Francesco Verso (ed.) (2022). Galaxy Awards 1: Chinese Science Fiction Anthology. Roma: Future Fiction.
Conhecer Francesco Verso foi uma das excelentes surpresas do Fórum Fantástico 2023. Brindou-nos com uma excelente palestrar sobre a necessidade de descolonizar a ficção científica. Em suma, sobre a necessidade de olhar para lá do domínio de ideias (e propriedade intelectual) do universo dominante anglo-americano, e descobrir outras sensibilidades, outras ideias, outras formas de olhar e praticar ficção científica.
Mais do que falar sobre essa necessidade, Verso age. Através da sua editora, World SF, procura trazer para o público europeu autores e histórias de outras partidas do mundo. No seu catálogo encontram-se antologias que nos trazem a FC chinesa, sul-americana, indiana, do golfo, europeia e italiana, bem como contos e romances destes autores. Publica em italiano, o seu mercado, e também em inglês, por saber que é a lingua franca que permitirá um maior alcance a estas histórias.
Não resisti a trazer algumas das suas edições, com um certo arrependimento por não ter adquirido mais. Esta, é uma excelente janela sobre a ficção científica chinesa. Reúne contos vencedores de concursos por uma das revistas chinesas do género. Lê-los, é ao mesmo tempo refrescante e um regresso ao passado da ficção científica.
A perspetiva chinesa refresca, por nos vir de um outro substrato cultural, um caldo que inclui a longa tradição chinesa, a sua rápida modernização, mas também o peso do regime (nunca explícito, mas sente-se). O curioso, é que estes contos recuperam algo que o mainstream do género tem deixado passar, e por vezes rejeitado como antiquado e desadequado aos tempos em que vivemos. Um sentimento de utopia, de sonhar com futuros melhores, é o mais incisivo elemento comum destes contos, mesmo quando puxavam ao negro. Essa visão da FC foi a que caracterizou a era clássica anglo-americana, e tem sido posta de parte pelas distopias, cyberpunk ou cli-fi. Se o ocidente parece ter perdido a vontade de imaginar melhores futuros, esse sentimento está bem vivo na ficção chinesa.
Os contos são interessantes, na intersecção entre futurismo, especulação e cultura chinesa. Atrevem-se a imaginar outras realidades, e nós, ao lê-los, temos acesso a toda uma outra realidade cultural da Ficção Científica, dinâmica e pujante.