Esta semana, destacam-se os horrores inomináveis na BD, a perversidade de Otessa Mosfegh, e o Auto da Barca do Inferno em banda desenhada. Olha-se para a entrada em força da Google na aplicação de IA Generativa, sentir na pele os dilemas dos moderadores de conteúdos para redes sociais, e a ideia crescente de que a IA Generativa nunca será excelente, apenas suficiente para responder ao banal e pouco importante. Reflete-se sobre velhas desculpas para fugir ao trabalho, o papel da rádio na integração de emigrantes, e o CAD neolítico.
Ficção Científica e Cultura Pop
Photo: Todos estes mundos.
Arthur Thiele's Flugmaschinen: Imagens vindas dos tempos em que as aeronaves eram o último grito da tecnologia, e ainda se estava a imaginar o que fazer com elas. Suspeito que adoraria ver implementado no real algo parecido com a última imagem, porque a combinação de caçadeiras, balões e as leis de Newton seria hilariante.
So You’re a Childless Adult Obsessed With Bluey—Let’s Talk About It: Sou só eu que, ao ler isto, me recordei do fenómeno dos Bronies, fãs adultos de My Little Poney?
Lançamento: A Oeste: Um novo lançamento de BD portuguesa pela Escorpião Azul, especialmente dedicado aos fás do Western.
How a Trigun Stan Made a 2019 Sci-Fi Novel One of the Biggest Books on Amazon: Acho que a surpresa aqui é o sucesso inesperado do livro ter surgido por viralização no Twitter, que não só nunca foi uma plataforma influente ao nível literário, como se encontra em processo de desintegração por bilionário. Viralizações literárias no TikTok ou Instagram já são habituais, agora num Twitter decadente, isso surpreende.
Physical Books Have Reached That Awkward Stage: Pessoalmente, não caio muito nos extremos da discussão sobre livros físicos e digitais. Há espaço para ambos, e acreditem que em minha casa os livro impressos estão bem representados, mas também não desdenho o meu e-reader. Se a fisicalidade do livro-objeto é importante (mesmo em termos de memória, é-me mais fácil recordar o conteúdo de um livro olhando para a sua lombada do que para as listagens no e-reader), a acessibilidade do livro digital também é um fator importante.
Exploring Japan’s Post-War Kasutori Magazines: Estéticas de transgressão, que à época era chocantes e polémicas, aquele tipo de revistas de leitura inconfessável, mas que hoje nos parecem quase pueris e inocentes.
DESENHAR O IRREPRESENTÁVEL: Lovecraft na BD: O bardo de Providence tem estado geralmente bem representado na banda desenhada, entre adaptações das suas obras, adaptações tangenciais que se inspiram e expandem os seus mythos (aqui, há que sublinhar os trabalhos de Alan Moore com o seu difícil de digerir Providence e Neonomicon), ou mesmo como personagem.
Daft Punk's Final Music Video Is a Transhumanist, Sci-Fi Trip: Posso não ser especial apreciador da música desta banda, mas reconheço que as suas respeitosas vénias visuais e estéticas à ficção científica são uma das constantes do seu trabalho.
Quando os Humanos Foram Embora – Gerson Lodi-Ribeiro: Uma leitura de um autor que, tanto quanto sei, é fundamental no panorama da literatura de ficção científica brasileira.
Author Whose Books Freak People Out Says That’s Not Her Plan: E há que sorrir com o rosto de inocente da foto da escritora Otessa Mosfegh, urdidora de um dos mais implacáveis, e brilhantes, romances cruéis da atualidade.
Lançamento: Clássicos da Literatura em BD #30 - Auto da Barca do Inferno: Estou muito curioso com este volume desta coleção, porque o clássico de Gil Vicente foi adaptado por João Lameiras e ilustrado pela Joana Afonso. Ou seja, garante de excelente trabalho.
FOR THE LOVE OF PRETEND MAPS: Um olhar para o fascínio com os mapas de terras imaginárias, e como eles complementam a literatura fantástica.
Tecnologia
Gino D’Achille: Divertimentos com monstros.
Jed McCaleb’s private space station venture Vast might be more than just science fiction: Mais um milionário que se junta ao clube dos exploradores espaciais, desta vez a apostar na construção de uma estação espacial privada.
Meta's open-source ImageBind AI aims to mimic human perception: Este novo algoritmo promete ir muito longe, na forma generalista como cruza diferentes tipos de informação no seu modelo de treino.
The Future of Writing Is a Lot Like Hip-Hop: Podemos achar que o ChatGPT (e, no fundo, os LLMs) vão arruinar a literatura e o jornalismo como os conhecemos, com os livros a passarem a ser gerados de forma automática. Isso até pode ser verdade nos media que dependam de texto a metro (aqueles que se fazem mais para clickbait e partilha nas redes do que realmente ser lidos), mas se queremos textos com real qualidade, a mão humana é essencial. E a mão humana acoplada à IA, permite novas formas de encarar a literatura. O melhor insight deste artigo, é afirmar que há uma relação inversa entre previsões de apocalipse via IA e as suas reais capacidades.
