autómatos, dirigíveis, e mega-cidades de arquitectura fin de siécle.

É, como os anteriores, um mergulho divertido na estética steampunk, com os expectáveis variados graus de qualidade literária, dado o grande conjunto de criadores que a antologia reúne. É interessante ler as explorações deste imaginário, com particular destaque para a ficção, com contos curtos muito bem conseguidos.

terça-feira, 22 de outubro de 2024

The Mercy of Gods


James S. A. Corey (2024). The Mercy of Gods. Nova Iorque: Orbit.

Prometia ser explosivo, o regresso da dupla de autores que assinam sobre o pseudónimo de James S.A. Corey. Tendo em conta o elevado nível da série Expanse (obviamente, falo dos livros, apesar da adaptação televisiva também ser boa), a fasquia ficou alta. Terão os criadores sido capazes de lançar as bases de uma nova e interessante série de FC?

A premissa intriga. Vivemos num tempo em que a humanidade colonizou um planeta alienígena, com biologia nativa incompatível mas não agressiva, há tanto tempo que se esqueceu do seu ponto de origem. Não é claro no livro (ou posso ter lido mal) se a humanidade se espalhou pelas estrelas, ou se algum cataclisma passado eliminou a Terra, ou talvez isso venha a ser explorado em livros futuros. Acompanhamos os pequenos dilemas de uma equipa de investigadores que acabou de conseguir o maior sucesso das suas carreiras, encontrando uma ponte biológica que consegue ligar a fauna nativa do planeta com a imigrante terrestre. Mas tudo muda de repente, quando a chegada de naves desconhecias à órbita do planeta começa por mostrar aos humanos que há outras civilizações no vasto espaço, e o seu ataque fulminante revela que estas não são pacíficas. 

A humanidade colonizadora do planeta encontra-se sob domínio dos Caryx, uma espécie que se dedica a conquistar outras raças para as testar. Se as considerar úteis, incorpora-as na sua civilização compósita, como instrumentos ao seu serviço. Se lhes forem inúteis, extermina-as. Um grupo de humanos, praticamente todos ligados à investigação científica, são levados cativos para um planeta central e submetidos ao teste civilizacional, que aparentemente se centra no desenvolvimento de investigação científica, mas na verdade também passa pela capacidade de sobrevivência e subserviência perante os novos mestres.

Os investigadores da equipa de biologia encontram-se no centro de tudo isto, e um deles acabará por se tornar uma espécie de líder nomeado pelos conquistadores, devido ao seu papel na denúncia de uma revolta de cativos que não só poderia colocar em risco a sobrevivência humana, mas também uma ténue hipótese de combate aos invasores. Isto porque junto deste grupo, é capturada uma outra entidade alienígena, composta de nano-máquinas que se apropriam de corpos (não é um bom resultado para os anfitriões), e que procura espiar os poderosos conquistadores, procurando informações que revelem fraquezas que possam explorar em combate aberto. Uma aliança que talvez seja a única esperança para a humanidade recuperar a liberdade face a um invasor vastamente superior em tecnologia, mas que terá custos pesados.

A premissa é vasta, mas este livro lê-se demasiado como um colocar de peças em tabuleiro para exploração posterior. Boa parte da narrativa passa-se a explorar as dinâmicas internas do grupo de investigadores, dos seus problemas e guerrinhas académicas, sem que o grande arco narrativo avance muito. Há capítulos que, face ao desenrolar da história, se tornam inúteis. Os leitores são mergulhados num fascinante vislumbre de uma mescla de civilizações e criaturas alienígenas, mas esses aspetos não são muito explorados. Este livro tem muito enchimento e pouca substância. Percebe-se que o foco nos detalhes e minudências tem como objetivo a construção de personagens complexos e credíveis com que o leitor se possa identificar, mas apesar do esforço não conseguimos empatizar com os personagens principais.

Mas sejamos justos. Esta dupla de escritores explora uma vertente comercial, e os seus livros não têm de ser profundos voos literários de ficção científica. The Expanse, apesar do seu sucesso crítico, não passava de uma space opera divertida e bem urdida, e esta nova série segue um processo similar. Apesar das falhas do livro, ficou aberto o apetite para perceber como é que esta nova e ambiciosa série literária se irá desenvolver, que caminhos irá percorrer este vasto panorama.

domingo, 20 de outubro de 2024

URL


Flash Gordon - art by John Bolton (1980): Clássicos camp.

A Minecraft Movie’s first trailer is equal parts goofy and creepy: Bem… a estética minecraft em estilo realista é muito creepy.

5098) Quando uma coisa perde o sentido (3.9.2024): Sobre a memória coletiva e o sentido das coisas que nos rodeiam.

Passagem para Júpiter e outras estórias: Um dos livros da minha pilha de livros por ler, e este apontamento não dá muita vontade de pegar nele.

Espiga – Bernardo Majer: Leituras de BD portuguesa.

Uzumaki Trailer Is As Disturbingly Twisted as We Hoped It Would Be: Na verdade, o visual da animação é estonteante, um perfeito decalcar do estilo de Ito.

Oh, the Places You’ll Go: A complexa história crítica da literatura infantil.

