terça-feira, 23 de janeiro de 2024

As Minas de Salomão


Eça de Queirós (1946). As Minas de Salomão de H. Ridder Haggard. Porto: Livraria Lello e Irmãos. 

Dizem os mais entendidos que Eça não se limitou a traduzir esta obra clássica da literatura de aventuras do século XIX, e que meteu lá muita mão sua. Para verificar isso, teria de fazer leituras comparadas entre o original e a tradução, algo para o qual o tempo disponível não chega. Mas é fascinante ver a verve da prosa do romancista, que aplicada à tradução, torna o livro fluído e elegante.

Clássico da literatura de aventuras, é um livro que hoje causará algum choque entre leitures culturalmente mais sensíveis, mas sem a capacidade de análise crítica sobre o que lêm. O cenário é a África selvagem e exótica da visão do século XIX, os personagens são homens brancos que partem à aventura em missão de busca, mas também procura de riquezas. E o que encontram é um forte mistério e muitas peripécias, das quais irão sair sempre triunfantes.

Podem encontrar todos os lugares-comuns desta literatura que se lembrarem. Africanos submissos, caçadas sangrentas, tribos perdidas na imensa e misteriosa geografia, déspotas selvagens, belas jovens tentadoras na sua pele negra, e muitas afirmações de superioridade do homem branco. Até o velho esquema de enganar selvangens ignorantes com eclipses faz aqui uma aparição.

Claro, há que saber ler a história por aquilo que é, um produto do seu tempo, e que apesar do desagradável ideário aos nossos olhos contemporâneos, não deixa de ser uma empolgante história de aventuras. O périplo de Quatermain e dos seus companheiros, que termina numa quase funesta descoberta das riquezas ocultas sob a milenar mina salomónica oculta no território perdido, é um clássico da literatura de aventuras, que não perde a força.