terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

Hogfather


Terry Pratchett (1996). Hogfather. Londres: Corgi.

É a noite mais longa do ano,  e aqueles que podem juntam-se para celebrações bem comidas e melhor regadas. As crianças estão ansiosas, esperando no dia seguinte encontrar o que mais desejam. Os muito ricos preparam lautos banquetes, os pobres, arremedeiam-se com o que lhes é dado. Os lojistas esfregam as mãos, antevendo os lucros da época. É a noite mais longa do ano, aquela em que o bonacheirão Hogfather percorre todo o Discworld no seu trenó puxado por uma vara de porcos, escorregando pelas chaminés para deixar a justa recompensa dos meninos bem e mal comportados, aproveitando a oferta de jerez e frutas para restaurar forças. 

Mas, este ano, forças obscuras conspiram para travar o significado da noite de Hogswatch. Forças que manipulam o universo Discworld, com uma estranha aversão a seres vivos, e que alistam um dos mais temerosos assassinos da Guilda de Assassinos num longo plano para capturar o Hogfather, e, com isso, impedir que o sol volte a nascer sobre o mundo. Sabendo dos perigos que a não excecução de um ritual tem num universo mágico, é a Morte que se chega à frente e decide substituir-se ao Hogfather, tornando-se, com ajuda de uma barba postiça e uma almofada para ficar com um ar barrigudo, o distribuidor de prendas para a humanidade de Discworld. É aí que as coisas começam mesmo a correr para o torto, dada a literalidade com que a Morte decide encarnar o seu papel de dádiva. 

Junte-se a isso a manifestação espontânea de espíritos que encarnam ideias menores, com um deus das ressacas ou gnomos de tudo e mais alguma coisa, um bando de facínoras que tem mais medo do assassino que os lidera do que quaisquer castigos, os sábios pouco sabedores da academia da magia, um cérebro artificial mecânico feito de formigueiros e favos de mel, e temos a receita para o caos. No meu disto, a infeliz neta da Morte (se lerem Mort, percebem esta), que só gostaria de viver uma vida de pacata normalidade, mas é nas suas mãos que ficará o destino do mundo.

Sátira divertida ao natal, Hogfather coloca todos os lugares comuns natalícios dentro do bizarro mundo de Discworld. É, como semrpe, Pratchett a deslizar sem derrapar pelo absurdismo - a Morte a tentar ser Pai Natal é a coisa mais delirante que poderão ler, num romance como só ele era capaz de fazer. Leitura perfeita para uma consoada, diria.