Nuevo curso de lecturas: los libros que estamos leyendo en Xataka en septiembre: Confesso, R. F. Kuang está a entrar no meu radar, e vergonhosamente nunca li Susanna Clarke.

Jerusalém, Alan Moore: Do lado de lá do atlântico, uma edição muito especial do romance de Moore.

Brand New Science Fiction and Fantasy in Translation to Start September: Confesso que fiquei curioso com romance mosaico japonês.

Landmark Western Novels, recommended by Susan Kollin: Literatura que invoca o oeste americano, mas não na ótica do velho oeste. A cowboiada aqui é contemporânea.

Seven Books That Demystify Human Behavior: O inferno, diz-se, são os outros.

Alan Moore's new whimsical, wonderful, and wordy novel: O regresso do grande mestre, desafiante e prometedor.


It's Full of Stars: Construtivismos.

Relativity Space has gone from printing money and rockets to doing what, exactly?: Aquela que era a grande promessa da nova indústria espacial, a empresa que desenvolvia foguetões com manufatura aditiva, está a tornar-se algo mais convencional.

AI Is Coming for Amateur Novelists. That’s Fine: Não sei se concordo com o tom do artigo. Há uma certa ironia, no fundo, o artigo está mais a cascar no NaNoWriMo como iniciativa, a desconsiderar quem participa neste desafio, do que realmente a falar do impacto dos LLMs na escrita. Ou seja, neste ponto de vista não há qualquer problema em participar do evento usando IA, porque o articulista pensa que o NaNoWriMo é inútil. E, para isso, qualquer coisa serve.

The best Raspberry Pi alternatives: Expert recommended: Placas alternativas ao popular e acessível Pi.

Un completo estudio acerca de dónde viene el mito de que Internet fue diseñada para sobrevivir a un ataque nuclear: O problema destes mitos é que sendo confortáveis, repetem-se e perpetuam-se.

The Vega rocket never found its commercial niche. After tonight, it’s gone: O fim de uma tentativa europeia de avançar na indústria do lançamento orbital.

It’s Spreadsheets All The Way Down for This 80s Handheld: Um dispositivo intrigante, tecnologia dos longínquos anos 80.

When "AI for Good" Goes Wrong: Um brilhante ataque ao paternalismo do solucionismo tecnológico.

How AI Is Helping To Authenticate Artwork: Aplicações de machine learning na história da arte.

After seeing Wi-Fi network named “STINKY,” Navy found hidden Starlink dish on US warship: Compreendo bem isto. Os utilizadores são muito persistentes a contornar os protocolos de segurança digital das organizações. Mesmo que sejam militares a bordo de navios em missões sensíveis. Confesso, ri-me a bandeiras despregadas com esta história.

Is The Pornitor the worst-named computer peripheral in history?: Algures, alguém achou que este nome era uma boa ideia.

Man Arrested for Creating Fake Bands With AI, Then Making $10 Million by Listening to Their Songs With Bots: Esta história é o corolário de alguns delírios sobre IA generativa - criar música com IA, ouvida por bots, e receber as receitas de um streaming totalmente artificial.

Roblox is launching a generative AI that builds 3D environments in a snap: Um excelente exemplo do desenvolvimento de IA Generativa enquanto ferramenta integrada em contextos.

Large Language Models on Small Computers: Usar modelos otimizados para computadores de baixos recursos.

A class of 20 pupils at a $35,000 per year private London school won't have a human teacher this year. They'll just be taught by AI: Coisas que se sabe à partida que vão correr mal. Este tipo de projetos assentam numa visão exclusivamente instrucionista da aprendizagem, na exposição a conteúdos seguido de treino e testagem. Mas a educação não é apenas debitar matéria.

Los millennials han llegado a la política. Y ahora su pasado digital les persigue: É por estas que temos de ter cuidado com a nossa pegada digital, as patetices embaraçosas que fizemos no passado, se estiverem online, vão regressar para nos assombrar. Mas no caso da política, a forma como se lida com o registo de versões menos maduras da pessoa é também importante. Pessoalmente, confiaria mais num político que confrontado com parvoíces passadas mostrava que entretanto, amadureceu do que outro que se sente ameaçado porque a sua imagem contemporânea ameaça desabar. Percebe-se aí qual o real interesse e capacidade do político.

6 ways LibreOffice is better than Google Docs for serious writing work: Sabemos que se começa a instalar desconforto com as práticas predatórias dos promotores agressivos da IA, quando um dos maiores argumentos para usar o LibreOffice é ser uma aplicação local, garantido que os documentos não são indevidamente apropriados para treino de algoritmos.

DOOM on a Volumetric Display: Existe algum dispositivo computacional que não consiga correr DOOM?

BruceS: Chega de natureza, toca a voltar ao ecrã.

How The Taliban Have Changed Afghani Culture After Three Years: Um curioso paradoxo, a forma como este regime de obscurantismo medieval oprime a mulher, mas está a respeitar o património arquitetónico afegão.

People Who Used "Glitch" to Get Free Money From Chase ATMs Are Now in Huge Trouble: Os problemas de quem leva a sério os vídeos do TikTok, ou you can't fix stupid.

Here Comes the Sun: Sinais positivos do crescimento do uso de energias renováveis, a incrementar de forma sustentada.

