quinta-feira, 25 de abril de 2024

Venus of the Half-Shell


Kilgore Trout (1974). Venus of the Half-Shell. Nova Iorque: Dell.

Fartei-me de rir com esta elegante paródia literária. Trout é um autor que não existe, personagem ficcional inventada por Kurt Vonnegut no seu magistral Slaughterhouse 5, se não me falha a memória. Um escritor ficcional, integrando uma ficção. E entra em campo Philip Jose Farmer, cuja carreira foi dedicada a reinventar e remisturas personagens e universos ficcionais. Farmer, fiel ao seu espírito de pastiche erudito, dedicou-se a escrever o romance mais famoso de Kilgore Trout.

A história é forte no nonsense, brincando com as tropes da FC clássica. Simon Wagstaff, último sobrevivente de uma Terra limpa às mão de alienígenas que se dedicam a limpar a sujidade dos planetas, imortal, viaja pelo espaço a tocar banjo à procura de respostas às suas profundas questões filosóficas. Acompanhado de um cão e uma coruja, também imortais, um robot feminino rebelde, sensual e mais inteligentes que os humanos, vive as mais mirabolantes aventuras até se encontrar no fim dos tempos.

O livro é uma óbvia piada literária, e confesso que fiquei a pensar numa outra eventual piada literária ainda mais obscura. Os fãs de Alan Moore conhecem a importância do personagem John Constantine, criado como uma personaficiação de Sting para as páginas de Swamp Thing. Entre o passado ficcional da personagem existe uma fase de líder de banda punk, cuja canção mais icónica foi Venus of the Hardsell. Fiquei com a sensação que há aqui uma referência à obra de um autor inexistente. Ou posso estar a ver coisas onde elas não existem.