terça-feira, 22 de outubro de 2024

The Mercy of Gods


James S. A. Corey (2024). The Mercy of Gods. Nova Iorque: Orbit.

Prometia ser explosivo, o regresso da dupla de autores que assinam sobre o pseudónimo de James S.A. Corey. Tendo em conta o elevado nível da série Expanse (obviamente, falo dos livros, apesar da adaptação televisiva também ser boa), a fasquia ficou alta. Terão os criadores sido capazes de lançar as bases de uma nova e interessante série de FC?

A premissa intriga. Vivemos num tempo em que a humanidade colonizou um planeta alienígena, com biologia nativa incompatível mas não agressiva, há tanto tempo que se esqueceu do seu ponto de origem. Não é claro no livro (ou posso ter lido mal) se a humanidade se espalhou pelas estrelas, ou se algum cataclisma passado eliminou a Terra, ou talvez isso venha a ser explorado em livros futuros. Acompanhamos os pequenos dilemas de uma equipa de investigadores que acabou de conseguir o maior sucesso das suas carreiras, encontrando uma ponte biológica que consegue ligar a fauna nativa do planeta com a imigrante terrestre. Mas tudo muda de repente, quando a chegada de naves desconhecias à órbita do planeta começa por mostrar aos humanos que há outras civilizações no vasto espaço, e o seu ataque fulminante revela que estas não são pacíficas. 

A humanidade colonizadora do planeta encontra-se sob domínio dos Caryx, uma espécie que se dedica a conquistar outras raças para as testar. Se as considerar úteis, incorpora-as na sua civilização compósita, como instrumentos ao seu serviço. Se lhes forem inúteis, extermina-as. Um grupo de humanos, praticamente todos ligados à investigação científica, são levados cativos para um planeta central e submetidos ao teste civilizacional, que aparentemente se centra no desenvolvimento de investigação científica, mas na verdade também passa pela capacidade de sobrevivência e subserviência perante os novos mestres.

Os investigadores da equipa de biologia encontram-se no centro de tudo isto, e um deles acabará por se tornar uma espécie de líder nomeado pelos conquistadores, devido ao seu papel na denúncia de uma revolta de cativos que não só poderia colocar em risco a sobrevivência humana, mas também uma ténue hipótese de combate aos invasores. Isto porque junto deste grupo, é capturada uma outra entidade alienígena, composta de nano-máquinas que se apropriam de corpos (não é um bom resultado para os anfitriões), e que procura espiar os poderosos conquistadores, procurando informações que revelem fraquezas que possam explorar em combate aberto. Uma aliança que talvez seja a única esperança para a humanidade recuperar a liberdade face a um invasor vastamente superior em tecnologia, mas que terá custos pesados.

A premissa é vasta, mas este livro lê-se demasiado como um colocar de peças em tabuleiro para exploração posterior. Boa parte da narrativa passa-se a explorar as dinâmicas internas do grupo de investigadores, dos seus problemas e guerrinhas académicas, sem que o grande arco narrativo avance muito. Há capítulos que, face ao desenrolar da história, se tornam inúteis. Os leitores são mergulhados num fascinante vislumbre de uma mescla de civilizações e criaturas alienígenas, mas esses aspetos não são muito explorados. Este livro tem muito enchimento e pouca substância. Percebe-se que o foco nos detalhes e minudências tem como objetivo a construção de personagens complexos e credíveis com que o leitor se possa identificar, mas apesar do esforço não conseguimos empatizar com os personagens principais.

Mas sejamos justos. Esta dupla de escritores explora uma vertente comercial, e os seus livros não têm de ser profundos voos literários de ficção científica. The Expanse, apesar do seu sucesso crítico, não passava de uma space opera divertida e bem urdida, e esta nova série segue um processo similar. Apesar das falhas do livro, ficou aberto o apetite para perceber como é que esta nova e ambiciosa série literária se irá desenvolver, que caminhos irá percorrer este vasto panorama.