Jayme Cortez (2022). Zodiako. Lisboa: Polvo.
Dos lançamentos no Amadora BD no ano passado, que me escapou e não consegui encontrar em livraria. Está difícil encontrar livros da Polvo, pelo menos nas zonas por onde me movo. Sou fã do traço de horror clássico deste desenhador luso-brasileiro, o livro O Terror Negro, organizado por Fábio Moraes, permitiu-me finalmente a descoberta da obra deste criador. Zodiako segue outros caminhos, menos assustadores e mais etéreos, inserindo-se nas estéticas cósmicas e psicadélicas da BD dos anos 70. O intrigante, em Cortez, é a forma como sendo artista praticante no ambiente comercial brasileiro, manteve o seu traço numa estética muito mais próxima de uma certa BD europeia, entre Moebius e Druillet.
Este livro é a primeira aventura de uma série não realizada, onde o herói homónimo é criado para tentar salvar a Terra da destruição atómica. Criação da luz, dotada dos poderes do panteão zodiacal, começa por se cruzar com o deus grego Apolo. Encontra não a divindade solar da perfeição, mas sim um degenerado que se recusa a assumir o seu papel no cosmos e se deleita a torturar os seres inferiores. Derrotá-lo, libertando os outros Apolos (têm de ler para perceber esta, que é um conceito muito interessante, e similar ao que posteriormente Gaiman viria a fazer com Sandman, a ideia que um dado personagem é apenas uma encarnação temporária de uma ideia mais perene), e as criaturas solares da opressão.
O traço de Cortez, à solta num livro de temática cósmica, é aqui tão psicadélico e surreal que se aproxima do expressionismo abstrato, por vezes torna-se difícil perceber os desenhos. Isso, faz parte da estética, procura mesmo sublimar o sentimento cósmico através do grafismo. Um trabalho de excelência, que graças à curadoria de Fábio Moraes não fica perdido.