Madrid expulsa a los patinetes eléctricos de alquiler: retira las licencias a Lime, Dott y Tier y se niega a su vuelta: Como acabar com uma das pragas da mobilidade urbana.

Calypso Returns Home, Completing an Incomplete Crew Flight Test to the ISS: Um final mais feliz do que o esperado para a história triste da Starliner, apesar dos medos, a nave conseguiu regressar. Mas os astronautas que deveria transportar ficaram a aguardar boleia na ISS.

The Mysterious, Meteoric Rise of Shein: Um olhar para o gigante chinês do comércio online da fast fashion, e para as suas práticas de ética muito questionável.

How Ancient Greek Texts In Arabic Translation Started A Medieval Scientific Revolution: Recordar a importância da época dourada árabe para transmitir e evoluir o conhecimento da antiguidade clássica.

La disputa más larga es un misterio de 500 años. España sigue sin saber si le pertenecen unas tierras diminutas frente a Tenerife: Um foco nas nossas Ilhas Selvagens, os rochedos atlânticos que nos ajudam a aumentar mais a nossa zona económica exclusiva.

How Tropical Modernism Became a Tool of Postcolonial Nation-Building: Análise visual ao modernismo da arquitetura das novas nações pós-coloniais, que se queriam afirmar por um modernismo com traços das suas culturas tradicionais.

There is no "woke mind virus": O conceito de vírus mental advém do abuso da teoria dos memes, e não passa de um mau argumento para a chafurda ideológica das guerras culturais.

quinta-feira, 17 de outubro de 2024

La Reconquista contada para escépticos


Juan Galán (2022). La Reconquista contada para escépticos. Barcelona: Planeta.

Um olhar, acessível mas profundo, para a época em que a península ibérica foi islâmica, até à sua extinção às mãos castelhanas. O livro procura dar uma visão abrangente da história que se convecionou chamar de reconquista cristã da península, mergulhando com a profundezas possível numa obra de largo espectro nos detalhes históricos, mas não deixando de apresentar uma visão crítica que assinala a carga ideológica que o mito da reconquista tem - e se ele por cá tem alguma, na Espanha franquista a coisa adquiriu laivos de mito fundacional, deturpando a realidade histórica.

O livro inicia, como não poderia deixar de ser, com a queda do reino visigótico, cujas lutas internecinas abriam caminho à invasão moura. Curiosamente, a forma como uma entidade politica é conquistada devido às suas desuniões internas espelha a erosão do Al-Andaluz, com os reinos cristãos a aproveitar-se da falta de noção de unidade nacional moura e a manipular os múltiplos estados rivais, ou as facções que lutavam pelo poder, no que era essencialmente uma unidade cultural e religiosa, mas não política, dado que o clã e a tribo assumiam maior importância do que a ideia de uma nação unificada. Mostra também como a queda visigótica foi facilitada pelo tipo de estrutura política - um estado sujeito a clãs religosos e tribais, muitos dos quais não hesitaram em aliar-se aos invasores para obter vantagens, e uma população largamente alheia, que não vê grande diferença entre o jugo visigótico e o islâmico, aliás até o parece preferir, dadas as políticas fiscais visigóticas.

Não que os reinos cristãos fossem mais unidos (e vivemos no país que prova isso, sempre a esquivar-se à integração com o poder hegemónico espanhol). Este livro também trata dessas histórias, dos intensos jogos políticos e militares entre reinos cristãos, culminando na hegemonia castelhana que absorveu, entre política dinástica e vitória militar, os restantes reinos e territórios cristãos, exceto Portugal, para criar a entidade política e territorial espanhola.

O retrato da Ibéria islâmica é profundo, com o autor a mostrar-nos um mundo complexo, por um lado brilhante na alta cultura e comércio, por outro vulnerável aos impulsos retrógrados do fanatismo religioso, e sempre dilacerado pelos jogos de poder tribais ou de homens ambiciosos, mesmo no limite da sobrevivência. É tocante perceber que, por exemplo, nos últimos anos do reino muçulmano de Granada, o último reduto do Al-Andaluz, os aspirantes a emir preferiam disputar-se em guerras civis enquanto sofriam a pressão sistemática do reino castelhano. 

Também nos mostra a permeabilidade da religião, contrariando a visão binária da reconquista como uma guerra entre duas religiões. Essa visão é confortável pela sua simplicidade, e ajuda a justificar acontecimentos, mas a realidade é mais complexa e fluída. As fronteiras eram porosas, e as relações entre reis cristãos e emires islâmicos uma teia que incluia vassalagens, casamentos e alianças. Não foi uma luta ideológica, ou melhor, a luta ideológica foi o pretexto para séculos de guerra onde se forjou a Ibéria moderna. Ao nível do povo, esta fluidez religiosa era especialmente notória. Se a religião se confunde com o estado, faz todo o sentido que o povo adopte a religião dos governantes, e se mova entre religiões de acordo com as oscilações territoriais. Só os fanáticos se mantém plenamente fieis, e isto, é um toque de profunda natureza humana na história. Fica claro, na leitura, que o melhor argumento para a conversão dos povos ao islão, ou à cristandade, era fiscal - aqueles que não professassem a religião oficial ficavam sujeitos a impostos e tributações mais pesadas.