Can You Spot A.I.-Generated Art When You See It? Google’s New Online Game Will Put Your Eye to the Test: Na verdade, é cada vez mais difícil distinguir uma imagem gerada por IA de imagens tradicionais.
An AI artist explains his workflow: Um dos mal-entendidos mais comuns na geração de imagens por IA Generativa é a ideia pré-concebida de que basta escrever umas palavras, clicar num botão e o algoritmo gera perfeição. Na verdade, não é nada assim, e conseguir gerar boas imagens é um processo longo de várias tentativas e aperfeiçoamento de parâmetros.
Google partners with Adobe to bring art generation to Bard: Uma parceria que tem simbolismo, ao incorporar a geração via Firefly, a Google indica que quer seguir um caminho mais ético neste domínio da IA Generativa.
Google brings new generative models to Vertex AI, including Imagen: O serviço é profissional, essencialmente uma plataforma de treino, gestão e suporte de apps, caso estejam a pensar em brincar diretamente com o Imagen.
Android’s new generative AI can reply to your texts and design its own wallpaper: Isto é tão 1990 novamente. A IA Generativa é, claramente, o novo clipart. Esperem verdadeiros dilúvios de conteúdo foleiro, que é o que vai acontecer quando o mau gosto do hoi polloi pegar nestas ferramentas.
Google is throwing generative AI at everything: Traduzindo, a Google sempre esteve na primazia do desenvolvimento de algoritmos e metodologias, mas até agora não as incorporava nos seus serviços. A concorrência acérrima da OpenAI e da Microsoft mudou totalmente essa postura, e suspeito que a Google vai mostrar que tem imenso a dizer nesta área.
My AI Girlfriend Charges $1/Minute and Only Wants to Talk About Sex: Usar uma influencer para treinar um algoritmo que sustenta uma app de conversação. Isto soa mesmo à combinação malévola do filme Her com a estética do proxenetismo Onlyfans.
Hands on with Google’s AI-powered music generator: Se os resultados da IA Generativa aplicada à música são decepcionantes, diria que o problema não está tanto na IA, mas sim na indústria musical, que sabe bem como restringir o uso da sua propriedade intelectual. Ou seja, não é possível ter a liberalidade de conteúdos musicais para treino de IAs como há para texto e imagem, porque as editoras vigiam como falcões os seus direitos de autor.
Why AI Will Never Compete With Human Creativity: Certeiro, este artigo. A criatividade humana vai muito mais além de remisturar o que já foi feito, ou ficar-se por memes. Aponta, muito justamente, que a remix culture e os memes são uma simplificação de algo muito mais complexo. Não significa que a IA Generativa não seja uma ferramenta de criação, apenas, que por si só, não é criativa.
How modern singing was invented: Como as tecnologias influenciam os modos culturais, na relação entre o uso de som amplificado e microfones e a evolução das técnicas vocais.
Los mejores libros para introducirse en la inteligencia artificial: cinco expertos nos revelan sus lecturas básicas: Cinco sugestões de leitura para compreender melhor as problemáticas da Inteligência Artificial.
There’s an Interesting Theory About Why Zuckerberg Wasted Billions on the Metaverse: E é uma teoria intrigante, de enviesamento cognitivo. Essencialmente, os confinamentos pandémicos convenceram os investidores que a pálida simulação do real em 3D do metaverso zuckerberguiano seriam o melhor substituto para o presencial. Isso ajuda a explicar a incrível patetice de mostrar trabalhar em Excel usando um HMD dentro de realidade virtual como algo a almejar para o futuro.
Moderator Mayhem: Sabemos que o trabalho de moderador de conteúdos para redes sociais é exigente, traumático e psicologicamente violento (até mesmo desumano). Mas, e que tal sentir na pele o que é realizar este trabalho, o ter de tomar constantemente decisões sobre que conteúdos são permitidos ou não, correndo o risco de censura e tendo de cumprir prazos apertadíssimos?
A History of NASA's Supercomputers: Um docinho para amantes da aviação e espaço, e amantes da computação, esta história da forma como a NASA foi pioneira no desenvolvimento de tecnologias e metodologias de uso de supercomputação aplicada à aeronáutica. Não imaginava que o RAID tivesse sido inventado por lá.
The Artist and the Amiga: E, antes do corrente hype sobre IA Generativa, havia a discussão sobre se o computador poderia ser uma ferramenta artística. Sim é a resposta, já há muito dada, e este artigo recorda o cruzamento da estética de Andy Warhol com as primeiras ferramentas de desenho digital para computador pessoal.
Google’s AI pitch is a recipe for email hell: É, de facto, o corolário do absurdismo burocrático. IAs a produzir textos que não queremos escrever para serem lidas por IAs, já que não queremos também ler estas mensagens.
Never Stare Down a Robot: É um dos curiosos pormenores da interação humano-robot com robots antropomórficos, a nossa necessidade de que olhos que sabemos serem artificiais simulem o natural piscar.
