terça-feira, 29 de abril de 2025

Wellington


Jacques Chastenet (1940). Wellington. Lisboa: Bertrand.

Integridade, foi a palavra que mais senti na mente durante a leitura desta antiga biografia de Wellington, o militar inglês que derrotou conclusivamente Napoleão em Waterloo, e, mais pertinente para os meus interesses, comandou as forças anglo-portuguesas e espanholas durante as fases mais bem sucedidas das guerras peninsulares. Arquiteto das Linhas de Torres, estratega capaz de, com forças inferiores, expulsar os exércitos franceses e chegar a invadar a França com um exército luso-britânico (nesta fase, recusou o apoio espanhol por causa da violência vingativa que estes exerciam sobre os franceses).

A biografia traça a história da sua vida, desde os primeiros tempos como jovem colonialista inglês na Irlanda, de cujo aparelho político fez parte e o catapultou para a esfera do império; comandante de forças ao serviço da construção do que veio a ser a Índia britânica, onde se distinguiu em campanhas que subjugaram estados indianos ao jugo inglês; político e administrador nos governos britânicos. As guerras napoleónicas notabilizaram-no, quer pelo seu papel na península quer como vencedor de Waterloo. Seguiu-se a isso papeis admnistrativos e políticos na divisão de forças na europa pós-napoelónica e nos governos britânicos,  até à sua morte tranquila. O livro é honesto, apesar de ter sido escrito num tempo onde as visões críticas não eram valorizadas. Chastenet mostra Wellington como alguém ciente das suas responsabilidades e vontades, fiel aos seus princípios (daí a minha sensação de integridade), militar inspirador que quebrava as barreiras aristocráticas e se metia nos campos com os seus soldados, mas também uma pessoa com falhas tremendas de carácter no que toca às relações de proximidade, a história do seu infeliz casamento, como cumprimento de uma promessa e não por paixão, mostra bem isso. 

Pessoalmente, interessou-me mais a parte do livro que detalha a ação de Wellington nas guerras peninsulares, um período duríssimo da história moderna de Portugal, que não é tão conhecido como pensamos. Surpreendeu-me o nível de detalhe trazido pelo autor francês sobre as campanhas portuguesas e espanholas de Wellington, com uma boa visão do desenrolar dos acontecimentos e alguma intuição sobre a sua enorme violência.