Apesar do largo espectro temático, este livro é uma leitura que não se consegue pousar. O estilo é leve, rigoroso, crítico e com alguns toques de humor. A leitura é complementada por inúmeras notas de rodapé, que complementam os temas gerais com detalhes, ou contando histórias do passado.

terça-feira, 15 de outubro de 2024

The Singularity


Dino Buzzati (2024). The Singularity. Nova Iorque: NYRB Classics.

Descobri este livro através de uma crítica do Guardian, partilhada por Warren Ellis na sua newsletter, que o apontava como uma curiosa visão precursora das nossas atitudes contemporâneas face à IA. Não sendo um livro estritamente de ficção científica, dado que Buzatti foi daqueles firmes escritores mainstream com alguns recortes de fantástico na sua obra, intrigou-me a descoberta da sua visão.

É uma leitura curta e rápida, simples de resumir.  Um modesto professor universitário é desafiado a integrar um projeto misterioso, numa zona militar remota. Tão misterioso, que só quem trabalha diretamente nele ou os militares que guardam a zona sabem do que se trata. Os militares e responsáveis governamentais que aliciam o humilde professor desconhecem o projeto para o qual fazem o convite. A primeira parte do livro é uma piada kafkiana, com o académico a tentar perceber exatamente onde é que se meteu, sem que ninguém lhe consiga contar nada dada a profundidade do segredo.

Será ao chegar ao núcleo interno da zona militar (o segredo é tão protegido que os guardas das zonas exteriores sabem o que estão a guardar) que o académico descobre a sua missão: trabalhar no desenvolvimento de uma inteligência não humana, espalhada por um vasto complexo de computação e sensores que se espraia ao longo de quilómetros. Uma mente eletrónica que habita um computador, capaz de sentir, experimentar e raciocinar.

Se estão a ver aqui uma visao ficcional ao estilo dos anos 60 da inteligência artifial assente em supercomputadores, não estão enganados. Buzzati segue as tropes esperadas, dos cientistas apostados em fazer nascer uma entidade inteligente cujo corpo se compõem de processadores e sensores, às especulações sobre se uma entidade que hoje chamaríamos de digital é capaz de sentir, sonhar, de ter consciência.

Mas o autor vai ainda mais longe, e desvenda-nos o elemento chave deste computador inteligente: um núcleo, que foi programado com a personalidade de uma mulher. Segue os desejos de um dos investigadores, cuja primeira esposa morreu após o ter traído, e que manifesta a sua obsessão pedindo ao cientista encarrgue de desenvolver o núcleo da inteligência que espelhe a personalidade da falecida. Basta ver o campo emergente das apps de companhia/virtual girlfriend via IA, bem como a forma como muitos utilizadores se relacionam com os LLMs, para perceber que Buzzati anteveu uma das formas como antropomorfizamos a IA. Uma antevisão que, claro, está mais baseada em tendências milenares da alma humana do que em previsão futurista, algo que este livro não é.

O final é intrigante, com a inteligência humana artificializada a urdir esquemas para ser morta. Replicar a mente de uma mulher em corpo de máquina leva-a a enlouqecer, o que em si é uma curiosa reflexão sobre a forma como entendemos a dualidade mente-corpo, mostrando o quão a nossa fisicalidade faz parte da nossa consciência.  E, num retoque frankensteiniano, Buzzati mostra como a obsessão humana pode gerar monstros inocentes. A tradução inglesa do título original, Il grande ritratto, remete para temáticas em que o livro não toca.

segunda-feira, 14 de outubro de 2024

Crónica de D. João I


João Santos, Filipe Abranches (2024). Crónica de D. João I. Levoir.

Convenhamos que o texto de Fernão Lopes, uma das obras seminais da historiografia portuguesa, não é dos mais fáceis de adaptar. Transformá-lo numa história ultrapassaria em muito o âmbito das páginas definidas para esta coleção, e nota-se no trabalho de argumento a vontade de sintetizar o texto original à sua essência. A opção foi transformar a obra em grandes quadros sintéticos, com o trabalho de ilustração a sublinhar o conteúdo das palavras.

Filipe Abranches ilustra, e o seu estilo gráfico não é confortável. O seu registo não se resume à mera ilustração, dando um caráter expressionista à vertente histórica. Não consigo desassociar as escolhas gráficas da interpretação e influência vindas da ilustração e pinturas decorativas da segunda metade do século XX português, que cruzavam o modernismo suavizado com a exaltação de uma visão restrita da história portuguesa. Algo que noto nas composições das pranchas e nas escolhas de cor. Claro, uma eventual influência que o desenhador tritura sob a sua visão pessoal, dando-lhe um forte cunho expressionista.

domingo, 13 de outubro de 2024

URL

 



Jim Burns, Venus Prime, 1980’s
: Cenas old school.

The year is 2149 and …: Um curioso exercício especulativo, que imagina diferentes visões para o ano de 2149.

The Best Alternate History Novels, recommended by Harry Turtledove: Os livros que influenciaram aquele que é um dos maiores autores dentro do género história alternativa.

Sol – Diogo Carvalho: Uma proposta intrigante de BD e ficção científica em português. Espero descobri-la no Fórum Fantástico.

