João Santos, Filipe Abranches (2024). Crónica de D. João I. Levoir.
Convenhamos que o texto de Fernão Lopes, uma das obras seminais da historiografia portuguesa, não é dos mais fáceis de adaptar. Transformá-lo numa história ultrapassaria em muito o âmbito das páginas definidas para esta coleção, e nota-se no trabalho de argumento a vontade de sintetizar o texto original à sua essência. A opção foi transformar a obra em grandes quadros sintéticos, com o trabalho de ilustração a sublinhar o conteúdo das palavras.
Filipe Abranches ilustra, e o seu estilo gráfico não é confortável. O seu registo não se resume à mera ilustração, dando um caráter expressionista à vertente histórica. Não consigo desassociar as escolhas gráficas da interpretação e influência vindas da ilustração e pinturas decorativas da segunda metade do século XX português, que cruzavam o modernismo suavizado com a exaltação de uma visão restrita da história portuguesa. Algo que noto nas composições das pranchas e nas escolhas de cor. Claro, uma eventual influência que o desenhador tritura sob a sua visão pessoal, dando-lhe um forte cunho expressionista.