Michael Herr (1991). Dispatches. Vintage,
Vim parar a este livro pelas leituras do Virtual Illusion, apesar da demolição que lhe é feita no blog. A curiosidade ficou desperta, e parti à descoberta desta revisitação da guerra do Vietname escrita por um repórter de guerra, que a viveu intensamente.
Terminada a leitura, a questão que me vem à cabeça é para que é que serve este livro. Não se percebe bem a sua lógica. Há ali uma certa ambição de cronista de guerra, detalhando e documentando a história do dia a dia sangrento para a posteridade. A comparação com o trabalho de Cornelius Ryan é óbvia (e, se não conhecem, vão ler The Longest Day, talvez o melhor relato sobre o Dia D, sem heroísmos, apenas testemunho), mas falta a Herr o foco clínico que transformaria destes Dispatches numa crónica para a posteridade.
Os textos do livro seguem um fluxo de colagem, misturando memórias, sensações e relatos, nem sempre de forma coerente ou conexa. Nisso, o livro é interessante, numa perspetiva de estéticas literárias transgressivas, onde o deambular mental passa para a página numa policromia sensualista. Afasta-se da crónica, entra decididamente dentro de uma literatura de memória e sensações, transmitindo a visão crítica do autor sobre a guerra que viveu enquanto correspondente. Neste aspeto, é uma obra potente, mas quase psicadélica na forma como nos bombardeia com imagens da história. O que tem um pouco a ver com as estéticas do final dos anos 70, saturadas de droga e rock'n'roll.