The Word for World Is Forest: O ponto sem retorno: Análise a uma obra clássica de uma das mais influentes autoras de Ficção Científica.

Elon Musk Seems to Have Completely Missed the Point of "Star Trek": Os valores Trekkie estão nos antípodas do sistema de crenças do bilionário space karen. Sempre foi assim. Ou pensavam que Star Trek era giro por causa do capitão Kirk à porrada com lagartos mal amanhados?

15 recent sci-fi comics that are changing the genre: Há aqui excelentes sugestões de leitura, e sim, We3 é um livro que puxa as lágrimas.

The Scarlet Samurai: Orientalismos.

Spotting AI Fakes: Can Art Historians Help?: O papel do olhar treinado do historiador de arte na detecção de imagens falsas.

AI Doomers Had Their Big Moment: Em parte, porque os colapsos económicos e civilizacionais via IA não aconteceram, a tecnologia não é assim tão fantástica. E em parte porque o uso de IA generativa se normalizou, tornou-se parte das nossas ferramentas digitais.

What Is ‘Model Collapse’? An Expert Explains the Rumors About an Impending AI Doom: Os riscos trazidos pelo esgotar de dados gerados por humanos usados no treino de IAs, e o crescimento de dados sintéticos, ou seja, dados gerados por IA usados para treinar outros modelos.

How ChatGPT Is Transforming Blind People’s Relationship With Visual Art: Usar o LLM para descrever obras de arte permite aos portadores de cegueira apreciar as obras.

The Art-Science Symbiosis: A relação entre arte e ciência, quer na forma como a arte ilustra o conhecimento científico, quer no uso de metodologias e ideias científicas como forma de exploração artística.

New AI model can hallucinate a game of 1993’s Doom in real time: Um projeto interessante, que mostra o potencial da IA generativa no desenvolvimento de jogos.

AI Open Competition “Reads” Long-Baffling Scrolls From Pompeii: Recordar o projeto que está a conseguir o impossível, decifrar os livros carbonizados da biblioteca de Herculano.

Stranded Astronauts and the Biggest Disruption In Business History: O falhanço humilhante da Boeing com a Starliner, visto sob a perspectiva da evolução das organizações empresariais.

Will "coding" AI be seen as a part of essential education, just like English or Mathematics?: Interessante a pergunta, e especialmente as respostas, que nos mostram que a compreensão profunda da programação e IA não serão para todos, a grande maioria vai-se contentar em usar ferramentas com interface de uso fácil.

Doom Running on a Neural Network Is a Surreal Dreamscape: Se virem o vídeo, o que surpreende é a fidelidade com que a rede neuronal treinada em screenshots de Doom recria os cenários. É como se fosse um motor de jogo virtual.

Studios are cracking down on some of the internet’s most popular pirating sites: A pirataria parecia um tema ultrapassado com o surgimento do streaming, mas a multiplicação de serviços e encasulamento de conteúdos levou ao seu renascer. Por um lado, a pirataria erode a economia criativa. Mas, por outro, é demasiadas vezes a única forma de aceder a conteúdos que os serviços depreciam.

Military driver arrested for creating fake AI sex abuse images—but using real kids he knew: Um exemplo profundamente perturbador do mau uso que pode ser dado à IA Generativa. Mas note-se, isto não é ónus sobre a tecnologia, e o comportamento já era criminalizando independentemente da existência destas ferramentas.

Was an AI Image Generator Taken Down for Making Child Porn?: Chama-se a isto cidadania digital, analisar as tecnologias e os seus impactos, e tomar medidas concretas.

Brazil bans X: all the latest news: Parece impensável, mas aconteceu. A plataforma foi barrada pelo seu incumprimento de ordens judiciais legítimas. 

The Problem with AI: Não é que a IA Generativa seja desinteressante, inútil ou não abra novas possibilidades. Mas já se percebeu que vão estar muito longe das mudanças tectónicas prometidas. E pior, estão a tornar-se exemplos de má automação quando aplicadas na economia.

Post-apocalyptic education: Este artigo, muito certeiro, sobre o problema da cábula via IA generativa na educação atreve-se a dizer aquilo que raramente se diz, quando se fala de educação. É que a maior parte dos alunos não está minimamente interessada em aprender (não tem a ver com irresponsabilidade e idades, até porque é algo que se manifesta com muito maior visibilidade quanto mais velho é o aluno). Para a maioria dos que frequentam cursos e estão na escola, a educação é um meio para obter um canudo, uma certificação, ter uma nota. E para isso, não é preciso nenhuma dedicação à aprendizagem e espírito crítico, que são as duas ideias românticas que sustentam o nosso conceito de educação.

AI's impact on Philippines, the world's call center capital shows what's to come: Rastrear o impacto dos LLMs na indústria dos call centers. Em suma, sim, quem gere esta indústria vê nos chatbots a solução para cortar custos com pessoal.

All the Ways Everyday Gadgets Injured Us Last Year: Bem, não precisamos de revolta das máquinas para que estas dêem cabo de nós. Geralmente, por incúria nossa (e, no caso dos vibradores, algo mais).

