terça-feira, 25 de junho de 2024

Medieval Robots


E.R. Truitt (2015). Medieval Robots: Mechanism, Magic, Nature, and Art. Filadélfia: University of Pennsylvania Press.

Robótica e Idade Média não são dois conceitos que estejamos habituados a ver inteligados. Este livro muda isso, mostrando-nos como na Idade Média foram férteis os ideários que conduziram à robótica de hoje. Claro, não falamos aqui dos robots complexos que nos estimulam a imaginação e revolucionam a sociedade. A visão medieva era diferente, combinava mito e saber artesanal.

Este livro cruza diversas vertentes. Uma é eminentemente mítica e mística, com uma análise à literatura medieva que nos mostra muitas referências a seres artificiais e artefactos mecânicos maravilhosos. Textos que se encontram em obras religiosas ou no imenso manancial de gestas cavaleirescas, que descrevem maravilhas mecânicas, das quais o trono mecânico de Bizâncio é o mais icónico.

Para mostrar que há uma raiz nos mitos e fantasias, Truitt vira-se para a história da ciência, recordando-nos da tradição de criação de elaborados mecanismos que nos vem da antiguidade clássica, dos tratados mecânicos que preservaram o saber grego e romano, e o ampliaram, no mundo árabe. Fala-nos do costume oriental de criar elaborados autómatos cujo movimento simulava vida, para maravilhar os visitantes das cortes como símbolos da sabedoria, costume esse também adotado pela nobreza europeia como forma de mostrar a sua riqueza, como relatos de elaboradas decorações do que hoje consideramos animatrónica nos palácios. 

Mitos, cruzados com a evolução do saber científifico e tecnológico, que acabam por ter a sua maior expressão num objeto que raramente relacionamos com a robótica, mas que está na sua origem direta: o relógio. Primeiro, como expressão e aplicação do saber mecânico no estabelecimento de métodos de registo da passagem do tempo, mas também como artefacto de maravilha, com o desenvolvimento de dioramas animados progressivamente mais elaborados, que representavam cenas das tradições locais ou mitos religiosos. Algo que hoje ainda nos deslumbra, nos famosos relógios mecânicos que para além de registar a passagem do tempo, nos maravilham com os seus autómatos, condenados a repetir os mesmos gestos mecanizados a cada marco temporal.

A história não termina aqui, os mecanismos de relojoaria encontraram a sua máxima expressão nos autómatos do século XVII e XVIII, onde a sofisiticação evoluiu até tocar nos rudimentos do que hoje designamos por programação. Se os cartões perfurados do tear de Jacqard são considerados os antecessores do computador programável, que dizer dos autómatos de Jacquet e Drosz, com intricados mecanismos que permitiam programar diferentes ações? Mas estas, são outras histórias. Truitt detém-se na idade média, nos seus mitos, visões de maravilha, mas também na forma como o saber mecânico evoluiu nesses tempos.