Bernardo Santareno (1973). A Promessa. Lisboa: Círculo de Leitores.
Pobreza, superstição e luxúria cruzam-se neste texto demolidor, justamente considerado uma das melhores peças de teatro do neorealismo português. O cenário, são as vidas duras dos pescadores, que arriscam a vida por um magro sustento. O enredo envolve as frustrações da jovem mulher de um pescador, cujo casamento se encontra por consumar devido a uma promessa que este fez, numa noite de tempestade, prometendo a castidade pela sobrevivência do pai. Quando a família abriga um contrabandista ferido num tiroteio com a guarda, estes sentimentos entrarão em ebulição. Frustração, paixão, ciúmes e o peso das tradições e superstições conservadoras colidem para um final sangrento.
Cruzei-me com este texto ao ver o magnífico filme do mesmo nome realizado por António de Macedo, a sua estética não me saiu da mente ao ler o texto. A personagem forte, confusa, dividida entre as pulsões da sua carne, o amor que sente, e o peso das convenções que é Maria do Mar é uma visão de mulher acorrentada. O final do texto é enigmático, com três velhas mulheres de pescadores a falar entre si, como se de parcas ou erínias se tratassem.