Chatbots Are Primed to Warp Reality: Os riscos de filtrar a informação por ferramentas que são atreitas a erros e alucinações.

NaNoWriMo endorses AI, faces backlash, and struggles to clarify: Espera, um evento que anima quem gosta de se expressar pela escrita, a abraçar a IA generativa textual, no seu elementar uma forma de escrever com muito baixo esforço? Isto, perante amantes ferrenhos da escrita? O que é que poderia correr mal?


Flight Girl: Quando voar numa companhia aérea prometia romantismo.

China’s new stealth warship unveiled in leaked images: Não parece especialmente arrojado, e é muito similar ao que os estaleiros ocidentais já produzem.

El negacionismo ha llegado a uno de los últimos rincones de la ciencia aún libres de él: las gafas de ver: Da cegueira mental à cegueira real. You can't fix stupid, e a coisa alastra.

España desayuna poco y mal. La buena noticia es que bastan un par de consejos para llevarnos al siguiente nível: Confesso que do lado de lá da fronteira, sou fã do clássico tostada com acete, tomato e jamón. 

Scaled Composites’ Model 437 Vanguard Has Flown For The First Time: Se há algo que esta boutique de aeronáutica avançada nos permite esperar, são projetos inesperados.

Your Name In Landsat: Um webtoy divertido - uma pesquisa de imagens Landsat que nos devolve acidentes geográficos que formam as letras do nosso nome.

This interactive op art will spank your eyeballs and twist your synapses: Experimentem, mas não me responsabilizo por efeitos secundários.

Fragments of Previously ‘Lost’ Euripides Tragedies Have Been Translated: Do fascínio de ler palavras que se julgavam para sempre perdidas.

En Países Bajos, los parques eólicos instalados en medio del mar sirven para algo más: cultivar algas: Belíssima, a expressão agrovoltaica, ou seja, aproveitar o espaço de estações fotovoltaicas para agricultura.

Employee Found Dead in Cubicle After Apparently Dying There Days Earlier: Agruras do late stage capitalism, e indícios de um ambiente laboral tóxico.

Name that Aesthetic: The Romance and Ruins of Lost Civilizations: Pessoalmente sempre vi os capriccios como elementos da estética barroca, e não como um movimento per se.

Portugal está buscando un nuevo incentivo para su economía: ser el mejor país del mundo para relocalizar la producción: É daquelas notícias que se lê com sentimentos mistos. Por um lado, é uma oportunidade económica. Por outro, só é possível porque somos um país de boas infraestruturas mas de baixos salários, e é esse o fator que atrai este tipo de investimento.

sexta-feira, 11 de outubro de 2024

Manhãs de Alice (2015-2024)

É preciso um masoquismo especial para se gostar de cães. A princípio é tudo muito bonito, os cachorros são uns fofos com aquele olhar terno, mesmo quando nos roem tudo o que podem cá em casa.

Depois crescem, e tornam-se companheiros de viagem e aventura, de passeios e caminhadas. Transformam o regresso a casa no fim do dia numa festa. Abraçamo-los quando estamos alegres, mas também quando estamos tristes.

E, de repente, damos por nós a perceber que o tempo passou. Que se o olhar é o mesmo, o corpo já cede. Deparamo-nos com o impensável pesadelo de dar descanso àqueles que durante anos, caminharam ao nosso lado.

No caso da minha Alice, o fim chegou mais cedo, induzido por um cancro que tirou anos de vida à minha querida cadela.

Lutou-se, esquecendo as despesas elevadas (mas temos uma veterinária sensata, que sempre equilibrou a qualidade do serviço que presta com o que cobra) e as dificuldades em encontrar alguns medicamentos necessários (o que se torna ainda mais chocante ao perceber que são medicamentos de uso oncológico humano, mas não suficientemente lucrativos para as farmacêuticas). Adiámos o inevitável por uns meses, com a esperança não em cura, mas estabilizar de doença crónica.

Mas o corpo não aguentou. O sorriso continuava o mesmo, o olhar denotava cansaço, mas o corpo cedeu. 

Chegou o momento do inevitável, e só não dei antes esse passo porque gostaria que ela seguisse para o descanso rodeado das pessoas de quem mais gosta.

Hoje, foi a última manhã de Alice.

Por imenso que custou, com tudo o que dói, estive ao lado dela, a fazer-lhe as festas de que tanto gosta. Adormeceu enquanto lhe segurava a cabeça, senti um último suspiro. 

Se ela sempre esteve ao meu lado, em bons e maus momentos, não podia fazer de outra maneira, doa o que doer.

É um buraco enorme no coração.

"É só um cão", diz-se. "E arranjas outro", confortam. Mas nunca é só um cão. E certo, claro que cá em casa haverá lugar para outro, futuro companheiro de aventuras e dia a dia.

Mas quem tem cães, sabe. Há sempre outro. Mas não para substituir o que nos deixou. Os que nos deixaram ficam para sempre nas nossas memórias. Não se substituem. Temos é coração largo para albergar novas memórias.

E. como somos masoquistas, sujeitamo-nos novamente ao ciclo. Sabemos como começa, sabemos que termina, que o tempo nunca será o suficiente.

Não há lógica, não é sensato. Mas é humano.

Ontem, a minha Alice ainda tinha umas horas de vida. 

