Agustina Bazterrica (2025). The Unworthy. Nova Iorque: Scribner.
Esta escritora argentina está a ganhar uma merecida notoriedade como uma das mais fortes praticantes do conto cruel da atualidade. O seu incómodo e revoltante Tender is the Flesh abriu-lhe o espaço global, e este The Unworthy cimenta a reputação. Esperem um livro provocador e incómodo, mas sem o cunho revulsivo do anterior, mostrando também que se esta autora brilha numa vertente muito específica, não o faz repetindo à exaustão histórias similares entre si.
The Unworthy mergulha-nos num mundo pós-apocalíptico, uma derrocada total da civilização trazida pelas alterações climáticas, desigualdades sociais, e, vai-se intuindo no final, um toque de IA descontrolada. As imagens de um mundo em escombros são construídas a partir dos fragmentos da memória da personagem principal deste livro, uma jovem que habita um local que poderia ser um refúgio perante o colapso da sociedade - um convento, onde jovens se dedicam à contemplação.
Na verdade, está mergulhada numa seita profundamente violenta, que seleciona raparigas não maculadas pelo mundo exterior, condiciona-as a pensarem-se como desmerecedoras, e fá-las almejar com estranhas ascensões a seres diáfanos, mas que na verdade são violentadas e mutiladas.
A história é implacável, sem redenção. No meio do oasis físico do convento vive-se a mais abjeta subjeção a pessoas violentas e abusadoras. O amor não serve de fuga, e o destino final da rapariga que memorializa as suas desditas não será feliz. Uma leitura desagradável, não pela escrita, que é elegantíssima, mas pela violência das ideias com que Bazterrica nos bombardeia.