quinta-feira, 23 de novembro de 2023

El legado de Prometeo


Miguel Santander (2012). El legado de Prometeo. Iniciativa Mercurio.

Nunca é bom sinal quando começo a fazer leitura diagonal de um livro. Significa que tenho alguma curiosidade por ver porque caminhos vai e a que porto chega, mas que o livro em si não prende. Apesar de ter sido premiado em Espanha como uma excelente obra de ficção científica, este foi um dos livros que acabei por diagonalizar.

O livro até começa bem. É montado um extenso e detalhado futuro próximo ficcional, um planeta a recuperar de guerras globais e das alterações climáticas, uma sociedade que conseguiu travar o consumismo capitalista, se expandiu em colónias no sistema solar. Mas também uma sociedade que resvala para um conservadorismo repressivo, que está sob ameaça de uma facção humana ultra-ecológica que procura meios de extinguir a humanidade para salvar o planeta. E, essencialmente, uma sociedade que necessita desesperadamente de energia limpa para se manter e evoluir.

A busca por uma nova forma de energia é o cerne do livro - a tentativa de aproveitamento da energia de um buraco negro relativamente próximo do sistema solar. É enviada uma nave quasi-geracional para resolver o problema, uma espécie de long shot/one shot de sobrevivência humana.

Parte da história lida com as agruras dos personagens que seguem na nave, sabendo que o regresso à terra será longínquo. Dependem de uma coesão social assegurada por Inteligências Artificiais que os sustentam nos aspetos técnicos e psicológicos. E, chegados ao seu destino, com os mistérios da energia prestes a ser desvendados, a cupidez humana ataca, e tudo correrá pelo pior. Mas, desenganem-se, esta parte da narrativa é uma longa travessia que recomendo ser feita em modo acelerado. 

O livro é curiosamente inconclusivo, apesar de não pressagiar sequelas. O final parece atabalhoado, como se o escritor tivesse percebido que perdeu demasiadas páginas com cenas inconsequentes e personagens que não nos despertam empatia, e acelerasse num qualquer desfecho às três pancadas, com um toque de viagem no tempo que até teria funcionado, se houvesse pistas para isso no início do livro.

Se as ideias que sustentam este livro são muito interessantes, a sua execução narrativa não o é. As personagens raramente nos despertam empatia, ficamos sempre com a sensação que a história fulcral não avança ao longo da narrativa. Lamento a desilusão, gosto de olhar para o que se faz do lado de lá da fronteira, onde o espaço editorial ligado à FC é mais vibrante, mas este é um livro que fica aquém do que promete.