Ram V, Filipe Andrade (2022). The Many Deaths of Laila Starr. Los Angeles: Boom Studios.
Uma fábula tocante, sobre a vida e a morte, sobre o valor das sensações e a memória dos momentos que nos tornam humanos. Quando um jovem predestinado a criar uma cura para a mortalidade e tornar os humanos imortais, a Morte perde o seu emprego. Relegada à vida mortal, considera assassinar o bebé humano que a tornou redundante, mas não o consegue fazer. Uma coisa é ceifar vidas com parte dos ciclos naturais, outra tirar uma vida. As muitas vidas da Morte encarnada (tem uma propensão para acidentes fatais dos quais é restaurada graças ao seu amigo e outra face do mito, o deus que concede a vida) cruzam-se com a longa vida da criança predestinada, que de facto inventa uma cura para a morte, mas acaba por não a disseminar ou sequer usar, compreendendo a lição da mortalidade, do ciclo da vida e da importância da finitude dos momentos.
Uma história poética, saída da mente de Ram V, um dos mais interessantes argumentistas da atualidade, que nos mergulha numa fábula fortemente influenciada pela mitologia hindu. A ilustração de Filipe Andrade acompanha na perfeição o texto, com uma elegância expressiva, paleta de cores algo soturna e uma capacidade em transmitir nuances narrativas não expressas em palavras.