Deitei-me no chão, ao lado dela, a mimá-la.

Não havia, nesse momento, nada mais importante.

Hoje, a Alice teve ainda uma última manhã. Estava fora de questão ficarmos em casa a definhar, a fazer horas à espera da morte no consultório. Metemo-nos no carro e fomos à Ericeira. Aí, vi um vislumbre da antiga Alice, antes da doença a corroer, alegre a correr nas Furnas e a ladrar às gaivotas. Cheguei a pensar que me estava a precipitar, que ainda havia vida naquela cadela. Mas recordei-me que não conseguia comer há uma semana, exceto o que lhe forçávamos na garganta com uma seringa. Que passou os últimos dias nas lajes frias da casa, apática. Que uma saída à rua era em modo trôpega. 

Tínhamos de ir à praia. Sob chuva torrencial, percorremos a Foz do Lizandro e S. Julião. Não deu para ela sentir o areal nas patinhas. Parámos na Samarra, para ela cheirar novamente o ar silvestre sobre a enseada. No regresso, connosco no silêncio pesado de quem sabia que era a última viagem da Alice, passeámos na aldeia da Mata Pequena. Um último passeio, por locais onde, noutros tempos, até muito recentes, muito caminhámos, passeámos e brincámos. 

A Alice tinha de partir com memórias felizes.

Faleceu com a cabeça encostada na minha mão, senti o suspiro. Nunca iria abandonar a minha companheira de aventuras nesta última aventura. Restam as boas memórias.

As fotos são já dos tempos de luta contra a doença, até mesmo a última que lhe tirei, ainda esta semana. Recordam que, apesar de estar condenada à partida, valeu o combate. 

Hoje, no passeio final, decidi que não haveria mais do que a nossa memória.

Devo um enorme agradecimento à Dr.ª Lara Pires e à sua equipa da Bichos & Companhia (Malveira), por tudo o que fizeram pela Alice ao longo dos anos. O linfoma venceu, mas a luta proporcionou-lhe um último verão, bem vivido com muitas caminhadas, praia, lagoa e mimos. Não se pode pedir mais. 

quinta-feira, 10 de outubro de 2024

Embrechados


Conde de Sabugosa (1974). Embrechados. Lisboa: Livraria Sam Carlos.

Textos e crónicas de um tempo que já passou, escritos no tom floreado da viragem do século XX. Os significados de alguns destes textos estão perdidos para nós (a menos que se seja historiador ou investigador de literatura), outros, com apontamentos históricos, têm o seu interesse. Vale a pena recordar o nosso passado literário, provar os discursos e modos de pensamento que hoje nos soam arcaicos, mas que são marcos no caminho da evolução das ideias.

terça-feira, 8 de outubro de 2024

Un museo de curiosidades


Rafael Sabio González (2016). Un museo de curiosidades. Guía alternativa del Museo Nacional de Arte Romano. Mérida: MNAR.

Um excelente companheiro para ajudar a recordar uma visita ao Museu de Arte Romana de Mérida. A partir das suas principais peças, oferece-nos um périplo pela história da antiga Emerita Augusta, pela sua riqueza arqueológica, pelas histórias que se sabem dos seus antigos habitantes, bem como pelo espaço do próprio museu. O tom é leve, mas com uma forte sensibilidade crítica, não se limita a descrever pormenores do acervo, procura trazer a História para o leitor.

domingo, 6 de outubro de 2024

URL


Heavy Metal (1981): Não sei porquê, mas ver esta malta pela frente é algo intranquilo.

Five Classic European Spy Novels, recommended by Patrick Worrall: Os mais marcantes livros de aventuras de espionagem.

Would the Airwolf helicopter have worked in real life? We got expert analysis: Bolas. Esta malta das engenharias é mesmo desmancha prazeres. Só falta virem explicar que é fisicamente impossível o carro do Automan fazer curvas de 90 graus (ok, esta é rebuscada, até para os meus padrões).

5095) A literatura e seus ismos (24.8.2024): Para lá dos ismos clássicos, há os ismos inesperados, feitos da obsessão de um escritor, ou elaboradas piadas intelectuais.

What pre-1985 science fiction are you reading? + Update No. XV: Leituras de Ficção Científica clássica.

Musicians Are Extremely Tired Of Obsessive Fan Behavior: O caso sério de sucesso viral que é Chappel Roan chocou os fãs recentemente, ao fazer uma manifestação de repúdio perante os excessos dos fãs. Não é caso único, e dou-lhe razão, se ser uma figura pública traz consigo o ónus da redução da privacidade, tem de haver limites. Pessoalmente, não consigo conceber como é que ser fã de um dado artista parece dar azo a exigências de extrema familiaridade.

Books about Pompeii: Redescobrir os segredos da tragédia que nos legou maravilhas da época romana.


I love the intricate 1984 box art for Atari’s Dimension X game - art by Timothy Charles Boxell: Cenas old school.

Man Arrested for Creating Child Porn Using AI: Não surpreende. E vai piorar, uma vez que se os serviços de geração online podem ter formas de impedir o uso de prompts criminosos, basta descarregar os modelos e usar os algoritmos offline para contornar todas as regras.