The Lines Blur Further: How AI-Generated Music Hits in a Litigious, Sample-Friendly World: Se não estamos a assistir a uma explosão de IA Generativa na música similar ao que acontece nas imagens, há uma razão legal para isso - a forma como a indústria musical usou o litígio quando começou a surgir o sampling.
Google’s new Magic Editor pushes us toward AI-perfected fakery: Confesso que a ideia de poder gerar imagens falsas das minhas experiências, que não correspondem ao que realmente experimentei, me soa muito desconfortável.
The History of Cursor Keys: Se alguma vez se perguntaram o porquê das teclas de cursor nos teclados, este artigo é para vós.
On Generative AI and Satisficing: Confesso que tenho estado a matutar sobre esta questão da IA Generativa e da sua promessa de geração fácil de conteúdos de texto e imagem, e a pensar da mesma forma que este artigo. A dita criatividade e originalidade destes algoritmos é na verdade muito limitada (e isso é inerente a uma tecnologia em que um modelo é treinado num conjunto finito de imagens ou textos, ou seja, só consegue trabalhar dentro desse conjunto). Mas, desenrasca. Despacha imagens e textos para muitos usos banais do dia a dia. Ou seja, não nos dá o excelente, mas o suficiente. Ou, traduzindo usando aquela clássica expressão portuguesa, para quem é bacalhau basta.
The free TV company briefly wasn’t sure what it should do with data from kids: O que assusta nestas ideias é que há demasiadas pessoas que não se importariam nada de dar acesso aos seus dados pessoais, à sua privacidade, a ter dentro de casa dispositivos que os vigiam, em troca de uma televisão.
The First Year of AI College Ends in Ruin: Há uma certa inocência em pensar que alunos com acesso a estas ferramentas não as iriam usar para desenrascar os trabalhos da escola. Por muito que se fale no mérito académico e vontade de aprender, todos sabemos que a grande maioria dos que frequentam o ensino superior só se querem desenrascar para ficar com o canudo.
3D Scanning Is Easier Than Ever, Here’s What You Need To Get Started: Uma boa seleção da Make, mas deixa de fora os meus dois softwares favoritos para digitalização 3D, o sempre fiável Scaniverse e o espantoso LumaAI.
The Soviet Space Station Program: From Military Satellites to the ISS: Recordar a história das estações espaciais soviéticas.
Turning Old Kindles into AI Powered Picture Frames: Um projeto divertido, cruzando e-readers e Inteligência Artificial Generativa.
Modernidade
70sscifiart: “In the 70s, Atari clearly had a vision: Retrocomputação pura.
Si te despiertas a menudo entre las dos y las tres de la mañana, no estás solo. Y la ciencia sabe por qué: Eu, noctívago das duas da manhã, me confesso. Afinal não estou sozinho nisto.
Ancient Egyptian tablet is an "attendance sheet" listing excuses for missing work: Plus ça change. Os milénios passam, os tempos mudam, mas as desculpas são imutáveis.
The Mercenaries Who Fight for American Empire: Um olhar para a rede de empresas que empregam soldados privados, ao serviço de missões americanas em todo o globo.
A Force That Has Shaped the History of the World: A relação entre o clima e as civilizações humanas, onde um olhar para a história, para as nações e impérios que hoje são meras memórias arqueológicas, nos leva a refletir para as consequências de um tempo em que as alterações climáticas, provocadas pela ação humana, já fazem sentir o seu poder disruptor.
Russia Condemns Poland Decision To Call Kaliningrad Królewiec And The Exclave's Wider Area As Obwód Królewiecki: Bem, se vamos ser preciosistas com nomenclatura linguístico-geográfica, deveria ser Koningsberg e Prússia Oriental...
My Night in the Sistine Chapel: Li este artigo a roer-me todo de inveja. Que privilégio, poder visitar o museu do Vaticano e a capela Sistina ao anoitecer! Há pessoas com sorte excessiva, digo eu, estupefacto de inveja...
Uma história dos portugueses em França: como uma emissão de rádio chegou a milhares de trabalhadores: Histórias de êxodo e integração, olhando para o peso histórico recente da emigração.
The ongoing legacies of The Disposable Heroes of Hiphoprisy: Daquelas bandas de música interventiva, que vai mais longe do mero entretenimento. Television the drug of a nation continua tão atual hoje, se trocarmos a t por internet, quanto o era nos anos 90.
The Oldest Known Blueprints Depict Stone Age ‘Megastructures’: Uma descoberta arqueológica fascinante, que nos mostra como os nossos longínquos antepassados planeavam as suas construções. Literalmente, CAD da idade da pedra.
For Decades, ‘The Simpsons’ Has Made Surprisingly Incisive Observations About Art. Here Are 4 That Still Resonate Today: De facto, apesar da longevidade da série ter trazido uma estagnação total, nos seus melhores momentos a componente crítica da série levou a excelentes observações.