terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

Na Órbita de Aldebarã


Damon Knight (ed.) (1971).  Na Órbita de Aldebarã. Rio de Janeiro: Bruguera.

A edição brasileira desta antologia que apanhei num alfarrabista tinha apenas quatro contos. É representativa da FC clássica, num turbillhão de ideias nem sempre coerentes, mais focada em histórias empolgantes com premissas intrigantes do que em apuração literária. 

A antologia inicia com Os Isolinguais, de L. Sprague de Camp. Uma história divertida, com a cidade de Nova Iorque a ser assolada por uma estranha praga: de repente, pessoas totalmemente normais parecem transformar-se nos seus longíquos antepassados, de outras terras e eras. A causa envolve uma conspiração por parte de um grupo fascista para tomar o poder, que usa tecnologia desenvolvida por um dos seus cientistas para acordar memórias do passado dormentes ao nível celular. Segue-se Os Fiéis de Lester Del Rey, uma história pós-apocalíptica onde a humanidade se extingue após uma curta guerra planetária atómica e biológica. Restam os cães, que foram elevados pela ciência para se tornarem inteligentes e dextros, dentro das suas condicionantes, para recuperar uma civilização desprovida de humanos.

A. E. Van Vogt dá-nos uma aventura trepidante, daquelas à antiga. Um grupo de exploradores depara-se, num planeta que exploram, com dois mistérios: as ruínas de uma civilização avançada, e um alienígena de aspeto vagamente felino, que apresenta indícios de inteligência. Enquanto procuram a chave do mistério, descobrem-se a enfrentar a criatura, extreamente perigosa e verdadeiramente inteligente, que urde um plano para roubar a nave e ir fazê-la regressar ao ponto de origem. Como predador que é, vê nos homens fonte de alimentação, mas fiel ao espírito de FC  clássica, a criatura busca não as carnes, mas sim o fósforo contido nas suas vítimas. Encerra com Linha de Salvação, de Robert Heinlein, uma história sobre um cientista que desenvolve um método infalível de predição da extensção da vida humana, recorrendo à quarta dimensão. Uma tecnologia que desperta a ira das seguradoras, que vêm o seu modelo de negócio em risco. 

Não são contos excelentes, sendo daqueles que fãs conhecedores toleram pelo retrato de época, mas com pouco valor literário para além disso. Representam o dilema da ficção pop (que a FC já foi), escrita para consumo rápido, e que envelhece depressa na sua larga maioria. Mas também são momentos do longo caminho de evolução da FC enquanto género literário.