No one’s ready for this: O problema com estas ferramentas é que nunca serão usadas de forma inocente. Por um lado, há isto: "you create the moment that is the way you remember it, that’s authentic to your memory and to the greater context, but maybe isn’t authentic to a particular millisecond” (que é das mais certeiras observações que já li sobre o simples fotografar, todos editamos as fotos que tiramos, nem que seja pelo enquadramento que fazemos). Mas a banalização de ferramentas que permitem ir mais longe e criar visões totalmente idealizadas dos momentos fotografados terá um enorme impacto na forma como aferimos a veracidade do audiovisual. Atenção, não há aqui nada de novo, falsear imagens é tão antigo como, provavelmente, a pintura rupestre, o que muda é a facilidade e intensidade.

I uncovered 8 cool ways to use LiDAR on an iPhone and iPad: Fotogrametria via lidar é algo que adoro fazer, mas o sensor do iPhone permite mais brincadeiras.

El Gobierno prohibirá las facturas en Word, Excel o PDF: la facturación electrónica obligará a usar otros formatos: A lógica do XML, como forma de estruturar e controlar o fluxo de informação.

Are Copilot Plus PCs really the Windows alternative to Chromebooks?: Dado o preço dos Copilots, não sei se serão diretamente comparáveis aos computadores de baixo custo e capacidades básicas da Google.

Microsoft formally deprecates the 39-year-old Windows Control Panel: Pois, mas quem usa um PC a sério, sabe que o painel de controle é fundamental para a gestão profunda do computador. Está lá tudo, organizado, enquanto que as definições mal servem para gerir além do básico.

Microsoft says its killing Windows Control Panel - here's why I'm not holding my breath: Spot on. O painel de controlo é demasiado bem amado por quem está nas trincheiras da informática para ser eliminado de chofre.

NASA will bring the Starliner astronauts home next year on SpaceX’s Crew-9 mission: E assim termina a triste história dos astronautas presos na ISS, com o retorno não na nave que os trouxe, mas na nave da empresa concorrente. Resta saber se a Starliner sobreviverá ao regresso à Terra. E, também, se a divisão espacial da Boeing será capaz de recuperar a sua credibilidade.

Hay una compañía sorpresa que nunca imaginaríamos que se ha metido en el mundo del cloud computing: Lidl: Espera, supermercados a entrar no negócio de serviços Cloud? Na verdade, faz todo o sentido - começaram por desenvolver uma solução para as necessidades internas, e perceberam que tinham mercado para além disso. Que é, se não me engano, aquilo que a Amazon fez. Com um pormenor interessante: a razão pela qual a Lidl precisou de desenvolver este tipo de solução prende-se com o cumprimento da lei europeia de proteção de dados.

Move over, text: Video is the new medium of our lives: Bem, não é exatamente novidade que o vídeo é o meio de expressão de eleição da época contemporânea. Desde que o YouTube deu os primeiros passos que isso se manifestou, e a democratização trazida pela conjugação de câmaras acessíveis nos telemóveis, simplicidade dos softwares de edição e plataformas de publicação alargou esse espectro.

Hello, you’re here because you said AI image editing was just like Photoshop: Uma análise aos medos despertados pela acessibilidade das ferramentas de edição de imagem baseadas em IA nos telemóveis.

Niantic aims to build a richer 3D map of the world with a new version of Scaniverse app: A Scaniverse a ganhar funções adicionais interessantes. Pessoalmente, prefiro-a para fotogrametria com Lidar a Splats, porque a malha poligonal gerada pela técnica de Gaussian Splat costuma ser cheia de imperfeições.

AI can run your blog while you Netflix and chill: Um blog de referência (bem, já teve dias melhores nos tempos áureos quando Cory Doctorow e Xeni Jardin faziam parte da equipa), a fazer publicidade a ferramentas de IA generativa para autopublicação de blogs, que automatiza aqueles textos que ninguém se quer dar trabalho a escrever mas, estranhamente, se espera que alguém os queira ler? Muito sus.


DC Comics’ 1977 SUPER DC Calendar, art by various: Com Solomon Grundy.

Russia reintroduces WWII Yak-3 fighter as AK-3 at Army 2024 exhibition: E a seguir, a British Aerospace revive o Spitfire MkIX? Piadas à parte, este revivalismo destina-se ao mercado das corridas aéreas.

As ruas de Lisboa que já foram palco de guerras: Lisboa, campo de batalha nas guerras liberais.

Story of an Undercover CIA Agent who Penetrated Al Qaeda: Arrepiante, este artigo sobre um agente secreto que se infiltrou profundamente numa das piores organizações terroristas. A capacidade de mimetização e a coragem desta pessoa são inacreditáveis.

La ciencia ha descubierto el ejercicio físico con más beneficios para el cerebro: caminhar: Confesso, tornei-me apologista deste tipo de exercício, e reconheço que sinto estes bons efeitos físicos e psicológicos do caminhar.

En Galicia han encontrado una forma propia de protestar contra la masificación turística: cruzar pasos de cebra sin parar: Se é verdade que o excesso de turismo é uma praga (e os lisboetas que o digam), por outro alguns destes protestos parecem ser de quem quer o dinheiro dos turistas, mas não quer ter de os aturar.